Três homens ficam feridos por chifradas durante corrida de touros de Pamplona

Um dos homens foi atingido pelos chifres de um touro no tórax; outro foi atingido nos testículos. Festas de São Firmino duram uma semana.

Três homens ficam feridos por chifradas durante corrida de touros de Pamplona

Três homens ficam feridos por chifradas durante corrida de touros de Pamplona

Três homens foram feridos por chifradas durante o evento inaugural do festival de corridas de touros de Pamplona, informou a Cruz Vermelha nesta sexta-feira (7), e há relatos de mais um ferido na corrida de 875 metros dentro da cidade do norte da Espanha.

Um dos homens foi atingido pelos chifres de um touro no tórax e outro nos testículos, disse a Cruz Vermelha. Os três feridos foram hospitalizados.

Dois deles são norte-americanos de 29 e 35 anos, e o terceiro é um nativo de 46 anos de Navarra, na Espanha. Um irlandês de 39 anos também ficou ferido.

Corrida de touros deixou três feridos nesta sexta-feira (7) (Foto: AP Photo/Alvaro Barrientos)Corrida de touros deixou três feridos nesta sexta-feira (7) (Foto: AP Photo/Alvaro Barrientos)

Corrida de touros deixou três feridos nesta sexta-feira (7) (Foto: AP Photo/Alvaro Barrientos)

A corrida, que dura menos de três minutos, normalmente atrai cerca de 2 mil participantes vestidos de branco e com lenços de pescoço vermelhos que correm diante de uma dúzia de touros.

Os animais eram do criador Cebada Gago, da Andaluzia, famoso por criar touros perigosos que foram responsáveis pela maioria dos feridos da história das festas de São Firmino, que duram uma semana.

Participantes da corrida de touros em Pamplona, na Espanha, corem nesta sexta-feira (7)  (Foto: AP Foto/Alvaro Barrientos)Participantes da corrida de touros em Pamplona, na Espanha, corem nesta sexta-feira (7)  (Foto: AP Foto/Alvaro Barrientos)

Participantes da corrida de touros em Pamplona, na Espanha, corem nesta sexta-feira (7) (Foto: AP Foto/Alvaro Barrientos)

Fonte: G1

Meu sonho: uma Espanha sem touradas

A violência inútil, sob o pretexto de arte e da cultura popular, como a tourada, não se justifica pelo fato de que continue a existir violência no mundo contra os humanos

 

O toureiro Victor Barrio, após ser atingido por uma chifrada.
O toureiro Victor Barrio, após ser atingido por uma chifrada. ANTONIO GARCÍA EFE

Confesso que hoje pertenço a esse 68% dos espanhóis que gostaria de ver abolida a tourada. É meu sonho. A morte do Toureiro espanhol Victor Barrio, que tinha 29 anos, voltou a colocar o assunto na ordem do dia. Comprovei que a reação visceral dos comentários dos leitores da edição brasileira foi 90% a favor do touro, que veem como uma vítima de um esporte considerado bárbaro.

Imediatamente houve quem lembrasse que no Brasil são mortas 60.000 pessoas por ano, na maioria jovens, pobres e negros, vítimas de uma sociedade violenta com as pessoas.

A violência inútil, e mais a camuflada sob o pretexto de arte e da cultura popular, como a tourada, no entanto, não se justifica pelo fato de que continue a existir violência no mundo contra os humanos.

Estamos, ao longo dos séculos, evoluindo no respeito à vida. A questão dos direitos humanos deu o passo para os direitos dos animais e até para a Terra como um todo.

Na época romana só os adultos, e especialmente os homens, tinham direitos. Nem as crianças nem as mulheres tinham direitos. Na Roma antiga, o pai de família, ao nascer um filho, decidia se ele devia viver, conforme tivesse ou não algum defeito, em cujo caso poderia ser jogado contra o chão. O estatuto da infância tem menos de um século e eu já tinha nascido quando as mulheres espanholas ainda não tinham, durante a ditadura de Franco, uma série de direitos que são simplesmente normais hoje.

O novo passo em termos de civilização tem sido a consciência de que os animais precisam ser respeitados, porque eles também sentem, amam, sofrem e desfrutam como os seres humanos. Nenhuma religião diz isso. É a ciência que diz, que cada vez aproxima mais a condição animal à do homo sapiens.

Não nego que a Espanha viveu, no passado, a tourada como um espetáculo popular, artístico e até cultural. Os touros impregnaram toda uma literatura e até influenciaram a língua espanhola.

Tudo isso se justifica hoje? A grande maioria dos jovens espanhóis veem a tourada como uma barbárie que tem pouco a ver com a cultura e mais com a morte gratuita de um animal indefeso, muitas vezes drogado antes de sair para lutar.

Um jovem universitário de Madri me disse: “Por que o toureiro não sai desarmado para lutar com o touro?”

Assim como confesso estar hoje entre a maioria dos espanhóis que defende o fim das touradas, reconheço que se tratou de um percurso da minha consciência que me levou a reconhecer que não temos nenhum direito de usar e abusar dos animais para sacrificá-los no altar da nossa distração.

Numa época, eu também fui às touradas. Até minha entrada no jornalismo, quando tinha 30 anos, foi graças à comemoração do melhor toureiro do ano, Viti.

Dizer que me envergonho daquele passado seria hipocrisia. Era mais um espanhol que via a tourada como um espetáculo símbolo da destreza e até da superioridade do homem contra o animal.

Hoje, simplesmente, fico feliz que minhas leituras, meus estudos, minha relação com os animais e minha tomada de consciência interior tenham me libertado daquela loucura intelectual. E sonho para minha Espanha um futuro sem touradas e sem outras festas que signifiquem dor e crueldade para os animais. Para todos. Hoje consigo vê-los como irmãos. Sem eles eu me sentiria órfão, e em um mundo ainda mais triste e chato.

Fonte: El País