G20 termina com protestos e Trump isolado
G20 termina com protestos e Trump isolado
O PRESIDENTE MICHEL TEMER CONVERSA COM O PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS, DONALD TRUMP, DURANTE A CÚPULA DO G20, NA ALEMANHA
A cúpula do G20 terminou neste sábado em Hamburgo, na Alemanha, em meio a protestos e confusão do lado de fora , e com o presidente americano Trump isolado em relação às questões climáticas. Apenas os Estados Unidos votaram contra o Acordo de Paris, que luta contra o aquecimento global e terminaram com uma derrota por 19 a 1. Trump, no entanto, selou um compromisso a favor do livre comércio, reconhecendo o direito dos Estados Unidos de se defender de “práticas injustas”.
A Alemanha, à frente do grupo das principais economias do mundo e das potências emergentes, apressou as negociações até o último momento e conseguiu, como queria a chanceler Merkel um documento assinado por todos que expõe as discordâncias e ficam evidentes as diferenças com Washington.
“Em alguns temas obtivemos bons resultados, embora não negue que as negociações foram difíceis”, admitiu na entrevista coletiva final Merkel, que se mostrou “muito contente” porque todos os líderes, exceto Trump, ratificaram seu compromisso com o Acordo de Paris.
O texto final deixou claro o descontentamento com o abandono americano. “Está muito claro que não conseguimos chegar a um consenso, mas as diferenças não foram escondidas. Alteramos a declaração, que deixa muito clara a diferença entre o que os Estados Unidos querem e o que os outros países querem”, afirmou Merkel.
No comunicado conjunto, os parceiros do G20 definem esse acordo como “irreversível” e se comprometem a aplicá-lo “o mais rápido possível”. Washington conseguiu incluir uma frase controversa, na qual diz que ajudará países terceiros a “usar combustíveis fósseis”, como o carvão e o petróleo, “de forma mais limpa e eficiente”, ponto que atrasou o acordo, até que finalmente ficou claro na redação do documento que era exclusivamente uma intenção dos Estados Unidos.
Livre comércio – O segundo impasse nas negociações foi a defesa do livre comércio e a rejeição ao protecionismo, princípios clássicos do G20 que vão contra a política econômica de Trump. Finalmente, o G20 ressaltou que o comércio e os investimentos internacionais são “importantes motores para o crescimento, a produtividade, a inovação, a geração de emprego e o desenvolvimento” e reiterou sua aposta em manter abertos os mercados e lutar contra medidas protecionistas.
Não entanto, a pedido de Washington, também foi reconhecido “o papel de legítimos instrumentos de defesa comercial” perante “práticas injustas”. Nessa questão, Merkel comemorou o acordo alcançado para buscar em um fórum multilateral e até novembro soluções para a sobrecapacidade de aço, que levou recentemente os EUA a ameaçarem com sanções a União Europeia (UE) e a China.
As demais questões documento final da cúpula, de 14 folhas, já tinham chegado a Hamburgo praticamente pactuadas e Merkel conseguiu sem maiores problemas fazer com que os líderes mundiais se comprometessem a melhorar a cooperação na luta contra o terrorismo e a resposta perante as pandemias.
Com este balanço, um documento unânime em que ficou claro que os EUA decidiram se isolar, os líderes foram deixando Hamburgo e a cidade começou a respirar após três dias de protestos e violentos distúrbios que deram a volta ao mundo. As confusões deixaram 143 presos e 213 policiais feridos.
Fonte: MSN
Acordo de Paris: o fim da liderança global dos americanos
A saída do acordo sobre mudanças climáticas é a demonstração de que os EUA são a maior ameaça à ordem internacional construída pelos E

A retirada do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas é a demonstração de que os Estados Unidos são hoje a maior fonte de ameaça à ordem internacional construída nas últimas décadas sob a liderança… dos Estados Unidos. Com a decisão do governo Trump de tirar os Estados Unidos do acordo que tenta atenuar os efeitos do aquecimento do planeta, a maior potência econômica, militar e tecnológica do mundo está se eximindo de exercer um papel de liderança na questão mais crucial e premente para a humanidade nas próximas décadas.
Sintomaticamente, a decisão do governo Trump sobre o acordo de Paris, um repúdio frontal ao sistema das Nações Unidas erigido após a Segunda Guerra Mundial sob a inspiração do presidente americano Franklin Delano Roosevelt, foi tomada na mesma semana em que outro pilar da ordem internacional dos últimos 70 anos – a aliança transatlântica entre Estados Unidos e a Europa Ocidental – sofreu forte abalo.
Em seguida à recusa de Donald Trump de se comprometer com o princípio de defesa mútua dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), na última reunião de cúpula da aliança militar, a chanceler da Alemanha, Merkel, disse que a Europa não pode contar mais com os Estados Unidos – um reconhecimento tácito de que a aliança ocidental está “moribunda”, como escreveu Martin Wolf, o celebrado colunista do jornal britânico Financial Times.
Como não existe vácuo em poder, a renúncia à liderança por parte dos Estados Unidos abre espaço para a emergência de novas potências. A candidata mais óbvia ao lugar é a China governada pelo Partido Comunista. Grande beneficiária das mudanças na economia global das últimas décadas, a China, que só entrou no Conselho de Segurança das Nações Unidas por insistência de Roosevelt e contra a oposição do líder britânico Winston Churchill, passou a se exibir como a grande defensora da atual ordem global, desde a eleição de Trump.
Em contraposição ao discurso protecionista feito por Trump em sua campanha presidencial, o líder chinês Xi Jimping, na última reunião do fórum de Davos, se apresentou como o baluarte da globalização. Com a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, a China imediatamente se empinou para ocupar a liderança no combate ao aquecimento global. “Trump fez o mundo mais seguro para a China exercer influência”, disse, em tom de lamento, Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations, centro de estudos de política internacional, que exerce grande influência nas políticas do governo americano.
Mesmo a União Europeia, que aparentava estar relegada a uma trajetória de decadência, parece energizada, depois da vitória de Macron na eleição presidencial na França, para assumir um papel de maior protagonismo mundial. Em seguida à declaração de Merkel de que os europeus precisam tomar as rédeas do próprio destino, França, Alemanha e Itália, sob o impulso de Macron, assumiram o compromisso de não ceder em qualquer renegociação do Acordo de Paris para trazer os Estados Unidos de volta ao tratado internacional. Como disse o jornal francês Le Monde, em editorial, são sinais veementes de que se o século XX foi americano, o século XXI caminha aceleradamente para deixar de sê-lo.
Fonte: Época
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