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Estilista usa espécie de ‘burca’ em SP e chama a atenção: ‘Todo mundo olha’
Brasileira viveu experiência de se cobrir por uma semana para projeto.
Ela ouviu cantada e menções a explosão, chibatadas e Estado Islâmico.
Durante uma semana, a estilista Cristiana Ventura, de 30 anos, chamou a atenção por onde passava – mas não pelo cabelo loiro platinado ou pelas roupas e acessórios chamativos que costuma usar. Nos últimos sete dias, ela andou por São Paulo toda coberta por uma roupa que lembra um traje usado por muçulmanas e só deixa à mostra os pés e os olhos.
A experiência é parte do projeto de um amigo dela, o fotógrafo Richard Hodara, chamado “Euxperimento”. “Quis criar algo que faça as pessoas pararem para pensar no dia a dia, que mostrasse os preconceitos e lide com temas polêmicos”, diz ele. No primeiro “desafio”, um amigo de Richard saiu pela cidade vestido inteiramente de cor-de-rosa. No segundo, uma jovem passou dez dias ajudando as pessoas.
Cristiana Ventura usou uma espécie de burca por uma semana para um projeto (Foto: Richard Hodara/Vision Lights)
Cristiana resolveu sentir na pele o que é andar coberta de preto por São Paulo. “Queria algo que mexesse comigo e com relação com as outras pessoas, me colocar no lugar do outro e fazer tudo o que faço normalmente, mas com essa ‘carcaça’”, explica ela.
A “burca” improvisada foi encomendada a uma costureira, já que eles não encontraram nada pronto. Diferentemente da burca verdadeira, traje tadicional das tribos pashtuns no Afeganistão, que tampa inclusive os olhos por meio de uma rede, a vestimenta de Cristiana deixa parte do rosto descoberta — algo semelhante ao traje conhecido como niqab.
‘Vai explodir!’
A experiência durou do dia 26 até esta quinta-feira (5). Cristiana, que é professora e dona de uma marca de roupas, seguiu sua rotina normal: deu aulas, jogou tênis, foi ao curso de desenho, dirigiu, andou de metrô e saiu com os amigos, sempre com a roupa preta e o véu. A experiência foi relatada no Facebook e no Instagram do projeto.
A reação das pessoas nos lugares públicos não foi nada discreta. “Todo mundo olha. É bem desconfortável”, conta. “Vai explodir!”, gritou um rapaz em uma estação de metrô. Uma senhora a chamou de “biscate” e disse que ela iria levar “umas chibatadas”. Uma moradora de rua desejou “Namastê” (cumprimento comumente usado na Índia) e um homem surpreendeu-a com uma cantada: “Você é maravilhosa”, disse.
Uma volta no centro da cidade ao lado de Cristiana comprova o que ela diz. (Veja o vídeo no topo da página.) Os passantes viram o pescoço, comentam entre si e, em alguns casos, falam diretamente com ela, como um rapaz que disse “Essa é assassina” e outro que gritou “Olha o Estado Islâmico!”.
Calor
Cristiana no metrô de São Paulo (Foto: Richard Hodara/Vision Lights)
Tanta atenção “suga a energia”, diz Cristiana. “Nos dois primeiros dias cheguei em casa muito cansada. Nos dias seguintes não conseguia acordar, enrolava para sair de casa porque sabia que ia ficar todo mundo olhando”, lembra.
O calor é outro problema. No início, ela colocava a vestimenta por cima das roupas, como fazem as muçulmanas. “Eu ficava encharcada. Aí comecei a usar como um vestido”, conta.
Outra questão à qual ela teve que se acostumar foi ao visual monotemático. “No primeiro dia, pensei: ‘Que bom, não vou precisar escolher o look’. No segundo dia eu já estava pirando”, diz. Depois de algum tempo Cristiana tirou do armário uma bolsa de marca e vários anéis para usar como acessórios. “Aí entendi por que as muçulmanas costumam usar anéis imensos de brilhantes, salto, bolsa de marca. É o que você tem para se diferenciar”, afirma.
A estilista, que é de família católica, hoje se define como “espiritualista”, mas não segue nenhuma religião. Ela ficou com receio da reação dos muçulmanos ao seu projeto, mas diz que não teve nenhum problema. “Tenho vários amigos muçulmanos e eles estão curtindo. Conheci uma africana muçulmana na rua e ela também adorou. Ela me contou a história dela, disse que sofre muito preconceito”, conta.
O fim da experiência coincidiu com uma viagem de férias de Cristiana para o Rio de Janeiro. “Aí vou terminar o projeto. Não dá para sair de ‘burca’ no calor do Rio, aí já seria demais”, disse, rindo.
Justiça saudita mantém castigo corporal para blogueiro que ‘insultou o Islã’r
Badawi está preso desde 2012 e chegou a ser acusado de crime religioso passível de pena de morte
Apesar dos pedidos de clemência da comunidade internacional, a Arábia Saudita manteve a decisão de punir com mil chicotadas e 10 anos de prisão um blogueiro acusado de insultar a religião muçulmana.
Autor de um blog defendendo a liberdade de expressão, Raif Badawi está preso desde 2012 e em janeiro deste ano recebeu 50 chibatadas em público – um vídeo mostrando a cerimônia foi vazado na internet.
De acordo com a decisão original de um tribunal saudita, a parte do castigo corporal da sentença teria que ser levada a cabo de duas em duas semanas, mas desde a primeira “sessão”, em nove de janeiro, o processo foi interrompido. Oficialmente, a interrupção se deu por recomendação de uma junta médica que viu risco de vida para Badawi e considerou que ele não tinha se recuperado o suficiente das primeiras chibatadas.
Críticas
No entanto, acredita-se que a comoção internacional causada pelo caso também tenha influenciado a interrupção. Isso apesar de o governo saudita em março ter expressado seu descontentamento com o que chamou de tentativa de ingerência em assuntos internos do país.
A pressão internacional fez com o que o governo pedisse à Suprema Corte para reexaminar o caso e neste domingo os juízes mantiveram a sentença, que também inclui uma proibição para que, depois de solto, Badawi saia da Arábia Saudita ou use a internet até 2034.
Badawi irritou as autoridades ao promover a Rede de Sauditas Liberais, um blog promovendo o debate sobre assuntos e religiosos, e em que disparou críticas contra autoridades e acusou determinados líderes religiosos de fomentar o radicalismo islâmico.
Príncipe
A Arábia Saudita é uma das poucas monarquias absolutistas que ainda restam no mundo e além de usar castigos corporais e pena de morte é criticada constantemente por entidades de defesa dos direitos humanos por reprimir manifestações democráticas.
Apesar disso, o país tem um dos mais altos índices de uso de mídia social do mundo.
Inicialmente, Badawi tinha sido condenado, em 2013, a sete anos de prisão e 600 chibatadas, mas a punição foi ampliada um ano depois. Ele também tinha sido acusado pelo crime de apostasia (afastar-se da religião), o que no islamismo é considerado um pecado grave e que na Arábia Saudita pode ser punido com a morte.
A mulher do blogueiro, Ensaf Haidar, deixou o país com os filhos e hoje vive no Canadá, depois de alegar ter recebido ameaças. Ela vem liderando uma série de campanhas pedindo a libertação do marido.
Além de uma série de protestos em diversas cidades do mundo, autoridades internacionais interferiram em favor de Badawi junto ao governo saudita. Entre eles o herdeiro do trono da Grã-Bretanha o príncipe Charles. A Suécia cancelou acordos militares com a Arábia Saudita.
Mulheres que dirigiram na Arábia Saudita serão julgadas em corte antiterror, dizem ativistas
Duas sauditas detidas por infringirem uma proibição para que mulheres dirijam no país serão julgadas em um tribunal antiterrorismo, disseram ativistas.
Loujain al-Hathloul, de 25 anos, e Maysa al-Alamoudi, 33, estão detidas há quase um mês. Os casos teriam sido transferidos devido a comentários que elas fizeram nas redes sociais e não por estarem dirigindo, segundo os ativistas.
Loujain foi presa em 1º de dezembro após ter tentado entrar no país dirigindo, vinda dos Emirados Árabes Unidos, segundo a agência de notícias AFP.
Maysa, uma jornalista saudita baseada nos Emirados Árabes Unidos, também foi presa quando chegou à fronteira para ajudar Loujain, disse a agência.
As duas mulheres têm um grande número de seguidores no Twitter. Loujain escreveu uma mensagem sobre sua longa espera na fronteira saudita ao tentar entrar no país.
A Arábia Saudita é o único país do mundo onde mulheres são impedidas de dirigir. Apesar de não ser tecnicamente ilegal que elas dirijam, apenas homens recebem carteiras de habilitação – e mulheres que dirigem correm o risco de serem multadas e detidas pela polícia.
Sauditas lançaram uma série de campanhas – inclusive nas redes sociais – exigindo um relaxamento das restrições.
Uma ativista e escritora saudita, Hala al-Dosari, disse à BBC que a transferência dos casos das mulheres era vista como “uma continuação dos esforços das autoridades da reprimir a oposição”. “Este não é um caso isolado”, disse ela.
Na quinta-feira, um tribunal em al-Ahsa, no leste do país, decidiu que as mulheres deveriam ser julgadas em uma corte especializada em Riad, criada para lidar com casos de terrorismo.
Ativistas dizem que advogados das mulheres planejam recorrer da decisão.
Mulher saudita flagrada em estádio de futebol causa revolta no país
Uma torcedora saudita revoltou homens do seu país por causa de sua presença em um estádio de futebol.
Em um vídeo no Youtube, a mulher, vestida de niqab – uma túnica e um véu cobrindo o rosto, deixando aparecer apenas os olhos -, aparece nas arquibancadas irritada com uma falta cometida em cima de um jogador do seu time, o Al Hilal, e gesticulando para o gramado.
O jogo era a semifinal da Liga dos Campeões da Ásia entre o Al Hilal, da Arábia Saudita, e o Al Ain nos Emirados Árabes. O time dela (Al Hilal) foi derrotado por 2 a 1.
O clipe já foi visto quase 400 mil vezes no YouTube e tem 1.500 comentários – boa parte deles de homens indignados criticando a mulher não identificada por estar em um estádio repleto de homens.
“Mulheres não se interessam por futebol, então por que elas vão a um estádio para ver um jogo ao vivo?”, escreveu um deles. “Essa mulher não tem um marido? O lugar dela é dentro de casa”, disse outro.
Vários outros que são contra a presença de mulheres nos estádios disseram que a atitude da saudita “incentiva o comportamento imoral e pecaminoso”. Outros falaram que isso coloca as mulheres em risco de serem assediadas.
Críticas
Na Arábia Saudita, as mulheres não podem frequentar jogos de futebol, mas a partida em questão estava sendo realizada nos Emirados Árabes Unidos e, por isso, havia várias mulheres sauditas no estádio apoiando o Al Hilal, time do país.
Lina Al Maena, ex-atleta que defende o direito das mulheres praticarem e participarem de esportes na Arábia Saudita, disse que “as mulheres são assediadas todos os dias, nos shoppings, nas ruas, então não entendo por que no estádio seria diferente”.
Mesmo com as críticas à atitude da mulher flagrada no estádio, Lina Al Maena acredita que já está havendo uma abertura no mundo dos esportes na Arábia Saudita. “Há muito mais aceitação hoje no envolvimento de mulheres com esportes do que se tinha uma década atrás”, constatou.
Segundo jornais sauditas, o governo do país está considerando a possibilidade de construir setores separados no estádio para mulheres.
O rei saudita Abdullah bin Abdulaziz morreu no hospital, aos 90 anos, anunciou a televisão estatal da Arábia Saudita. O monarca, o quinto filho do fundador da Arábia Saudita a ocupar o trono, será sucedido por outro meio-irmão, o príncipe Salman, numa mudança de testemunho esperada mas que não deixa de contribuir para as incertezas que rodeiam o Médio Oriente.
Arábia Saudita proíbe casamento com estrangeiras de quatro países
O governo da Arábia Saudita ampliou as restrições ao casamento de seus cidadãos com estrangeiras, incluindo uma proibição expressa ao matrimônio com mulheres de quatro países.
Os homens sauditas estão proibidos de se casarem com mulheres nascidas no Paquistão, Bangladesh, Chade e Myanmar e que estejam vivendo na Arábia Saudita. Segundo estatísticas não oficiais, 500 mil mulheres desses países vivem hoje na Arábia Saudita.
A Arábia Saudita possui um dos maiores contingentes de mão de obra estrangeira entre os países do Golfo. São 9 milhões de pessoas – ou 30% da população.
A nova medida gerou polêmica em jornais e revistas do Golfo e do Paquistão. Leitores do jornal paquistanês Pakistani Dawn acusaram a Arábia Saudita de racismo.
Já o diário saudita Saudi Gazette questionou o fato de que o novo decreto afetar apenas mulheres desses quatro países.
Divórcio e poligamia
Pelas novas regras, os noivos que quiserem se casar com estrangeiras têm de encaminhar à polícia o documento de identidade original junto com a proposta de casamento assinada pelo prefeito da cidade onde moram. A papelada será então remetida ao governo para apreciação, explicou o chefe de polícia de Mecca, Assaf Al-Qurshi.
Os solicitantes precisam ter idade superior a 25 anos. Caso tenham se divorciado, terão que esperar seis meses antes de um novo casamento, informou o jornal Makkah.
Para homens casados, o requerente “deve incluir um relatório de um hospital federal atestando que sua esposa está sofrendo de uma doença crônica ou é estéril”.
Enquanto isso, homens casados com mulheres saudáveis precisam provar que suas esposas autorizam o segundo matrimônio.
A Arábia Saudita permite a poligamia – um homem pode ter várias esposas.
Jovens são presos por dar ‘abraços grátis’ na Arábia Saudita
Dois homens foram presos na Arábia Saudita por oferecer “abraços grátis” nas ruas de Riad.
A polícia religiosa saudita deteve os dois jovens pelos crimes de “incentivar práticas exóticas” e ofender a ordem pública.
O movimento de abraços grátis propõe “iluminar” as vidas das pessoas ao oferecer abraços a estranhos.
O jovem saudita Bandr al-Swed publicou um vídeo no YouTube no qual aparece oferecendo abraços a homens desconhecidos que passam na rua. Mais de 1,5 milhão de pessoas assistiram ao vídeo.
“Após ver a ‘Campanha de Abraços Grátis’ em muitos países diferentes, decidi fazer isso em meu próprio país”, disse Swed à TV al-Arabiya.
“Gostei da ideia e pensei que ela poderia levar felicidade à Arábia Saudita.”
Sharia
Segundo o jornal britânico Independent, o vídeo inspirou outros dois jovens sauditas: Abdulrahman al-Khayyal e um amigo.
A dupla então foi a uma das principais ruas de Riad e começou a oferecer abraços, anunciando o “serviço” em um letreiro.
Os dois foram rapidamente presos pela polícia religiosa local, órgão da Comissão para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício encarregada de assegurar o cumprimento da sharia (lei islâmica) no país.
Os dois suspeitos foram libertados após assinar um documento prometendo que não voltariam a oferecer abraços na rua.
A polícia religiosa atraiu críticas por seu papel em um incêndio, em 2002, em uma escola em Mecca, no qual 15 meninas morreram. A polícia foi acusada de manter as crianças na escola durante o incêndio por elas não estarem adequadamente vestidas para sair.
Sauditas fazem campanha no Twitter pedindo melhores salários
Uma campanha nas mídias sociais pedindo melhores salários na Arábia Saudita está ganhando grande adesão dos internautas do país, devido ao recente aumento no custo de vida.
Nos últimos dois, ativistas criaram uma hashtag em árabe que se tornou muito popular no Twitter: #nossos_salários_não_cobrem_nossas_necessidades.
Mais de 17 milhões de mensagens com esta hashtag em árabe foram publicadas nas primeiras duas semanas da campanha, que começou em julho.
No entanto, a campanha também atrai críticas. Para alguns, ela expõe em público problemas privados. Para outros, ela é simplesmente exagerada.
Um dos objetivos da campanha é fazer com que o rei Abdullah, que governa o país, aumente os salários por decreto. Os ativistas têm exposto o problema da pobreza no país, um dos mais ricos em petróleo do mundo.
Dia Nacional
Desde os anos 1970, a população passou de sete milhões para 30 milhões. Os mais jovens com bom nível de educação lideram as reivindicações por melhorias.
Alguns se ressentem com a promessa feita pelo governo de ajudar o Egito financeiramente, em um momento em que há muita pobreza.
Uma charge que circula no Twitter ilustra o problema. A imagem mostra um casal saudita e um bebê morando em um trailer. A legenda diz: “A Arábia Saudita dá US$ 5 bilhões ao Egito. Eles [a família] não merecem mais?”
A família real saudita também é criticada. Muitas mensagens no Twitter criticam a notícia não-confirmada de que um dos príncipes da família teria pago US$ 500 mil a uma instituição de caridade para ter um encontro de 15 minutos com a atriz americana Kristen Stewart.
Ativistas também reclamam da falta de imóveis a preços acessíveis, um problema que já foi criticado pelo Fundo Monetário Internacional em um relatório recente.
Os protestos podem se intensificar em 23 de setembro, o Dia Nacional, um feriado patriótico na Arábia Saudita.
Um internauta escreve: “Que Dia Nacional é esse, quando minha nação está afundando em dívida, todos os príncipes estão na Suíça e nós é que pagamos as contas? A culpa é de quem permite que eles brinquem com nosso dinheiro e nosso petróleo.”
Este tipo de debate público é raro na Arábia Saudita. O secretário-geral do gabinete do rei, Abdul Rhman al-Sadhan, criticou a campanha no Twitter, dizendo que ela é uma “oportunidade para insurreição (…) liderada por pessoas raivosas com o fato de o reino estar em paz e estabilidade, enquanto outros países sofrem.”
Romeu e Julieta’ sauditas viram tema de campanha no Facebook
Um relacionamento “proibido” entre dois jovens, envolvendo Arábia Saudita e Iêmen, virou tema de uma campanha no Facebook.
O amor entre Huda (uma moça hoje com 22 anos e vinda de uma família proeminente) e Arafat (um imigrante iemenita pobre de 25 anos) floresceu quando ela entrou em uma loja de celulares em sua cidade natal, na Arábia Saudita. Ele trabalhava lá. Ambos se apaixonaram.
Huda visitou a loja ao longo de anos para encontrar-se com Arafat, que pediu a mão da jovem em casamento ao pai dela. Mas o pai recusou, diz o advogado do casal.
“Minha família queria que eu me casasse com um outro homem”, diz Huda em um vídeo postado no YouTube, que, segundo relatos, é parte de uma entrevista que ela deu a jornalistas sauditas. “Mas eu me recusei. Disse que ninguém me tocaria senão Arafat. Foi aí que pensei que eu deveria fugir.”
Sua decisão foi considerada ousada, em uma sociedade tão tradicional e patriarcal como a saudita. Huda saiu de casa e cruzou a fronteira entre Arábia Saudita e Iêmen, disfarçada de trabalhadora iemenita.
Segundo comunicado da ONG Human Rights Watch, que conversou com o advogado do casal, Arafat estava com ela na fuga; eles planejavam se casar no Iêmen.
Mas ambos foram detidos na fronteira. Hura foi acusada de imigração ilegal, e Arafat de ser seu cúmplice.
Repercussão online
A história do casal teve grande repercussão no Facebook no Iêmen, e diversas páginas foram criadas para comentar a história do casal (uma delas tem mais de 9 mil “likes”).
Nem todos os comentários nas páginas são favoráveis a Huda e Arafat. Alguns internautas alegam que ela “envergonhou seu país e sua família”; outros evocam rixas entre iemenitas e sauditas.
Mas muitos defendem o casal e citam os levantes iemenitas durante a Primavera Árabe para pedir mais direitos civis.
“A empatia com Huda é porque ela se rebelou contra sua cultura”, diz Fahad, funcionário público de 33 anos que está organizando um protesto, neste domingo, diante do tribunal onde o casal se apresentará para uma audiência.
“Ela enfrentou uma sociedade patriarcal que ordenava que ela se casasse. Isso mostra a necessidade de termos Estados modernos, com liberdades e direitos e onde as pessoas possam, por exemplo, escolher com quem querem se casar.”
A Human Rights Watch também defendeu Huda, pedindo que ela não seja deportada à Arábia Saudita.
“As autoridades iemenitas não devem devolvê-la a seu país sem levar em conta sua alegação de que o governo saudita não será capaz de protegê-la da violência (que deverá sofrer) de sua família”, diz o comunicado da ONG.
“O Iêmen deve suspender qualquer ordem de deportação e permitir que o Comissariado da ONU para Refugiados a entreviste na prisão para verificar seu pedido por asilo.”
A ONG diz que “diversas fontes” confirmam que a Arábia Saudita está pressionando o país vizinho para que deporte Huda.
Abdullah, que terá nascido em 1923 ou 1924, era rei desde Agosto de 2005, embora tenha governado de facto o país na década anterior, depois de o antecessor, o rei Fahd, ter sofrido um acidente vascular cerebral.
À frente de uma das últimas monarquias absolutas do mundo, é creditado por algumas reformas internas: autorizou a realização de eleições municipais, que continuam a ser as únicas permitidas no país, e anunciou que as mulheres poderiam votar e ser eleitas (o que não chegou a acontecer), permitiu um nível mínimo de crítica ao governo na imprensa, deu o seu nome à primeira universidade não segregada do país e aprovou bolsas de estudo que permitiu a milhares de jovens estudar no estrangeiro. Reforçou também o papel da Arábia Saudita como potência incontestável da região e esmagou, há quase uma década, a presença da Al-Qaeda no país, após uma série de atentados que colocou em causa a segurança no maior produtor mundial de crude.
Mas a estrutura de poder não foi tocada e a Arábia Saudita mantém-se como um dos mais repressivos países do mundo, onde as mulheres são a ser presas por conduzirem, os partidos políticos são proibidos, a mínima dissidência é punida com prisão e as execuções em público uma prática corrente.
A notícia da sua morte, à 1h de sexta-feira (22h de quinta-feira em Portugal continental), foi antecedida pela recitação de versos do Corão na televisão estatal que, pouco depois, poria fim a uma especulação que durava desde 31 de Dezembro, altura em que Abdullah foi hospitalizado com uma pneumonia.
O funeral realizou-se a meio do dia de setxta-feira, um momento de grande solenidade religiosa uma vez que o rei saudita ostenta o título de guardião de Meca e Medina, o que faz dele uma das figuras mais importantes da fé muçulmana. Entre as presenças já confirmadas no funeral está o rei Abdallah da Jordânia e o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Os problemas de saúde de Abdullah foram recorrentes nos últimos anos, originando especulações sobre a sucessão no reino saudita, actor decisivo no Médio Oriente e potência mundial do petróleo. Para garantir a normalidade, Salman bin Abdulaziz al-Saud foi de imediato proclamado rei, passando o título de herdeiro para o príncipe Moqrin, o mais novo entre as dezenas de filhos de Abdulaziz al-Saud, o fundador da Arábia Saudita. Depois da sua morte, em 1952, o trono foi ocupado sucessivamente por cinco dos seus filhos, uma tradição que volta agora a ser respeitada.
Num primeiro discurso ao país, o novo monarca, tido como menos interessado em reformas e mais próximo da ultraconservadora liderança religiosa, assegurou que manterá a linha dos seus antecessores. “Permaneceremos, com o apoio de Alá, no caminho seguro que este Estado segue desde a sua criação pelo rei Abdulaziz e pelos seus filhos depois dele”, afirmou Salman numa intervenção em que prometeu manter o país a salvo de qualquer ameaça e apelou à união das nações árabes e muçulmanas.
Mas há incertezas que continuam a pairar sobre o trono saudita. Salman, que era príncipe herdeiro e ministro da Defesa desde 2011, tem 79 anos e há vários rumores sobre o seu estado de saúde, que a monarquia desmente. Moqrin foi designado no ano passado segundo na linha de sucessão, numa iniciativa de Abdullah para garantir a renovação da linha dinástica. Mas outros meios-irmãos contestam (ainda que veladamente) a escolha, apontando o facto de ser filho de mãe iemenita e de ter ultrapassado outros príncipes que, pela idade, estariam à sua frente na sucessão.
Se vier, efectivamente, a ocupar o trono saudita, Moqrin deverá ser o último da sua geração a fazê-lo, pelo que as atenções estão já centradas em perceber qual entre os netos de Saud assumirá um dia as rédeas do país. Salman deu um primeiro passo nesse sentido, ao nomear nesta quinta-feira o sobrinho Mohammed bin Nayef, actual ministro do Interior com boa reputação no Ocidente, como segundo na linha de sucessão, após Moqrin. Designou ainda um dos seus filhos, Mohammed bin Salman, como ministro da Defesa, mas manteve os titulares das outras pastas, incluindo Negócios Estrangeiros, Petróleo e Finanças.
Operações antiterror prendem 27 suspeitos de terrorismo na Europa
Centenas de policiais acharam suspeitos na França, Bélgica e Alemanha.
Em diversos países árabes, milhares protestaram contra charge de Maomé.
As polícias da Alemanha, Bélgica e França lançaram operações contra suspeitos de ligação com terrorismo islâmico e prenderam 27 pessoas. Em 16/1/15, dia tradicional de reza para os muçulmanos, milhares de pessoas em vários países do Oriente Médio protestaram contra a charge do profeta Maomé estampada na última capa do jornal Charlie Hebdo.
250 policiais fortemente armados fizeram buscas em 12 apartamentos em Berlim. Eles prenderam dois homens, entre eles, um emir de uma mesquita, que recrutava combatentes para lutar na Síria.
O outro preso é acusado de planejar a logística de ataques terroristas no Oriente Médio. Na Bélgica, a polícia prendeu 13 suspeitos de terrorismo, vários deles já lutaram na Síria.
Em 16/1/15, outros dois suspeitos foram mortos durante uma operação antiterror em Verviers, uma cidade no leste do país.
Durante as buscas, a polícia encontrou quatro armamentos militares, do tipo AK-47, várias armas de mão, munição, explosivos e uniformes militares.
Segundo a Procuradoria-Geral da Bélgica, todos faziam parte de um grupo radical islâmico que planejava atacar policiais e delegacias.
Na França, a polícia prendeu, na sexta-feira (16), 12 pessoas suspeitas de ter ligações com os ataques terroristas da semana passada. Os detidos foram interrogados e, segundo as autoridades, eles deram apoio logístico aos atentados, providenciando armas e carros aos terroristas.
O presidente francês François Hollande disse que a França está em guerra contra o terrorismo, e vai continuar com as operações antiterror no Iraque e no norte da África, apesar das ameaças de retaliação.
Mais cedo, ele recebeu o secretário de Estado americano, John Kerry, que foi a Paris demonstrar apoio, depois de os Estados Unidos terem sido fortemente criticados por não terem mandado um representante de alto nível para a marcha de domingo (11), que reuniu mais de 40 chefes de Estado de todo o mundo.
Kerry visitou o local dos dois atentados: o supermercado judaico e o jornal Charlie Hebdo.
As últimas vítimas do atentado ao jornal satírico foram enterradas na sexta-feira (16). Entre elas, o cartunista e editor Stephane Charbonnier, que recebeu uma despedida animada por uma banda de jazz.
Enquanto isso, em países de maioria muçulmana houve grandes manifestações de repúdio ao Charlie Hebdo.
Na Mauritânia, largos milhares de pessoas marcharam da grande mesquita central de Nouakchott, tendo o chefe de Estado, Mohamed Ould Abdel Aziz, proferido breves palavras: “Eu sou muçulmano, somos todos muçulmanos. Nós lutámos contra o terrorismo no nosso próprio país e pagámos um preço elevado”. Em Argel, entre 2.000 a 3.000 pessoas protestaram contra o último número do Charlie Hebdo, algumas gritando o nome dos irmãos Kouachi, os autores do ataque contra o jornal francês, de acordo com um jornalista da AFP.
Em Dacar, também na sequência das orações de 16/1/15, pelo menos um milhar de pessoas protestaram contra os cartoons do Charlie Hebdo.
A bandeira francesa foi queimada frente à Embaixada de França, no centro de Dacar, por um grupo de manifestantes que gritavam slogans em louvor de Maomé e contra Charlie Hebdo, tendo a polícia usado gás lacrimogénio para dispersar a multidão, que gritava “Alá é grande”. Vários manifestantes criticaram o presidente Macky Sall por ter participado na marcha em Paris, no domingo, contra o “terrorismo”, acusando-o de ser “um hipócrita” e de ter a obrigação – como sublinhou Malick Ndiaye, professor na Universidade de Dakar – de “pedir desculpas” aos senegaleses.
Em Carachi, no Paquistão, quando cerca de 350 manifestantes entraram em confronto com a polícia fora do consulado francês, pelo menos três pessoas ficaram feridas: Asif Hassan, fotógrafo da AFP alvejado nas costas, um agente da polícia e um operador de câmara de uma televisão local. Enquanto isso, manifestantes em Peshawar e Multan queimaram bandeiras francesas nas ruas e manifestações decorriam em Islamabad e Lahore.
Na Jordânia, em Amã, cerca de 2.500 manifestantes partiram da mesquita de Al-Husseini sob um forte aparato de segurança, empunhando cartazes que diziam “insultar o profeta é o terrorismo global”. Em Cartum, centenas de sudaneses marchando na praça adjacente à Grande Mesquita entoaram frases a pedir a expulsão do “embaixador francês” e apelando a uma “vitória ao profeta de Deus”, lendo-se numa bandeira que “o governo francês deveria pedir desculpas e pôr fim aos insultos a figuras religiosas
Também houve confusão depois de um protesto na Argélia.
Em Istambul, na Turquia, teve uma marcha de apoio aos irmãos Koachi, os terroristas que mataram 12 pessoas no ataque ao Charlie Hebdo.
Protestos contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo deixaram cinco mortos no Níger, com manifestantes destruindo bares, queimando igrejas e bloqueando várias estradas em 17/1/15. Os muçulmanos criticam a publicação de charges com o profeta Maomé. O episódio de violência é o mais recente capítulo em uma onda antifrancesa que atinge o norte da África, Oriente Médio e partes da Ásia.
Apenas uma semana após dezenas de líderes mundiais marcharem em Paris contra o terrorismo e em defesa da liberdade de expressão, os protestos mostram os desafios que o Ocidente enfrenta no relacionamento com o islamismo. “Isso é intolerável”, disse o presidente francês, François Hollande, ao comentar as mortes no Níger e notícias de que bandeiras da França foram queimadas em várias partes da África.
Após os ataques terroristas contra a sede do Charlie Hebdo na semana passada, que deixaram 12 mortos, os integrantes do jornal que sobreviveram produziram uma edição especial, com tiragem de 7 milhões de exemplares, que tem uma charge de Maomé na capa e foi celebrada como um símbolo de desafio ao extremismo religioso. No desenho o profeta segura uma placa com a frase “Je suis Charlie”, enquanto a manchete diz: “Tudo está perdoado”.
A caricatura irritou mesmo lideranças muçulmanas mais moderadas. A maior autoridade religiosa da Arábia Saudita, o Conselho Sênior de Ulemás, disse que a capa do jornal não tem nada a ver com liberdade de expressão. “Machucar os sentimentos dos muçulmanos com esses desenhos não ajuda causa alguma nem atinge um objetivo justo. No fim, é um serviço prestado ao extremistas que buscam justificativas para assassinatos e terrorismo”, disse o secretário-geral da entidade, Fahad al Majed, em comunicado. Os governos e líderes religiosos do Iraque e do Egito também condenaram a nova edição do Charlie Hebdo.
Manifestantes no Níger, Mali e Senegal – todos ex-colônias francesas – também pareciam irritados com a decisão dos chefes de governo de participar da marcha em Paris no último domingo.
Na capital do Níger, Niamey, os manifestantes acordaram cedo e começaram a incendiar igrejas, saquear lojas e destruir estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas, disse Ousmane Toudou, conselheiro do presidente do país, Mahamadou Issoufou. O governo enviou um grupo de líderes muçulmanos para conversar com a multidão, formada basicamente de jovens. A polícia foi mandada posteriormente. Quando o protesto se dissipou, dois corpos foram encontrados dentro de uma igreja e outros três em um bar.
Esse foi o segundo dia de protestos. Na sexta-feira, manifestações em Zinder, uma cidade próxima do bastião do Boko Haram, no norte da Nigéria, queimaram igrejas e destruíram um centro cultural francês, além de terem invadido uma delegacia de polícia. Quatro pessoas morreram nos confrontos subsequentes, incluindo um policial, que foi atropelado por um carro, segundo uma agência de notícias nigeriana.
Os protestos começaram no Paquistão e se espalharam para a Turquia e o Oriente Médio. Em Istambul, um grupo simpático a Al-Qaeda organizou um protesto a favor dos militantes que atacaram o Charlie Hebdo. Na Jordânia, um grande protesto pacífico se dirigiu para a embaixada francesa.
No Senegal, centenas protestaram na capital, Dakar. O país, frequentemente citado como um dos melhores exemplos de tolerância religiosa, proibiu a circulação do jornal satírico francês. Manifestações também foram realizadas nas capitais da Mauritânia, Nouakchott, e do Mali, Bamako.
A situação no Mali marca uma profunda mudança no sentimento em relação à França em pouco tempo. Dois anos atrás a capital estava cheia de bandeiras francesas, com crianças gritando “Merci, France!”, após o exército francês ajudar o país a combater militantes da Al-Qaeda que haviam dominado várias cidades no norte.
Neste sábado, Hollande disse que embora entenda que alguns países não compartilhem os valores franceses de liberdade de expressão, esperava mais solidariedade de aliados aos quais ajudou no combate a radicais muçulmanos. “Alguns países podem, às vezes, não entender o que é liberdade de expressão, porque nunca tiveram isso. Mas nós apoiamos esses países contra o terrorismo”, comentou em entrevista a rádios francesas. Fonte: Dow Jones Newswires
O massacre no semanário Charlie Hebdo ocorreu num momento em que os franceses discutem, e até brigam, acaloradamente sobre o Islã e sua presença na França. No país, vivem entre 4 milhões e 6 milhões de muçulmanos de diferentes origens. Não poucos franceses étnicos temem que isso possa transformar permanentemente a identidade política, jurídica e religiosa de seu Estado laico.
As discussões ocorrem sob um pano de fundo histórico que vem de séculos. Em 1830, os franceses conquistaram a Argélia, construindo um domínio colonial que durou mais de 130 anos. Somente em 1962, após longa e dura batalha, com baixas de ambos os lados, o país africano tornou-se independente novamente.
“Na França e na Argélia existem memórias muito diferentes dessa época”, afirma o historiador francês Benjamin Stora. “Por um lado, há o nacionalismo francês, que ainda não quer aceitar a retirada da Argélia. Já o nacionalismo argelino se legitima através da vitória sobre os antigos senhores coloniais. Assim, há duas versões da história que se contradizem mutuamente.”
Mas a história recente da Argélia também deixa sua marca na França. Jihadistas realizaram violentos ataques no país durante a guerra civil argelina, na primeira metade da década de 1990, atingindo também instalações do metrô parisiense.
As relações, por vezes tensas, na França, levaram à fundação, em 1985, da organização SOS Racisme. Ela lançou a campanha touche pas à mon pote (não toque no meu amigo) para promover a coexistência pacífica entre os diferentes grupos étnicos e religiosos.
No entanto, o debate sobre a integração dos franceses muçulmanos não termina na França. Em outubro de 2005, ocorreram em várias cidades protestos violentos de jovens imigrantes, após dois jovens terem morrido eletrocutados ao se esconder da polícia em uma caixa de transformador.
A revolta começou também em Paris e logo se espalhou para outras grandes cidades. Nas semanas seguintes, inúmeros carros, cabines de telefone e contentores de lixo foram incendiados. Os tumultos foram interpretados como expressão das condições difíceis nos chamados banlieues, bairros de periferia, onde vive a maioria dos imigrantes.
O conflito também é culturalmente latente. A Corte Europeia dos Direitos Humanos confirmou, em julho de 2014, a proibição da burca, o véu islâmico de corpo inteiro, que entrou em vigor na França em 2011. A lei proíbe que as mulheres a usem em público. Em caso de violação, a infratora pode pagar uma multa de até 150 euros. Cerca de 2 mil mulheres na França são afetadas pela proibição.
Medo e indignação foram provocados por um atentado a uma escola judaica em março de 2012, em que um jovem francês descendente de argelinos matou quatro pessoas, incluindo três crianças.
Por outro lado, muitos muçulmanos que vivem na França reclamam de preconceito e difamação. A presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen, chamou em dezembro de 2010 as orações públicas de fiéis muçulmanos como “ocupação” do solo francês. “Claro que isso acontece sem tanques e sem soldados, mas mesmo assim é uma ocupação, e afeta a população”, disse Le Pen. Por causa disso, o Parlamento Europeu suspendeu a imunidade dela como deputada.
O debate ainda é adicionalmente aquecido pelo avanço do Estado Islâmico (ISIS) na Síria e no Iraque. O ataque à redação do Charlie Hebdoocorreu também nesse contexto. Parece que seus autores querem tornar realidade aquilo que o ISIS deseja para a Europa: que os muçulmanos e não muçulmanos sejam totaO ataque com 12 mortos contra uma jornal semanal de sátiras francês que zombou do islamismo parece dar combustível para os movimentos anti-imigração em toda Europa e inflamar a “guerra cultural” sobre a posição da religião e da identidade étnica na sociedade.
A primeira reação na França às mortes na redação do jornal Charlie Hebdo, na quarta-feira (7), por homens armados e mascarados que gritavam slogans islâmicos foi uma efusão de apoio à unidade e liberdade de expressão nacional.
Mas isso parece provável que seja pouco mais do que um cessar-fogo momentâno em um país dominado pelo mal-estar econômico e alto desemprego. A França tem a maior população muçulmana da Europa e está no meio de uma discussão intensa sobre a identidade nacional e o papel do Islã.
“Este ataque certamente vai acentuar a crescente islamofobia na França”, disse Olivier Roy, cientista político e especialista em Oriente Médio do Instituto da Universidade Europeia em de Florença.
Um livro do jornalista Eric Zemmour intitulado “Le Suicide Français” (O Suicídio Francês), argumentando que a imigração muçulmana em massa está entre os fatores que vêm destruindo os valores seculares franceses, foi o ensaio mais vendido de 2014.
O principal lançamento de publicação do ano até o momento é um romance do controverso escritor Michel Houellebecq que imagina a vitória de um muçulmano à Presidência da França em 2022, que impõe como lei o ensino religioso obrigatório e a poligamia e proíbe as mulheres de trabalhar.
Essa efervescência intelectual se mistura à ansiedade na população com a radicalização de centenas de muçulmanos franceses que se uniram aos combatentes do Estado islâmico na Síria e no Iraque, e que as autoridades do setor de segurança temem que possam provocar ataques aos que retornarem à França.
Referendo em favor da pena de morte
A Frente Nacional, de extrema-direita, não perdeu tempo em vincular o ato mais letal de violência política em décadas à imigração e exigir um referendo para restabelecer a pena de morte, apesar de um líder muçulmano francês, o ímã Hassen Chalghoumi, ter dito que o caminho certo para combater o Charlie Hebdo não era com derramamento de sangue ou ódio.
A líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, que as pesquisas de opinião indicam que estaria em primeiro lugar se uma eleição presidencial fosse realizada hoje, disse que o “fundamentalismo islâmico” declarou guerra à França e que isso exige uma ação forte e eficaz. Embora ela tenha tido o cuidado de fazer distinção entre os cidadãos muçulmanos que compartilham valores franceses e “aqueles que matam em nome do Islã”, seu pai, o fundador da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, e seu vice, Florian Philippot, foram menos cautelosos. “Qualquer um que diga que o radicalismo islâmico não tem nada a ver com a imigração está vivendo em outro planeta”, disse Philippot à rádio RTL.
Ímãs entoavam orações diante da redação do Charlie Hebdo na quinta-feira e líderes islâmicos instavam os fiéis a participar do luto nacional pelas vítimas, cujas charges do profeta Maomé provocaram a ira de muitos muçulmanos no passado.
Durante a noite houve ataques que as autoridades classificaram como de vingança. Uma mesquita na cidade de Le Mans, no leste do país, foi alvo de tiros, e uma explosão destruiu uma lanchonete de quebab ao lado de uma mesquita no centro da cidade de Villefranche-sur-Saône.
Jornal ‘Charlie Hebdo’ aumenta tiragem para 7 milhões de exemplares
Publicação alvo de atentado em Paris já havia aumentado para 5 milhões.
Ataque terrorista em Paris na semana passada deixou 12 mortos.
Capa do ‘Charlie Hebdo’
O jornal satírico francês “Charlie Hebdo” anunciou, em 17/1/15, que voltará a ampliar sua tiragem de cinco para sete milhões de exemplares após o atentado em Paris.
A revista, cuja tiragem normal é de 60 mil exemplares, havia inicialmente ampliado a primeira edição posterior ao ataque para cinco milhões.
Além disso, o site oferece a possibilidade de assinar a revista, fazer uma doação ou baixar em aplicativos o último número, no qual uma caricatura de Maomé – que transformou a revista em alvo terrorista – abre o novo exemplar com um cartaz em que se lê a frase que representou o apoio do mundo A favor da liberdade de expressão: “Je suis Charlie”.
A sede da revista em Paris foi atacada no último dia 7 pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi, que mataram 12 pessoas, inclusive seu diretor, Stéphane Charbonnier, o Charb, e quatro dos cartunistas mais famosos da França.
Fontes: G1 e Uol
Uma sequência de ataques deixou ao menos 16 pessoas mortas na França desde a última quarta-feira, quando homens armados invadiram a sede do jornal satírico “Charlie Hebdo”. Saiba quem foram os mortos em cada episódio:
Sequestro em mercado de Paris
– Quatro reféns ainda não identificados morreram em 9/1/15, após uma ação policial ter acabado com um sequestro em um mercado kosher de Paris.
– Amedy Coulibaly, 32 anos
Amedy Coulibaly (Foto: Reuters)
Segundo uma fonte do citada pela agência de notícias France Presse, Coulibaly foi visto em 2010 em companhia de Chérif Kouachi, apontado como autor do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”. Segundo o jornal “Le Point”, Coulibaly também pertenceria a “Buttes Chaumont”, rede de militantes jihadistas.
Sequestro em Dammartin-en-Goële
– Chérif Kouachi, 32 anos
Chérif Kouachi (Foto: Reuters)
Francês com ascendência argelina, Chérif é um dos suspeitos de ter invadido o jornal “Charlie Hebdo”, em um ataque que deixou 12 mortos. Ao lado do irmão, Said, ele ficou foragido por três dias até invadir uma fábrica em Dammartin-en-Goële e fazer reféns. O sequestro terminou na tarde desta sexta, com a morte de Chérif e do irmão. Segundo a polícia, Chérif havia sido preso por envolvimento com o radicalismo islâmico
– Said Kouachi, 34 anos
Said Kouachi (Foto: Reuters)
Ao lado do irmão, é suspeito de ter cometido o ataque ao jornal na quarta e o sequestro à fábrica na sexta-feira. A polícia o matou durante a operação para libertar os reféns.
Ataque a policial
– Uma policial que não foi identificada morreu em um tiroteio em Paris, em 8/1/15. Segundo os jornais franceses, o autor do ataque é Amedy Coulibaly.
De acordo com informações da rede norte-americana de TV “CNN”, a polícia estaria negociando com os suspeitos. Agências de notícias informam que os possíveis atiradores estariam dispostos a “morrer como mártires”. “A prioridade é estabelecer um diálogo para que haja uma solução o mais pacífica possível”, assinalou o porta-voz do Ministério do Interior, Pierre Henry Brandet, apontando que o desenlace da crise “pode ainda levar um tempo”.
A comuna de Dammartin-en-Goele tem menos de 10 mil habitantes. Pelo menos quatro escolas estão fechadas por causa da caçada policial, e os moradores foram orientados a não saírem de suas casas. Os dois suspeitos de terem cometido o atentado à Revista Charlie Hebdo, que matou 12 pessoas, em Paris, estão sendo perseguidos pelas forças de segurança francesas e fizeram uma pessoa refém em uma pequena empresa especializada em impressão e publicidade, em Dammartin-en-Goele, a cerca de 40 km da capital, não muito longe do aeroporto Charles de Gaulle, informaram nesta sexta-feira (9) fontes policiais à imprensa francesa.
De acordo com informações da rede norte-americana de TV “CNN”, a polícia estaria negociando com os suspeitos. Agências de notícias informam que os possíveis atiradores estariam dispostos a “morrer como mártires”. “A prioridade é estabelecer um diálogo para que haja uma solução o mais pacífica possível”, assinalou o porta-voz do Ministério do Interior, Pierre Henry Brandet, apontando que o desenlace da crise “pode ainda levar um tempo”.
A comuna de Dammartin-en-Goele tem menos de 10 mil habitantes. Pelo menos quatro escolas estão fechadas por causa da caçada policial, e os moradores foram orientados a não saírem de suas casas.
Segundo informações do “Le Figaro”, todos os estudantes foram levados para uma única escola, que está fechada e tem as janelas cobertas. Policiais fazem guarda em frente ao local, bloqueando todas as saídas. Nenhuma criança poderá sair até a conclusão da operação. Elas assistem a desenhos animados para ficarem calmas.
O governo da França disse ter poucas dúvidas de que as duas pessoas na instalação industrial são os irmãos Said e Cherif Kouachi. “Temos quase certeza que esses dois indivíduos estão cercados naquele prédio”, disse o porta-voz do Ministério do Interior, Pierre-Henry Brandet, à emissora de televisão iTele.
No terceiro dia de buscas, houve um tiroteio durante a perseguição aos irmãos Kouachi, segundo fontes policiais. Cherif e Said Kouachi roubaram um carro Peugeot 206 em Montagny-Sainte-Félicité de uma mulher, que disse ter reconhecido os irmãos Kouachi, e iniciou-se uma perseguição. Segundo as autoridades francesas, os suspeitos estariam com armas de assalto e possivelmente uma bazuca.
A imprensa francesa informou ainda que voos com destino ao aeroporto Charles de Gaule, o maior da França, foram desviados para evitar a região de Dammartin-en-Goële.
O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, confirmou que uma operação policial, com 88 mil agentes e helicópteros, está em andamento no nordeste do país, mas não deu mais detalhes. “Temos indicações da presença dos terroristas que nós queremos pegar”, afirmou.
De acordo com ele, o estado de saúde de quatro das onze pessoas feridas no ataque é grave, “mas elas não correm risco de morte”. Os outros sete feridos tiveram ferimentos leves e já receberam alta do hospital.
A empresa onde está sendo feita a operação foi identificada como Création Tendance Découverte (CTD). Ela conta com quatro funcionários, segundo seu site.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, declarou nesta sexta-feira que a França está em guerra “contra o terrorismo, não contra uma religião”, e estimou que serão necessárias novas medidas “para responder à ameaça”. “Estamos em uma guerra contra o terrorismo. Não estamos em uma guerra contra uma religião, contra uma civilização”, disse.
A França decretou ontem dia de luto nacional pelas 12 vítimas. Às 20h (17h de Brasília), a Torre Eiffel desligou as luzes em homenagem aos mortos.
Ligação com a Al Qaeda
Nesta sexta-feira veio à tona que um dos suspeitos, Said, viajou ao Iêmen em 2011 para receber treinamento de militantes islâmicos ligados à Al Qaeda. As informações são de funcionários do alto escalão do governo americano à emissora “CNN” e ao jornal “New York Times”. Os serviços de Inteligência dos Estados Unidos estão averiguando se o grupo vinculado à Al Qaeda ordenou explicitamente o ataque contra a revista, mas, por enquanto, não há indicações de que os irmãos tenham recebido instruções diretas do grupo ou façam parte de uma célula terrorista na França, explicaram as mesmas fontes.
Também foi anunciado que os dois irmãos estavam numa lista de pessoas proibidas de viajar em voos para os EUA. Um terceiro suspeito, Hamyd Mourad, entregou-se voluntariamente em 7/1/15 e disse ser inocente.
Ato heroico
Os islamitas somalis ligados ao Estado Islâmico classificaram nesta sexta-feira o atentado de “heroico”, em um comunicado à rádio Andalus.
“Charlie Hebdo insultou nosso profeta e indignou milhares de muçulmanos. Os dois irmãos (suspeitos do ataque) são os primeiros a ter se vingado”, afirma a nota divulgada pela emissora oficial do movimento.
Luta contra o terrorismo
A cúpula europeia prevista para 12 de fevereiro em Bruxelas será dedicada à luta antiterrorista, anunciou hoje o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. “Falei com o presidente (francês François) Hollande ontem à noite e tenho a intenção de utilizar a reunião de chefes de Estado e de governo de 12 de fevereiro para abordar a resposta que a UE pode fornecer aos desafios” da luta antiterrorista, disse Tusk após uma reunião em Riga com a primeira-ministra da Letônia, Laimdota Straujuma. (Com agências internacionais)
Segundo informações do “Le Figaro”, todos os estudantes foram levados para uma única escola, que está fechada e tem as janelas cobertas. Policiais fazem guarda em frente ao local, bloqueando todas as saídas. Nenhuma criança poderá sair até a conclusão da operação. Elas assistem a desenhos animados para ficarem calmas.
O governo da França disse ter poucas dúvidas de que as duas pessoas na instalação industrial são os irmãos Said e Cherif Kouachi. “Temos quase certeza que esses dois indivíduos estão cercados naquele prédio”, disse o porta-voz do Ministério do Interior, Pierre-Henry Brandet, à emissora de televisão iTele.
No terceiro dia de buscas, houve um tiroteio durante a perseguição aos irmãos Kouachi, segundo fontes policiais. Cherif e Said Kouachi roubaram um carro Peugeot 206 em Montagny-Sainte-Félicité de uma mulher, que disse ter reconhecido os irmãos Kouachi, e iniciou-se uma perseguição. Segundo as autoridades francesas, os suspeitos estariam com armas de assalto e possivelmente uma bazuca.
A imprensa francesa informou ainda que voos com destino ao aeroporto Charles de Gaule, o maior da França, foram desviados para evitar a região de Dammartin-en-Goële.
O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, confirmou que uma operação policial, com 88 mil agentes e helicópteros, está em andamento no nordeste do país, mas não deu mais detalhes. “Temos indicações da presença dos terroristas que nós queremos pegar”, afirmou.
De acordo com ele, o estado de saúde de quatro das onze pessoas feridas no ataque é grave, “mas elas não correm risco de morte”. Os outros sete feridos tiveram ferimentos leves e já receberam alta do hospital.
A empresa onde está sendo feita a operação foi identificada como Création Tendance Découverte (CTD). Ela conta com quatro funcionários, segundo seu site.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, declarou nesta sexta-feira que a França está em guerra “contra o terrorismo, não contra uma religião”, e estimou que serão necessárias novas medidas “para responder à ameaça”. “Estamos em uma guerra contra o terrorismo. Não estamos em uma guerra contra uma religião, contra uma civilização”, disse.
A França decretou ontem dia de luto nacional pelas 12 vítimas. Às 20h (17h de Brasília), a Torre Eiffel desligou as luzes em homenagem aos mortos.
Les grandes plumes de Charlie Hebdo mortes dans l’attaque
Cabu, Charb, Tignous, Oncle Bernard ou encore Wolinski. Cinq noms qui ont marqué les pages de Charles Hebdo, l’hebdomadaire frappé ce mercredi 7 janvier 2015 par un attentat. Cinq noms que l’on ne reliera plus dans les pages du canard satyrique. Portraits.
Cabu
Pendant près de 60 ans, le dessinateur Cabu, 76 ans, tué mercredi avec d’autres dessinateurs dans l’attentat contre Charlie Hebdo, a épinglé les travers de son époque à la pointe acérée de son crayon. Avec en ligne de mire les politiques, l’armée, toutes les religions… Et bien sûr, les “beaufs”, ces caricatures de Français râleurs, chauvins, qu’il tendait comme un miroir à ses contemporains.
Ses caricatures de Mahomet publiées en 2006 étaient parmi les plus caustiques de celles qui avaient valu à l’équipe de Charlie des menaces de morts. Depuis, un policier assurait régulièrement sa protection.
Né en 1938, Jean Cabut fait ses premiers pas dans le dessin de presse dans “Ici Paris”, puis dans “Pilote” ou encore “Hari Kiri”. Dessinateur aux centaines de collaborations, Cabu ne mâchait pas sa plume. De de Gaulle, sur qui il s’est fait les dents dans les années 1960, à François Hollande, il a malmené tous les présidents de la Ve République. Avec un faible pour Nicolas Sarkozy, qu’il dessinait en lutin frénétique avec des cornes de diablotin. “Le but, disait-il, c’est avant tout d’essayer de faire rire. Il faut voir ça du côté ensoleillé de la vie.”
Wolinski
“Wolinski, on croit qu’il est con parce qu’il fait le con mais en réalité, il est vraiment con.” En 2012, Wolinski simaginait que ces mots de Cavanna pourrait lui servir d’épitaphe. Irrévérencieux et grivois, Georges Wolinski, tué mercredi dans l’attentat contre Charlie Hebdo à l’âge de 80 ans, était un dessinateur de presse mythique pour toute une génération, père du célèbre “Roi des cons”, pilier de la bande de Hara-Kiri dans les années 60 puis de Charlie Hebdo.
Né en 1934, l’homme entre en 1960 dans l’équipe de Hara-Kiri (qui deviendra ensuite Charlie Hebdo).Il a été le rédacteur en chef de Charlie Hebdo de 1970 à 1984.
Dans Charlie, chaque semaine, Wolinski met en scène deux personnages, un maigre timide et un gros, dominateur et péremptoire, qui enchaîne les propos de comptoir: “Monsieur, je suis pour la liberté de la presse, à condition que la presse n’en profite pas pour dire n’importe quoi!”
Charb
Stéphane Charbonnier, alias Charb était directeur de la publication de Charlie Hebdo. Né en 1971, le dessinateur était sous protection policière depuis l’incendie volontaire en 2011 des locaux de Charlie Hebdo, suite à la publication de factures de Mahomet.
Charb avait fait ses armes dans plusieurs rédactions, notamment celle de l’Echo des Savanes, Télérama ou Fluide Glacial.
Bernard Maris, alias Oncle Bernard, économiste médiatique et chroniqueur sur France Inter, a été tué dans l’attentat perpétré mercredi contre l’hebdomadaire satirique Charlie Hebdo, à l’age de 68 ans, a annoncé Radio France. “France Inter pleure et nos pensées vont à sa famille”, a tweeté Mathieu Gallet, PDG de Radio France.
Bernard Maris, 68 ans, collaborait à Charlie Hebdo, sous le pseudonyme d'”Oncle Bernard”. Souvent considéré comme altermondialiste, il avait participé au conseil scientifique d’ATTAC.
Tignous
Bernard Verlhac, dit Tignous est décédé ce mercredi dans la fusillade Publihebdos, à l’âge de 58 ans. Né en 1957, il collaborait à la presse écrite française depuis les années 80. L’idiot International, La Grosse Bertha, ou encore l’Evénement du Jeudi ont été de ses rédactions d’attache. Depuis, il avait fait son nid chez Charlie Hebdo et collaborait régulièrement aux pages de Marianne, Fluide Glacial, VSD, Télérama, L’Huma ou encore l’Express.
Operação policial em Reims para deter suspeitos do atentado em Paris
Cerca de três mil polícias procuram os três homens que atacaram, esta manhã de quarta-feira, em Paris, o semanário satírico “Charlie Hebdo”, no pior atentado dos últimos 40 anos no qual morreram 12 pessoas. A polícia já identificou e localizou os três suspeitos e há uma operação policial em curso, em Reims, para capturar dois dos atacantes. “Ninguém pode pensar que pode agir em França contra os valores da República”, avisou o presidente francês, François Hollande.
Dois homens armados executaram um polícia e fugiram
Os suspeitos serão os irmãos nascidos em Paris, com origem argelina, Saïd e Chérif Khouachi, com 32 e 34 anos, e um terceiro homem, de Reims, com 18 anos, do qual se conhece apenas o primeiro nome: Hamyd M.
Milhares de pessoas se reuniram na tarde desta quarta-feira (7), em Paris, em homenagem às vítimas do sangrento atentado contra o semanário humorístico “Charlie Hebdo”, uma manifestação que se repetiu em várias cidades francesas, segundo a polícia.
Em Paris, convocados por vários sindicatos, associações, meios de comunicação e partidos políticos, cerca de cinco mil pessoas se reuniram a partir das 17 horas (14 horas de Brasília) na praça da República, centro da capital, perto da sede do semanário.
Alguns usavam adesivos e cartazes onde se podia ler a mensagem “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”), que também circula nas redes sociais. A frase foi publicada no próprio site do semanário, que também disponibilizou a mensagem em diferentes idiomas para que as pessoas possam imprimir e levar às ruas.
Entre os cartazes vistos em manifestação, um dizia “Charb mort libre” (Charb morre livre), em homenagem a Charb, cartunista e diretor da “Charlie Hebdo”, falecido no ataque, ao lado de três dos principais caricaturistas da publicação – Cabu, Tignous e Wolinski -, todos muito conhecidos na França.
“É dramático que estas pessoas tenham sido assassinadas. Amanhã, as pessoas não poderão falar. Temos que ir às ruas aos milhares”, disse à AFP Béatrice Cano, manifestante que trazia o último número da Charlie Hebdo, publicado nesta quarta-feira.
“A liberdade de imprensa não tem preço”, dizia outro cartaz.
Mais de 10 mil pessoas se concentram nas ruas de Lyon (centro-leste) e em Toulouse (sudoeste), segundo estimativas das forças de ordem.
A Sociedade dos Jornalistas (SDJ), coletivo que reúne 15 meios de comunicação, entre eles alguns dos mais importantes da França, como os jornais Le Monde, Le Figaro, Libératión, a Rádio France International, a Agence France-Presse, a emissora TF1, condenou o que chamou de um “ato de terrorismo inqualificável” em um comunicado conjunto, intitulado “Nous sommes tous des Charlie” (Todos somos de Charlie).
“Nós, jornalistas, expressamos nossa profunda tristeza, assim como nossa ira e queremos manifestar apoio aos nossos colegas, aos policiais e às famílias tocadas por este atentado horripilante”, declarou a SDJ.
Aos gritos de “Alá Akbar” (Alá é o maior), os atacantes, armados, entraram na sede da “Charlie Hebdo”, dispararam contra os funcionários e depois fugiram, matando 12 pessoas a sangue frio, entre eles personalidades desta publicação emblemática, que já tinha sido ameaçada em várias oportunidades por suas caricaturas do profeta Maomé.
O massacre, de uma “barbárie excepcional”, segundo o presidente francês, François Hollande, provocou indignação em todo o mundo.
Um novo livro retratando uma França que, no futuro, vive totalmente sob leis islâmicas chegou nesta quarta-feira às livrarias ─ justamente no dia do ataque à revista satírica francesa Charlie Hebdo, em Paris. Testemunhas afirmam que os atiradores gritaram palavras em árabe, levantando suspeitas de que seriam extremistas islâmicos.
Apesar de não haver nenhum indício de que o atentado estaria relacionado à novela “Soumission” (Submissão), do premiado e provocativo autor francês Michel Houellebecq, o crime pode dar publicidade ao livro e incentivar ainda mais as vendas.
Em sua edição mais recente, a Charlie Hebdo traz justamente Houellebecq e seu livro em sua capa. Nas páginas internas da revista, há também outro elemento que vem sendo chamado de “premonitório”, uma charge com um jihadista ao lado da frase “A França segue sem atentados”. O cartum foi feito por Charb, um dos 12 mortos no atentado desta quarta-feira.
O romance “Soumission” tem causado polêmica ao retratar o país como uma sociedade islâmica onde universidades são forçadas a ensinar o Corão, o livro sagrado do islamismo, mulheres usam o véu e a poligamia é permitida.
Segundo a obra de ficção, no ano de 2022, a França segue em seu lento colapso e o líder de um partido muçulmano assume como novo presidente do país.
Mulheres são incentivadas a deixar seus trabalhos e o desemprego cai. O crime evapora. Véus se transformam na nova regra e a poligamia é autorizada. As universidades são forçadas a ensinar o Corão.
Críticos de Houellebecq dizem que seu livro inflama a islamofobia e dá credibilidade intelectual a autores considerados “neo-reacionários”
Inativa e decadente, a população volta a seus instintos colaborativos. E aceita a nova França islâmica.
Mesmo antes de seu lançamento, o livro já vinha provocando debates e levantando questões como se o livro seria uma peça favorável ao temor anti-Islã disfarçado de literatura ou se o livro ajuda a extrema-direita.
Ou, pelo contrário, estaria Houellebecq simplesmente fazendo o trabalho de um artista: segurando um espelho para o mundo, talvez exagerando, mas honestamente dizendo as verdades mais profundas?
O tema é ainda mais intenso porque o Islã e identidade já estão no centro de um debate nacional feroz na França.
Grande sucesso
No ano passado, a Frente Nacional ─ anti-imigração ─ conquistou um avanço extraordinário ao vencer uma eleição nacional ─ para o Parlamento Europeu ─ pela primeira vez.
A líder do partido Marine Le Pen é uma das apostas para as eleições presidenciais de 2017. E em Soumission, é para evitar que ela seja reeleita que outros partidos apoiam o carismático Mohammed Ben Abbes.
Críticos de Houellebecq dizem que seus livros emprestam uma credibilidade intelectual para autores considerados “neo-reacionários”.
Para Laurent Joffrin, do jornal de esquerda Libération, Houellebecq acaba favorecendo Marine Le Pen.
“Intencionalmente ou não, o livro tem uma clara ressonância política”, disse. “Uma vez que o furor da mídia arrefecer, o livro será visto como um momento-chave na história das ideias ─ quando a tese da extrema direita entrou, ou reentrou, na literatura.”
Outros críticos foram além. “Esse livro me deixa enojado… me sinto insultado. O ano começa com a islamofobia disseminada na obra de um grande novelista francês”, disse o apresentador de TV Ali Baddou.
Por outro lado, defensores de Houellebecq dizem que ele trata de assuntos que as elites ligadas à esquerda fingem que “não existe”.
Fonte: Google
Ataque em sede do jornal Charlie Hebdo em Paris deixa mortos
Polícia francesa disse que 12 pessoas morreram e 11 ficaram feridas.
Alvo foi sede de publicação satírica que já foi atacada por muçulmanos.
Pelo menos 12 pessoas morreram e 11 ficaram feridas em um tiroteio em Paris nesta quarta-feira (7). O crime aconteceu no escritório do jornal satírico “Charlie Hebdo”, que já havia sido alvo de um ataque no passado após publicar uma caricatura do profeta Maomé.
Todos os mortos foram identificados. São eles: o editor e cartunista Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, o lendário cartunista Wolinski, o economista e vice-editor Bernard Maris e os cartunistas Jean Cabu e Bernard Verlhac, conhecido como Tignous, além do também desenhista Phillippe Honoré, do revisor Mustapha Ourad e da psicanalista Elsa Cayat, que escrevia uma coluna quinzenal para a “Charlie Hebdo” chamada “Divan”.
Entre as outras vítimas fatais, segundo o jornal “Le Monde”, estão o policial Franck Brinsolaro, morto dentro da redação, e o agente Ahmed Merabet, que morreu já na rua, durante a fuga dos atiradores. No ataque também morreram um funcionário da Sodexo que trabalhava no prédio, Frédéric Boisseau, de 42 anos, e um convidado que visitava a redação, Michel Renaud.
Ainda de acordo com o jornal, o jornalista Philippe Lançon é uma das vítimas gravemente feridas. Crítico literário do jornal “Libération”, ele escreve crônicas para a “Charlie Hebdo”. A agência Reuters, citando a polícia, diz que 11 pessoas ficaram feridas, sendo quatro em estado grave.
A cartunista Corinne Rey, que afirma ter sido forçada a deixar os atiradores entrarem na redação, diz que eles falavam francês fluentemente. Em uma entrevista ao jornal “l’Humanite”, ela contou que conseguiu se esconder embaixo de uma mesa durante a ação, que durou cerca de cinco minutos.
De acordo com o médico Gerald Kierzek, que atendeu alguns dos feridos e foi citado pela CNN, os atiradores separaram os homens das mulheres e perguntaram especificamente por algumas pessoas pelos nomes, antes de matá-las.
Segundo fontes policiais, os autores do ataque portavam rifles Kalashnikov e gritaram “Vingamos o Profeta!”, em referência a Maomé, alvo de uma charge publicada há alguns anos pelo jornal, o que provocou revolta no mundo muçulmano.
Os jornais franceses “Le Monde” e “Metro News” dizem que três suspeitos foram identificados, mas ainda não há informações oficiais.
De acordo com fontes policiais ouvidas pela agência Reuters, dois dos suspeitos seriam irmãos que moram em Paris e o terceiro seria de Reims.
Vigília pelas vítimas
Mais de 100 mil pessoas foram às ruas de várias cidades da França em uma vigília às vítimas da “Charlie Hebdo”.
Em Paris, convocados por vários sindicatos, associações, meios de comunicação e partidos políticos, cerca de cinco mil pessoas se reuniram a partir das 17 horas (14 horas de Brasília) na praça da República, centro da capital, perto da sede do semanário.
Alguns usavam adesivos e cartazes onde se podia ler a mensagem “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”), que também circula nas redes sociais.
O procurador da República, François Molins, precisou os detalhes dos acontecimentos em coletiva de imprensa.
Segundo disse, dois indivíduos entraram na sede do jornal e perguntaram a dois funcionários da manutenção onde era a entrada. Em seguida, atiraram em um dos funcionários e renderam o outro no segundo andar do prédio, onde acontecia a reunião de pauta dos funcionários da publicação. Lá, atiraram e mataram 10 pessoas, sendo 8 jornalistas, um convidado e um policial encarregado da segurança.
Molins confirmou a informação de fontes policiais de que os autores do ataque afirmaram “vingar o profeta” durante o atentado. Segundo ele, os suspeitos fugiram de carro em direção ao norte de Paris, bateram em outro veículo e então abandonam o carro em que estavam. Depois, renderam um motorista e fugiram em outro carro.
Ele acrescentou que oito das vítimas eram jornalistas e que quatro dos 11 feridos estão em estado grave, segundo dados fornecidos pela polícia.
O número de suspeitos envolvidos no crime ainda é incerto e não foi confirmado pela polícia. Eles ainda são procurados e são perigosos, segundo as autoridades.
O Ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, disse que três suspeitos são procurados.
Fotos de arquivo mostram cartunistas da equipe do jornal ‘Charlie Hebdo’ mortos no ataque. Da esquerda para a direita: Georges Wolinski (em 2006), Jean Cabut – o Cabu (em 2012), Stephane Charbonnier – o Charb (em 2012) e Tignous (em 2008) (Foto: Bertrand Guay, François Guillot, Guillaume Baptiste/AFP)
Mais cedo, Rocco Contento, porta-voz do sindicato dos policiais local, disse a jornalistas que três suspeitos fugiram em um carro dirigido por um quarto homem, segundo informações do jornal “The Guardian”.
‘Ataque terrorista’
O presidente francês, François Hollande, acrescentou que “40 pessoas foram salvas”. Ele classificou o caso como um “ataque terrorista”, e disse que a França está em estado de choque. Os autores do ataque são procurados pela polícia.
Hollande reconheceu que o governo sabia que a França “estava ameaçada, como outros países do mundo”, e afirmou que “foram desbaratados vários atentados terroristas nas últimas semanas”.
Uma reunião emergêncial do gabinete da presidência foi convocada para as 14h locais (11h de Brasília). Após o ataque, a França elevou para o nível máximo o nível do alerta terrorista em Paris.
“Cerca de meia hora atrás dois homens usando capuz escuro entraram no prédio com duas armas”, disse a testemunha Benoit Bringer à rádio France Info. “Alguns minutos depois nós ouvimos os barulhos dos disparos”. Ele acrescentou que os homens foram vistos deixando o prédio.
Ao abandonar o prédio, os agressores atiraram contra um policial, atacaram um motorista e atropelaram um pedestre com o carro roubado.
“Ouvi disparos, vi pessoas encapuzadas que fugiram em um carro. Eram pelo menos cinco”, declarou à AFP Michel Goldenberg, que tem um escritório vizinho na rua Nicolas Apert, onde fica a sede do jornal.
Jornal
A sede do jornal foi alvo de um ataque a bomba em novembro de 2011 após colocar uma imagem satírica do profeta Maomé em sua capa.
Coincidência ou não, a Charlie Hebdo fez a divulgação em sua edição desta quarta-feira do novo romance do controvertido escritor Michel Houellebecq, um dos mais famosos autores franceses no exterior. A obra de ficção política fala de uma França islamizada em 2022, depois da eleição de um presidente da República muçulmano.
“As previsões do mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes… Em 2022, faço o Ramadã!”, ironiza a publicação junto a uma charge de Houellebecq.
“O amor é mais forte que o ódio”, diz capa da Charlie Hebdo publicada após primeiro atentado contra redação em 2011 (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
O jornal de humor tem sido ameaçada desde que publicou charges do profeta Maomé em 2006.
Em novembro de 2011, a sede da publicação foi destruída por um ataque criminoso, já definido como atentado pelo governo na época.
Em 2013, um homem de 24 anos foi condenado à prisão com sursis por ter pedido na internet que o diretor da revista fosse decapitado por causa da publicação das caricaturas do profeta muçulmano.
Fonte: G1
Confira as charges e capas mais polêmicas do Charlie Hebdo, o jornal da França que costuma publicar conteúdo satírico sobre o islamismo e seus símbolos
A sede do jornal francês “Charlie Hebdo” foi atacada em 7/1/15, em Paris, e deixou ao menos 12 mortos, entre eles, editores e cartunistas do jornal e dois policiais. O jornal satírico costumava publicar charges polêmicas sobre o islamismo e seus símbolos, e já havia sido alvo de ataques anteriormente.
Confira abaixo algumas das charges mais polêmicas do jornal envolvendo o tema religião:
Capa de jornal satírico “Charlie Hebdo” traz Maomé beijando cartunista com o texto “o amor, mais forte do que o ódio”.
O diretor e cartunista da ‘Charlie Hebdo’, Stéphane Charbonnier, publicou em 2013 dois quadrinhos sobre a vida de Maomé; o primeiro falava de ‘O início de um profeta’; representação do profeta é tabu entre muçulmanos.
Cartum satirizando o líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, foi última públicação de jornal antes de atentado.
Capa de setembro de 2012 sob o título ‘Intocáveis’ mostra rabino empurrando um muçulmano numa cadeira de rodas, que o alerta ‘não se deve zombar’
Capa de julho de 2013 mostra muçulmano sendo alvejado e trazia a frase ‘o Corão é uma merda’ e o aviso: ele não para balas.
Capa de novembro de 2012 ironizava a Santíssima Trindade, O Pai, o Filho e o Espírito Santo, e trazia o tema casamento gay.
Última charge
A última charge do cartunista e editor Stéphane Charbonnier publicada na última edição da revista satírica francesa Charlie Hebdo, foi assustadoramente profética. O desenho trouxe o título “Ainda não houve ataques na França” e mostrou um militante islâmico dizendo: “Espere! Ainda temos até o fim de janeiro para apresentar nossos votos”, em uma alusão aos desejos de Ano Novo.
Ilustração mais recente de Charb, morto no ataque à revista Charlie Hebdo. ‘Sem atentados por enquanto na França’, diz a charge. ‘Esperem. Temos até o final de janeiro para apresentar os desejos’, diz o personagem (Foto: Reprodução/Twitter)
A figura de Maomé
O semanário foi ameaçado várias vezes por fundamentalistas islâmicos por reproduzir e publicar caricaturas de Maomé. Um dos últimos ataques contra a “Charlie Hebdo” aconteceu em 2013, quando hackers invadiram o site da revista, provavelmente devido à publicação de um suplemento especial com uma “biografia” em quadrinhos sobre Maomé. Desde de 2006, quando publicou as primeiras charges com a figura de Maomé, a redação do semanário vivia sob alerta devido às ameaças de radicais.
Capas de um especial da Charlie Hebdo com a ‘biografia’ de Maomé. A primeira parte de ‘A vida de Maomé’ tem o nome de ‘o início de um profeta’ e a segunda, de ‘o profeta do Islã’. (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
Edição de outubro tem charge com o título ‘se Maomé voltasse’. No desenho, o personagem representado como Maomé diz ‘eu sou o profeta, idiota!’, e o outro responde ‘feche a boca, infiel’. (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
Com o título de ‘intocáveis 2’, um personagem representando um judeu leva Maomé em uma cadeira de rodas, e os dois dizem: ‘não se deve zombar’ (Foto: AFP)
Edição de 2013 trouxe sátira sobre o Corão, livro sagrado muçulmano. Fazendo referência a ‘massacre no Egito’, o desenho diz que ‘o Corão é uma merda’, pois ‘não para as balas’ (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
Primeiro atentado
Em 2011, após a divulgação de uma edição que fazia piada com a sharia, ou lei islâmica, um atentado com coquetéis molotov incendiou parte da sede da revista no distrito 11 do leste de Paris.
Em 2012, o diretor do semanário, Stephane Charbonnier, disse que o Islã não era visto como um inimigo pela publicação. “Há provocação, como fazemos todas as semanas, mas não mais contra o Islã que com outros temas”. Ele morreu no atentado desta quarta.
Capa da ‘Charlie Hebdo’ em 2011 com a sátira sobre o profeta Maomé e a lei islâmica. No desenho, o personagem diz: ‘100 chicotadas se vocês não estão mortos de rir’ (Foto: AFP)
“O amor é mais forte que o ódio”, diz capa da Charlie Hebdo publicada após primeiro atentado contra redação em 2011 (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
Críticas ao Vaticano
Papas e cardeais também foram retratados de maneira cômica e debochada por várias vezes na capa do “Charlie Hebdo”. O conclave, por exemplo, foi alvo de piada em uma capa com Jesus Cristo. Também foram retratados cardeais em um “lobby gay” no conclave.
‘Vaticano: outra eleição fraudada, estampa a capa de março de 2013 com a figura de Jesus Cristo. No desenho, o personagem diz: ‘soltem-me, eu quero votar’ (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
“Um papa moderno”, diz a capa de 2013 com Francisco. A cena faz referência a uma cena de um reality show da França que ficou famosa no país, em que uma participante questiona uma mulher que não tem shampoo. ‘Você é uma mulher e não tem shampoo. Alô. Alô’, disse a integrante do programa. A frase passou a ser repetida pelo país, e deu origem à charge na qual o papa pergunta: ‘você é Deus e não tem shampoo? Alô’. (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
“Enfim, livre!”, diz Bento XVI em charge na capa da edição da ‘Charlie Hebdo’ que faz piada com sua renúncia (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
Capa da Charlie Hebdo de 2013 satiriza cardeais. ‘O lobby gay em conclave. E então, a fumaça, ela vem?’ (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
Política
Os governantes da França e até o movimento feminista Fêmen também foram alvo do sarcasmo do “Charlie Hebdo”. Presente em várias capas, o presidente francês Fraçois Hollande estampou a última edição de 2014. Também esteve na primeira página do semanário o ex-presidente Nicolas Sarkozy – em uma das capas ele aparece em uma ousada charge com a esposa Carla Bruni.
Última edição de 2014 com uma sátira ao presidente Hollande, dizendo que a popularidade dele ‘sobe entre os labradores’. Na mesma capa, há ainda menção a uma narração da ‘verdadeira história do menino Jesus’ (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
Capa de 2013 sobre o grupo feminista Femen diz que as manifestantes ‘assumem a liderança’, fazendo um jogo de palavras com a expressão ‘tomar as coisas pelas mãos’ (Foto: Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
Capa de 2014 com Sarkozy e Carla Bruni pergunta se o francês irá ‘finalmente entrar em cena’, com o personagem repetindo ‘eu entro, eu não entro’ (Reprodução/Facebook Charlie Hebdo)
A webcelebridade paquistanesa Qandeel Baloch foi morta por um irmão no que a polícia da província do Punjab descreveu como um “crime de honra”.
Aos 26 anos, ela causava controvérsia por postar imagens ousadas nas mídias socias e por comentários abertos sobre sexualidade em uma sociedade amplamente conservadora e religiosa.
Segundo a polícia, ela foi estrangulada.
Casos de mulheres mortas por “desonrar” suas famílias são comuns na patriarcal sociedade paquistanesa.
Baloch ganhou fãs e inimigos justamente por desafiar convenções sociais: suas selfies rendiam tanto admiração quanto reprovação no país muçulmano. Foi justamente por receber ameaças de morte que Baloch tinha ido morar no Punjab.
Em entrevista ao jornal The Express Tribun, os pais de Baloch disseram que ela foi morta após uma discussão com o irmão, na noite de sexta-feira, mas que seu corpo só foi descoberto na manhã de sábado. O jornal disse que os pais foram detidos.
A webcelebridade era criticada por conservadores A postagem dessa imagem ao lado de um clérigo rendeu uma suspensão para o líder religioso Baloch criticava o machismo na sociedade paquistanesa
Ainda segundo o jornal, citando fontes ligadas à família, os irmãos queriam que ela mudasse de comportamento e que Wasim, o irmão acusado de matá-la, teria feito ameaças depois de ver fotos sensuais dela nas redes sociais.
Wasim está foragido, disse a polícia.
Protestos
A morte de Baloch foi duramente criticada pela diretora de cinema Sharmeen Obaid-Chinoy, que este ano ganhou o Oscar de Melhor Documentário de Curta Duração com um filme sobre “crimes de honra” no Paquistão.
“Nenhuma mulher estará a salvo no país até que mandemos para a cadeia homens que matem mulheres; que mostremos aos agressores que eles passarão a vida atrás das grades”, disse Obaid-Chinoy à agência de notícias AFP.
Em suas entrevistas. Baloch criticara o machismo na sociedade paquistanesa e se descrevera como uma expoente do empoderamento feminino no país.
Centenas de mulheres são mortas todos os anos no Paquistão em “crimes de honra”.
A França e os Estados Unidos reforçaram em 19/9/12 a segurança de embaixadas e escolas em meio a temores de que as caricaturas de Maomé publicadas em uma revista francesa aticem a violência que agita o mundo muçulmano por causa de um filme ofensivo ao Islã.
Mais de 30 pessoas morreram desde a semana passada nos ataques e manifestações desencadeados pela difusão na internet de trechos do filme “A inocência dos muçulmanos”, incluindo 12 mortos em um atentado suicida praticado na terça-feira no Afeganistão por uma mulher.
A França tomou “medidas de segurança especiais” para proteger suas embaixadas, depois da publicação da caricatura do profeta dos muçulmanos na revista Charlie Hebdo, anunciou o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius.
Na sexta-feira (14/9) – dia de oração para os muçulmanos, com frequência seguida de protestos – a França fechará suas sedes diplomáticas, instituições culturais e escolas em cerca de vinte países.
Na Tunísia, os colégios permanecerão fechados de 19 a 24/9/12
O partido islamita tunisiano Ennahda argumentou que os muçulmanos têm o “direito de protestar” pacificamente, depois da publicação das caricaturas.
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, também anunciou medidas especiais para proteger as embaixadas dos Estados Unidos, principal alvo da ira provocada pela difusão do filme sobre Maomé considerado ofensivo, produzido nesse país.
No Paquistão, o governo decretou feriado nacional em homenagem ao profeta Maomé em 21/9/12
No leste do Afeganistão, cerca de mil pessoas bloquearam a estrada para Cabul gritando “Morte aos Estados Unidos” e “Morte aos inimigos do Islã”.
A revista satírica francesa Charlie Hebdo, com seu habitual estilo provocador, entrou de cabeça na polêmica, zombando tanto do filme quanto da intolerância religiosa, com caricaturas que, em dois casos, mostram o Maomé nu.
A primeira edição teve seus exemplares esgotados e, à tarde, a revista anunciou uma segunda tiragem.
A polícia reforçou a segurança nos arredores da redação da Charlie Hebdo, em Paris, que já teve escritórios incendiados em novembro de 2011, logo após a publicação de um número que zombava da sharia, a lei islâmica.
Caricaturas que joga lenha na fogueira
A Al-Azhar, principal autoridade do islã sunita, com sede no Cairo, condenou a publicação dessas caricaturas.
“A Al-Azhar e todos os muçulmanos rejeitaram categoricamente a insistência de uma revista francesa em publicar caricaturas que atentam contra o Islã e seu profeta”, disse o xeque da Al-Azhar, Ahmed al Tayeb.
O jornal do Vaticano, L’Osservatore romano, afirmou que a publicação dessas caricaturas é uma “iniciativa discutível” que “joga lenha na fogueia”.
“No momento em que tentamos, a duras penas, reduzir a tensão no mundo islâmico em razão do filme ‘A inocência dos muçulmanos’, corremos o risco, hoje, de abrir de uma nova frente de protesto”, indicou o jornal.
O governo socialista francês precisa agora equilibrar os princípios republicanos da liberdade de expressão com os imperativos de sua diplomacia e as suscetibilidades de sua comunidade muçulmana, a maior da Europa, de cerca de cinco milhões de fieis.
“Na França, o princípio é a liberdade de expressão e não é preciso miná-lo, mas, neste contexto, levando em conta esse filme estúpido, esse vídeo absurdo que foi divulgado, há uma grande comoção em muitos países muçulmanos”, disse Laurent Fabius.
“É pertinente e inteligente colocar mais lenha na fogueira? A resposta é não”, acrescentou o ministro, pedindo equilíbrio.
O primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault lembrou que a França é “um país onde as leis são respeitadas” e que se alguém considera que houve infrações à lei, pode apresentar uma denúncia.
Um ataque que matou pelo menos 12 pessoas em 18/9/12 em Cabul e reivindicado por rebeldes afegãos foi a resposta mais violenta contra o filme anti-islã, cujos produtores foram acusados de incitamento ao ódio no Egito.
O grupo Hezb-e-Islami, a segunda maior formação de insurgentes afegãos atrás do talibã, reivindicou a responsabilidade pelo ataque suicida em um micro-ônibus em uma estrada para o aeroporto de Cabul, que matou oito sul-africanos, um quirguiz e três afegãos.
O Hezb-e-Islami alega ter praticado o ataque em resposta ao filme de baixo orçamento produzido nos Estados Unidos, “A inocência dos muçulmanos”, que apresenta o profeta Maomé como um bandido com práticas desviantes.
O Procurador-Geral do Egito se comprometeu nesta terça-feira a processar sete coptas egípcios que vivem nos Estados Unidos e que são suspeitos de envolvimento na produção e distribuição do filme anti-Islã, que provocou uma onda de violência, com um registro de 31 mortos na última semana no mundo muçulmano.
Os sete homens – Morris Sadek, Nabil Bissada, Esmat Zaklama, Elia Bassily, Ihab Yaacoub, Jack Atallah e Adel Riad- são acusados de “insultar o Islã, insultar o profeta (Maomé) e incitar o ódio religioso”, segundo um comunicado da Procuradoria-Geral, que ainda não definiu uma data para o julgamento.
A família de Nakula Basseley Nakula, o produtor do filme, foi retirada na segunda-feira do subúrbio de Los Angeles pela polícia para ser levada a um local desconhecido para encontrá-lo.
Um ímã salafista egípcio também lançou uma fatwa, pedindo a morte de todos os protagonistas do filme, de acordo com o centro americano de monitoramento de sites islâmicos SITE.
Manifestações no Cairo contra o filme divulgado na internet abafaram as discussões sobre a redução da dívida egípcia com os Estados Unidos para um bilhão de dólares, considerou o Washington Post.
Essas discussões são destinadas a prestar uma assistência econômica fundamental ao novo governo egípcio, controlado pela Irmandade Muçulmana e que enfrenta enormes desafios econômicos após a revolta de 2011, que pôs fim ao reinado do presidente Hosni Mubarak.
Mas, de acordo com membros do governo americano citados pela imprensa dos Estados Unidos, o Egito não deve esperar para receber uma ajuda substancial – pelo menos não antes da eleição presidencial de 6 de novembro.
Filme anti-islamismo desencadeia protestos contra EUA
Na última terça-feira, 11 de setembro, protestos irromperam em frente às embaixadas americanas do Cairo, no Egito, e de Benghazi, na Líbia, motivados por um vídeo que zombava do islamismo e de Maomé, o profeta muçulmano. No primeiro caso, os manifestantes destroçaram a bandeira estadunidense; no segundo, os ataques chegaram ao interior da embaixada, durante os quais morreram, entre outros, o embaixador e representante de Washington, Cristopher Stevens
Os protestos se disseminaram-se contra embaixadas americanas em diversos países da África e do Oriente Médio. Sexta, 14 de setembro, registrou o ápice da tensão, quando eventos foram registrados em Túnis (Tunísia), Cartum (Sudão), Jerusalém (Israel), Amã (Jordânia)e Sanaa (Iêmen). No Cairo, as manifestaçõe têm sido quase diárias. No dia 17, Afeganistão e Indonésia também tiveram protestos.
O vídeo que desencadeou esta onda de protestos no mesmo dia em que os Estados Unidos relembravam os atentados terroristas de 2001 traz trechos de Innocence of Muslims, filme produzido nos Estados Unidos sob a suposta direção de Nakoula Basseky Nakoula. Ele seria um cristão copta egípcio residente nos Estados Unidos, mas sua verdadeira identidade e localização ainda são investigadas. O filme, de qualidades intelectual e cultural amplamente questionáveis, zomba abertamente do Islã e denigre de a imagem de Maomé, principal nome da tradição muçulmana.
A Casa Branca lamentou o conteúdo do material, afirmou não ter nenhuma relação com suas premissas e ordenou o reforço das embaixadas americanas. No dia 15 de setembro, a Al-Qaeda emitiu um comunicado no qual afirmava que a ação em Benghazi foi uma vingança
O chefe do movimento libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, convocou os muçulmanos do Líbano a protestar contra o filme que satiriza o profeta Maomé com manifestações a partir desta segunda-feira.
“Mostrem ao mundo inteiro nossa ira e nossa voz, nesta segunda-feira e nos dias seguintes”, declarou o líder do poderoso movimento xiita em discurso transmitido pela Al Manar, a TV do Hezbollah.
Nasrallah convocou um protesto nesta segunda-feira para o subúrbio sul de Beirute, na quarta-feira para a cidade de Tiro (sul), na sexta em Baalbeck (leste), no sábado em Bent Jbeil (sul) e no próximo domingo para Bekaa.
O líder do movimento xiita se dirigiu aos muçulmanos de todo o mundo pedindo que reajam ao filme que descreveu como “o pior ataque contra o Islã, pior ainda que ‘Os versos satânicos’ (livro de Salman Rushdie publicado em 1988), que a queima de exemplares do Alcorão no Afeganistão ou as caricaturas do profeta Maomé” publicadas por um jornal dinamarquês.
Hassan Nasrallah prometeu que “os que escreveram, dirigiram e produziram este filme serão castigados; não importa onde estejam, ninguém poderá protegê-los”.
O filme “A Inocência dos Muçulmanos”, produzido nos Estados Unidos e que mostra o profeta Maomé como imoral e brutal, provocou violentos protestos diante das representações diplomáticas americanas no Cairo e em Benghazi na terça-feira passada, que depois se espalharam a outros países.
Em Benghazi, o protesto deu lugar a um ataque com armas pesadas contra o consulado dos EUA que matou quatro funcionários americanos, inclusive o embaixador Chris Stevens.
Na sexta-feira, o principal dia de oração do Islã, os protestos sacudiram Iraque, Irã, Iêmen, Egito, Síria, Marrocos, Argélia, Tunísia, Sudão e Líbano, além de vários países muçulmanos na Ásia, deixando ao menos doze manifestantes mortos.
No sábado, a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) convocou os muçulmanos a seguir atacando as representações diplomáticas e interesses dos Estados Unidos em todo o mundo para protestar contra o filme.
Neste domingo, o presidente do Congresso Nacional Líbio, Mohammed al-Megaryef, disse à rede de televisão CBS que o ataque contra o consulado em Benghazi foi realizado por estrangeiros.
“Foi premeditado e, definitivamente, planejado por estrangeiros, por gente que entrou no país há alguns meses”, afirmou Al-Megaryef, ao anunciar a prisão de 50 pessoas por envolvimento no ataque.
Já a diplomata americana nas Nações Unidas, Susan Rice, estimou que a ação em Benghazi “foi uma reação espontânea, sem premeditação, ao protesto iniciado no Cairo, onde horas antes havia ocorrido uma violenta manifestação contra este vídeo extremamente chocante”.
“Pensamos que um pequeno grupo foi ao consulado imitando o que ocorreu no Cairo (…) e parece que extremistas fortemente armados aproveitaram a situação”, disse Rice à rede de televisão ABC.
“Não vemos neste momento sinais de um plano coordenado, de ataque premeditado” contra os interesses dos Estados Unidos, concluiu Rice.
Jovem é presa na Arábia Saudita por aparecer com roupa curta, mas sua liberação rápida não significa que o país avance rápido no direito das mulheres
ASSIM NÃO – Saudita diz que não autorizou a divulgação de vídeo “obsceno” (//Divulgação)
A prisão de uma jovem saudita nesta terça-feira reacendeu a discussão em torno do código de vestimenta imposto às mulheres na Arábia Saudita. A mulher, identificada somente como Khulood, foi detida por aparecer usando uma saia acima do joelho e uma blusa curta em vídeos exibidos em uma rede social.
No país, é proibido que as mulheres locais saiam em público sem uma vestimenta longa que cubra seu corpo inteiro, conhecida como abaia, e sem cobrirem a cabeça. A jovem em questão foi libertada após um interrogatório de algumas horas. Khulood afirma que os vídeos foram postados sem seu conhecimento.
A edição de VEJA desta semana mostra como a história ilustra a pressão que a sociedade civil tem feito no país para dar mais liberdade às mulheres.
Em anos recentes, outras mulheres já foram presas por desobedecerem a lei do país, que é bastante restritiva com relação aos direitos femininos. Um dos casos mais notórios é o da autora Manal al-Sharif, que teve de deixar a Arábia Saudita após enfrentar a proibição de dirigir. “Eles querem que você viva com medo” , diz Manal.
Feminismo árabe Os protestos no mundo árabe não derrubam só ditaduras. Também desafiam as visões estereotipadas e provam que não há libertação sem o apoio das mulheres. Termômetro da febre democrática, a emergência dos direitos de gênero no Islã abala as certezas do feminismo universalista e convida o Ocidente a despir seus véus.
Jovens muçulmanas suam o véu numa academia de ginástica em Ahmedabad, na Índia. O sedentarismo é ruim para o corpo sob qualquer fé.
As imagens da Praça Tahir, no Cairo, capital do Egito, mostram inúmeros rostos femininos. O ativismo da mulher nas revoltas do mundo árabe desafia as referências e causa certo desconforto: não era ela oprimida, violentada, anulada e impedida de sair às ruas e de expressar seus desejos por um futuro melhor? “Também, mas não só isso”, explica Soraya Smaili, diretora cultural do Instituto da Cultura Árabe, o Icarabe, em São Paulo. “Existem muitas mulheres árabes cristãs, sunitas, xiitas e menonitas. É um mito pensar que toda mulher árabe é muçulmana e que toda muçulmana é árabe. Outro mito é acreditar que toda mulher muçulmana é oprimida”, adverte, de saída.
As generalizações acontecem, acredita Soraya, porque há um enorme desconhecimento sobre o que chamamos mundo árabe. Essa ampla área geográfico-histórica corresponde aos países do norte da África e da Península Árabica, do Marrocos ao Bahrein, que atraem os países de cultura árabe-islâmica e africana como a Mauritânia, o Sudão e a Somália. Mas nada têm de árabes os países do Golfo Pérsico, de origem turca, persa ou asiática, que adotaram a cultura e a religião islâmicas, como a Turquia, o Irã, o Afeganistão, o Paquistão e a Indonésia. Essa vasta diversidade territorial e cultural impede falar de um “feminismo islâmico” e dificulta as especulações até sobre um “feminismo árabe”. Seria melhor admitir “feminismos árabes”.
Os dados sobre igualdade de gênero revelam a situação das mulheres nos países da região. O relatório de 2010 do Fórum Econômico Mundial, feito com dados de 135 países, coloca Tunísia, Bahrein, Egito e Iêmen nas posições 108, 110, 123 e 135, respectivamente, no que se refere à igualdade entre homens e mulheres. Ou seja, entre os últimos e os mais atrasados. Baseado na participação econômica, no poder político e no acesso à educação e à saúde, o índice reflete as mazelas estruturais que há décadas afastam as mulheres árabes dos centros de decisão.
O que elas querem? Em que essas mulheres acreditam? É o que você vai saber agora.
“O véu não cobre o pensamento”
(Francirosy Ferreira)
Francesas de origem argelina em Marselha.
Mulheres muçulmanas da Caxemira, na Índia.
A escritora libanesa Joumana Haddad critica o patriarcalismo das religiões monoteístas.
Feminismo e religião
Não há consenso sobre que caminho seguir para a mulher ser beneficiária dos processos de libertação no mundo árabe. O limbo político e econômico aberto pelos protestos recentes trouxe ao centro do debate as mais antigas discussões sobre os direitos civis. “Como já aconteceu antes, no momento da revolução, quando todos os esforços são necessários, a presença da mulher é aceita e até incentivada”, nota a brasileira Luiza Eluf, procuradora de Justiça do Ministério do Trabalho. “Uma vez que os revoltosos conquistam o poder, as mulheres são afastadas e não ocupam cargos de relevância”, ressalta. Como observadora, Luiza teme a emergência dos grupos fundamentalistas. As primeiras experiências eleitorais na Tunísia e no Egito confirmaram a popularidade dos partidos islâmicos.
Essa percepção encontra eco entre muitas mulheres árabes. “Sinto que temos de escolher entre dois monstros: a ditadura e o extremismo islâmico.” Quem fala é Joumana Haddad, jornalista libanesa, escritora e editora da revista Jasad (Corpo, em árabe), uma das publicações mais desafiadoras e libertárias do seu país. Subvertendo a criação numa família conservadora e católica, ela acredita ser impossível conciliar religião e direitos das mulheres. Definindo-se como pósfeminista, Joumana acredita que a participação da mulher nunca será possível sem que os preceitos patriarcais das três religiões monoteístas sejam totalmente abandonados. Fala com a expressão segura enquanto ajusta o vestido curto e arruma os longos cabelos morenos: “Não posso me dar ao luxo de ser otimista, mas espero que uma mulher concorra às eleições sem cobrir seu rosto com uma flor”, diz, com certo desprezo.
Joumana se refere a Marwa al-Qamash, candidata ao parlamento egípcio que, para não se expor, optou por trocar seu retrato nos panfletos eleitorais pela imagem de uma rosa vermelha. Marwa é do partido fundamentalista El Nur, o segundo mais votado nas eleições de novembro, e não acredita que o niqqab (a vestimenta que deixa os olhos à mostra por uma fresta, diferente da burka, que cobre tudo) a impeça de assumir um papel político no novo Egito. Para ela, basta a flor no panfleto. O embate discursivo que opõe Joumana e Marwa confirma que o “feminismo árabe” deve ser pensado no plural.
“Tenho condição de mostrar às iemenitas que a mulher pode e deve ser parte da mudança social e dinâmica no país”, diz à PLANETA Nadia al-Saqqaf, a primeira mulher do Iêmen a ocupar o cargo máximo em um meio de comunicação. Ela é a editora-chefe do Yemen Times, jornal que exerceu importante papel na cobertura dos protestos que culminaram com a renúncia do presidente Abdullah Salleh em novembro. Nadia defende que o novo governo crie um Ministério da Mulher e adote cotas femininas em cargos eletivos e não eletivos. Quer também que o sistema de ensino seja alterado para evitar distorções históricas e permitir que as meninas se tornem conscientes de seu poder desde a primeira lição.
“Chegará o dia em que a revolução de hoje será estudada nos livros de história. Temos de garantir que as mulheres sejam parte dela e não esquecidas, como sempre acontece”, afirma. No país campeão da desigualdade de gênero, a fala de Nadia é revolucionária. No Iêmen a mulher representa apenas 20% da força de trabalho e nenhuma possui assento no Parlamento. Junto com a também iemenita Tawakul Karman, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2011, a jornalista defende a liberdade religiosa e não acredita que o islamismo contradiga a luta feminista.
“O véu não cobre pensamento”, explica Francirosy Ferreira, antropóloga, professora de psicologia da USP e coordenadora do Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes. Nem sempre o véu está diretamente associado a um contexto de opressão. “Por que uma mulher de véu é, necessariamente, mais oprimida que uma mulher de biquíni que se obriga a ter um corpo perfeito?”
A iemenita Nadia al-Saqqaf, editora do jornal Yemen Times, não vê contradição entre o islamismo e a luta feminista.
“Se o feminismo é diverso e plural, o Islã também é diverso e plural”, nota. Para Francirosy, as pautas feministas se adaptam aos contextos históricos e culturais. Por isso mesmo, devem ser entendidas e respeitadas: “É muita prepotência do Ocidente achar que está libertando alguém impondo-lhe o seu próprio valor.”
Não por acaso, a França, país de tradição laica, tornou-se um dos principais laboratórios para esse embate cultural. Depois de aprovar uma lei que proíbe o uso do véu e de multar as mulheres que ousam desafiá-la, o país verá, pela primeira vez, uma muçulmana na corrida eleitoral: Kenza Dridier, mãe solteira de 32 anos, de origem marroquina, que já foi detida várias vezes por usar desafiadoramente seu niqqab, será candidata à Presidência. “Tenho a ambição de servir a todas as mulheres que são objeto de estigmatização ou discriminação social, econômica e política”, disse, ao apresentar sua candidatura. Kenza conseguiu importantes aliados, como o empresário Rachid Nekkaz, de origem argelina, que decidiu financiar a campanha e apoiar o direito ao uso do véu pagando as multas de todas as mulheres detidas.
Coberta por véus, a francesa Kenza Dridier é candidata à Presidência da República, apoiada pelo empresário Rachid Nekkaz.
Linha de frente
As mulheres árabes têm consciência plena dos problemas que incendiaram seus países: o desemprego, a desigualdade e a precariedade dos direitos sociais e políticos. Dada a complexidade da situação, defender o secularismo como condição determinante para o sucesso ou o fracasso dos regimes renascentes pode minguar a discussão sobre a transição e reduzi-la a um embate cultural. A palestina Lila Abu-Lughod, professora de Antropologia e Gênero na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, critica a polarização e a divisão artificial do mundo entre Ocidente e Oriente e defende um estudo aprofundado dos aspectos políticos, históricos e econômicos que reproduzem o patriarcalismo no mundo árabe.
Sai das palavras da palestina Leila Khaled o exemplo prático. Passava da meia-noite em São Paulo quando, depois de uma longa jornada de conferências, ela acendeu um cigarro e começou a falar sobre a experiência feminista na Palestina: “Já conquistamos muitos direitos, mas ainda não somos livres para expressá-los nas leis ou na Constituição, porque ainda não somos independentes”, disse. A liberdade das palestinas, sustenta, passa pelo processo de reconhecimento de seu Estado e pelo fim da ocupação israelense – o que depende de um duro embate político e econômico no âmbito internacional.
Leila, que não usa o véu e defende um Estado laico, foi uma das primeiras mulheres a integrar os movimentos de resistência armada contra Israel. Hoje, mais de 40 anos depois de ter participado do sequestro de um avião para chamar a atenção para sua causa, ocupa uma cadeira no Conselho Nacional Palestino e fala com a propriedade de quem se tornou um símbolo: “O feminismo ocidental é diferente do nosso. Quando falamos sobre nossos direitos, o primeiro é sempre o direito de resistir.”
Na conturbada Síria, a casa é vista como o lar santificado da mulher e da família.
As mulheres sauditas também enfrentam a dificuldade de lutar pela igualdade de gênero quando o poder econômico e geoestratégico está em jogo. A Arábia Saudita é o principal aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio e o maior produtor de petróleo do mundo. Para continuar com os superlativos, o país também é considerado o mais restritivo no que tange ao direito das mulheres. Apesar da pressão interna e externa, a abertura democrática vem acontecendo a passos lentíssimos. Pressentindo que as revoltas batiam à porta, o rei Abdullah deu às sauditas o inédito direito de votar e de concorrer às eleições municipais em 2015. Elas agora podem participar do processo eleitoral, mas, paradoxalmente, seguem sem poder dirigir, abrir conta em banco ou viajar sem autorização.
Nem pensar em defender direitos em público. “Não posso falar com nenhum meio de comunicação estrangeiro. Estou sob observação da polícia. Já fui ameaçada indiretamente”, disse à PLANETA, por e-mail, em Riad, Wajeha al-Huwaider, fundadora da Sociedade de Defesa dos Direitos da Mulher na Arábia Saudita. Antes de se despedir, ela ressaltou: “A polícia também advertiu algumas de minhas amigas. Vai ficar muito pior antes de melhorar.”
Muçulmanas xiitas do Paquistão em cerimônia religiosa em Karachi.
Hora de mudar
O protagonismo das mulheres na Arábia Saudita e na Palestina mostra que a pauta de reivindicações do feminismo árabe é tão diversa quanto suas realidades locais. Na Líbia, por exemplo, elas reagiram à declaração de Mustafa Abdeljalil, presidente do Conselho Nacional de Transição, que governa o país desde a queda do ditador Muamar Kadafi. No dia da Declaração de Libertação, Abdeljalil disse que a Líbia poderia reintroduzir a poligamia e desdenhou a presença da mulher no governo. Diante dos protestos, voltou atrás.
Na Tunísia a situação é bem diferente. Desde os anos 1960, a ex-colônia francesa mantém uma legislação avançada com relação aos direitos das mulheres. A poligamia foi banida, o divórcio é igualitário e o aborto é permitido. As mulheres ocupam cerca de dois terços das vagas nas universidades e apenas 3% das jovens entre 15 e 19 anos são casadas, divorciadas ou viúvas (na década de 1960, esse índice chegava a 50%).
Soumaya Ghannouchi, filha de Rachid Ghannouchi, novo líder do país, saiu a público para responder aos temores de que, vencedor das eleições, seu partido revogaria as leis que beneficiam as mulheres. Com o rosto maquiado, envolto em um lenço colorido, afirmou, com segurança, que a poligamia não será permitida e que nenhuma mulher será obrigada a usar o véu.
O Egito também está sob tensa observação. O primeiro ciclo das eleições parlamentares aponta para uma ampla vitória da Irmandade Muçulmana, com 36% dos votos, seguidos por 24% do partido fundamentalista Al-Nur. Os resultados definitivos só devem ser anunciados no fim do longo processo eleitoral, em março de 2012. De acordo com as estimativas do governo de transição, os partidos islâmicos terão 65% da preferência popular. Apesar da possibilidade de votar e de se eleger, teme-se que as leis egípcias, enjá desfavoráveis às mulheres em relação ao direito ao divórcio e à herança, se agravem.
O ocidente não aprendeu a ouvir a voz das mulheres árabes
Na Espanha, descendentes árabes apoiam a afirmação dos direitos das mulheres.
Os direitos do Corão
Qual é o estatuto da mulher no Islã? “A palavra sagrada é para todos, mas seus ensinamentos são vivenciados de modo diferente em cada lugar. São os contextos sociais que interferem na prática cultural”, diz a antropóloga Francirosy Ferreira. É bom desmistificar algumas suposições. A mutilação genital feminina, por exemplo, acontece em países árabes e de cultura muçulmana e em países de maioria animista e cristã. Mas não está descrita no Corão. “Essas práticas permaneceram não pela religião, mas por causa da tradição de um grupo específico.”
A antropóloga Claudia Voigh Espinola, da Universidade Federal de Santa Catarina, que estudou a violência de gênero no Corão, explica que o Islã, tal como o cristianismo, é um fenômeno de um período particular da história, e qualquer leitura de seus textos deve ser relativizada. Para ela, a interpretação comum a várias escolas de pensamento islâmico assegura direitos à mulher.
No Corão, Eva não é a única responsável pelo pecado original. Ela e Adão erraram e foram perdoados. Sua personalidade é independente e sua natureza não é inferior nem superior. Quanto à educação e instrução, o livro diz que a busca por conhecimento deve ser igual para homens e mulheres. A mulher não poderá crescer intelectualmente se estiver sob estado de submissão. Quanto à liberdade de expressão, sua opinião deve ser respeitada. Há relatos sobre mulheres dando opiniões e questionando Maomé, embora haja restrições quanto à condução da prece e à liderança do Estado.
Com referência à sexualidade, o casamento deve ser desfrutado igualmente pelo homem e pela mulher. O marido tem a obrigação de satisfazê-las sexualmente. Quanto à herança, o Corão diz que a mulher deve receber uma parte enquanto o homem recebe duas, dada a sua obrigação de prover a família financeiramente, dever que a mulher não tem. O livro não recomenda nem impõe a poligamia, mas tolera em casos específicos, quando há comum acordo e o marido pode cuidar de suas esposas de modo igualitário. A Bíblia, no Velho Testamento, também admite a poligamia.
Quanto ao uso do véu, segundo a antropóloga Lila Abu-Lughod, da Universidade de Colúmbia, ele pode ser visto também como defensor do lugar especial da mulher na sociedade islâmica: “A burca, assim como outras formas de cobertura, marca a separação simbólica entre as esferas masculinas e femininas. Ela delimita a associação da mulher com a família e a casa. Isso significa pertencer a uma vida moral na qual as famílias são supremas na organização das comunidades e a casa é associada à santidade da mulher.” Nem todos concordam, mas Lila explica que a vestimenta funciona, como em todas as sociedades, como símbolo de valores compartilhados responsáveis por um sentido de pertencimento.
“Acho que não vai haver retrocesso, mas, se houver, elas vão superar. Democracia é isso. Quem somos nós para dizer o que eles têm de fazer?”, questiona a brasileira Soraya Smaili. De fato, muitas mulheres árabes vêm dando mostras de uma consciência singular, até agora ignorada no Ocidente, apesar de sempre ter existido. Suas estratégias para subverter a ordem, em casa ou na rua, ecoam além das fronteiras culturais.
Um exemplo é o da jovem egípcia Aliaa Maghda El-Mahdy, que postou fotos na internet usando só um par de meias três-quartos e uma rosa vermelha no cabelo. A mesma rosa que simbolizava o recolhimento e o pudor de Marwa al-Qamash significa sensualidade e libertação nos cabelos negros de Aliaa. Para ela, basta a flor no cabelo.
As duas mensagens antagônicas, cheias de simbolismo, separadas por gerações e crenças, escancaram a verdade da diversidade e convidam a descartar a ideia de que as mulheres árabes só terão voz se o Ocidente as entender.
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