Duas em cada três mães consideram rotina difícil, revela pesquisa
O perfil foi traçado pelo estudo A Nova Mãe Brasileira,do Instituto Qualibest e site Mulheres Incríveis. Foram ouvidas 1.317 mil mães, todas com mais de 18 anos

As mães precisam de ajuda e nem todo mundo percebe isso. A rotina é tão cansativa e diferente da mostrada em propagandas que algumas chegam a esquecer os filhos em locais públicos ou permitem que eles durmam em suas camas por falta de energia para fazê-los dormir sozinhos. Elas não querem o rótulo de “mães perfeitas”, que têm dedicação exclusiva às crianças: a mãe brasileira se define como alguém que “ama seus filhos, mas também ama o seu trabalho, seu parceiro e tem outros objetivos na vida”.
O perfil foi traçado pela pesquisa A Nova Mãe Brasileira, feita pelo Instituto Qualibest e pelo site Mulheres Incríveis. Foram ouvidas 1.317 mil mães, todas com mais de 18 anos – 81% delas têm de um a dois filhos. Dois terços das mães brasileiras consideram a rotina difícil, exaustiva ou impossível. Apenas 9% dizem se identificar com a imagem da mãe que aparece na mídia e 70% também afirmaram que se sentem julgadas ou cobradas.
“Chamou-nos a atenção que, quando solicitamos às entrevistadas que fizessem um pedido, 40% disseram querer ajuda nas atividades domésticas”, afirma a jornalista Brenda Fucuta, idealizadora da pesquisa. “Ela quer mais ajuda para cuidar da casa do que dos filhos: isso mostra que ser mãe é difícil, mas a grande questão é resolver a administração da casa.” O desafio atual da mãe brasileira parece ser envolver o cônjuge e as crianças nas tarefas domésticas.
Atitudes. A pesquisa perguntou às mães se elas já tomaram alguma atitude com os filhos que consideram constrangedora ou vergonhosa. “Dei umas palmadas”, responderam 33%. “Deixei ele ficar assistindo TV ou vídeos na internet para eu poder descansar, dormir ou fazer alguma outra atividade do meu interesse” (28%), “Ofereci comida industrializada” (21%), “Já ameacei ir embora de casa e deixá-lo para outros cuidarem” (15%), “Já dei uma surra” (10%), “Já dei remédio para que ele se acalmasse” (3%), “Deixei-o trancado sozinho em casa” (2%), “Esqueci-o numa loja ou na escola” (2%).
De certa forma, os dados da pesquisa mostram que há uma discrepância entre o discurso-padrão da maternidade sonhada com a vida real enfrentada pelas mães, em que dificuldades se somam aos prazeres. Foi por vivenciar isso na pele que a publicitária Luciana Cattony, de 38 anos, decidiu criar o site Maternidade Real. Ela é mãe de Henrique, de 5 anos. “Quero dar leveza e alegria para as mães, mas ninguém fala sobre o lado difícil da maternidade. Isso também é importante.”
Desde maio, a cineasta Helen Ramos, de 29 anos, “desromantiza” a maternidade em seu canal Hel Mother, no YouTube. As experiências com o filho Caetano, de 2 anos, estão entre os temas abordados. “Ninguém chegava antigamente e até recentemente para falar que a amamentação será difícil, todomundo só falava que é o maior amor do mundo. Depois que eu tive filho, percebi como foi importante saber a verdade.” Helen diz que é fundamental que mais mulheres falem sobre suas dificuldades e consigam pedir ajuda para as pessoas que estão ao seu redor.
A designer e ilustradora Thaiz Leão, de 26 anos, mãe de Vicente, de 2, chegou à maternidade com as referências de “mãe ideal” passadas por filmes e propagandas, e se deparou com uma situação completamente diferente. “Eles mentiram para mim, pelo menos em parte. Eu não sabia que iria dormir tão pouco, eu não sabia que um bebê tinha tantas necessidades e que, para algumas delas, eu seria impotente. Eu achava que estaria no controle, mas esquece, não havia controle algum.” Foi assim que ela resolveu fazer ilustrações sobre o tema e criou a página Mãe Solo.
Realidade. “As famílias que aparecem na mídia para vender margarina trabalham com a imagem da família e mães ideais. Mas a família real não é assim o tempo todo. Existem conflitos, separações e todos os outros sentimentos, porque são seres humanos. Se o meu real está muito longe disso, gera um conflito com consequências diferentes para as diferentes pessoas”, avalia a psicóloga Ceneide Maria de Oliveira Cerveny, professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e autora do livro A Família como Modelo.
Gabriela Malzyner, professora do curso de formação em psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP/SP), diz que as mães não precisam buscar uma fórmula para exercer a maternidade. “A mãe tem de trabalhar, sair com o marido e com os amigos. Essas trocas são importantes, porque o bebê tem de entender que ele não é o único interesse da mãe, isso pode ser nocivo para ambos.”
Fonte: Correioweb
A ambição profissional das mulheres aumenta após o nascimento dos filhos
O maior sonho das mulheres depois que têm filhos é retomar a carreira. Um número grande demais fica só no sonho
Há 154 anos, a americana Jennie Douglas entrava no Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, em Washington – a primeira mulher na história a ser contratada pelo governo americano. A Guerra Civil arrancava os homens dos postos de trabalho. Jennie era uma experiência. Havia dúvidas sobre a capacidade dela para cortar e aparar cédulas recém-impressas, outra novidade naquele momento. Mas, como avaliou o chefe da área, “o primeiro dia de trabalho resolveu o assunto, em favor dela e das mulheres”. O governo contratou mais centenas de funcionárias nos anos seguintes. Terminada a guerra, em 1865, muitas poderiam voltar a se dedicar só à família. Mas a tendência era irreversível. Em 1870, o censo americano registrou pela primeira vez a categoria pequena, mas crescente, das mulheres com empregos formais fora de casa(antes, as mulheres tinham, usualmente, ocupações informais, autônomas e braçais). O censo passou também a dimensionar uma questão em debate até hoje. Como mulheres e homens podem trabalhar fora, obter realização profissional e criar filhos de forma saudável?
Entre as mulheres, em países democráticos, as oportunidades se multiplicam. Mas o avanço não acompanha o ritmo de crescimento das ambições femininas. Uma enquete organizada pela revista Crescer, feita em fevereiro e março, colheu opiniões de mais de 3 mil mães de crianças com até 11 anos de idade. E mostra a largura do fosso entre ambições e realidade. A pesquisa listou e ordenou sonhos e prioridades. Somemos as indicações recebidas por um certo sonho ou uma certa prioridade como “primeiro mais importante” e como “segundo mais importante”. De acordo com a pesquisa, o maior sonho das mulheres após ter filhos é retomar a carreira. Isso vem à frente de viajar o mundo (11%) e muito à frente de ter um bom relacionamento (2%) (leia o quadro abaixo). Sete em cada dez das mães sonham com um trabalho que as realize (71% indicam essa opção como o maior sonho ou o segundo maior sonho). Mas, diante das demandas familiares, apenas uma em cada dez consegue tratar isso como uma prioridade (9% indicam essa opção como a maior prioridade ou a segunda maior prioridade). Além das próprias mulheres, saem perdendo a sociedade e as organizações.
Uma mudança ainda incipiente vem indicando um rumo interessante. Parte dela é difusa – os parceiros mais atentos atuam pela igualdade de oportunidades para suas mulheres. Durante os três últimos anos, a administradora financeira Ana Paula Santos, de 30 anos, precisou dedicar mais tempo à carreira, na escola de negócios e design Polifonia. Seu marido, Eduardo, é designer de interiores e tem horário flexível no trabalho. Assim, ele consegue arrumar a agenda para trabalhar somente até o horário de buscar na escola o filho de Ana, Caio, de 10 anos. “Meu marido sempre fez tudo. Pega meu filho na escola, dá janta, ajuda na lição de casa. Coisas que não consigo fazer”, diz Ana. O avanço na carreira satisfaz Ana e beneficia a família. “Meu salário aumentou em 70% nos últimos três anos.”
Outra parte da mudança, porém, precisa vir de quem tem poder – empresas e governos. Organizações modernas vêm propondo benefícios para a mulher, o que é ótimo. Mas organizações extremamente modernas, interessadas em participar da solução do problema em grande escala, devem pensar em benefícios não apenas para a mulher, e sim para a família. Isso significa definir sistemas e culturas de trabalho que apoiem todos os funcionários, inclusive os homens, a planejar, ter e cuidar de filhos. Incentivar os homens a dividir meio a meio a responsabilidade parental significa apoiar as ambições femininas. “Muitas empresas e países ainda parecem pensar que a maioria das crianças só tem mãe”, diz a consultora Avivah Wittenberg-Cox, atuante há 20 anos nessa frente e fundadora da Rede de Mulheres Profissionais da Europa. “A cultura da maior parte das empresas é dominada e definida por homens. Essas companhias sofrem uma hemorragia de talentos femininos.”
A mudança apareceu em destaque no Relatório de Tendências do Ambiente de Trabalho de 2015 da Sodexo, uma empresa multinacional de benefícios trabalhistas, presente em 80 países. Uma tendência destacada no ano passado foi a “redefinição do ambiente de trabalho amigável para a família”. As organizações mais sensíveis ao tema perceberam o que as mães já sabiam. “Mães e pais tendem a ter responsabilidades substanciais tanto no trabalho como em casa. Em resposta, as organizações estão implementando ações ‘amigáveis à família’”, afirma o relatório, assinado por um painel de especialistas. As políticas incluem horários flexíveis para mulheres e homens com filhos pequenos. O estudo admite que os resultados ainda não são conclusivos – estamos desbravando território novo. Os governos terão papel fundamental nisso.
A Suécia, que ocupa a quarta posição no índice de igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial, foi o primeiro país a adotar a licença-paternidade, em 1974. Atualmente, o casal recebe por lei 480 dias de licença parental, a partir do nascimento da criança, e os dois juntos decidem como dividir esse tempo. Nos primeiros 390 dias, quem optar por ficar em casa recebe 80% do salário, pago pelo Estado. “Na Suécia, os homens (com filhos recém-nascidos) são obrigados a tirar pelo menos oito semanas de licença, ou perdem o benefício”, diz Avivah. A licença parental pode permitir que mãe e pai fiquem em casa, trabalhem meio período ou tenham horários mais flexíveis. Trata-se de um impulso igualitário – e benéfico para todos.

Fonte: Época
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