A difícil situação de saúde dos habitantes do Oriente Médio
Guerra e violência estão piorando praticamente todos os indicadores de saúde na região, indica artigo. Para Ali Mokdad, professor da Universidade de Washington, fardo é global.
Hospital trata crianças com suspeita de cólera em Sanaa, no Iêmen (Foto: Mohammed HUWAIS / AFP) Enquanto boa parte do planeta caminha para controlar doenças que já possuem protocolo de tratamento e prevenção bem estabelecidos, a instável região do Oriente Médio vai na contramão. Suprimento intermitente de comida e de água, dificuldade de acesso a unidades de saúde, e o cenário constante de guerra e violência está piorando praticamente todos os indicadores de saúde da região — de doenças infecciosas, aquelas usualmente agudas e ligadas à pobreza, às chamadas condições crônicas, de progressão mais lenta. O G1 conversou com Ali Mokdad, diretor do Middle Eastern Initiatives e professor de Saúde Global na Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Mokdad foi primeiro autor de estudo que analisou os indicadores de saúde no Oriente Médio — região diversa e complexa, composta por 15 países. Publicado nesta segunda-feira (7) no “International Journal of Public Health”, a publicação tem por base relatório recente da Global Burden of Diseases (GBD), importante iniciativa global com colaboradores em 132 países que analisa o peso das doenças do mundo. O artigo destaca que, além do fato de que guerra e violência figuraram entre as principais causas de morte em 2015 na Síria, Iêmen, Iraque, Afeganistão e Líbia, outros problemas de saúde, que nem sempre recebem a mesma atenção, agravam-se em meio à guerra. Um deles é o suicídio, que teve aumento de 100% entre 1990 e 2015 . Ainda, as chamadas doenças das sociedades modernas, como a obesidade, convivem com condições associadas à pobreza na região. Uma em cada 5 pessoas está obesa no Oriente Médio hoje e a obesidade aumentou 37% desde a década de 1980. Ao mesmo tempo, países como o Iêmen viveu surto gravíssimo de cólera esse ano Em maio, a Organização Mundial da Saúde reportava 242 mortes na área em uma velocidade de propagação da doença sem precedentes. Equipe de socorristas transportam um ferido para um hospital após ataque suicida em Cabul, no Afeganistão. No Oriente Médio, suicídios aumentaram 100% entre 1990 e 2015 (Foto: Mohammad Ismail / Reuters) Em guerra e com 14 milhões de pessoas sem acesso à agua limpa, não à toa a cólera se espalhou pelo Iêmen: advinda de água contaminada por fezes, a infecção bacteriana mata por desidratação. Para se ter uma ideia, a última epidemia de cólera no Brasil foi registrada em 1991. “Há cada vez menos serviços preventivos porque a assistência médica está muito pressionada pela guerra”, explica Ali Mokdad. “Isso tem impacto na imunização e nos serviços de rotina. Então, esperamos mais casos de doenças infecciosas na região, como essa epidemia que ocorreu no Iêmen”, conclui. Na esteira da cólera, a diarreia — condição considerada simples de ser tratada — esteve entre as 10 principais causas de morte em 2015 na região. Ainda, infecções respiratórias constituíram a terceira principal causa de morte no mesmo período no Afeganistão. Criança com suspeita de cólera recebe tratamento em hospital de Sanaa, no Iêmen, no dia 15 de maio (Foto: Mohammed HUWAIS / AFP) A guerra não tem só impacto em doenças infecciosas ligadas a problemas de infraestrutura, diz o especialista. “A violência afeta a saúde mental e aumenta a adoção de comportamentos de risco.” Com isso, doenças cardiovasculares e diabetes, por exemplo, que se beneficiam de mudanças de hábito como melhorias na alimentação e prática de exercícios físicos, estão também aumentando na região: elas foram as principais causas de morte em 2015, representando um terço de todos os óbitos. O mesmo comportamento de risco pode explicar o aumento da prevalência do HIV na região. “O HIV está tendo uma alta mortalidade, mesmo com medicamentos disponíveis”, explica o professor. Imagem divulgada pela agência britânica de proteção à saúde mostra o coronavírus visto ao microscópio. Tipo de vírus é responsável pela MERS, infecção respiratória registrada na Arábia Saudita em 2012 (Foto: AFP) Para o professor Ali Mokdad, a situação do Oriente Médio é um problema do mundo inteiro. “A situação mostra que este é um problema global, como evidenciado pela disseminação de doenças recentes”, diz. O professor cita como exemplo a Mers (Middle East Respiratory Syndrome), nova infecção que recentemente se disseminou para diversos países. A condição respiratória é causada por um novo tipo de coronávirus registrado na Arábia Saudita em 2012 e nos Emirados Árabes. Segundo a Organização mundial da saúde, cerca de 35% das pessoas que contraíram a infecção morreram. “A solução é global, pois o fardo é de todos a longo prazo”, diz o professor. Além disso, o aumento da mortalidade de pessoas em plena na vida produtiva aumenta a pressão por recursos governamentais. Uma outra consequência para o mundo da situação do Oriente Médio é o aumento no número de refugiados e seus problemas de saúde –- o que intensifica a pressão pela assistência à saúde em todo o globo.Guerra e maus hábitos
Problema do mundo inteiro
Fonte: G1
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