Crise leva profissionais a aceitarem cargos e salários mais baixos
Antes muito evitados por profissionais e até empresas, o downgrade de carreira — quando o profissional passa a ocupar um cargo ou receber um salário inferior ao último que tinha — tem sido recorrente em tempos de crise. Por um lado, os desempregados veem o recuo como uma oportunidade de retomar ao mercado. Por outro, as empresas, que temiam a saída rápida desses profissionais para ocuparem postos melhores novamente, entenderam que as dificuldades econômicas no país elevaram a oferta de mão de obra e fizeram deste movimento algo muito natural.
— A maior parte dos profissionais que têm aceitado o downgrade é formada por quem estava dando os primeiros passos como líder, sendo gestor ou supervisor. Eles têm pleiteado vagas de nível pleno e até júnior — disse Renata Motone, coordenadora da empresa de Recursos Humanos Luandre.
Uma pesquisa feita pela consultoria Thomas Case & Associados, que ouviu cem executivos brasileiros, apontou que 20% deles aceitariam cargos ou funções inferiores na hierarquia, a fim de retornarem ao mercado. Preocupações porém, ainda surgem. Por isso, a gerente de transição de carreiras da Thomas Case, Giselle Franco, diz:
— Existe uma preocupação grande em aceitar algo inferior. É comum pensar: quando essa crise passar, como eu vou retomar? Estarei desvalorizado no mercado. Mas como a crise é um dado real, quando acabar, será uma resposta óbvia o motivo de você ter aceitado algo menor. E essa proatividade será mais valorizada do que você seria, se tivesse ficado parado — disse Giselle, ressaltando que é importante uma mudança de mentalidade do profissional: — É melhor estar atuando, mesmo com um salário ou uma posição menor, do que estar em casa, aguardando a crise passar. O fato de se manter ocupado, fomentando relações, se colocando na vitrine corporativa, em reuniões e eventos, faz bem.
Aos 47 anos, Camilla Oliveira aceitou uma vaga de gerente, após ser diretora de Marketing e ter ficado desempregada por mais de um ano. Apesar da queda de 30% no salário líquido, ela não se arrepende.
— Eu sempre trabalhei no mercado publicitário, ocupando o cargo de diretora de Atendimento em grandes agências de publicidade. Era responsável por contas de mais de R$ 30 milhões e equipes com de três a quatro pessoas. Em outubro de 2016, fui demitida por sobreposição de cargos e redução de investimentos em propaganda no setor público, afetando as contas cariocas. Fiquei desempregada até novembro de 2017, quando mudei o foco para trabalhar no cliente. Isso poderia me proporcionar uma vida útil mais longa, aprendizado, plano de carreira, benefícios e crescimento a longo prazo. Foi uma opção pessoal de mudança de carreira, mas com impacto financeiro enorme. Deixei de ser diretora e assumi o cargo de gerente de Marketing — conta Camilla Oliveira.
O segredo é mudar a postura mental. Para ajudar quem passa por isso, o EXTRA reuniu dicas de especialistas para a mudança na vida profissional (veja abaixo). E sempre é permitido deixar claro a vontade de crescer.
— Mesmo fazendo o downgrade de carreira, o profissional pode manifestar o interesse dele em crescer na empresa, desde a seleção. É possível falar que está aberto à oportunidade, mas que se preparará para encarar um cenário mais avançado em um momento mais favorável — afirma Renata Motone.
Downgrade também pode ser escolha
Não é apenas a crise que faz os profissionais aceitarem uma posição ou um salário menor. A decisão, segundo Renata Motone, coordenadora da Luandre, empresa de RH, pode ser estratégica:
— Há profissionais que buscam mudar de área e veem o passo atrás como um meio de entrar naquele mercado para conseguir algo melhor algum tempo depois.
Giselle Franco, gerente da Thomas Case & Associados, continua a explorar outras situações bem pessoais que comumente levam os profissionais a fazer o downgrade:
— De repente, ele está vivendo em uma empresa da qual não gosta mais. Está saturado e, fazendo seu planejamento, percebe que pode aprender coisas novas.
No caso de Camila Bristat, de 34 anos, foi uma mudança de cidade — de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro — que transformou o downgrade em uma hipótese real. Ela, que era gerente geral de uma loja de telefonia, aceitou o desafio de ser supervisora de franquias de uma rede.
— Depois de trocar de cidade devido à mudança da sede do trabalho do meu marido, que é funcionário público, e sabendo que não é uma tarefa fácil nem rápida voltar ao mercado de trabalho, contratei uma empresa de recolocação, a Thomas Case . Surgiu uma oportunidade em uma empresa de dermocosméticos, em um setor que, especificamente, eu não tinha experiência: sistema de franquias — contou ela: — Tenho uma longa experiência no varejo, mas em supervisão de lojas próprias. Aceitei a proposta, ainda que fosse para ter uma remuneração um pouco inferior, para adquirir experiência em franchising e agregar mais um item ao currículo.
You have to Login