Contra a crise, brasileiros vão viver em Portugal
Mudar para Portugal é uma alternativa para brasileiros que já têm suporte financeiro
Portugal está na moda. Basta caminhar pelas cidades de Lisboa, Cascais ou Porto para chegar a essa conclusão. Além do turismo, principalmente na alta temporada, há novos restaurantes, bares, cafés e lojas em cada esquina. E, nos últimos anos, Portugal tem sido a escolha de muitos brasileiros que buscam fugir da crise econômica do País e querem uma melhor qualidade de vida.
Hoje, cerca de 80 mil brasileiros residem em Portugal com vistos regulares, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), órgão responsável pelo controle de imigração português. Mas esse número deve ser ainda maior, pois brasileiros com passaporte europeu ou que estão no país irregularmente somem das estatísticas.
“Entre os atrativos para os brasileiros, estão a qualidade de vida, a facilidade da língua, o clima, a proximidade entre as culturas, a oferta de boas universidades e o fato de Portugal estar muito em voga atualmente”, afirma Álvaro Fagundes, segundo secretário do Consulado-Geral do Brasil em Lisboa.
Com mercado de trabalho pouco aquecido e um dos salários mínimos mais baixos da Europa Ocidental ( 557), mudar para Portugal é uma alternativa para brasileiros que já têm suporte financeiro. É o exemplo do fotógrafo Jorge Abud, de 50 anos, que há seis meses trocou seu apartamento no bairro dos Jardins, em São Paulo, por um na Estrela, na zona central de Lisboa. “Amo o Brasil de paixão, mas minha vida é mais simples e tranquila aqui. Não tenho carro, não fico horas no trânsito, quando preciso de carro para viajar alugo e não me preocupo mais com isso”, conta Abud.
A aquisição imobiliária feita por Abud lhe conferiu o chamado Golden Visa, ou Autorização de Residência para Atividade de Investimento (ARI). Trata-se de um programa do governo português que concede a autorização de residência para estrangeiros por meio da transferência de capitais no valor mínimo de 1 milhão, da criação de dez postos de trabalho, da compra de imóveis a partir de 350 mil, no caso de construções que tenham mais de 30 anos ou que estejam em área de reabilitação urbana, entre outros investimentos.
Esse tipo de visto bateu recorde em 2017: foram emitidos 185 só nos primeiros sete meses do ano para brasileiros, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Entre 2012, quando o visto foi criado, e 2016, foram 247.
Mercado aquecido
De olho no poder aquisitivo desse público, as imobiliárias e empreendimentos de luxo portugueses realizam feiras e eventos no Brasil para chamar a atenção de clientes em potencial.
Miguel Poisson, diretor da Sotheby’s International Realty de Portugal, líder no segmento de alto padrão, esteve recentemente viajando por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte para mostrar os novos lançamentos no portfólio da empresa. “No nosso segmento, os brasileiros representam 10% das aquisições, atrás apenas dos ingleses e dos franceses”, diz Poisson. “É a nacionalidade que mais está crescendo nesse sentido. A média de valor dos imóveis vendidos para os brasileiros é de 900 mil.”
Localizado entre Sintra e Lisboa, o empreendimento de luxo Belas Clube de Campo, que conta com um campo de golfe, faz muito sucesso entre brasileiros.
“Nessa nova fase do projeto, eles já representam 65% das vendas”, afirma o empresário André Jordan, fundador e presidente executivo do grupo de mesmo nome responsável pelo local. “Acho que os brasileiros vêm para Portugal porque dá para viver bem com menos dinheiro aqui”, diz Jordan.
Maria Empis, diretora da consultoria especializada em investimento imobiliário Jones Lang LaSalle (JLL) em Portugal, também vê um interesse crescente por parte dos brasileiros. “No setor residencial, eles são os que mais compram na região de Lisboa, perdem apenas para os portugueses”, afirma a executiva. Com informações do Estadão Conteúdo.
Fonte: Notícias ao minuto
Número de brasileiros barrados em Portugal salta 91,3%
2,6 pessoas são enviadas de volta para a casa por dia
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“Assistiu-se a um agravamento da pressão migratória em termos de imigração ilegal”, diz o documento emitido pelo órgão, que cita também que a alta em relação a 2014 foi de 198,8%.
O SEF responsabiliza a crise no Brasil pelo aumento do número de brasileiros que tenta permanecer ilegalmente no país europeu. Para as autoridades portuguesas, o crescimento da imigração ilegal é “potencialmente justificado pela manutenção da crise econômica que se verifica no Brasil desde 2014, aliada à agudização da crise política e social ao longo de 2016”.
Portugal, por conta da língua e da cultura semelhantes, é um dos destinos preferidos dos brasileiros para migração, formando a maior comunidade de estrangeiros no país.
Fonte: Notícias ao minuto
Canadá recruta brasileiros para atuar no setor de TI e usinagem em Québec
Candidatos devem ter domínio da língua francesa e experiência nas áreas oferecidas; salários podem chegar a R$19 mil.
A Agência de Desenvolvimento Econômico do Québec está recrutando 216 profissionais na América Latina das áreas da tecnologia da informação (TI) e usinagem para trabalhar no Canadá. Para concorrer a uma vaga, é necessário ter domínio da língua francesa, idioma oficial da província canadense, e experiência na área preterida.
Os profissionais de TI devem ser tecnólogos em informática ou possuir graduação em Ciência da Computação, Construção de Computadores, Engenharia Elétrica ou Eletrônica. Já para as vagas de usinagem, é necessário ter experiência em operação e programação de máquinas ou soldagem.
Na área de TI, os salários variam de 77 mil a 95 mil dólares canadenses (R$ 194 mil a R$239 mil) canadenses por ano, enquanto na área de usinagem, os valores variam de 45 mil a 65 mil dólares canadenses (entre R$ 113 mil e R$ 163 mil).
De Curitiba para o Québec
Felipe Cruz e Eliane Lima em Québec (Foto: Arquivo pessoal)
O curitibano Felipe Cruz de Lima, 29, embarcou para o Québec em 2015 para trabalhar na Beton Bolduc Inc, uma empresa de cimento e paisagismo. Eletromecânico de formação, Lima se mudou para o Canadá com a esposa e dois filhos e hoje conta com um salário anual médio de 50 mil a 60 mil dólares canadenses (R$ 126 mil a R$ 151 mil).
“As dificuldades que tive foram com a língua e as expressões locais. Mas hoje já me sinto super bem integrado”, explica Lima que, antes de se inscrever para a vaga, estudou francês por três anos. O curitibano não vê perspectiva de crescimento dentro da empresa, mas garante que o país está aberto a empreendedores. “Minha esposa, por exemplo, já trabalha com seu negócio próprio, vendendo bolos e doces típicos do Brasil”, disse.
Recentemente, o casal entrou com um pedido de residência e aguarda os trâmites do processo. “Qualidade de vida foi o que mais nos motivou em vir pra cá. Não pensamos mais em voltar”, disse.
Tatyana Mendonça e o marido, Arthur Minduca, 30, em Québec (Foto: Arquivo pessoal )
Formada em Ciência da Computação com mestrado em Engenharia da Computação, Tatyana Mendonça, 27, deixou o Recife e se mudou para o Canadá com o marido. Depois de dois anos no no Canadá, Tatyana prestou concurso público e foi aprovada para trabalhar na Revenu Quebec, a Receita Federal do país. “Nós brasileiros somos bem vistos aqui. O pessoal gosta do nosso trabalho, de como somos polivalentes”, disse.
Tatyana afirma ver perspectiva de crescimento onde está e também não vê razões para voltar ao Brasil. O marido de Tatyana, que também é formado em Engenharia da Computação, com mestrado em Ciência da Computação, foi selecionado para a mesma vagas. Recentemente, ambos receberam residência permanente do governo canadense.
Processo seletivo
O processo seletivo ocorre através de uma plataforma on-line, onde os candidatos devem enviar currículo já em francês. As inscrições podem ser realizadas até o dia 13 de agosto no site oficial do governo local. Não há custos para participação do processo seletivo e, caso aprovado, a empresa contratante será responsável pelos trâmites em relação a vistos e documentos de residência.
Os candidatos selecionados passarão por uma entrevista via Skype.
As oportunidades em solo canadense têm duração inicial de um a três anos, mas é possível realizar um pedido de renovação ou residência fixa após um ano de trabalho. “O candidato pode participar do PEQ (Programme de l’experience québécoise), que oferece um certificado seleção Quebec e abre as portas para a demanda da residência permanente”, disse ao G1 Janaina Kamide, conselheira em atração de talentos da Agência Québec International.
No ano passado, a concorrência para o programa foi de 39 por vaga. “Mas vale lembrar as vagas não foram todas preenchidas. Se o candidato corresponde ao perfil buscado, como experiência, formação e domínio de língua francesa, suas chances de ser contratado aumentarão”, disse Janaina.
Descontentes com a conjuntura política e econômica pela qual o país atravessa, o número de brasileiros que saiu do país aumentou 81% entre 2014 e 2016 comparado aos três anos anteriores, de acordo com dados da Receita Federal.
Fonte: G1
Costa: o premiê vê Portugal como base para empresas brasileiras se expandirem na Europa (Marcos Michael/VEJA) Quando se tornou primeiro-ministro de Portugal, o socialista António Costa foi na contramão da política europeia que tendia à direita. Assumiu um país que começava a sair do fundo do poço econômico depois de um severo plano de austeridade, o que lhe deu possibilidade de abrandar ajustes e repor salários e pensões. Ao contrário da Grécia, Portugal vem obtendo indicadores positivos: o desemprego atingiu a casa de um dígito e o déficit nas contas públicas é o menor em quatro décadas de democracia. A abertura das fronteiras a estrangeiros que queiram viver em solo português é um caminho para dar fôlego à economia. Atraídas pelas oportunidades no mercado de trabalho, levas de brasileiros estão se mudando para lá. Costa afirmou a VEJA, em sua segunda visita ao Brasil: “Somos uma boa porta de entrada para a União Europeia. Para nós, é um prazer vocês nos descobrirem. É como se estivéssemos acertando uma dívida de 500 anos”. Fonte: Veja“Que venham os brasileiros”, diz primeiro-ministro de Portugal
António Costa afirma em entrevista que considera o ingresso de talentos em seu país um caminho para dar mais fôlego à economia
População portuguesa diminui. Proporção de nascimentos “fora do casamento sem coabitação dos pais” passou de 9,2% em 2010 para 17,1% em 2016. Houve 422 celebrações de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, mais 72 do que no ano anteriorNúmero de filhos nascidos de pais que não vivem juntos duplica em seis anos
Portugal continua com um saldo natural negativo. Ou seja, confirmando as tendências dos últimos anos, em 2016 houve mais gente a morrer do que a nascer, fazendo com que a população diminua pelo oitavo ano consecutivo. Do total de 87.126 crianças nascidas, 52,8% são filhos “fora do casamento”, ou seja, de pais que não estão casados. Aumentou a proporção de filhos nascidos de pais que não vivem juntos: quase duplicou em seis anos, passando de 9,2% em 2010 para 17,1% em 2016. No ano passado, 35,7% dos nascidos eram filhos de casais que coabitam
Estas são as Estatísticas Vitais do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgadas nesta quinta-feira, que mostram que no ano passado nasceram mais 1,9% de crianças em Portugal do que no ano anterior, só que o número de mortes também aumentou em 1,8% (representando mais de 110 mil). A maioria foi do sexo masculino (quase mais 2500 rapazes).
Desde 2009, houve mais 80 mil mortes do que nascimentos
Já em relação à idade das mães, a grande fatia vai para as mulheres que têm entre 20 e 34 anos (que representa 66%), enquanto o grupo das que têm menos de 20 anos continua a decrescer desde 2010 (passou de representar 4,1% dos nascimentos para 2,5%). Inversamente, as mulheres que são mães com mais de 35 anos continuam a crescer: foi quase 10% entre 2010 e 2016, passando de 21,8% para 31,5% no último ano.
Mais mortes de homens
Nos óbitos, registaram-se mais homens (55 601) do que mulheres (54 934) e a esmagadora maioria (85%) tinha mais de 65 anos. Houve ainda 278 mortes de crianças com menos de um ano, mais 28 do que no ano passado, o que significa uma taxa de mortalidade infantil de 3,2 óbitos por mil nados vivos (era 2,9 em 2015), segundo contas do INE.
Setembro continua a ser o mês em que mais crianças nasceram entre 2010 e 2016 (excepto em 2011, ano em que o mês com maior número de nascimentos foi Julho). Fevereiro mantém-se como o mês com menos nascimentos (uma regra que 2011 voltou a ser quebrada já que nesse ano Abril teve o menor número de nascimentos).
Por outro lado, se nasceram mais crianças em Setembro, já as mortes aconteceram sobretudo em Dezembro (em 2015 Janeiro tinha sido o mês com mais registos de óbitos). Apesar de a mortalidade apresentar um padrão geral sazonal – mais no Inverno, e menos na Primavera e no Verão – em 2016 houve mais óbitos em Julho e Agosto, se comparado com o período homólogo de 2015.
Já em relação aos casamentos, houve 422 celebrações entre pessoas do mesmo sexo, mais 72 do que no ano anterior. A maioria desses, 249, foi entre homens, e 173 entre mulheres. A preferência continua a ser pelo civil: dos 32.399 registados, 64,2% celebraram-se dessa forma, e 35,3% pela Igreja Católica, sendo muito baixo o número de casamentos por outras formas religiosas (0,5%).
Daqueles que se casam, a maioria já co-habitava antes de dar o nó, situação que tem vindo a aumentar significativamente nos últimos anos, passando de 44,2% em 2010 para 56,1% em 2016. O INE não registou variação significativa de 2015 para 2016 no número de casamentos, que passaram de 32.393 para 32.399.
Fonte: O Público
Descobrimento às avessas
Cada vez mais brasileiros de classe média e alta se mudam para Portugal, atraídos pelas facilidades do país europeu
O Brasil está descobrindo Portugal. Alguns números ilustram esse movimento de migração impulsionado pela crise brasileira e pelos vários atrativos que a nação irmã oferece. Em 2014, havia 87.493 brasileiros legais naquele país. Em 2016, já eram 116.271. Somente este ano, aumentou em 35% o número de concessões da cidadania portuguesa para a população do País. E, entre 2010 e 2017, foram mais de 87 mil nacionalidades concedidas para cidadãos do território nacional. Sendo 46.749 só em São Paulo. Os motivos para essa diáspora, justamente para Portugal, são muitos (leia quadro). A advogada carioca Nicole Adele Kertesv, que trabalha com pedidos de dupla cidadania e recolocação há 20 anos, cita, pela ordem, a violência urbana, a crise econômica e a insegurança política. “Percebo um aumento de pedidos 100% maior em relação ao mesmo período do ano passado”, afirma.
Há algumas formas de migrar legalmente para o território europeu. Por meio do visto fornecido pelo Consulado ou das Conservatórias e Registro Civil, diretamente em Portugal. A especialista em registro civil português Guiomar Bitetti aponta mais uma opção. “Quem tem dinheiro para comprar um imóvel de U$ 500 mil (R$ 1,57 milhão) ou abrir uma empresa e empregar dez portugueses, consegue o Visa Gold que, posteriormente, vira nacionalidade.” A aposentadoria também é uma porta de entrada. E essa foi a opção dos paulistanos Silvia Regina Angerami, 58, e do marido, Guilherme Schibik, 64, que desembarcarão no Algarve, litoral sul, no dia 6 de maio. Eles têm visto de aposentados, que é válido por um ano e pode ser renovado. O casal está trocando um apartamento próprio de 320m2 na capital paulista por um imóvel menor e alugado. “Será nossa nova fonte de juventude”, diz Silvia.
É mais fácil conseguir o visto para morar em Portugal do que em outros países da Europa ou nos Estados Unidos
Diferentemente de fluxos migratórios anteriores, atualmente quem está se deslocando para o país europeu é a classe média, com bom poder aquisitivo. A informação é confirmada pela diretora do departamento consular do Itamaraty, Luíza Lopes da Silva. Um exemplo do novo perfil é o paulistano Carlos Rebolo, 37, que mora em Lisboa e trabalha com países europeus e africanos para a empresa de tecnologia Hewllet Packard, a HP. “Em outras épocas, nós vínhamos para trabalhar em construção civil, faxina, trabalho pesado. Agora, tem muitos brasileiros qualificados, como é o meu caso”, diz Silva.
Apoio do Itamaraty
Se antes o departamento consular e de brasileiros no exterior do Itamaraty dava muita assistência a pessoas de baixa renda, hoje o maior problema da comunidade nacional se refere à violência de gênero, “que atinge mulheres de todas as classes sociais”, diz a diretora Luiza, baseando-se no serviço de discagem internacional, o 2030 8823, criado pelo órgão. Fugindo da crise e da violência, a carioca Abadia Vieira, 41, levou sua empresa de teatro motivacional para Lisboa há um ano. Casada e mãe de dois filhos, a família foi dividida – ela e o caçula foram para Portugal, o marido e o primogênito ficaram no Rio. “A intenção é juntar todo mundo em Lisboa”, afirma a empresária, que está confiante que fez a escolha certa. “Portugal está em uma fase positiva, de olhos no mundo. A cultura, a língua, tudo facilita na hora de apresentar projetos aqui.”
10 vantagens de se morar em portugal
1. Idioma
Há algumas diferenças no vocabulário, mas o idioma é o mesmo, o que facilita a comunicação e a adaptação
2. Facilidade na documentação
Para os brasileiros o processo de residência legal em Portugal é muito mais rápido e simplificado em relação a outros países europeus
3. Segurança
A violência é muito menor em Portugal. Enquanto o país europeu ficou em quinto lugar no Índice Global da Paz 2016, feito pelo Instituto para Economia e Paz (IEP), o Brasil ocupa a 105ª posição de nação mais pacífica
4. Sistema de Saúde
Um dos principais motivos que os brasileiros apontam para escolher Portugal: o sistema de saúde é bem melhor do que o brasileiro
5. Economia
Outro motivo apontado pelos brasileiros que moram em terras portuguesas é o custo de vida mais baixo. Viver lá é melhor e mais barato
6. Transporte e estradas
Sistema de transporte público eficiente e estradas em boas condições
7. Educação
O relatório educacional PISA 2012-2015, programa internacional de avaliação de estudantes, mostra que Portugal é o único país europeu que continua a melhorar a educação desde o começo deste século
8. Internet
Item essencial, principalmente para quem está longe da família, a Internet no país tem uma velocidade muito superior à brasileira
9. Clima
As estações são bem definidas. Invernos sem frio intenso e verões quentes e secos
10. Culinária
Restaurantes para todos os bolsos, além de ótimas opções de vinhos
Fonte: Isto É
Por que tantos cariocas estão elegendo Portugal como segunda casa
Clima agradável, qualidade de vida e facilidade da língua empolgam nova leva de imigrantes
Dez dias ininterruptos de sol. A surpresa meteorológica, em pleno inverno europeu, encantou a artista plástica Vitória Frate e o ator Pedro Neschling, casal de cariocas que caiu de paraquedas na capital portuguesa no meio de uma temporada de estudos no Velho Continente.
— Depois de duas semanas no Norte da Europa, tínhamos dez dias livres, e a ideia era seguir para a Polônia. Mas estávamos cansados do frio e, na hora do check in, decidimos trocar Varsóvia por Lisboa. O amor foi imediato — conta Vitória, que guarda como lembrança de janeiro de 2012 fotos do casal na Torre de Belém com o sol como testemunha. — Voltamos outras vezes e, desde o ano passado, começamos a dividir a vida entre lá e cá.
O agradável clima de Lisboa — cidade que tem a média de 260 dias ensolarados por ano e cuja temperatura mínima raramente é inferior a dez graus — costuma ser um dos primeiros pontos listados pela enxurrada de brasileiros que vêm elegendo Portugal como segunda casa. Os laços que unem os dois países há mais de 500 anos, a proximidade cultural e, claro, a facilidade da língua completam o pacote.
— Às vezes, me sinto mais em casa em Lisboa do que em São Paulo — ri Vitória. — A minha família paulista vai ficar brava, mas a questão do sotaque é real. O carioquês tem muito do português lisboeta, que foi a nossa principal influência, além dos sotaques africanos. A gente chia como eles, fala os erres como eles, só pronunciamos mais as vogais, coisa que eles não fazem de jeito algum. Enquanto o sotaque paulistano tem muita influência do italiano, né? E Lisboa também tem um ar mais relaxado, como o Rio.
Em termos práticos, mudanças na legislação portuguesa são outros atrativos consideráveis. Para tentar sair da crise que assolou o país nos últimos anos, o governo lusitano criou uma série de incentivos, como benefícios fiscais e concessão de visto de residência para investimentos acima de 500 mil euros, o chamado Golden Visa. Embora sejam considerados hoje os melhores clientes das agências imobiliárias lisboetas focadas no mercado de luxo, os brasileiros representam apenas 4% dos pedidos de Golden Visa — os chineses são a grande maioria (83%).
— Os números não correspondem à avalanche de brasileiros comprando imóveis porque muitos já têm, por parte do avô ou da avó, cidadania portuguesa — ressalta Mario Vilalva, embaixador do Brasil em Portugal.
Para o diplomata, a ascensão do turismo no país e a queda no valor dos imóveis, em decorrência da crise econômica, foram determinantes para o boom:
— Quando começaram a redescobrir Portugal, inicialmente como turistas, os brasileiros passaram a enxergar Lisboa como uma possibilidade de segunda casa, como aconteceu com Miami tempos atrás — analisa Mario Vilalva.
Aguinaldo Silva, Glória Perez, Cláudia Abreu, Fernanda Torres e Paolla Oliveira, só para citar alguns nomes conhecidos, integram a cada vez mais extensa lista de proprietários na capital portuguesa.
— O que eu mais gosto de fazer em Lisboa é andar nas ruas, sem sobressaltos, descobrindo lugares — conta Glória Perez, que tem passado férias no apartamento que comprou em frente ao Parque Eduardo VII. — É tudo tão familiar, a gente se sente na casa dos avós. E está mesmo lá, não é só impressão. Além dos amigos, tenho primos em Lisboa. Primos portugueses. De modo que, quando vou, também estou em família.
Ator português que se divide entre Rio e Lisboa há mais de uma década, Ricardo Pereira está orgulhoso por testemunhar o movimento migratório.
— Fico feliz em notar que o meu país finalmente cativou os brasileiros. São duas potências irmãs que só ganham com a troca — diz o ator, que vive com a caixa de entrada lotada de e-mails de amigos cariocas pedindo dicas da terrinha.
O crescente fluxo de brasileiros rumo a Portugal, seja para passar temporadas, morar ou turistar, inspirou a atriz Joana Balaguer a criar um site, o Cidades de Portugal, lançado semana passada, para fazer a ponte entre os dois países.
— Portugal está tão na moda que ganhou até a Eurocopa — brinca Joana, há um ano baseada em Lisboa com o marido, o português Paulo Miguel Palha de Souza, e o filho Martín, de 2 anos.
Endereço frequentado pelos descolados locais, a LX Factory ganhou destaque entre as primeiras publicações. A antiga fábrica de fiação e tecidos é ocupada por cafés, bares, lojinhas de design.
— A LX é o Soho de Lisboa — diz ela, que também listou os seus rooftops preferidos, entre eles o Topo, na Mouraria, o Sky Bar, na Avenida da Liberdade, e o Rio Maravilha, em Alcântara.
Um dos mais novos espaços da LX Factory, o Rio Maravilha é um gastrobar com vista panorâmica para o Rio Tejo. O horário mais concorrido é o fim de tarde, para tomar um drinque no coloridíssimo mesão, ao lado da escultura de uma mulher de braços abertos, criada sob encomenda pelo artista português Leonel Moura.
— É a namorada do Cristo Rei, que estava lá do outro lado do Tejo sozinho há um tempão — conta um garçom, enquanto serve bebidas, referindo-se ao santuário inspirado no nosso Cristo Redentor, erguido em Lisboa em 1959.
O Rio Maravilha ocupa o espaço onde antigamente funcionava a sala de convívio dos operários da fábrica.
— A ideia é que, em um mundo tão virtual, a essência do lugar inspire a convivência na vida real — conta o relações-públicas Roger Mor. — Muitas vezes, o desbloqueador de conversa é a mulher de braços abertos, que faz uma alusão ao convívio de Portugal com o restante do mundo e não deixa de ser uma grande homenagem ao Rio de Janeiro.
Em um passeio pela LX Factory, descobre-se mais um pouquinho de Brasil aqui e ali. Como a charmosa lojinha Oh! Brigadeiro, especializada no docinho, e o Café na Fábrica, que serve pão de queijo, açaí, empada de queijo e coxinha de galinha, entre outros quitutes.
— A coxinha é um dos maiores sucessos. Muitos portugueses que já moraram no Brasil vêm aqui atrás da pera, como a chamam, para matar a saudade — conta Carolina Henke, sócia dos dois estabelecimentos, que dez anos atrás foi para Lisboa fazer mestrado, casou com um português e por lá ficou.
A coxinha de galinha, por sinal, está em todas. O salgadinho aparece em uma versão com massa de mandioca no menu do Espelho D’Água, ao lado do “pastel de vento” e do bolinho de arroz recheado com sardinha.
— A proposta do cardápio é ressaltar as influências de Brasil, Angola e Índia na gastronomia portuguesa, como forma de mostrar uma faceta mais afetiva e nem tão evidente das expedições portuguesas — conta a paulistana Mona Camargo, curadora do espaço dirigido por seu marido, o angolano Mário Almeida.
Misto de restaurante, café, casa de shows, galeria e residência artística, o Espelho D’Água ocupa os 1.500 metros quadrados de um edifício modernista de 1940, inaugurado pelo ditador Antonio Salazar como parte da Exposição do Mundo Português, às margens do Tejo. Fica colado ao simbólico Monumento aos Descobrimentos.
Em pouco mais de um ano de funcionamento, virou uma informal embaixada lusófona, com shows semanais de músicos angolanos e brasileiros.
— Quando um artista vem para cá, ele descobre uma relação não só com a Europa, mas também com as raízes africanas — observa Mona. — Além disso, muitos portugueses que saíram do país no auge da crise em busca de oportunidades no Brasil agora estão voltando para Lisboa. Desta vez, com maridos ou mulheres brasileiros.
É mais ou menos o que aconteceu com a portuguesa Kiki Caldas, de 33 anos. Depois de cinco morando fora, ela voltou para Portugal com o marido, o paulista Felipe Kopanski. O casal trocou o apartamento onde vivia no Vidigal por uma casa em Cascais para criar a filha, Matilda, de 2 anos.
Ao lado de outros dois amigos brasileiros, os cariocas Rique Inglez e João Marcus Cavalcanti, Kiki e Felipe inauguraram há três meses a Wozen, misto de galeria de arte e estúdio de tatuagem. Atualmente, está em cartaz no espaço a exposição coletiva “Glocal”, com trabalhos de artistas da Bélgica, da Itália, de Angola, do Brasil…
— A proposta da Wozen é ser um espaço sem fronteiras — conta Kiki, que depois de ter problemas com visto no Brasil publicou no Facebook o “manifesto para cidadania mundial” intitulado WOrldcitiZENship, no qual afirma que “todo indivíduo, em sua condição de ser humano livre, possui o direito de habitar qualquer lugar do planeta”. Daí o nome da galeria.
A nova leva de brasileiros que está atravessando o Oceano Atlântico é recebida de braços abertos pelos portugueses. Nota-se um clima bem diferente do início dos anos 1990, quando um populoso grupo de dentistas brasileiros causou a maior ciumeira na terrinha, a ponto de os profissionais de odontologia locais pressionarem o governo português a cancelar a validação dos diplomas dos estrangeiros.
— O brasileiro não é mais tratado como um estrangeiro em Portugal — afirma o embaixador do Brasil em Lisboa, Mario Vilalva.
Baseados em Lisboa há pouco mais de um ano, os cariocas Andréa Acker e Raul de Lamare, ambos na faixa dos 50 anos, já fizeram vários amigos lisboetas.
— A concorrência das brasileiras só tem feito bem às portuguesas: a figura da gordinha clássica de buço está entrando em extinção — brinca Raul.
— Na academia onde faço ginástica, uma das aulas mais concorridas pelas portuguesas é a M.I.B., sigla de “made in Brazil”, focada em exercícios para as coxas e bumbum — emenda Andréa.
Brincadeiras à parte, os dois estão fazendo uma imersão diária na cultura portuguesa.
— Eu preciso fazer um esforço danado para não chamar ninguém de “você”. Aqui, é preciso falar na terceira pessoa, como o Pelé — conta Andréa.
O casal mora em um simpático apartamento na Estrela, que junto com o Príncipe Real seria o equivalente ao eixo Gávea-Jardim Botânico. Eles não têm data marcada para voltar para o Rio, onde ela trabalhava como produtora de grandes eventos e ele como consultor de restaurantes.
— As nossas vidas estavam em um ritmo muito frenético. Viemos em busca de uma rotina mais calma, para dar uma desacelerada — diz Raul.
Outro concorrido destino em território português para quem busca um estilo de vida mais pacato é Cascais, balneário a 30 quilômetros de Lisboa. Ex-moradora do Leblon, a advogada Paula Monteiro Vianna chegou a morar um ano na movimentada Rua da Misericórdia, no Chiado, mas há quatro anos, quando engravidou do primeiro filho, mudou-se para Cascais.
— A maior parte dos brasileiros que está vindo morar em Portugal está indo para Cascais. É uma vida mais calma, com uma rotina típica de bairro. Chiado e Bairro Alto, em Lisboa, acabam sendo lugares mais procurados por quem compra apartamento para passar temporadas, pois há mais opções de restaurantes e vida cultural ao redor — compara a advogada.
Nos muitos dias de sol, Paula encontra a comunidade brasileira concentrada na caminhada matinal no paredão, como os portugueses chamam o calçadão à beira-mar, que liga Cascais a Estoril:
— Aquela caminhada matinal na Praia de Ipanema é substituída pela caminhada no paredão de Cascais.
Especialista em analisar escrituras e validar diplomas de clientes brasileiros na terrinha, Paula vai e volta todos os dias para Lisboa, onde fica o seu escritório de advocacia. Sem trânsito, é um caminho de 30 minutos. Nos últimos tempos, porém, o trajeto chega a levar duas horas. A situação faz muitos cariocas compararem Cascais à Barra da Tijuca.
— Mas de Barra, não tem nada. O centro de Cascais lembra Búzios de antigamente. Se tem um lugar nos arredores que pode ser comparado à Barra, do ponto de vista dos cariocas da Zona Sul, é o Parque das Nações — explica Paula.
O Parque das Nações é a região mais nova de Lisboa. É quase uma cidade à parte. Também conhecida como Oriente, a área foi palco da Exposição Internacional de Lisboa de 1998, que celebrou os 500 anos dos Descobrimentos Portugueses. Para a ocasião, foram construídos diversos pavilhões com arquitetura moderna e tecnologia de ponta numa antiga e degradada área industrial. Alguns de pé até hoje, entre eles o famoso Oceanário e a Estação do Oriente, projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, o mesmo responsável pelo desenho do Museu do Amanhã. O Parque das Nações é o endereço favorito dos chineses.
Chiado, Avenidas Novas ou Santos?
Garagem, prédio com porteiro 24 horas, quarto de empregada e, se possível, vista panorâmica para o Rio Tejo. Alguns brasileiros que chegam a Lisboa querem viver com as mordomias típicas do Brasil. Lista de exigências é para quem pode. Números da Athena Advisers, empresa especializada em negócios imobiliários na Europa que acabou de abrir escritório no Rio, mostram que os brasileiros desembolsaram mais de 20 milhões de euros adquirindo imóveis no Velho Continente em 2015. A expectativa é que o valor dobre este ano.
— Garagem é um artigo de luxo no centro histórico de Lisboa — pondera a portuguesa Carlota Pelikan, consultora imobiliária Athena. — Os brasileiros são os nossos melhores clientes. Um acabou de comprar dois apartamentos nesse prédio da Rua Alecrim. Foi como investimento, para passar férias e alugar no restante do ano. É um prédio tombado que está passando por um processo de retrofit, e a construtora conseguiu reservar um andar para a garagem.
No sobe e desce das ensaboadas calçadas de pedra portuguesa do Chiado, Carlota tira o laptop da bolsa todas as vezes em que um cliente quer saber como será o resultado do retrofit de um edifício. Por fora e por dentro.
— Os brasileiros adoram o fato de os apartamentos serem entregues praticamente prontos, com máquina de lavar, microondas… — conta Carlota, enquanto mostra imagens dos projetos em 3D na tela do computador. — Os cariocas chegam a Lisboa falando em Chiado, mas aos poucos vão descobrindo novos bairros.
Espécie de Leblon no passado, o Chiado hoje é comparado a Copacabana. Mesmo saturado, continua a ser um dos metros quadrados mais caros de Lisboa: oito mil euros, em média. Mas, mesmo assim, ainda está abaixo das áreas nobres de outras capitais europeias: imóveis de luxo em Londres custam até 33 mil euros, o metro quadrado.
— Antes de o governo abrir as janelas para o investimento estrangeiro, não se vendiam imóveis em planta em Portugal, o mercado internacional era praticamente nulo. O programa do Golden Visa aguçou o apetite de quem nunca tinha olhado para cá. Hoje, já não há mais estoque para vendas, situação oposta à que estávamos vivendo em 2011 — analisa o advogado português Manuel Bento Nogueira, do escritório Legal Square, que tem a clientela dividida majotariamente entre brasileiros e chineses.
De olho no bom momento do mercado imobiliário, o arquiteto baiano Sidney Quintela lançou, no último dia 14, o luxuoso Nouveau Lisboa, na Avenidas Novas. Em menos de 30 dias, metade dos 21 apartamentos foi vendida (três brasileiros compraram). Sete apartamentos contam com o chamado “terraço-gourmet”.
— É um conceito de utilização de espaço muito comum no Brasil e que estamos exportando para Portugal. As áreas comuns, com academia de ginástica, piscina, spa, também estão fazendo sucesso — conta Sidney. — Tradicionalmente, as moradas lisboetas têm as áreas internas dos apartamentos mais generosas. A cozinha não é pequena como as nossas, pois quem usa é o dono da casa, não há empregados. Fora isso, como há uma variação de temperatura maior, ficam muito dentro de casa no inverno.
Há dez anos, o arquiteto tem escritório em Lisboa, onde trabalha com projetos residenciais e comerciais. O Nouveau Lisboa é o primeiro empreendimento imobiliário. Mas não será o único. Outros três projetos de prédios residenciais estão em desenvolvimento, na mesma região.
— Avenidas Novas é uma área muito próxima ao centro histórico de Lisboa, a grande procura do mercado. Num raio de 600 metros, você está na Marquês de Pombal e no El Corte Inglés. E a um quilômetro está no Chiado, Bairro Alto — detalha Sidney. — Lisboa é uma porta de entrada para a Europa e um lugar onde se tem um estilo de vida muito atraente. Neste momento, os imóveis estão recuperando o preço original, pois o valor do metro quadrado estava muito aquém. Acredito que, nos próximos dois anos, vai haver um acréscimo de até 10%. E vai estabilizar por aí. Não é uma bolha.
O bairro da vez, no entanto, é Santos, que reúne lojas de design, galerias de arte, startups. Lá está sendo erguido o Santos Design, empreendimento da Stone Capital. Os apartamentos têm vista para o Tejo, garagem, dependências, área comum com spa e academia de ginástica. E a noite local ainda é comparada ao Baixo Gávea. O que eles podem querer mais?
Dicas à moda carioca
A Vida Portuguesa: Lojinha com badulaques tradicionais de Portugal, de enlatados (foto) a cerâmica e vela. Filiais no Chiado e Intendente.
Parking: Bateu vontade de tomar um drinque no fim da tarde e, de quebra, com vista? O bar fica em cima de um edifício-garagem no Bairro Alto.
Underdogs: Galeria de arte nos armazéns e loja de pôsteres no Cais do Sodré.
A croqueteria: É autoexplicativo. Quiosque de croquetes (o de atum é um luxo), na Baixa.
Mona: Lugar pra respirar (e comprar) design. Fácil, fácil de achar. Só seguir a Rua das Janelas Verdes (a mesma da Wozen), em Santos.
Casa dos Ovos Moles: Para adoçar a boca e a vida, na Estrela. Trouxinha, sorvete e bolo, todos de ovos.
Manteigaria: Simples assim. Uma fábrica de pastéis de nata, no Bairro Alto. Vale comer um quentinho.
Miradouro do Adamastor: Tirando o fato de que não tem praia, é como se fosse o Arpoador, um point para ver o sol se esconder, no Chiado.
Fonte: O Globo