Em um ano, número de famílias que desceu de classe social chega a quase 1 milhão

Foi a primeira vez que houve um movimento inverso ao da ascensão socioeconômica que vinha ocorrendo desde 2008, segundo estudo da Abep

 

 

Beneficiários do Bolsa Família fazem fila para resgate do benefício em agência da Caixa localizada na zona norte do Recife
Apesar de benefícios como o Bolsa Família, número de pobres do país aumentou(CLEMILSON CAMPOS/JC IMAGEM/Estadão Conteúdo)

Faz três meses que o pedreiro Maurício Paes de Souza tenta pagar a última prestação do Uno 2007, comprado há quatro anos. A parcela é de R$ 630, mas, sem emprego desde janeiro, com a mulher também desempregada e dois filhos para sustentar, ele corre o risco de perder o automóvel – assim como já perdeu tantas outras pequenas conquistas de consumo dos últimos anos. Aos poucos, Souza se dá conta de que não pertence mais à mesma classe social da qual chegou a fazer parte, como outros milhares de brasileiros. Só no último ano, quase um milhão de famílias desceram um degrau na escala social.

Foi a primeira vez que houve um movimento inverso ao da ascensão socioeconômica que vinha ocorrendo desde 2008. O estudo, da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep), mostra que, de 2015 para 2016, a classe que abrange famílias com renda média de R$ 4,9 mil (chamada de B2) perdeu 533,9 mil domicílios. A categoria dos que ganham R$ 2,7 mil (C1) encolheu em 456,6 mil famílias.

Ao mesmo tempo, as classes mais pobres ganharam um reforço. Na categoria em que as famílias têm renda média de R$ 1,6 mil (C2), o incremento foi de 653,6 mil domicílios. Outras 260 mil famílias passaram a fazer parte das classes D e E, com renda média de apenas R$ 768.

“Porcentualmente, esse movimento é pequeno. Mas, em termos absolutos, estamos falando em um acréscimo de mais de 910 mil famílias nas classes pobres em apenas um ano. É um número expressivo”, afirma Luis Pilli, da Abep.

Um resultado que chamou a atenção é que a classe A, a mais rica e que conta com reservas financeiras e de patrimônio para se defender da alta da inflação e do desemprego, cresceu em 109,5 mil famílias no período. Com isso, ao todo, 1,023 milhão de domicílios, ou cerca de 4 milhões de pessoas, se movimentaram de alguma forma na escala social por causa da crise – a maioria, porém, perdendo o status anterior.

 

O que impressiona nessa crise, segundo Pilli, é a rapidez com que as famílias estão abrindo mão de itens como o segundo carro ou uma casa maior. “São decisões que geralmente demoram algum tempo para serem tomadas.”

O pedreiro Maurício Paes de Souza entende bem o que Luis Pilli está querendo dizer. Em pouco tempo, ele perdeu muita coisa. Quando comprou o carro usado, por R$ 15 mil, há quatro anos, costumava gastar R$ 700 por mês no supermercado, pagando à vista. “Hoje, gasto a metade, procuro promoção e pego o cartão de um e de outro emprestado.” Os filhos comiam carne todo dia e tinha iogurte na geladeira. Agora, sem o salário de R$ 3,5 mil, “é arroz e feijão e, às vezes, falta dinheiro para comprar ovo.”

Em breve, o pedreiro pode perder o carro. “Ficam mandando mensagem de busca e apreensão, mas não adianta eu ir lá para conversar se não tenho dinheiro.”

Baque – Para Maurício de Almeida Prado, sócio-diretor da Plano CDE, consultoria especializada na baixa renda, os números da Abep indicam que quem está sentindo o baque da crise é principalmente a classe média. “Os estratos sociais que dependem do emprego formal foram os mais afetados”, explica. Os mais pobres, segundo ele, estão acostumados com a informalidade. “Eles se viram muito, fazem coisas em casa, vendem cosméticos, por exemplo. A classe média mais alta é dependente do emprego formal e tem dificuldade de gerar renda extra.”

Nesta atualização da distribuição das famílias por classe, feita pela Abep, foram usados dados dos principais institutos de pesquisas que visitaram as casas dos brasileiros em 2015 e no início deste ano para descobrir como andava o padrão de vida da população. A associação utiliza o Critério Brasil, que tenta estimar a renda permanente das pessoas por meio da posse de bens e de outros quesitos.

O coordenador do centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes Filho, acredita que as famílias estejam se desfazendo dos ativos e por isso desceram degraus na pirâmide social. “Isso era esperado, porque a crise é muito forte”, diz. Ele ressalta, porém, que não há números oficiais do IBGE para avaliar esse movimento.

Renda

Já Adriano Pitoli, sócio da Tendências Consultoria Integrada, traça um cenário pior do que o da Abep. Ele estuda as mudanças na pirâmide social olhando apenas a renda monetária recebida pelos trabalhadores – e não a permanente, como fazem os institutos de pesquisa. Em estudo feito no final do ano passado, o economista da Tendências apontava, com base em projeções, que 3 milhões de famílias desceriam um degrau na escala social em três anos, entre 2015 e 2017.

De lá para cá, com o agravamento da crise, Pitoli refez as contas e projetou que 4,2 milhões de famílias seriam devolvidas à base da pirâmide. Só no último ano, a baixa teria sido de 1,8 milhão de famílias.

Pitoli explica que os critérios do seu estudo e o da Abep são diferentes. Ele olha renda monetária, que tem um impacto mais imediato no padrão de vida das famílias. Já a Abep usa a renda permanente, medida pela posse de bens, que teoricamente, demora mais para aparecer.

“Mas o estrago está feito”, diz Pitoli. Segundo Pilli, da Abep, o país não voltou 20 anos atrás. “Mas, se continuarmos fazendo escolhas erradas, podemos retroceder.”

Fonte: Veja

Rombo fiscal pode chegar a R$ 65 bilhões em 2017

Governo proporá hoje, na LDO, superávit zero e possibilidade de abatimentos

Apertado. Barbosa apresenta hoje proposta de Orçamento ao Congresso – Ailton de Freitas / O Globo

 

O governo apresenta hoje ao Congresso o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017 prevendo a possibilidade de as contas públicas terminarem o ano que vem com um rombo de até R$ 65 bilhões. Segundo integrantes da equipe econômica, a meta fiscal do governo central (composto por Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) será equivalente a zero, mas poderá se transformar num déficit primário se houver uma frustração nas receitas esperadas.

Os números foram fechados em reunião da presidente Dilma Rousseff com a Junta Orçamentária ontem e serão anunciados pelos ministros da Fazenda, Nelson Barbosa, e do Planejamento, Valdir Simão.

Com isso, as contas do governo central completarão quatro anos seguidos no vermelho. Em 2014, o rombo foi de R$ 17,2 bilhões, ou 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todos os bens e serviços produzidos no país). Em 2015, ele subiu para R$ 114,7 bilhões, ou 1,9% do PIB, por causa do pagamento das pedaladas fiscais — atrasos nos repasses de recursos do Tesouro para bancos públicos e para o FGTS.

Este ano, a equipe econômica já pediu ao Congresso autorização para alterar a LDO de 2016 . O objetivo foi acomodar um déficit primário de R$ 96,6 bilhões, ou 1,55% do PIB.

Projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgadas esta semana indicam que o Brasil somente voltará a realizar superávits primários (poupança para o pagamento de juros da dívida pública) em 2020. Em sua análise, a instituição ressaltou que a deterioração fiscal brasileira ocorreu num ambiente de recessão econômica e de crise política.

Para o FMI, a dívida bruta — principal indicador de solvência observado pelo mercado internacional — saltará dos atuais 67,6% do PIB para quase 92% do PIB em 2021.

O Ministério da Fazenda defendia que a LDO de 2017 trouxesse como novidade a fixação de um teto para os gastos públicos. Essa seria uma forma de sinalizar ao mercado que o governo está comprometido com o reequilíbrio das contas e que um novo rombo fiscal no ano que vem só ocorrerá em função de uma dificuldade do lado da arrecadação. No entanto, essa ideia foi descartada uma vez que já tramita no Congresso um projeto de reforma fiscal, que cria não apenas um teto para os gastos da União, mas também um regime especial de contingenciamento (que permite ao governo preservar gastos essenciais de cortes no Orçamento).

 

A LDO também trará os parâmetros usados para compor o Orçamento de 2017, como PIB, inflação e câmbio, além do novo valor do salário mínimo. Segundo os técnicos, não haverá previsão de aumento real para o piso, que subiria para R$ 946, com reajuste apenas pelo INPC, em estimados 7,5%.

ROMBO PODE SUPERAR R$ 100 BILHÕES

Apesar de negativos, os números do desempenho das contas públicas em 2016 e 2017 são mais otimistas do que os do mercado financeiro. O boletim Prisma Fiscal de março, divulgado ontem pelo Ministério da Fazenda, mostra que os analistas esperam que o governo central termine este ano com um déficit primário de R$ 100,450 bilhões.

No mês anterior, essa projeção era de R$ 79,743 bilhões. Para 2017, a estimativa agora é de um rombo de R$ 103,514 bilhões, contra R$ 71,329 bilhões no boletim de fevereiro. Com esse cenário, a trajetória esperada para a dívida bruta também piorou: subiu de 74,35% do PIB para 80% do PIB no ano seguinte.

Fonte: O Globo

Após Olimpíadas, 30 mil podem perder emprego no Rio

Empresários do estado são os mais pessimistas, aponta pesquisa

Gilvan Ferreira da Silva, desempregado – Fernando Lemos / Fernando Lemos

A falta de perspectiva de criação de novas vagas desenha um cenário sombrio para o mercado de trabalho carioca, que, apesar da crise da Petrobras e da recessão que afeta o país, até agora vem sendo poupado pelo colchão de empregos criado pela preparação para os Jogos Olímpicos. Em um ano até fevereiro, a taxa de desemprego da Região Metropolitana do Rio cresceu apenas 1 ponto percentual, para 5,2%, contra aumento de 2,4 pontos da média geral, que pulou para 8,2%. É a menor alta entre as seis capitais analisadas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Trajetória que, dizem economistas, deve começar a mudar no segundo semestre, com o fim de obras ligadas ao evento e o desligamento dos temporários que trabalharão nos Jogos, quando as taxas do Rio vão crescer e se aproximar das demais metrópoles.

— Há várias obras de mobilidade urbana sendo feitas para as Olimpíadas que serão desmobilizadas até julho. Além disso, tem toda a parte de hotelaria e serviços empregando temporários para o evento. Haverá uma queda do nível de emprego nesses setores e, com a recessão, a taxa no Rio passará a crescer mais do que em outras capitais — diz o economista da PUC-Rio José Márcio Camargo.

O economista do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) Manoel Thedim diz que a tendência é que a taxa de desemprego do Rio se aproxime do resto do Brasil a partir do segundo semestre. O agravante local, ressalta, é que a queda será abrupta:

— O fim das obras dos Jogos causará uma demissão em massa sem absorção, porque o estado está sem projetos de grande porte, que dependem do dinheiro público, cujas contas estão paralisadas.

O ajudante hidráulico Gilvan Ferreira da Silva, de 49 anos, sente na pele as dificuldades para se reinserir no mercado. Ele está desempregado há duas semanas, quando acabaram as obras no Porto do Rio. E diz que o pior é perder os benefícios da carteira assinada:

— Todo mundo reclama. Essa crise atingiu do mais rico ao mais pobre. Para mim, o pior é não ter mais clínica médica e tíquete-alimentação.

O eletricista Lenaldo Azevedo de Oliveira, de 30 anos, também ficou sem emprego após o fim das obras do Porto do Rio. Para garantir o sustento das famílias, ele e Gilvan vêm recorrendo a bicos e darão entrada no seguro-desemprego esta semana.

— Sou eletricista há dez anos e nunca vivi uma situação tão difícil. É caso de pedir força a Deus. Tenho mulher e dois filhos para sustentar e não posso ficar para trás — desabafa Lenaldo.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada Intermunicipal do Rio, Nilson Duarte, há 30 mil trabalhadores em obras cuja previsão de término é em 15 de julho. E, sem novas obras, não há perspectiva de absorver esses trabalhadores:

— Quando as obras começaram, em 2011, sabíamos que eram temporárias, mas não tínhamos ideia que uma crise dessas, junto com a Lava-Jato, ia paralisar o setor. Só no ano passado, fiz 8,6 mil homologações no sindicato em razão dos cortes no Comperj. Nos três primeiros meses deste ano, foram mais três mil, com a finalização do Porto Rio.

Pedro de Lamare, presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, ressalta que o setor tem o desafio de criar um ambiente de eventos constantes e conquistar os turistas que vierem para os Jogos, para que retornem ao Rio.

Uma pesquisa da agência de empregos ManpowerGroup Brasil, que mede trimestralmente a intenção de empresas em contratar e demitir, aponta que o Rio é o estado onde os empregadores se mostram mais pessimistas para os próximos três meses entre São Paulo, Paraná e Minas Gerais. As perspectivas para contratações caíram 4 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre deste ano e 18 pontos frente ao mesmo período de 2015.

— Esse pessimismo no Estado do Rio tem relação direta com a baixa perspectiva de atividade na construção civil e no setor de petróleo, por conta da crise na Petrobras — diz o diretor presidente da empresa, Nilson Pereira.

Entre os setores pesquisados, o de construção é o que mais preocupa. Abrahão Roberto Kauffmann, presidente do Sindicato da Construção Civil no Rio, admite a falta de perspectiva de novas obras e conta que vai a Brasília esta semana discutir a possibilidade da liberação de recursos para fomentar o setor por meio de obras públicas e privadas. E diz que há um departamento de serviço social na entidade que tem oferecido a empregados de canteiros de obras curso de capacitação de 30 horas para que se tornem trabalhadores autônomos formais.

Procurado, o governo do estado informou não haver “nada concreto” em relação a novas obras para o segundo semestre. Já a prefeitura disse que 25 mil empregos na área da construção civil devem ser criados nos próximos meses, em obras de infraestrutura, logística, mobilidade e saneamento.

Fonte: O Globo

Brasil vive crise econômica acentuada desde 2015

Mercado de trabalho: sob o sol, sem renda fixa e com mais concorrentes

No Rio, conta própria cresceu 13,2% em 2 anos, quase o dobro do país

Insegurança: Heberton Anastacio vende quentinhas na Zona Sul do Rio: perdeu produtos para fiscais e teme roubos – Custódio Coimbra

“E aí, padrinho, vai uma quentinha?” A frase é usada como chamariz para a venda de marmitas pelo ambulante Heberton Anastácio de Freitas, de 22 anos, que até o fim de 2014 era funcionário de uma prestadora de serviços do ramo da construção civil. Sem conseguir novo emprego, descobriu em Magé, cidade onde mora, na Baixada Fluminense, uma empresa que fornece as quentinhas. Resolveu comprá-las para revender a R$ 10 ou R$ 12 com suco, em uma área nobre do Rio. Mesmo com outros quatro concorrentes num raio de 500 metros, em um ano e três meses de trabalho na rua conquistou clientela fiel, que lhe rende cerca de R$ 1.200 todo mês:

— Você vai ao mercado com R$ 400 e sai com 12 sacolinhas. Está tudo muito caro. E ainda tenho de pagar aluguel e sustentar meus vícios: o cigarro, o chopinho com os amigos e comprar roupas para estar bem apresentável. Eu tive de arrumar um jeito de sobreviver.

MAIS 200 MIL CONTA PRÓPRIAHeberton é um dos novos trabalhadores por conta própria que engrossou este grupo no Estado do Rio. Nos últimos dois anos até dezembro, o acréscimo foi de 13,2% ou mais 202 mil pessoas trabalhando, em sua maioria como ambulantes. A alta é maior do que a registrada na média nacional, cujo salto foi de 7,6% ou mais 1,6 milhão de trabalhadores. No fim do ano passado, o grupo dos conta própria somava 1,73 milhão de pessoas no estado, o correspondente a 7,5% do total do país ( 22,9 milhões). Em São Paulo, a alta foi ainda maior, de 10%, pulando para 4 milhões de pessoas. Na capital federal, Brasília, o grupo ficou 3,7% maior, atingindo 251 mil trabalhadores.Para o estatístico da Fundação Getulio Vargas (FGV-Rio) Kaizô Beltrão, esse crescimento acima da média registrado no estado reflete a crise da Petrobras e se dá em razão de peculiaridades da capital:

— A recessão no Rio foi maior porque fomos atingidos duramente pela crise do petróleo, que desempregou todo o pessoal terceirizado da Petrobras. Além disso, o clima de balneário da capital favorece o trabalho na rua. Se na cidade chovesse muito ou fizesse muito frio, talvez esse grupo não tivesse crescido tanto.

Na avaliação do professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia, pesa também o apelo turístico.

— O fato de a cidade ser turística permite desenvolver atividades específicas para esse público — explica o professor.

Saboia acredita que o aumento da informalidade não seja permanente:

— Essas pessoas não estão condenadas a viver na informalidade. Assim que as oportunidades voltarem, elas vão migrar para o emprego com carteira, que dá mais estabilidade, benefícios e as deixa menos expostas à violência da rua e à ação da fiscalização.

 

Essa insegurança das ruas incomoda Heberton.

— Nós, ambulantes, não vendemos drogas, mas é como se vendêssemos. Se a guarda municipal chegar, vai pegar todo mundo. Eu já perdi R$ 700 em mercadoria num dia de apreensão. Na rua, há o risco de ser assaltado porque se anda com muito dinheiro das vendas. Carteira assinada é muito melhor, tem os benefícios e, se for demitido, tem o que receber. Na rua, a gente perde o trabalho sem qualquer renda para se manter por um tempo — afirma o ambulante.

Pesa também a preocupação do trabalhador com a aposentadoria, observa Beltrão:

— Elas querem voltar à formalidade porque se preocupam em contribuir para o INSS porque querem poder se aposentar um dia.

Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, é pessimista. Ele afirma que a recessão, que caminha para ser a maior da história do país, está pondo em risco parte da formalização do mercado de trabalho conquistado em dez anos.

— A maior parte desse aumento de informalidade não é cíclico, mas estrutural. Quando a economia reagir será a partir de uma estrutura institucional pior do governo, com inflação mais alta, com condição fiscal pior, sem as boas condições do passado — alerta Pessôa.

TRABALHADOR FICA VULNERÁVEL

Perde o trabalhador, que na informalidade está mais vulnerável às oscilações do mercado, sem um colchão de proteção que a formalização oferece, complementa Pessôa:

— O trabalho com carteira reduz os riscos sobre o trabalhador. O conta própria é empresário de si mesmo. Não tem uma renda fixa, e qualquer oscilação do mercado vai afetar o seu bolso e o orçamento da família. Sente o impacto direto.

Com o aumento do desemprego, a competição nas ruas vem crescendo.

— O setor informal ainda é grande, mas há cada vez mais pessoas disputando espaço em um mercado com a renda em queda. A pessoa vai à luta, quer que os consumidores comprem seu produto, mas elas têm cada vez menos dinheiro disponível — afirma Saboia.

A banda Fluidos é de Porto Alegre e viaja o Brasil tocando em bares e nas ruas – Edilson Dantas

A banda Os Fluídos, que passou a se apresentar nas ruas desde que a crise começou a minguar os cachês dos bares, tem viajado pelas regiões Sul e Sudeste mostrando sua música nas ruas. Os músicos preferem os espaços públicos, onde a contribuição financeira dos motoristas ou pedestres acaba sendo mais atraente que o cachê de um bar.

— Com a alta dos preços, se a gente tomava uma cerveja ou jantava no local do show, sobrava muito pouco do cachê. Na rua, em dias muito bons, já conseguimos arrecadar R$ 500 num show. Mas a média fica em R$ 200 — diz o guitarrista, Douglas Cassenott.

Todos os quatro integrantes trabalharam no “mercado formal”, mas ou deixaram o emprego ou foram demitidos, e decidiram pôr o pé na estrada com os shows nas ruas.

Douglas diz que o contato com as ruas acaba rendendo novas oportunidades de trabalho, como tocar em exposições, ou mesmo em bares. Em São Paulo, estão hospedados numa ocupação artística no Centro da cidade.

— Nosso palco é público. E sempre convidamos alguém que esteja começando para tocar conosco — afirma Douglas.

Recessão a olhos vistos: empurrados para a rua

Sem oportunidades de emprego formal, brasileiros se viram para pagar as contas

Da sala de aula às ruas. Glória Messias Curi trabalhava até 2014 numa universidade. Hoje, distribui panfletos no Rio – Custódio Coimbra / Custódio Coimbra

De bermuda, camiseta e chinelo de dedo, Glória Regina Messias Curi nem de longe lembra a auxiliar de professora que, até meados de 2014, era funcionária de uma universidade pública carioca. Depois de perder o emprego, mesmo com um curso incompleto de Letras com habilitação em Libras, não conseguiu se fixar novamente no mercado formal. Para garantir uma renda, Glória trocou a sala de aula pela rua, onde entrega panfletos para uma clínica médica.

A saída encontrada por Glória para sobreviver foi a mesma de milhares de brasileiros no último ano, quando a recessão destruiu 1,5 milhão de vagas de emprego formais em todo o país, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os sinais da precarização do mercado de trabalho estão visíveis nas ruas e mudaram a ocupação do espaço público: mais ambulantes nas calçadas, mais vendedores no sinal, mais estratégias alternativas para pagar as contas no fim do mês.

— Procurei trabalho em todos os lugares. Trabalhei numa loja por seis meses. Mas, como corria um boato de que ela estava falindo, saí antes que ficasse sem receber. Depois disso, até fui chamada para entrevista, mas ninguém quer contratar uma mulher de 40 anos — reclama Glória.

Atualmente, Glória ganha R$ 40 por dia com uma jornada em oito horas, na saída da estação do metrô. Já faz isso há um ano. Mas está longe de se conformar com a situação. Sente falta do plano de saúde, das férias e do décimo terceiro, que vinham junto com a carteira assinada. Embora tenha esperanças de voltar a ter um bom emprego, Glória concentra esforços na formação do filho, um entregador de jornal de 21 anos que sonha em se tornar jornalista.

— Já tranquei a faculdade há muitos anos e não começaria do zero de novo. Agora, tenho de investir no meu filho, que na escola só tirava notas dez — conta.

Para alguns, atravessar a crise é questão de criatividade. O mineiro Pedro Henrique Santiago Ramos, de 28 anos, se mudou para Brasília em setembro, em busca de emprego. Antes, ele tinha trabalhado como garçom na churrascaria da família em Patos de Minas (MG), mas o negócio da família fechou. Na capital federal, fez bicos como servente de pedreiro, técnico em informática e topógrafo. Os trabalhos temporários acabaram, e ele retornou para sua antiga atividade de garçom nos sinais do Centro da cidade, vestido a caráter. Na bandeja, além de água e refrigerantes, guardanapos azuis para combinar com a gravata borboleta.

— Usava gravata preta, mas não fazia tanto sucesso quanto a azul. O pessoal reparou bastante, e eu passei a vender mais — diz ele.

A concorrência é acirrada: vendedores de balas e um outro vendedor de água disputam o pedaço de asfalto com Pedro, mas ele garante que já tem freguesia garantida. Entre um intervalo e outro, corre até as lojas próximas para trazer mais garrafas de água e encher o isopor que fica no meio-fio. Trabalhando diariamente “das 8h até o sol acabar”, como ele faz questão de dizer, Pedro chega a vender 60 garrafas por dia, com lucro de mais de 100% em cada uma delas. Ele compra a garrafa por R$ 0,90 e vende a R$ 2.

O cientista político libanês Nami Hanna, de 49 anos, está há 15 anos no Brasil. Aqui, se tornou professor de árabe de universitários. Ganhava entre R$ 30 e R$ 100 por hora/aula, mas no ano passado viu o número de alunos encolher. Resolveu, então, fazer uma parceria com um refugiado sírio e vender comidas da culinária árabe numa banquinha. Começaram o negócio na última semana e sonham em abrir um restaurante.

— Meu amigo faz os produtos e eu ajudo com a parte de transporte, compra dos ingredientes. Aqui é tudo caseiro. Este é o nosso diferencial — conta Nami.

Para economistas, ao perder o emprego com carteira num momento em que novas vagas são escassas, o trabalho autônomo se torna a saída para recompor a renda.

— As pessoas que vêm do mercado formal têm a possibilidade de permanecer alguns meses no seguro-desemprego, mas uma boa parte não tem acesso a esse benefício porque a regras mudaram ou já estavam empregadas sem carteira. Como muitos são chefes de família, é óbvio que têm impacto e não podem permanecer de braços cruzados. Acabam migrando para um trabalho precário, sem carteira — analisa o economista João Saboia, da UFRJ.

Na crise, a rua também vira palco. A banda Os Fluídos, formada por quatro amigos de Porto Alegre, há dois meses se apresenta na Zona Sul de São Paulo. O cachê? Quando o semáforo fecha, um deles passa o chapéu junto aos motoristas parados no sinal vermelho. E quem gosta da música, uma mistura de jazz, rock e blues, costuma colaborar financeiramente. A escolha da rua como principal palco para apresentações foi feita quando a crise começou a se aprofundar. Era uma alternativa para divulgar o trabalho e reforçar os cachês, que começavam a minguar nos bares com a retração econômica.

— A crise no mercado de música, para quem toca em bares, é permanente, mas piorou nos últimos tempos. A rua é uma forma de mostrarmos nosso trabalho, fazer contatos e reforçar o caixa — diz o guitarrista Douglas Cassenott, de 27 anos.

DE COZINHEIRO A HOMEM-PLACA

As plataformas da Central do Brasil também têm servido de porto seguro para muitos desempregados. O portfólio vai do cardápio tradicional, com doces, biscoitos e refrigerantes, a insuspeitos salames, iogurtes, chocolates quentes e até produtos como descascadores de legumes e absorventes íntimos.

Desde que perdeu seu emprego como esmerilhador em um estaleiro no Caju, há um ano e dois meses, Ulisses Sousa Ferreira se posiciona todas as tardes com um isopor repleto de gelo e bebidas na plataforma de onde partem os trens rumo a Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Diz que consegue ganhar por volta de R$ 1.400 por mês, mesmo com a concorrência mais acirrada, embora, às vezes, o movimento seja menor e o lucro fique na casa dos R$ 700.

— Depois que o estaleiro mandou todo mundo embora, não consegui arrumar mais nada. Todo mundo sabe que está “brabo”. Aqui, é o meu dinheiro certo — conta o vendedor.

Um dos aspectos enfrentados por esses trabalhadores é a exposição a risco. Panfletar é proibido no Rio, vender artigos em trens, também. Para Ulisses, lidar com essa incerteza já faz parte do cotidiano:

— Apenas de vez em quando eles pedem para a gente sair. É impossível acabar com isso.

Perder a carteira assinada também significa adiar sonhos. Natan dos Santos, de 23 anos, quer ser advogado. Mas, se nem o salário como cozinheiro de uma rede de restaurantes permitiu que ele pagasse a mensalidade, depois de ser demitido, no mês passado, as dificuldades aumentaram.

— Todos os dias passo nas lojas para ver se tem anúncio e me candidatar. Mas não tem vaga. Tenho de juntar dinheiro para pagar minha faculdade.

Enquanto a vaga não aparece, ele tem feito dois bicos. De segunda a sexta-feira é homem-placa de compra e venda de ouro e nos fins de semana faz tatuagem de henna na praia:

— Não dá para ficar parado. Meu seguro-desemprego em breve vai acabar.

Fonte: O Globo

 

Brasil perde 614 mil vagas sem carteira assinada em um ano

Com desemprego recorde no país, 9,6 milhões estão sem trabalho

Queda na renda. Demitido após sete anos, Diemerson tentará mudar de área para manter o mesmo salário – Hermes de Paula

 

A piora das condições do mercado de trabalho está sendo tão rápida que nem mesmo o emprego informal, destino de muitos demitidos, está sendo poupado. Em janeiro deste ano, havia no país 614 mil trabalhadores sem carteira a menos do que em igual mês de 2015. E, ao contrário do que acontecia em anos anteriores, esse número não caiu por causa de uma migração para o trabalho formal, já que o total de empregados com carteira encolheu ainda mais no período, em 1,3 milhão de pessoas. No total, o contingente dos sem trabalho ganhou mais 2,9 milhões de pessoas em um ano e chegou a 9,6 milhões de brasileiros. E a taxa de desemprego do país chegou a 9,5%, recorde da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal, iniciada pelo IBGE no começo de 2012. A outra alternativa ao desemprego, que já é válvula de escape de 23 milhões de pessoas, o trabalho por conta própria, também dá sinais de estrangulamento.

— Há uma redução generalizada do emprego, porque estamos vendo uma queda do emprego formal e do informal também. Isso quer dizer que até mesmo os pequenos negócios e empresas sem registro, que não pagam impostos, estão com dificuldades e se desfazendo dos trabalhadores. Consequentemente, há um aumento recorde do número de trabalhadores por conta própria, já que a pessoa precisa achar uma saída para seu sustento — analisa Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A análise do economista da Unicamp Claudio Dedecca é ainda mais pessimista. Segundo ele, o desempregado está sem uma válvula de escape, pois o inchaço do número de trabalhadores por conta própria, que, em um ano, ganhou mais 1,3 milhão de pessoas, aumentou a concorrência dentro do próprio grupo. E, além de serem, em sua grande maioria, informais, os conta-própria enfrentam dificuldades de vender seus produtos e serviços para um consumidor que perdeu poder de compra. Prova disso é a queda da renda média real (descontada a inflação) dos conta-própria: ela encolheu 4,1% em um ano, para R$ 1.495, bem mais que os 2,4% de recuo médio. A perda só não foi maior do que a sofrida pelos empregadores, que chegou a -5,7%.

NÚMEROS DO MERCADO DE TRABALHO

EM RELAÇÃO AO TRIMESTRE ENCERRADO NO MÊS

— Fechou o tempo. Não há mais porta compensatória para a perda do emprego assalariado, porque nem o mercado informal funciona mais como válvula de escape. A renda do conta-própria depende da soma de rendimentos da população, que está sem poder de compra. Além disso, como a concorrência aumentou muito, os ganhos entre eles são pulverizados — diz Dedecca.

REDUÇÃO DE SALÁRIO VIA INFLAÇÃO

Para quem se mantém empregado, a queda da renda está se dando por uma combinação de inflação alta e ausência de concessão de reajustes pelas empresas, explica Bruno Campos, economista da LCA Consultores:

— Como as empresas não podem reduzir o salário dos trabalhadores, elas fazem o ajuste deixando de conceder aumento, e, assim, a inflação corrói os salários. Ou então demitem quem tem os salários mais altos e contratam um substituto por um valor menor.

Nas contas de Dedecca, como não há sinal algum de melhora no cenário, no próximo mês a taxa de desemprego já deve atingir os 10% e o número de desocupados passar de 10 milhões, dois patamares inéditos na Pnad. A projeção da LCA é que o pico da deterioração do mercado ocorra no início do ano que vem, quando o desemprego pode atingir 13% dos trabalhadores. Para a média de 2016, a estimativa da LCA é uma taxa de 11,6%.

Diemerson Araújo, de 29 anos, é um dos trabalhadores que acabou de entrar na fila dos desempregados. Depois de sete anos coordenando o setor de laticínios de um supermercado no Rio, foi demitido no mês passado. Agora, procura uma vaga no setor de construção civil:

— Eu poderia buscar outro emprego em loja, mas vou tentar procurar em construção, para manter meu salário e padrão de vida, já que o pagamento nesse ramo é melhor — afirma ele.

Para Miguel Foguel, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, a dispensa expressiva de trabalhadores sem carteira reflete as dificuldades das empresas para se manterem, mesmo pagando baixos salários livres de encargos:

— Nem esse mecanismo de defesa da crise está funcionando. É uma sequência: elas têm problemas com faturamento porque não conseguem vender, tentam segurar o negócio atrasando pagamentos a funcionários e fornecedores, até a hora em que, mesmo demitindo funcionários, não há melhora, e acabam fechando.

Claudio Dedecca alerta que o aprofundamento da crise no mercado de trabalho também traz riscos de aumento de problemas sociais, como a violência:

— Há uma probabilidade de vermos os indicadores de segurança piorarem, com o aumento de latrocínios, por exemplo. Já há sinais visíveis de problemas sociais. Muitas áreas que durante os anos de crescimento econômico não contavam com ambulantes e “craqueiros” voltaram a exibir esse cenário. E ambulantes trabalham em situação de risco, sempre com medo de ações de fiscalização que os tirem do lugar onde estão.

CRISE NO MERCADO DE TRABALHO

Mais de 3 milhões de trabalhadores estão em ocupações precárias

Mais de 20% estão em busca por vagas de emprego há mais de um ano

Informal. O ambulante Luiz Carlos Santos vende escova de dentes na Central do Brasil, no Centro do Rio, e não consegue nem um salário mínimo por mês: “a situação está muito difícil” – Gabriel de Paiva / Agência O Globo

O trabalho precário vem aumentando no Brasil. Trabalhadores esperam cada vez mais tempo por uma vaga — 21% ficam mais de um ano desempregados — e sobe a parcela dos que não conseguem ganhar nem um salário mínimo, ou menos que R$ 4 por hora, refletindo o aprofundamento da recessão no país. Luiz Carlos Santos é a síntese da crise econômica. Aos 46 anos, vende escovas de dentes e biscoitos em frente à Central do Brasil, no Centro do Rio. Consegue ganhar entre R$ 700 e R$ 800 por mês e está incluído numa população que somava em janeiro deste ano 3,424 milhões de trabalhadores, 426 mil a mais que no início de 2015, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, que acompanha o mercado de trabalho em seis regiões metropolitanas (Rio, São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre). Eles respondem por 14,9% do total de ocupados do país. Em janeiro de 2015, representavam 12,7%.

Rendimento cai desde fevereiro

 

— Como não posso ficar parado, tenho que correr atrás vendendo meus biscoitos, escova de dente, o que eu conseguir comprar e vender — explica o camelô que era cobrador de ônibus até quase dois anos atrás, mesmo período em que tenta um emprego com carteira assinada.

Santos está em outra estatística que piorou no últimos anos: o tempo para se conseguir um emprego. Hoje, um de cada cinco desempregados espera mais de um ano para conseguir trabalhar de novo. É o chamado desemprego de longa duração. No início de 2014, atingia 14,7% deles. A situação é ainda pior para 7,3% deles, que demoram mais de dois anos na fila por uma vaga.

— A situação está muito difícil. Eu procuro qualquer tipo de emprego, mas nunca tem vaga e, quando tem, exigem muitas coisas, que nem sempre é preciso para a função, como mais tempo de estudo — afirma Santos.

Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, os reflexos da crise no mercado de trabalho começaram no início do ano passado. Os empregados com carteira assinada começaram a ser demitidos:

— Permaneceram no mercado através da informalidade, do trabalho por conta própria, ficaram subempregadas, sub-remuneradas e subocupadas. E aliviaram a procura, evitando uma fila maior de pessoas procurando trabalho (o conceito clássico de desempregado).

Segundo Azeredo, essa situação afeta toda a família. A renda na casa cai. Em janeiro, o salário médio do brasileiro recuou 7,4%. Desde fevereiro de 2015, o rendimento do trabalhador vem caindo fortemente em relação aos mesmos meses de 2014:

— Quando o trabalhador vai para o subemprego, afeta a vida do filho que estava fora do mercado se qualificando. Ele perde plano de saúde, num círculo vicioso.

Estudo x trabalho

Kelly Alves, vendedora: trabalho no lugar do estudo – Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Kelly Alves, de 20 anos, foi obrigada a sacrificar os estudos. Era vendedora de loja, com carteira assinada, mas foi dispensada há cerca de seis meses. Atualmente, trabalha sem carteira num comércio também informal de roupas.

— Eu moro sozinha e não tenho ninguém para me ajudar. Quero muito terminar o ensino médio até para conseguir empregos melhores, mas a situação está muito difícil — lamenta Kelly.

Segundo o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, a crise está se tornando estrutural no mercado de trabalho. As provas desse cenário recessivo estão no desemprego de longa duração. O próximo passo será o desalento (quando o trabalhador desiste de procurar por não encontrar nada), que tinha se tornado praticamente residual nos últimos anos. O desencanto com a falta de perspectiva não aparece na taxa de desemprego (parcela da força de trabalho que procura emprego). Ela fica estável, dando uma falsa leitura de que o mercado não está piorando mais.

— No início do ano passado, esperava-se que a crise seria mais rápida, e a recuperação viria logo. Não foi o que aconteceu. E começou a repercutir em outros indicadores: o emprego com carteira assinada, o assalariado sem proteção e o trabalho precário. Com o desemprego de longa duração, começa o desalento — explicou.

Contribuição para Previdência recua

  – Paulo Fridman / Bloomberg

 

O que chamou a atenção do economista Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) foi o aumento rápido do trabalho precário:

— Já tivemos uma parcela maior (que os 14,9%) quando o mercado ia bem. Mas esse salto (eram 12,7% em 2015) mostra forte deterioração do mercado de trabalho. É uma inserção tangencial, de sobrevivência, é famoso “fazer um bico”, um trabalho bem mais precário.

E a situação deve piorar ainda mais:

— Temos que lembrar que o primeiro trimestre está se mostrando bem ruim. Uma estrutura um pouco mais fraca, menos pujante, tende a sofrer mais com os impactos. Em um mercado de trabalho menos dinâmico, a crise se faz sentir mais fortemente.

A taxa de desemprego já vinha mostrando a recessão. No início de 2015, era de 5,3%. Um ano depois, em janeiro, subiu para 7,6%. Mas o número de trabalhadores que contribuem para Previdência Social ainda se mantinha. É a primeira vez, desde 2004, que esse indicador cai. Foram 377 mil que deixaram de pagar a Previdência em um ano, seja como trabalhador formal demitido ou como conta própria que não conseguiu mais pagar como autônomo.

— É reflexo da queda na ocupação. É menos dinheiro entrando na Previdência, mas a proporção de trabalhadores se manteve, o que é bom — afirmou Ramos.

Há dois anos vendendo refrigerante e água no Centro do Rio, José Correia, de 62 anos, trabalhou a vida inteira como porteiro de hotel. Aos 60 anos, cinco anos antes de poder se aposentar por idade no INSS, perdeu o emprego. Juntou alguma economias e comprou produtos para vender como ambulante:

— Infelizmente, eu não consegui nada e parado eu não podia ficar. Hoje, eu vou de um lado para o outro debaixo de sol, chuva, não importa, tenho que levar algum dinheiro para casa.


Fonte: O Globo

Brasil fecha 1,54 milhão de vagas formais de trabalho em 2015

Número de vagas fechadas é o mais alto desde 1992; ministro do Trabalho, Miguel Rossetto, admite: “Foi um ano difícil”

 

 

 

 

Carteira de trabalho

Número de postos fechados em dezembro, somente, chegou a 596.208, melhor que a expectativa do mercado de 655 mil(Camila Domingues/Palácio Piratini/Fotos Públicas)
 

O Brasil encerrou 2015 com 1,54 milhão de vagas formais de trabalho perdidas, pior resultado anual desde o início da série histórica em 1992. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho nesta quinta-feira, só em dezembro, o número de postos fechados chegou a 596.208.

No ano, a retração foi puxada principalmente pelas perdas na indústria de transformação (-608.878 postos), seguida pela diminuição sofrida nos setores da construção civil (-416.959), serviços (-276.054) e comércio (-218.650). Houve expansão apenas na agropecuária (+9.821).

Em coletiva de imprensa, o ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, disse que 2015 foi, de fato, um “ano difícil”, e que os “números não são bons em relação a emprego”.

A atividade econômica registrou no ano passado seu pior desempenho em décadas. O ambiente de forte inflação e juros elevados foi também contaminado por intensa crise política e indefinições no fronte fiscal, que injetaram instabilidade no mercado e afetaram a confiança de empresários e famílias.

Segundo Rossetto, o governo tem como “prioridade absoluta” neste ano concentrar os esforços na preservação de trabalho e geração de emprego no país. “Várias medidas foram tomadas e estão sendo tomadas”, disse. “O ano de 2015 não desorganizou de forma estrutural o mercado de trabalho do país.”

Economistas vêm apontando que a piora nas condições de emprego deverá prosseguir neste ano, já que os reflexos do declínio da economia têm defasagem. Para 2016, o mercado prevê outro tombo na atividade, de quase 3%, segundo a versão mais recente da pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central com economistas de mercado.

O IBGE deve divulgar em 28 de janeiro a taxa de desemprego do país em dezembro. Em novembro, ela ficou em 7,5%, numa ligeira melhora em relação ao mês anterior, mas que foi beneficiada pelo registro sazonal de empregos de fim do ano.

A saúde econômica de um país é espelhada pelo mercado de trabalho. Se a primeira vai mal, o reflexo vem na forma de fechamento de vagas. No Brasil, que vive um cenário de recessão, a desaceleração econômica puxa a alta do desemprego. Foi assim em 2015, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou 3,8%, o pior resultado em 25 anos, e o desemprego teve uma taxa média recorde de 8,5%, segundo os dados da Pnad Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No total, 9 milhões de pessoas estavam sem ocupação nos últimos três meses do ano passado. A Pnad Contínua com os dados de janeiro, divulgada na última quinta-feira, mostrou que a taxa de desemprego chegou a 9,5% no intervalo entre novembro e janeiro. Outro levantamento do instituto, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que abrange as seis principais regiões metropolitanas do país, mostrou que o desemprego nas metrópoles atingiu 8,2% em fevereiro, maior índice para o mês desde 2009. Em paralelo, houve uma queda na renda média das pessoas ocupadas, que está retornando aos níveis de 2012.

A retração da economia mexe diretamente com o mercado de trabalho – mas não são só as estatísticas que atestam o quadro negativo. Perder o emprego é um golpe não apenas para o bolso, mas para a autoestima de pais e mães de família. O padrão de consumo cai, serviços não-essenciais deixam de ser contratados e bens duráveis deixam de ser substituídos. A redução ou mesmo eliminação de prosaicas regalias conquistadas pelas famílias nos anos de bonança também ajuda a explicar o quadro do desemprego no país.

É o caso do gerente de contas Márcio Hermínio, de 30 anos, demitido em agosto. Com a falta de trabalho, ele teve que adaptar seu estilo de vida. Passou a não comer mais fora de casa para economizar, por exemplo. Hoje, faz compras e cozinha em sua casa, onde mora com três amigos. A decisão de Hermínio e milhões de outros consumidores aparece nos dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel): o faturamento do setor teve queda real (descontada a inflação), de 3% em 2015, para 149 milhões de reais. O gerente de contas também sacrificou sua vida social. “Eu costumava sair todo fim de semana, viajava com frequência, ia à praia”, conta. Nada disso faz mais parte de sua rotina. Os hábitos do dia a dia também tiveram que ser readequados. Para economizar combustível, ele tem usado o carro quase que exclusivamente nos fins de semana. “Se a situação continuar como está, eu penso em vendê-lo até o meio do ano.”

A deterioração no mercado de trabalho causa um efeito em cadeia em diversos setores da economia. Sem emprego e com menos dinheiro, a inadimplência sobe, as pessoas adiam a compra de bens duráveis, como móveis e eletrodomésticos, e, além disso, cortam serviços não-essenciais, como planos de saúde e escola particular. No caso dos planos de saúde, por exemplo, o número de beneficiários caiu em quase 1 milhão em dezembro no ano passado, segundo dados da Associação Nacional de Saúde (ANS). Foi o primeiro recui em dez anos.

A perda de ocupação dos chefes de família estimula pessoas que já estavam sem emprego a voltar a procurar uma ocupação para recompor a renda familiar – e isso alimenta o círculo vicioso do desemprego, já que acirra a disputa pelas já escassas vagas. Entre essas pessoas, há um contingente de jovens que até pouco tempo atrás não estudavam nem trabalhavam, os chamados “nem-nem”.

O adolescente Eduardo Albuquerque, de 17 anos, está parado desde janeiro. “Quero assumir responsabilidades para ajudar minha mãe, que não trabalha, e servir de referência para as minhas quatro irmãs”, diz. Ele não encontra um trabalho fixo há três meses. No momento, pensa em fazer curso de tatuagem e de cabeleireiro para tentar novas ocupações.

Com mais gente desocupada, cresce a busca por bicos, como os buscados por Albuquerque. A taxa de informalidade, que vinha em tendência de queda até o segundo trimestre de 2014, quanto atingiu 43,9%, passou a subir, alcançando 45,1% no terceiro trimestre de 2015, segundo a pesquisa mais recente sobre o tema feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “No quadro macroeconômico, o país está muito mal”, diz o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) José Paulo Zeetano Chahad.

A indústria foi o setor que mais demitiu no ano passado, com mais de 600.000 vagas eliminadas, segundo o Caged. Mas o que mais assusta, segundo analistas pelo site de VEJA, é o desempenho do setor de serviços. Esse segmento da economia, que já respondeu por 85% da criação de novos empregos, registrou no ano passado, pela primeira vez, um desempenho negativo, com o fechamento de 276.000 vagas formais. “Isso fecha uma importante válvula de escape para quem perde o emprego na indústria e na construção civil. Antes o brasileiro abria uma loja, um salão de beleza. Hoje, com a fraca demanda, nem isso acontece”, explica José Pastore, professor da FEA-USP.

Conseguir um emprego sem registro é o objetivo de Deise Silva, de 26 anos. “Assim sobra mais dinheiro para mim no fim do mês”, diz Ela trabalhava como atendente de caixa e foi demitida no início de fevereiro. Na última semana, conseguiu seu seguro-desemprego, que vai lhe render quatro parcelas de 900 reais.

Confiança – Perder o emprego tira a confiança dos trabalhadores. Não há otimismo que resista a uma sequência de meses sem um salário – e isso também se reflete nos indicadores. Em fevereiro, o Índice Confiança do Consumidor, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), atingiu 68,5 pontos, maior que o resultado de janeiro, mas ainda muito inferior aos números de toda a série histórica, que já chegou a ultrapassar os 110 pontos, em 2012.

“O consumidor brasileiro estava buscando alternativas para manter todos os itens em seu carrinho de compras, como reduzir gastos fora do lar, frequentar canais de compra com melhor custo-benefício, diminuir idas ao ponto de venda, optar por embalagens econômicas e até trocar de marcas”, diz, em nota, o instituto de pesquisa Nielsen, especializado em hábitos de consumo. Segundo Paula Valadão, analista de mercado da Nielsen, essas medidas paliativas já foram abandonadas – e o que ocorre agora é a exclusão de itens da lista de compras. Esse cenário tem afetado principalmente a classe C, segundo a Nielsen.

Por ora, o horizonte do emprego não parece muito animador. Pastore fala em um avanço para até 12% ainda em 2016. José Paulo Chahad é ainda mais pessimista, e não descarta desemprego perto de 13% até o fim do ano. A reboque da crise política, o desemprego tende a seguir em alta – e os hábitos de consumo, mais comedidos.

Fonte: MSN

O futuro não é mais como era antigamente

Recessão ameaça acesso de jovens à educação e ao mercado de trabalho

 Expectativa: emprego garantido, salário alto e satisfação profissional. Realidade: falta de vagas, dinheiro curto e sonhos adiados. A geração que foi convencida de que poderia conquistar tudo que quisesse quando a economia deslanchava vê hoje seus projetos ameaçados pelo agravamento da crise econômica. Só o primeiro ano de recessão empurrou 671 mil jovens para a fila do desemprego, chegando a 2,9 milhões de pessoas entre 18 e 24 anos à procura de uma vaga. O crescimento representa acréscimo de 30%, segundo dados do IBGE até setembro de 2015. Para se ter uma ideia, entre 2013 e 2014, o número de desempregados nessa faixa etária havia

Não tá tranquilo nem favorável

Não está nada tranquilo, muito menos favorável conseguir o primeiro emprego. A dificuldade começa a aparecer na hora do estágio. Segundo a Mudes, agência de integração entre empresas e estudantes, o número de contratos de estágio caiu mais de 15% no ano passado, na comparação com 2014. No Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), a quantidade de estagiários encaminhados ao mercado desacelerou no começo deste ano. Hoje, 1,5 milhão de jovens aguardam uma vaga de estágio ou aprendiz em seu banco de dados.

No momento em que a palavra de ordem é cortar custos, os jovens são os primeiros na lista das empresas porque têm menos experiência e exigem investimento em treinamento. Com quadros mais enxutos, leva vantagem o funcionário capaz de dar conta de um volume maior e mais complexo de trabalho.

A crise também complica a preparação profissional. O orçamento apertado em casa traz ao jovem a necessidade de ajudar a pagar as contas e coloca em risco a permanência na faculdade. Em uma das maiores universidades particulares do país, a Unip, o número de trancamentos dobrou em quatro anos, alcançando 52 mil no ano passado. A situação fica ainda pior para quem deseja ingressar no ensino superior agora, já que o governo fechou a torneira do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Especialistas já temem que, se a recessão perdurar, teremos uma geração perdida: com menos qualificação e salários mais baixos. Os efeitos se estenderão por toda a economia, pois deixarão uma lacuna na formação de líderes e mão de obra.

Sonho adiado

Tiago Batista teve de escolher entre a família e o sonho da faculdade – ANTONIO SCORZA / Agência O Globo

Desde 2013, quando concluiu o ensino médio, Tiago Batista da Silva adia o sonho de cursar a faculdade. Primeiro, veio o dilema entre investir na própria educação e ajudar nas despesas domésticas. Filho de um faxineiro e de uma dona de casa e com seis irmãos, procurar trabalho para contribuir com a família pareceu a escolha óbvia. Logo depois de terminar a escola pública, o jovem de 22 anos, morador de Honório Gurgel, na Zona Norte do Rio, conseguiu uma vaga de aprendiz em uma gráfica. Durante dois anos, a bolsa de R$ 400 serviu para ajudar a pagar as compras de supermercado.

O ensino superior, no entanto, não estava descartado. Tiago tinha um plano. Se, após o período de estágio, conseguisse ser efetivado ou encontrasse um emprego, poderia continuar a ajudar em casa e bancar uma faculdade. O trabalho na indústria o ajudou a definir a carreira. Quer ser engenheiro de produção. Mas a crise apareceu no caminho: o jovem está parado desde novembro, quando seu contrato de estágio acabou.

— Precisava escolher entre a faculdade e a minha família. Escolhi minha família e não me arrependo. Sem a efetivação, tive que fazer tipo um plano B. Todos queremos ter a independência, só que a situação ainda não permite. Uma hora vou trilhar meu caminho sozinho.

Por enquanto, esse momento não chegou para o jovem, nem para outros milhões de brasileiros com idade entre 18 e 24 anos, que, sem trabalho, adiam seus planos. A taxa de desemprego nessa faixa etária chegou a 19,7% no terceiro trimestre do ano passado, bem maior que a média do país, de 8,9%. Normalmente, a taxa entre os mais jovens é mais alta, mas a recessão piorou essa relação.

Ser a primeira na família com diploma

Fabiana Hipólito do Nascimento, de 18 anos, está em busca de emprego para pagar a faculdade de Psicologia, mas ninguém oferece a primeira chance – Márcia Foletto / Agência O Globo

 

A profundidade da deterioração do mercado de trabalho para esse grupo pode ser medida pelo fato de não fazer distinção entre classe social nem grau de qualificação: atinge do jovem de baixa renda recém-saído da escola ao superqualificado com intercâmbio no exterior.

Filha de um zelador e de uma empregada doméstica, Fabiana Hipólito do Nascimento, de 18 anos, fez a transição do ensino fundamental para o médio no fim de 2012. Com o crédito, os salários e o emprego em plena expansão, famílias de baixa renda, como a dela, podiam se dar ao luxo de poupar os filhos de trabalhar para que se dedicassem em tempo integral aos estudos.

— Meus pais me deixaram bem à vontade para eu me dedicar só à escola, pois o grande sonho deles é que eu seja a primeira da família a ter diploma — conta a jovem.

Fabiana tomou os sonhos dos pais para ela. Mas, três anos depois, ao concluir o ensino médio num contexto de economia em contração, as dificuldades apareceram. Cursar a tão sonhada faculdade de Psicologia só será possível se conseguir um emprego para pagar a mensalidade, caso não entre em universidade pública. Mas, além de as vagas serem raridade, exigem experiência.

— Está muito difícil. Se ninguém me der uma oportunidade, nunca terei essa experiência — reclama a jovem.

Na quinta-feira passada, Fabiana e o primo Davi Nascimento, de 18 anos, que se formou com ela e está em busca do primeiro emprego, saíram de São João de Meriti, onde moram, ainda de madrugada, para fazer a carteira trabalhista na sede do Ministério do Trabalho, no Centro do Rio.

‘Volto quando a crise acabar’

Gabriel Leite, de 24 anos, desistiu de buscar emprego no Brasil, depois de seis meses de procura, e mudou para a Argentina, onde já está trabalhando – Arquivo Pessoal
 

 

 

 

“Seu currículo é excelente. Mas não estamos contratando”. A frase, ouvida repetidas vezes durante todo o segundo semestre do ano passado pelo então recém-formado engenheiro civil Gabriel Leite Inácio, levou o jovem carioca de 24 anos a mudar os planos que tinha para a carreira. Em outubro, fez as malas e embarcou para Buenos Aires, onde a namorada, da mesma idade e com um diploma de Geologia recém-conquistado em mãos, havia conseguido emprego por meio de uma empresa brasileira que tem negócios na Argentina. Dois meses depois, ele estava empregado também. O trabalho, no setor de finanças de uma multinacional produtora de tabaco, nada tem a ver com os canteiros de obras que sonhava comandar. Mas, nesse momento, rende um salário que considera bom e ameniza a frustração de ver seis anos de investimento na faculdade e num intercâmbio em Paris não lhe garantirem um emprego no país onde nasceu.

— É muito frustrante. Eu falo três línguas estrangeiras, estudei fora e não tem trabalho para mim. Até julho, fui estagiário em uma construtora, mas ela perdeu para a concorrência uma obra na qual ia me efetivar e fiquei desempregado. Comecei a buscar emprego nos classificados, pelo LinkedIn, entregava meu currículo nas grandes construtoras e, se via uma obra, entrava para pedir emprego. E não sou exceção. Sou a regra. Pouquíssimos dos que se formaram comigo conseguiram trabalho. E, quando abre uma vaga, tem tanto profissional com currículo melhor na fila que fica mais difícil.

Gabriel diz que os colegas argentinos se surpreendem quando ele conta que mudou de país porque no Brasil não há emprego:

— A Argentina também está em crise, mas o presidente mudou, e a economia está melhorando. Ganho o equivalente a R$ 6 mil e pago R$ 1 mil de aluguel por um apartamento de 60 metros quadrados. Meus pais sempre me deram apoio para ter independência. Só volto para o Brasil quando a crise acabar

  • Outros serviços

    Os serviços de alojamento, transporte, limpeza urbana e serviços pessoais demitiram 43 mil trabalhadores

 

Quero ver quem paga pra gente ficar assim

Nathan Pinheiro de Lima, de 25 anos, sonha entrar na faculdade, mas pra isso precisa de um emprego que pague bem – Márcia Foletto / Agência O Globo
 

 

 

Nathan Pinheiro de Lima, de 25 anos, trabalha desde os 18. Já foi atendente de lanchonete, conferente, vendedor de carros e, mais recentemente, almoxarife em uma construtora, emprego do qual foi desligado mês passado. Mas, seu maior sonho é se formar em segurança do trabalho. Admira quem cuida das vidas que fazem uma empresa funcionar, como ele mesmo define a profissão. Pagou com sacrifício um curso técnico na área, em 2014, mas até hoje não conseguiu vaga no setor. O investimento foi planejado justamente para ter um emprego com melhor remuneração — no último trabalho recebia menos de dois salários mínimos — e que lhe desse estabilidade para ingressar na faculdade:

— Em Niterói, tem uma faculdade de segurança do trabalho. Mas a mensalidade custa R$ 600. Eu moro com meus pais e tenho de ajudar em casa. Faculdade só se eu tiver um bom salário. Mas está difícil até conseguir um emprego que pague pouco.

A idade já o preocupa. Pelo curso natural, aos 25 anos, um jovem já saiu da universidade. Nathan sabe que, quanto mais tempo demorar para se formar, mais difícil será se inserir nesse mercado. A preocupação de Nathan procede e, potencializada por outras tantas histórias semelhantes que a recessão tem produzido, pode ter impactos sobre a formação de mão de obra qualificada e de novos líderes, apontam os especialistas.

— Se temos uma geração que era para estar melhorando a produtividade e a qualificação, e isso não acontece, é algo sério, que compromete o futuro do país. Há muito jovens trancando matrícula ou subempregados — aponta o doutor em demografia e professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE José Eustáquio Diniz Alves.

Nathan tenta se concentrar agora em encontrar um estágio em segurança do trabalho para ao menos começar a ganhar experiência.

— Pelos relatos que tenho visto, em meados de 2017, a economia vai começar a melhorar. Enquanto isso, ganho experiência. Eu ainda moro com os meus pais e não tenho filhos. Tem muita gente numa situação pior — diz.

De acordo com o superintendente educacional do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), Eduardo de Oliveira, hoje, em torno de 1,5 milhão de jovens a partir dos 14 anos aguardam por uma vaga de estágio ou aprendiz em todo o país.

‘Treinar custa caro’

Paulo Sardinha, da ABRH-RJ: ‘Vamos voltar à realidade de 2009, quando havia uma escassez muito grande de mão de obra’ – Marcelo de Jesus / Agência O Globo
 

 

 

 

Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ), compara os profissionais que demoram a ingressar em suas áreas àquele aluno repetente, que fica em desvantagem em meio aos mais jovens e com mais conhecimentos.

— Carreira pressupõe vivência do ambiente organizacional e experiência. Se a crise durar três, quatro anos, vamos ter um grupo de pessoas que amadurecerá na idade e não no aspecto profissional, pois elas continuarão tendo dificuldades de se inserir em suas áreas — diz.

O efeito será generalizado sobre a economia, prevê Sardinha, pois quando a atividade voltar a crescer, faltarão bons líderes e profissionais:

— Vamos voltar à realidade de 2009, 2010, quando havia uma escassez muito grande de mão de obra. Parece ironia da vida, e ficamos num ciclo tenebroso.

Como a palavra de ordem é cortar custos, as empresas também contribuem para desenhar esse futuro, aponta o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Miguel Foguel, estudioso do mercado de trabalho:

— Treinar custa caro. Logo, as empresas entendem que não é o momento de gastar recursos treinando alguém. Por isso, os jovens encontram dificuldades para ser contratados. O problema é que, quando a crise passar, a empresa estará com uma mão de obra envelhecida. O ideal seria seguir treinando trabalhadores para, lá na frente, ter gente com conhecimentos oxigenados.

Com quadros mais enxutos, leva vantagem o funcionário capaz de dar conta de um volume maior e mais complexo de trabalho. Outro efeito que já começa a aparecer — e contribui para aumentar a taxa de desemprego entre os jovens — é o estrangulamento do mercado. Analistas preveem que a taxa de desemprego atinja dois dígitos no fim deste ano.

Com uma oferta ainda menor de vagas, vai aumentar o contingente de trabalhadores experientes que se sujeitarão a ocupar um posto de trabalho de qualidade ruim ou salário baixo pela necessidade de ter um emprego, analisa Carlos Henrique Corseuil, pesquisador do Ipea:

— Quando o mercado vai bem, as pessoas não pegam um posto abaixo de um nível crítico. Agora, as condições mudaram. Com as pessoas precisando ainda mais entrar no mercado, a tendência é que reduzam o nível de exigência. Isso pode se refletir em salários e níveis de produtividade mais baixos.

Para Sardinha, o efeito é cruel:

— As organizações voltam a contratar o mesmo trabalhador que tinha um salário alto por um muito menor, pois ele passou tanto tempo sem conseguir trabalho que passa a topar tudo.

Tudo o que eu queria estava fora do meu alcance

Luana Martins acabou de entrar na faculdade de Direito e procura trabalho para continuar estudando – Alexandre Cassiano / Agência O Globo
 

 

 

 

Mal começou a faculdade, a estudante de Direito Luana Martins já precisa conciliar os estudos e o temor de não conseguir pagar pelo curso até o fim. Com as contas apertadas em casa, a mensalidade de R$ 850 pesa no orçamento. A mãe, uma professora que sustenta sozinha a família, precisará de ajuda para fechar as contas. Luana já começou a procurar um emprego.

As dificuldades enfrentadas pela jovem, de 19 anos, são as mesmas vividas por outros universitários no país que, devido à queda na renda, inflação em alta e piora no mercado de trabalho, têm dificuldade para custear os estudos. A situação é agravada pelo fim do chamado boom do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que durou de 2010 a 2015. No ano passado, em meio ao ajuste fiscal, as regras para acessar o crédito estudantil ficaram mais rígidas, e o número de novos contratos recuou 57%, para 313,5 mil.

O arrocho no programa do governo tem aberto espaço para linhas de financiamento privado, como o Pravaler, oferecido pela Estácio desde o ano passado. A alternativa chamou a atenção da Luana. Se conseguir o crédito, poderá pagar seu curso ao longo de oito anos — o dobro do tempo da graduação —, o que cortaria à metade o valor da mensalidade. A concessão do benefício, no entanto, ainda deve passar por análise de crédito. Como a mãe tem dívidas, a jovem ainda não sabe se conseguirá acesso ao programa. Por enquanto, conta com um desconto de 20%, pagando R$ 670.

— Estou procurando um estágio ou até mesmo um emprego. O maior problema é o salário, que às vezes não dá nem para pagar a mensalidade — conta Luana.

Desde 2015, o Fies passou a priorizar vagas em cursos mais bem avaliados pelo Inep (com notas 4 ou 5). Além disso, os candidatos precisam somar pelo menos 450 pontos no Enem e não podem tirar zero na redação. O pagamento da dívida continua sendo em até três vezes o tempo de estudo financiado, mais 18 meses de carência.

Apesar da queda no número de novos contratos, o Ministério da Educação destacou que o Fies atende cerca de 2,2 milhões de estudantes. A pasta destacou que, além do sistema de crédito, programas como o Prouni e o Sisu “têm possibilitado a democratização da educação superior ao garantir acesso e permanência de um contingente populacional que, historicamente, esteve excluído do ensino superior”.

Gestores de universidades, no entanto, sentem o efeito das regras mais duras do Fies. É o caso da Unip, uma das maiores do país. O crescimento do número de alunos que cursam a universidade com o crédito do governo desacelerou drasticamente em 2015: subiu só 1,2%, para 73 mil. Para efeito de comparação, o salto entre 2013 e 2014 foi de 70,3%.

— Até 2014, o Fies “corria solto”. Todo aluno que quisesse conseguia. Agora restringiu, e sentimos isso nos números — explica o vice-reitor de Planejamento, Administração e Finanças da Unip, Fábio Romeu de Carvalho.

A instituição percebe uma tendência de aumento no número de trancamentos. Entre 2011 e 2015, eles saltaram 88,9% e somaram 52 mil. O crescimento das matrículas no período foi em ritmo menos acelerado: de 64,2%, para 390,5 mil.

— Vemos que muita gente entra na universidade com a expectativa de continuar, mas, com o aperto das finanças, sente dificuldade. As pessoas trancam na esperança de voltar um dia. Com isso, estamos flexibilizando as negociações. Antes, parcelávamos dívidas em até seis vezes. Agora, já aceitamos em até 12 vezes, desde que as parcelas sejam de pelo menos R$ 200 — conta Carvalho.

Concorrência mais acirrada

Feira de estágio doNúcleo Brasileiro de Estágios – Thyago Pereira / Thyago Pereira
 

 

Quando o orçamento aperta, a solução para continuar estudando é conseguir renda extra. E não são só alunos como Luana, que paga ensino privado, que precisam de mais dinheiro. Na última quarta-feira, o estudante de História da UFF Lucas de Luna, de 20 anos, respirava aliviado. Tinha acabado de conseguir um contrato de aprendiz como auxiliar administrativo. A vaga paga um salário mínimo, que vem em boa hora. Mesmo cursando uma faculdade pública, Lucas afirma ter de lidar com outros custos.

— É passagem, material, xerox… Tudo isso pesa no dia a dia — relata.

Embora ajude a compor o orçamento, a vaga, admite o estudante, representa um desvio em sua jornada profissional, de professor.

— Eu me preocupo, porque o melhor seria se encontrasse algo na área. Mas é o que tem. A gente tem que agarrar o que aparece — afirma.

Lucas tem razão. Segundo dados da Mudes, uma das principais agências de integração entre empresas e estudantes do Rio, as vagas de estágio já sofreram o baque da recessão. No ano passado, a entidade fechou 4.844 contratos de estágio no estado, uma queda de 16,7% em relação ao ano anterior. As empresas fluminenses também estão aproveitando menos os estagiários em seus quadros. As efetivações caíram 19,5%, para 316, no ano passado.

As oportunidades para trainee — que têm salários maiores — até aumentaram no ano passado, de 73 para 137, mas se esgotaram desde setembro.

— Em setembro, tínhamos um processo aberto, com 50 convocados, para uma grande empresa de petróleo. No último momento, pediram para suspender e não temos vagas abertas desde então — conta Bernardo Oliveira, gerente de acompanhamento e controle da Mudes.

Um cenário assim aumenta a competição, explica Luis Testa, diretor de marketing e parcerias da Catho.

— Mesmo o jovem qualificado, que fala vários idiomas e tem experiência pode competir, em alguns casos, com profissionais com bagagem um pouco maior que, na recessão, passam a aceitar propostas salariais um pouco menores — explica o especialista.

A saída para se diferenciar é se qualificar. Mas, se está difícil até para se manter na faculdade, ir além é para poucos. Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ), diz que, em 2015, houve uma queda de 40% nas matrículas em cursos de pós-graduação. O problema, diz, é que, quando a economia voltar a crescer, haverá uma legião de pessoas que não são mais tão jovens, sem experiência ou capacitação para preencher as vagas que surgirão.

João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ, também alerta para a tendência de piora no mercado de trabalho decorrente da queda do número de jovens qualificados.

— Isso inverte o movimento que estava ocorrendo até 2014. A escolaridade estava aumentando no mercado de trabalho. É um atraso ter uma entrada precoce de uma pessoa que ainda está num momento de qualificação.

Se está difícil se qualificar, ganha quem pode investir em cursos. Perdem, no entanto, os indicadores de desigualdade do país, lembra Carlos Henrique Corseuil, pesquisador do Ipea:

— Quem pode não trabalhar investe mais em educação. Geralmente, tende a ser o jovem de família mais rica. O outro extremo, quem já tinha menos chance, agora terá menos ainda.

Artigo: O desemprego e a geração perdida

por José Eustáquio Diniz Alves*

A chamada geração Y, ou geração do milênio, ou geração da internet, está vivendo momentos difíceis com a crise do mercado de trabalho que começou em 2013 e se aprofundou em 2015 e 2016. O sonho de jovens altamente qualificados, com boas perspectivas de emprego, salários e padrão de vida está se transformando no pesadelo de uma fraca formação educacional, alta ocupação informal, baixos salários e elevadas taxas de desemprego.

A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE — que produz indicadores mensais para as regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre — mostra que a desocupação dos jovens vinha caindo desde 2004 e atingiu o ponto mais baixo em dezembro de 2012, entrando, a seguir, em uma tendência de rápida elevação.

Em dezembro de 2012, a taxa de desemprego aberto estava em 19,1% entre os jovens de 15 a 17 anos e em 10,6% entre os de 18 a 24 anos. No entanto, começaram a subir em seguida. As manifestações da juventude brasileira, em junho de 2013, já foram reflexos da piora do mercado de trabalho e das condições de transporte e de educação.

De lá para cá, o que estava ruim piorou. Em janeiro de 2016, a taxa de desemprego aberto dos jovens de 15 a 17 anos atingiu a cifra astronômica de 38,3% e a dos jovens de 18 a 24 anos ficou em um número, não menos preocupante, de 18,9%. Esse é o lado visível. Mas há também o desemprego oculto e o desalento. O problema, portanto, é muito mais grave e tende a se aprofundar ao longo da estagflação de 2016.

Todavia, o desemprego é somente a ponta do iceberg, pois abaixo da superfície do mercado de trabalho há uma enorme quantidade de jovens que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego. É a chamada “geração nem-nem-nem”.

Dados recentes da Pnad, do IBGE, revelam a existência de cerca de dez milhões de jovens de 15 a 29 anos que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego. O percentual de jovens nem-nem-nem ficou abaixo de 10% somente na região Sul. Na região Sudeste ficou em torno de 15% e na maioria dos estados das regiões Norte e Nordeste o percentual ficou acima de 20%.

Tudo isso acontece quando o número absoluto de jovens está diminuindo, e o Brasil vive a fase mais favorável do seu bônus demográfico. Seria o momento ideal para se investir nos direitos da juventude, permitindo a integral transição para a vida adulta. O futuro de qualquer país depende da mobilidade intergeracional ascendente. Porém, a atual crise brasileira está parindo uma geração perdida.

 

Dívidas devem provocar explosão de quebras e recuperações judiciais no ano

Nos últimos sete anos, o endividamento das empresas brasileiras no mercado interno mais que dobrou, atingindo R$ 1,4 trilhão em janeiro. Com os empréstimos externos, essa conta sobe em mais US$ 211 bilhões. Não chegaria a ser um problema, se a economia estivesse crescendo, o consumo subindo, a produtividade aumentando. Mas o cenário é o inverso disso. Com redução nas vendas e a receita caindo, esse endividamento se tornou uma bola de neve para as empresas. E a percepção entre os analistas é uma só: o País vai viver este ano uma explosão das recuperações judiciais e quebras de empresas.

Esse cenário, na verdade, já deu as caras no ano passado, quando as recuperações judiciais chegaram a 1.256, número mais de 50% superior ao registrado em 2014. No primeiro bimestre deste ano, o número foi ainda mais assustador: crescimento de 116% em relação ao mesmo período do ano passado. “As empresas estão sofrendo e ainda vão sofrer muito em 2016 por falta de liquidez”, diz Mauro Storino, diretor sênior da Fitch Ratings.

O cenário traçado pela agência de classificação de risco para os grupos nacionais é dos mais pessimistas. Entre as companhias brasileiras acompanhadas pela Fitch, 53% estão com perspectivas negativas – ou seja, devem ter suas notas de crédito rebaixadas nos próximos meses. Em 2014, para cada empresa que tinha o rating elevado, três caíam. Neste ano, a proporção, segundo Storino, será de uma elevação para dez rebaixamentos.

Para entender como a situação chegou a esse ponto não é preciso ir muito longe. Entre 2005 e 2013, os empresários brasileiros experimentaram um ambiente inédito, com fartura de crédito a um custo baixo para os padrões nacionais ao mesmo tempo em que o governo incentivava o consumo e o crédito das famílias. A decisão das corporações foi de tomar dívida para investir em expansão – o que fez com que o endividamento superasse a geração de caixa.

O problema é que no meio do caminho veio uma recessão. A reviravolta econômica e política derrubou o nível de atividade e provocou uma intensa aversão ao risco. De um crescimento de 2,3% em 2013, o Brasil ficou praticamente estagnado em 2014 e recuou 3,8% em 2015. “Isso gerou um descompasso entre a geração de caixa e o endividamento das empresas”, diz Fábio Rodrigues, sócio diretor da Bizup Consulting, empresa de consultoria empresarial. Na prática, as empresas investiram com base em um cenário que não se realizou. E, mais grave: as dívidas começaram a vencer no pior momento da economia.

A margem líquida – indicador que mede o quanto das vendas se converte em lucro – recuou, em 2015, aos mesmos níveis de 2003. O levantamento foi feito pela empresa de informação financeira Economática com base nos dados de 70 companhias de capital aberto que já apresentaram o balanço do ano passado.

Dívida

O indicador que mede a capacidade de pagamento das empresas (relação entre dívida líquida e Ebtida, ou geração de caixa) também se deteriorou. De um total de 198 companhias que tiveram essa relação positiva em 2015, 112 viram essa proporção subir, o que significa alta do risco. Há casos como o da construtora Mendes Júnior, que acabou de pedir recuperação judicial, em que relação dívida líquida sobre Ebitda é de 33,37, segundo a Economática. Isso significa que, com o caixa que ela gera hoje, levaria 33 anos para quitar os empréstimos.

A saída é tentar um alongamento dos prazos. Do outro lado, no entanto, essas empresas têm encontrado bancos pouco dispostos a conceder crédito novo em condições razoáveis. O que ocorre é o contrário: os prazos estão mais apertados e as exigências de garantias, mais pesadas, diz José Braga, sócio da PriceWaterhouseCoopers.

O resultado disso é que cada vez mais empresas têm de pedir à Justiça proteção contra os credores, a recuperação judicial. Na lista de companhias que já recorreram à Justiça só este ano estão empresas dos mais diversos setores, como a Viação Itapemirim, a rede de lojas de brinquedos BMart, a GEP, dona das varejistas de roupas Cori e Luigi Bertolli, e a fabricante de autopeças Arteb.

Gigantes abaladas

Para piorar, a crise, desta vez, atinge um grande número de empresas gigantes. Grandes empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, que investiga corrupção em contratos da Petrobrás, já pediram proteção judicial desde o ano passado. Entre elas, a OAS, que até 2014 ocupava a 3.ª posição do ranking das maiores construtoras do Brasil, a Galvão Engenharia, que era a 6.ª maior, e a própria Mendes Júnior, na 13.ª posição.

Essa é uma das características mais assustadoras da crise. “Antes, uma recessão afetava mais as pequenas e médias. Hoje, o problema está nas grandes, que podem abalar todo o sistema financeiro se quebrarem”, diz Artur Lopes, da consultoria Artur Lopes & Associados, especializada em gestão de crise. De olho nesse risco, os bancos fazem reservas para se protegerem dos calotes. Esses valores nunca foram tão altos. No ano passado, alcançaram R$ 68,8 bilhões nos três maiores bancos do País (Itaú, Bradesco e Banco do Brasil) – o maior valor desde 1986, segundo a Economática.

Entre advogados, consultores, banqueiros e empresários é quase unânime a sensação de que as coisas vão piorar. A agência Standard & Poor’s, primeira a retirar o grau de investimento do Brasil, calcula que o volume de dívidas a vencer até o ano que vem de empresas que fazem parte do seu monitoramento é de US$ 24 bilhões. “Muitas companhias fizeram captações quando o País era grau de investimento”, afirmam Luisa Vilhena e Diego Ocampo, diretores da S&P. “Agora, terão de renegociar numa situação de rating rebaixado.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Isto é

Enquanto o país afunda na recessão, o restante do mundo cresce acima de 3%

Desempenho no ano passado mostra que os erros na condução da política econômica estão custando caro. Só Venezuela e Ucrânia são piores que Brasil.

O fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2015 confirma o país na lanterna da economia global. Ao contrário do que diz o governo, especialistas avisam que as razões da forte recessão em que o país está mergulhado nada têm a ver com acontecimentos do exterior, pois o mundo está crescendo acima de 3%. O tombo de 3,8% do PIB no ano passado em relação a 2014 deixou Brasil à frente apenas da Venezuela e da Ucrânia, que encolheram 4,5% e 6,4%, respectivamente, em um ranking de 32 países pesquisados pela Austin Rating. O desempenho brasileiro foi pior que o da Grécia, país mergulhado em crises frequentes, mas que conseguiu crescer 0,5% em 2015
Neste ano, o mundo avançará 3,4%, pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), e o Brasil terá retração de 3% a 3,5%, ou de 4,4% a 4,9%, segundo as projeções mais pessimistas. “Os fundamentos da economia brasileira continuam piorando e não está havendo estancamento da deterioração da atividade. Um gatilho para melhoria do cenário seria a interrupção do mandato do governo, mas isso provocaria uma melhora apenas em 2017”, avisou a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria , que espera recuo de 4% do PIB neste ano.
Em nota, o Ministério da Fazenda tentou culpar a queda dos preços das commodities como um dos fatores da retração da economia em 2015, mas foi alvo de críticas. “Esse tipo de análise é totalmente equivocada. Há vários países que são mais dependentes que o Brasil de commodities e estão crescendo. O que fez o PIB cair foi um excesso de intervenção na economia que desorganizou tudo”, destacou o economista Mansueto Almeida.Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, também destacou que as razões da queda do PIB são domésticas. “Não tem crise lá fora para justificar isso. A economia encolheu mais do que na Grande Depressão e na recessão de 2008, ou seja, o governo não tem possibilidade de aludir a isso”, disse.O especialista em globalização e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Ernesto Lozardo fez uma analogia da economia com a matemática para resumir o assunto. “Em economia, ao contrário da matemática, se alterarmos os fatores, o produto muda. Nos últimos anos, o governo piorou as políticas fiscal e monetária, forçou a queda dos juros e adotou medidas populistas que desequilibraram as contas públicas, geraram instabilidade derrubaram os investimentos”, resumiu. Para ele, o país ainda vai demorar para sair da recessão, que deverá se prolongar até 2018.
Fonte: Correioweb

Se  você acha que somente aqui no Brasil há muitas demissões, então se enganou. O governo chinês acaba de anunciar a maior demissão em massa da história do país, dispensando cerca de 1,8 milhão de trabalhadores que atuavam nas minas de aço e carvão.

O corte foi anunciado por Yin Weimin, o ministro de Recursos Humanos e Segurança Social do país. A má notícia segue as dificuldades políticas que o presidente, Xi Jinping, vem enfrentando ao reestruturar a segunda maior economia do mundo.

Nas últimas décadas, a China investiu muito em indústrias que produziam materiais de exportação. Contudo, esse investimento excessivo causou uma sobrecarga de matéria-prima para uma baixa demanda de produto, algo que forçou o setor industrial a baixar os preços ainda mais.

Gráfico das mudanças do PIB chinês das últimas décadas

Esses valores baixos estão deixando as indústrias no negativo, ou seja, um prejuízo no qual é o Estado que arca com as despesas. Esse cenário já era esperado, já que o foco da economia sempre foi esse e apenas agora é que os governantes pensam em alterar a base de consumo externo para a interna – ou pelo menos balancear a equação.

Em outras palavras, o consumo global diminuiu nos últimos tempos, forçando a China a baixar os preços e arcar com as perdas de investimento massivo em materiais básicos. Agora, o governo pensa em incentivar a economia interna. Segundo o Quartz, o Brasil e a Austrália enfrentam situações semelhantes no momento, com uma baixa nas exportações.

Por outro lado, a ausência de aço chinês pode ser uma boa notícia para a indústria americana, que vinha perdendo espaço há muito tempo para a concorrência chinesa.

Fonte: Tecmundo

Dez companhias, com dívidas de R$ 100 bi, têm ‘possibilidade real de inadimplência’

Crise leva a número recorde de empresas brasileiras com notas do tipo “CCC” e “Caa1” ou piores pelas agências de risco

Loja da Oi no Centro do Rio: operadora tem dívida líquida de R$ 43,7 bilhões, segundo a Bloomberg – Dado Galdieri / Bloomberg
 

 

RIO – Nunca antes tantas empresas brasileiras de grande porte estiveram sob risco tão elevado de não honrar suas dívidas. Acusando o golpe da fraca demanda interna, da disparada do dólar e dos juros e da perda do selo de bom pagador pelo Brasil, dez companhias nacionais — incluindo gigantes como Oi, Usiminas e Gol — receberam notas do tipo “CCC”/“Caa1”, ou piores, pelas agências de classificação de risco Fitch ou Moody’s. Esses ratings, como são chamados, indicam um risco de crédito muito alto, situação em que o calote “é uma possibilidade real”, como define a Fitch. São empresas que acumulam, somadas, dívidas líquidas de aproximadamente R$ 100 bilhões, segundo números da Bloomberg.

Em um sintoma da rápida piora da condição econômica brasileira, no fim de 2012 — quando o país gozava de sua melhor classificação, o grau de investimento — eram cinco firmas naquela situação, sendo que quatro delas pertenciam ao mesmo grupo, que enfrentava dificuldades financeiras. Juntas, tinham dívidas líquidas de R$ 5 bilhões (valores nominais, não corrigidos pela inflação), uma pequena fração do montante atual.

— Desde que as empresas brasileiras começaram a receber ratings, este é o pior momento em termos de geração de caixa e liquidez (oferta de dinheiro). O problema não é só o cenário econômico ruim, mas a falta de perspectiva para restabelecer o apetite dos investidores — diz Ricardo Carvalho, diretor sênior da Fitch. — Em 2012, era diferente, seja no lado operacional das companhias, seja pelo alto valor das commodities e pela grande liquidez no mundo. Empresas que não ostentavam perfil de crédito muito bom conseguiam levantar capital com facilidade. Isso afastava possibilidade de inadimplência.

Carvalho observa que a classificação de crédito reflete o risco de inadimplência das companhias. Isso abarca, em tese, a totalidade das dívidas, mas, em alguns casos, parcela do montante pode apresentar um tipo de garantia diferente e, portanto, com risco diferente.

Consequências do ‘boom’

Fábrica da CSN, em Volta Redonda – Custódio Coimbra / Agência O Globo
 

 

 

As agências de classificação de risco avaliam a condição de pagamento de débitos pelas companhias que emitem títulos de dívida para financiar suas operações. Uma década atrás, esse rol era restrito a um grupo de companhias exportadoras tradicionais, como Petrobras, Vale e CSN. Com a valorização das commodities e o crescimento da economia brasileira, o interesse em investir nas empresas nacionais ganhou força junto ao capital estrangeiro. Nesse processo, foi determinante a atribuição do grau de investimento à dívida soberana brasileira, em 2008. Com essa garantia de solidez das finanças locais, empresas de menor porte passaram a experimentar a emissão de dívida no mercado internacional. Em 2010, por exemplo, US$ 53,7 bilhões foram levantados no exterior.

Hoje, a situação é praticamente inversa. O Brasil perdeu o grau de investimento pelas três maiores agências de risco nos últimos seis meses, a economia registrou contração de 3,8% no ano que passou, as commodities estão no menor nível em mais de uma década e os EUA começaram a subir juros, enxugando parte da oferta de capital no mundo.

Adeodato Volpi Netto, analista da Eleven Financial Research, afirma que grande parte do problema enfrentado hoje se deve a um certo exagero de emissões promovidas nos tempos de bonança:

— As companhias ficaram muito mal acostumadas entre 2010 e 2013. Foram menos diligentes em sua estrutura de capital porque se sentiam muito à vontade em captar lá fora, num momento em que o Brasil era destino seguro de investimento.

Desistência de fusão frustra Oi

Oi foi a empresa mais reclamada nos procons de todo o Brasil em 2012 – FOTO: Divulgação
 

 

Chama a atenção no grupo de empresas notas “C” o tamanho das dívidas de algumas. A Oi é a dona da maior delas: R$ 43,68 bilhões de dívida líquida, quase metade do valor das dez empresas somadas, segundo dados compilados pela Bloomberg. A operadora de telefonia entrou na categoria “Caa1” pela Moody’s na terça-feira, e a perspectiva é negativa (na avaliação da Fitch, sua nota é ainda “B”).

A Moody’s citou como uma das razões para o rebaixamento o fato de o fundo estrangeiro Letter One ter desistido de injetar US$ 4 bilhões na operadora depois de a concorrente TIM ter descartado o interesse em uma fusão entre as duas, no mês passado. Segundo os analistas Daniel Liberato e Felipe Silveira, da corretora Coinvalores, o problema da Oi é que a receita não é suficiente para dar conta, ao mesmo tempo, da alta demanda por investimentos do setor e de sua dívida. A operadora sofre com a dependência de telefonia e banda larga fixas (70% de sua receita) e com o fato de ter 78% da dívida denominada em moeda estrangeira. Só este ano, R$ 11,3 bilhões terão que ser amortizados.

— Desde 2012, a Oi vem vendendo ativos, como torres de telefonia, mas isso lhe deu fôlego apenas momentâneo. O dinheiro levantado era usado para pagar dívida já vencendo — explica Liberato. — Seu rebaixamento é preocupante, porque encarece o custo da rolagem da dívida.

Para os analistas da Coinvalores, a solução mais viável para evitar um calote seria a injeção de ao menos R$ 15 bilhões pelos acionistas, junto com a convocação de credores para renegociar débitos. Procurada, a Oi não comentou a reportagem.

Usiminas: dívida curta e em dólar

Chaminés da Usiminas em Ipatinga, no Vale do Aço – Leonardo Morais / Agência O Globo
 

 

Também sofrem com elevado endividamento as siderúrgicas CSN e Usiminas. As duas têm nota “Caa1” pela Moody’s. Além da queda na demanda interna por aço, o setor tem sido afetado pela desaceleração da China, que consumia mais da metade do aço produzido no mundo. O ritmo menor nas obras de infraestrutura no país asiático fez com que parte da produção de aço chinesa passasse a ser exportada, derrubando os preços ao redor do mundo.

Em janeiro, a Usiminas encerrou a produção de aço na unidade de Cubatão (SP), demitindo dois mil funcionários. No mesmo mês, a CSN paralisou um alto-forno em Volta Redonda (RJ) e demitiu 700 pessoas. A dívida líquida da CSN é de R$ 26 bilhões, mas a relação entre os débitos e a geração de caixa é menor que a da Usiminas, que tem dívida de R$ 5,84 bilhões. Segundo Lenon Borges, da corretora Ativa, com o atual geração de caixa da Usiminas, ela levaria 20 anos para quitar toda a sua dívida.

— O perfil de dívida da Usiminas é muito ruim. A maior parte vence a curto prazo, e metade está indexada ao dólar. Da outra metade, 80% estão atrelados à taxa CDI, que acompanha os altos juros básicos — diz. — Um default (calote) ou o pedido de recuperação judicial são possibilidades reais.

Procurada , a CSN não respondeu aos pedidos de comentários. Já a Usiminas disse que seu conselho avalia um plano de capitalização apresentado pela diretoria, além de “buscar o reperfilamento da dívida” junto aos bancos. A companhia disse ainda que pretende cortar pela metade o investimento este ano, que, em 2015, foi de R$ 784 milhões.

Gol: custo em dólar, receita em real

Avião da Gol decola do Santos Dumont – Dado Galdieri / Bloomberg News/31-3-2015

A Gol está na categoria “CCC” (Fitch) e “Caa1” (Moody’s). A companhia vem sofrendo com a queda da demanda doméstica por voos, que recuou pelo sexto mês seguido em janeiro. Segundo a Moody’s, cerca de 90% de sua receita são em reais, enquanto 50% dos seus custos e 80% de sua dívida total estão em dólar. Com isso, a desvalorização do real impediu que a empresa se beneficiasse do barateamento dos combustíveis das aeronaves. Sua dívida líquida é de R$ 6,8 bilhões, segundo a Bloomberg, e a Fitch a incluiu na lista das dez empresas mais problemáticas da América Latina.

Na semana passada, uma medida provisória elevou de 20% para 49% o limite de capital estrangeiro nas companhias aéreas nacionais. Como 9,48% da Gol pertencem à Delta, investidores especularam que a americana pode injetar dinheiro na companhia, melhorando a situação financeira. Os papéis da Gol disparam 45% na Bolsa na semana passada.

A construtora PDG (“Caa3″ pela Moody’s) disse que “traçou plano estratégico para acelerar o processo de desalavancagem” e está em “negociação avançada com credores”. Segundo a empresa, ela reduziu a dívida líquida em R$ 1,4 bilhão desde 2013. Procuradas, Gol, USJ e General Shopping não comentaram. Cimento Tupi e Samarco não responderam. A MDL Realty informou que o rating atribuído pela Moody’s (“Caa1”) em junho teve como base números do fim de 2014 e “não reflete a atual situação”. Os dados de 2015 ainda estão sendo auditados. A MDL esclareceu que o endividamento “está dimensionado para o tamanho de suas operações, não havendo nenhuma dívida em aberto”.

Firmas não conseguem captar no exterior

Desmoronamento da barragem de Fundão, na mineradora Samarco, na cidade mineira de Mariana – Márcia Foletto / Agência O Globo

Não bastasse a geração de caixa desidratada pela demanda fraca, as empresas brasileiras não estão conseguindo captar recursos no exterior nem rolar os débitos que estão vencendo. O aumento da percepção de risco refletido nos rebaixamentos das empresas faz com que credores estrangeiros exijam juros proibitivos para emprestar às corporações nacionais. Segundo Ricardo Carvalho, da Fitch, há seis meses nenhuma companhia nacional promove captações no exterior. No ano passado, as captações externas já haviam despencado 82% em relação a 2014, para US$ 8 bilhões, de acordo com dados da Anbima, associação que reúne instituições financeiras. Esse é um dos fatores que faz Carvalho acreditar que 2016 deve bater recordes de pedidos de recuperação judicial.

— Há um grande mau humor com relação às empresas brasileiras com notas “B” para baixo. Assim, o que era péssimo em 2015 tende a ser tenebroso em 2016. Por isso, acreditamos que este ano deve ser aquele com maior nível de recuperação judicial — lamenta o diretor sênior da Fitch. — Hoje, há uma grande possibilidade de que as empresas que estão em categorias baixas de rating caiam ainda mais na escala.

Carvalho estima que dez rebaixamentos devem ocorrer este ano para cada aumento de nota entre as empresas brasileiras. Em 2015, a relação já havia sido de 4,4 (31 downgrades contra sete upgrades), a maior de uma série iniciada em 2004. Hoje, a perspectiva da Fitch é negativa para 35 companhias e positiva para apenas quatro.

Adeodato Volpi Netto, da Eleven Financial Research, lembra que, nos anos de bonança, as empresas se financiavam com facilidade no exterior. Entre 2010 e 2013, as corporações brasileiras levantaram US$ 181,2 bilhões lá fora.

Reflexo do déficit público

Agora, além de não captarem recursos novos, as companhias não estão conseguindo “rolar” suas dívidas lá fora na proporção que costumavam fazer. É praxe, em condições normais de mercado, que as empresas renovem os empréstimos que têm no exterior, em vez de quitar essas dívidas no vencimento.

Segundo Luis Otavio Leal, do banco ABC Brasil, a taxa de rolagem da dívida externa das empresas brasileiras era de 116% no início de 2015. Ou seja, além de renovar toda a dívida que estava vencendo, tomavam mais recursos emprestados. Em janeiro deste ano, porém, a taxa caiu para 20%, com a entrada de apenas US$ 1 bilhão, contra uma saída de US$ 5 bilhões.

Carvalho, da Fitch, lembra que o financiamento por meio dos bancos no Brasil também se mostra emperrado, com as instituições aumentando provisões contra calote e enxugando a oferta de crédito.

O problema com o crédito corporativo não é exclusividade do Brasil. Com a derrocada das commodities afetando vários países produtores de materiais básicos, a Moody’s prevê que este ano os calotes de títulos por empresas avaliadas como de grau especulativo atingirão o maior nível desde 2009, auge da crise global. A agência estima que o calote atingirá 4% da base, contra taxa de 3,5% em 2015.

Na opinião de James Gulbrandsen, sócio da NCH Capital no Brasil, as companhias também estão sendo punidas pelo descontrole fiscal do governo.

— Todos os problemas deste país começam no gasto excessivo. Enquanto o governo não parar de imprimir dinheiro, a inflação continuará sendo pressionada e os juros terão de continuar altos — critica o americano baseado no Rio. — Se uma Usiminas ou uma CSN recorressem agora aos mercados externos para levantar capital, os juros seriam tão altos que poderiam levar à quebra dessas empresas.

 Fonte: O Globo

Total de desempregados cresce 41,5% e atinge mais de 9 milhões

Em um ano, taxa de setembro a novembro passa de 6,5% para 9%

Com a carteira de trabalho nas mãos, mulher aguarda atendimento em agência de emprego em São Paulo – Paulo Fridman / Bloomberg

 O desemprego no país ficou em 9% entre setembro e novembro, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE. É a maior taxa para o período desde o início da série histórica, em 2012, e se manteve no maior nível da pesquisa, que tinha sido registrado no trimestre encerrado em outubro. O índice, que inclui todos os estados brasileiros, acelerou fortemente frente ao mesmo período de 2014, quando o desemprego estava em 6,5%. Com isso, em um ano, o total de desocupados cresceu 41,5%, ao somar quase 3 milhões de pessoas a esse contingente, que já chega a 9,126 milhões de brasileiros com mais de 14 anos. É o maior contingente de desempregados desde o início da pesquisa.

O resultado também subiu na comparação com o trimestre imediatamente anterior, de junho a agosto, quando a taxa foi de 8,7%. Já o rendimento real ficou em R$ 1.899, 0,7% a menos do que no trimestre encerrado em agosto.

— O aumento do desemprego foi puxado pela expansão da população desocupada, ou seja, mais gente procurando trabalho. Mas também teve perda da população ocupada, redução de meio milhão de pessoas em um

ano. Foi um movimento mais agressivo da população desocupada — apontou Cimar Azeredo, gerente da Coordenação de Trabalho do IBGE.

Por outro lado, foi a primeira vez, depois de dez altas seguidas, na comparação com o trimestre encerrado no mês anterior, que a taxa ficou estável. A manutenção do desemprego em 9%, no entanto, não é uma notícia positiva. Nesta época do ano já começa a contratação de trabalhadores temporários para o período de Natal, mas ainda assim isso não se refletiu em recuo da taxa.

— Já haveria uma expectativa de que a taxa cedesse a essa altura do ano por causa da entrada de trabalhadores temporários — afirmou Azeredo.

O resultado ficou dentro da expectativa dos analistas. O banco Bradesco esperava que o desemprego ficasse em exatamente em 9%.

MASSA DE RENDIMENTOS RECUA

A população desocupada no país chegou a 9,1 milhões de pessoas, o que representa uma alta de 3,7% ou 323 mil pessoas a mais que no trimestre encerrado em agosto. Na comparação com um ano antes, o aumento foi de 2,7 milhões de pessoas, ou 41,5%.

Já a população ocupada caiu 0,6% em relação a igual período de 2014, para 92,2 milhões de pessoas. Foram 533 mil pessoas a menos. Frente ao trimestre imediatamente anterior, ficou estável.

A massa de rendimento dos trabalhadores ficou em R$ 169,9 bilhões, abaixo dos R$ 172,780 bilhões de igual período de 2014. Para Azeredo, este é o grande destaque da divulgação:

— Tem menos dinheiro circulando no mercado porque teve queda do rendimento e redução de pessoas ocupadas. A massa de rendimentos volta ao trimestre encerrado em setembro de 2014.

Os dados da pesquisa mostram ainda recuo do emprego formal. O número de empregados com carteira assinada ficou em 35,413 milhões, o que significa 1,114 milhão de trabalhadores a menos do que um ano antes, ou 3,1%. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, foram 126 mil pessoas a menos.

Na avaliação de Azeredo, foi este recuo do emprego formal que empurrou as pessoas de volta à força de trabalho, ou seja, fez com que mais gente voltasse a buscar trabalho. Pessoas que não estavam trabalhando na família, como jovens, por exemplo, retomam a busca. Com isso, aumentou o número de desempregados.

– Mais de um milhão de pessoas perdeu o emprego com carteira assinada em um ano. Essa carteira é a estabilidade. Com isso, tivemos uma corrida para a fila da desocupação – apontou o gerente do IBGE.

MAIS PESSOAS POR CONTA PRÓPRIA

Já o número de trabalhadores por conta própria avançou quase um milhão (969 mil pessoas) em um ano. Frente ao trimestre encerrado em agosto, foram 458 mil pessoas a mais ou 2,1%.

Pela Pesquisa Mensal de Emprego — que engloba as seis principais regiões metropolitanas do país (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) —, a taxa de desemprego fechou em 6,8%, o maior nível desde 2009. Em 2014, a taxa ficou em 4,8%, o menor patamar da série histórica do IBGE, iniciada em 2002.

 

O mercado de trabalho vem sentindo os efeitos da recessão na economia e a taxa de desemprego vem subindo. Cálculos divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostraram que a recessão brasileira é mais grave do que o imaginado. A economia encolheu 4,11% em 2015, segundo o Índice de Atividade Econômica da autoridade monetária (IBC-Br). Em dezembro, o recuo foi de 0,52% e o desempenho mensal ficou no negativo pelo décimo mês seguido — o maior período de retração desde que o BC passou a registrar os dados.

Em um movimento contrário, o número de trabalhadores domésticos aumentou 3,8% no trimestre encerrado em novembro, para 6,230 milhões de pessoas, na comparação com um ano antes. O aumento é resultado das dificuldades de se encontrar oportunidades em outras áreas

O IBGE vai divulgar na próxima sexta-feira, dia 26, os valores do rendimento domiciliar per capita dos estados. Os dados são usados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para atender a lei para cálculo de rateio do fundo de participação dos estados.

Número de trabalhadores domésticos avança 3,8% em um ano, aponta IBGE

Na contramão do emprego geral, aumento reflete menos oportunidades em outras áreas

Cintia Agripina de Carvalho trabalha como empregada doméstica – Fabio Seixo/Agência O Globo/07-05-2015
 

Em um movimento contrário ao recuo do emprego geral, o número de trabalhadores domésticos avançou 3,8% no trimestre encerrado em novembro, para 6,230 milhões de pessoas, na comparação com um ano antes. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua mostram que existem 228 mil trabalhadores domésticos a mais

 

O aumento é resultado das dificuldades de se encontrar oportunidades em outras áreas, como no comércio e em serviços, segundo o gerente de Coordenação de Trabalho do IBGE, Cimar Azeredo:

— Com o avanço da educação e do trabalho nos últimos anos, o contingente dos trabalhadores domésticos vinha reduzindo. Eram trabalhadores que estavam migrando para outros setores. Só que agora as pessoas estão retornando a esse grupamento por falta de oportunidades em outras áreas.

O recuo da renda das famílias, no entanto, tem pressionado para baixo o rendimento dos trabalhadores domésticos. Em um ano, a renda média desse grupo caiu 2,4% (R$ 18), para R$ 750.

— Como o domicílio está com renda menor, também está pagando menos. Há uma negociação entre as famílias e o empregado, seja pelo número de horas de trabalho ou dias.

Nesta sexta-feira, o IBGE divulgou que o desemprego no país ficou em 9% entre setembro e novembro, uma forte alta em relação a um ano antes, quando a taxa estava em 6,5%. Em um ano, o total de desocupados cresceu 41,5%, ao somar 2,7 milhões de pessoas a esse contingente, que já chega a 9,1 milhões de brasileiros com mais de 14 anos.

 

Economia encolheu 4,1% em 2015 nas contas do BC

IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, recuou 0,52% em dezembro

POR GABRIELA VALENTE

 / atualizado 
Aluga-se: espaço comercial disponível em ano de crise – Dado Galdieri / Bloomberg News

Os cálculos do Banco Central mostraram que a recessão brasileira é mais grave do que o imaginado. A economia encolheu nada menos que 4,11% no ano passado, segundo o Índice de Atividade Econômica da autoridade monetária (IBC-Br). Em dezembro, o recuo foi de 0,52% e o desempenho mensal ficou no negativo pelo décimo mês seguido — o maior período de retração desde que o BC passou a registrar os dados.

O resultado anual — o mais baixo desde o início da série do BC, há 13 anos — foi pior que as expectativa dos analistas do mercado financeiro, que preveem uma retração de 3,8% em 2015. Essa é a aposta para o dado oficial do Produto Interno Bruto (PIB), que será divulgado pelo IBGE apenas no mês que vem. Ele é mais complexo que o índice do BC, que é considerado apenas um indicador antecedente e foi criado para ser uma referência do comportamento da atividade econômica que sirva para orientar a política de controle da inflação pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Se confirmada a projeção, será a primeira retração da economia em seis anos. E também a pior queda desde 1990, quando a atividade econômica no país encolheu 4,3%.

Apesar das diferenças metodológicas, o IBC-Br traduz o que os dados setoriais têm revelado nos últimos meses: a crise é mais profunda do que o esperado. Esse foi o pior resultado desde o início da série histórica há 13 anos. E aumentou as apostas de que o resultado oficial ficará perto dos 4% de retração.

“Os dados reforçam, assim, nossa expectativa de contração de cerca de 1,5% do PIB no último trimestre do ano passado, acumulando queda de 3,9% em 2015”, frisou o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros.

O CRESCIMENTO DA ECONOMIA MEDIDO PELO BANCO CENTRAL

O QUE É

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central – Brasil (IBC-Br) reflete a evolução da atividade econômica do país e baliza a elaboração da estratégia de política monetária. O BC leva em consideração o desempenho de varejo, agropecuária, indústria de transformação, extrativa, da construção civil e produção e distribuição de eletricidade, gás e água, esgoto e limpeza urbana

 

Fonte: BC

Tanto o IBC-Br quanto o PIB são indicadores que medem a atividade econômica, mas têm diferenças na metodologia. O indicador do BC leva em conta trajetória de variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (indústria, agropecuária e serviços).

Já o PIB é calculado pelo IBGE a partir da soma dos bens e serviços produzidos na economia. Pelo lado da produção, considera-se a agropecuária, a indústria, os serviços, além dos impostos. Já pelo lado da demanda, são computados dados do consumo das famílias, consumo do governo e investimentos, além de exportações e importações.

Fonte: O Globo

Na contramão de gigantes, 22 bancos menores ficam no vermelho em 2015

Instituições de pequeno porte sofrem com caixa limitado e pouca flexibilidade operacional

A despeito dos lucros recordes de gigantes como Itaú e Bradesco, nem todo banco brasileiro passa ao largo da crise. A recessão estrangula os negócios de instituições financeiras de porte pequeno e médio, que têm carteiras de crédito concentradas em setores problemáticos da economia, pouca flexibilidade operacional e caixa limitado para buscar compensação lucrativa nos maiores juros dos últimos dez anos. Bancos com essas características são maioria entre as 22 instituições que, na contramão do mercado, tiveram prejuízo até o terceiro trimestre de 2015. Para analistas do setor, a crise do segmento já desperta interesse de instituições financeiras que buscam alvos de aquisição no país, o que poderia elevar a concentração bancária.

Fachada de agência do HSBC. Institução está entre as que registraram perdas– ANDREW HARRER / BLOOMBERG NEWS

Segundo os balancetes disponibilizados pelo Banco Central e compilados pelo GLOBO, essas instituições registraram, juntas, perda líquida de R$ 1,5 bilhão até o terceiro trimestre de 2015. Enquanto isso, os 71 bancos que deram lucro acumularam ganho coletivo de R$ 64,86 bilhões no período. Para 17 instituições, a situação é especialmente ruim, já que também sofreram prejuízo em 2014.

Os dados do BC representam o desempenho dos conglomerados financeiros aos quais pertencem cada banco, excluindo operações entre participantes do mesmo grupo, dentro dos parâmetros do Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (Cosif). Nessa metodologia, em alguns casos, os números do BC não são exatamente os mesmos divulgados ao mercado pelos balanços financeiros dos bancos.

INTERESSE DE ESTRANGEIROS

Na avaliação de Ceres Lisboa, analista da agência de risco Moody’s, a crise desses bancos começou a se fazer notar em 2013, quando a economia demonstrava os primeiros sinais de fragilidade. Com a recessão instalada, os problemas de crédito dessas instituições ficaram mais óbvios, levando a perda de receita e aumento de provisões contra calotes.

— Esses bancos têm sensibilidade a risco muito maior do que os grandes porque apresentam concentração elevada, seja com carteira dependente de um setor específico, seja com determinados tipos de operação — disse a analista.

Os analistas da agência Fitch veem como inevitável a redefinição do modelos de negócio dos bancos brasileiros pequenos e médios. E isso, segundo eles, passará necessariamente por consolidação e parcerias estratégicas. Enquanto veem pouco fôlego para fusões entre os próprios bancos em crise, analistas creem que a saída será a venda para instituições estrangeiras.

— Temos conversado com bancos estrangeiros e há interesse de operar no brasil. Os asiáticos talvez sejam os mais privilegiados, com “funding” maior. Os europeus estão diminuindo o apetite, porque, além da crise brasileira, há uma regulação mais rigorosa, que exige a segregação de atividades de banco de investimento e de varejo. O Deutsch fez uma reestruturação global e fechou a operação da América Latina. O Barclays fechou no Brasil — afirmou Claudio Gallina, diretor sênior da Fitch.

 

O gigante francês Société Générale é um dos estrangeiros que mudaram o foco no Brasil. Em nota, a instituição esclareceu que, em fevereiro de 2015, decidiu focar em clientes corporativos e institucionais no país. Assim, saiu do segmento de crédito ao consumidor fechando duas subsidiárias, os bancos Cacique e Pecúnia. Segundo a nota, essa reestruturação explica o prejuízo de R$ 254,45 milhões até o terceiro trimestre. Para focar no segmento corporativo, o Société Générale aumentou seu capital em R$ 315 milhões.

Gallina admite que o movimento de consolidação poderia levar a maior concentração no setor, mas descarta um acréscimo significativo.

— Em termos de concentração, 85% dos ativos totais já estão nas mãos dos dez maiores bancos. Então isso já existe e esse número não deve mudar muito. É improvável haver novas fusões entre os grandes — acrescentou.

O conglomerado do CCB Brasil (antigo BicBanco) é o que registra maior perda acumulada, segundo o BC: R$ 243,9 milhões. Em 2014, aliás, o banco já registrara o maior prejuízo dos bancos comerciais, de R$ 734,9 milhões. Focado em operações de crédito para o segmento middle market, o banco fechou capital na Bolsa em outubro, após ter sido comprado pelo China Construction Bank. Em julho de 2015, a agência Standard & Poor’s rebaixou o banco para grau especulativo citando a deterioração da economia e o “aumento nos empréstimos problemáticos do banco”, além da redução do seu portfólio de empréstimos por causa da reestruturação interna provocada pela venda.

Segundo o último balanço do banco, as provisões para créditos de liquidação duvidosa totalizaram R$ 1,08 bilhão no fim do primeiro semestre de 2015, 75% mais que um ano antes.

— O banco reduziu bastante a atividade de crédito ao mesmo tempo em que aumentou as provisões, atendendo à política mais rígida do banco chinês. Isso enquanto o banco praticamente parava, à espera do processo de mudança de controle — analisou Luis Santacreu, da Austin Rating. — Mas foi comprado por um dos maiores bancos do mundo, mudou a marca, tornou-se parte de um grupo com avaliação de risco internacional e capacidade financeira para aguentar essas provisões.

Outra situação difícil é a do paulista Fibra, que ruma para fechar 2015 como o sexto ano seguido de prejuízo líquido, totalizando perda superior a R$ 1,2 bilhão desde 2010. De acordo com o último balanço do banco, a família Steinbruch — que controla a instituição e também a combalida siderúrgica CSN — aportou R$ 50 milhões no Fibra.

No fim de 2015, o Fibra foi rebaixado por Moody’s e S&P, que citaram piora na qualidade do crédito e aumento no provisionamento. Entre janeiro e setembro, o Fibra perdeu R$ 240,9 milhões.

— O banco teve um problema relacionado à atividade de varejo. Entrou no mercado de crédito consignado e de financiamento de veículo, mas não foi feliz por causa de inadimplência. Resolveu desmontar essas operações, mas são operações de três anos, por exemplo, e a inadimplência acaba batendo — observou Santacreu.

O HSBC não comentou a reportagem por causa do período de silêncio em razão da divulgação do balanço. Procurados, os bancos CCB Brasil, Fibra e Arbi não quiseram comentar. Não responderam ao contato do GLOBO o Banco da China (Brasil), o Novo Banco Continental, o BPN Brasil, o Banco de la Nación Argentina e o Capital. O GLOBO não conseguiu contato com responsáveis dos bancos Ficsa e Cédula nos telefones das matrizes.

Fonte: O Globo

A indústria automotiva está no chão. No pior momento dos últimos 25 anos, o setor está com metade das linhas de produção parada. As montadoras têm capacidade de produzir até 5 milhões de veículos por ano. A situação deve piorar em 2016. Pelas previsões, será o quarto ano seguido de queda nas vendas, e o uso da capacidade deve ficar abaixo de 50%. Nem entre 1998 e 1999, quando o real desvalorizou 53% devido a choques externos, a indústria operou em nível tão baixo. O recuo no setor automotivo contaminou outros ramos, que estão usando até 60% de capacidade, como máquinas e equipamentos (58%), metalurgia (60%), produtos de metal (54%) e outros equipamentos de transporte (59%), de acordo com levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Juntamente com o setor automotivo, eles representam um quarto da indústria brasileira. Somente a cadeia do automóvel responde por 23% do PIB industrial e 5% da economia.

— São setores diretamente relacionados à indústria automotiva que lideram a queda, associada à crise do investimento. Esses setores estão muito ociosos porque o resto da indústria não está investindo — disse Rafael Cagnin, economista do Iedi.

Rodrigo Baggi, economista da Tendências Consultoria, afirma que a indústria automotiva não sofre revés tão forte desde 1990. O momento só é comparável ao fim daquela década.

— Como naquela época, houve investimento seguido de choques, que provocaram depreciação cambial, afetando o poder de compra das famílias.

‘CÂMBIO NÃO É VARINHA MÁGICA’

Segundo Baggi, no mais recente período de expansão, entre 2004 e 2012, o mercado de automóveis cresceu 11% ao ano, impulsionado também pelos incentivos fiscais, depois da crise global de 2008. De 2009 a 2014, foram mais de R$ 16 bilhões de desonerações, somente com o corte de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI):

— O pico de produção de 1997 só foi retomado em 2007. Quando a indústria começar a se recuperar, deve levar de dez a 15 anos para voltar ao nível recorde de 2012. As vendas devem despencar 19,5% este ano. Depois de já terem recuado 23% em 2015.

Para Raphael Galante, consultor do mercado automotivo, da Consultoria Oikonomia, além da recessão, o setor chegou ao CTI por se voltar apenas ao mercado interno. Em 2014, a balança comercial do setor, incluindo autopeças foi negativa em US$ 12 bilhões. O país exportou naquele ano 359 mil unidades (inclusive ônibus e caminhões), queda de 59% em relação a 2005, quando o país exportou 897 mil unidades.

— Fabricamos veículos globais, como o Focus, da Ford. Nos últimos anos, as montadoras não se preocuparam em prospectar mercados, depois dos problemas na Argentina. Agora, numa época de baixa do setor, as exportações poderiam ajudar as fábricas. Mas isso não acontece da noite para o dia, e leva-se ao menos dois anos para começar uma operação de exportação.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, afirma que o setor está dimensionado para produzir entre 4,8 milhões e 5 milhões de unidades ao ano, mas atualmente produz 2,5 milhões de veículos. Em condições normais, o uso alcança perto de 70% da capacidade:

— Todo o investimento foi feito projetando um mercado de 5 milhões de veículos. Atualmente, o nível de produção recuou a 2006, enquanto o emprego equivale ao de 2010.

Moan diz que a paralisação das linhas de produção também está acontecendo com os fornecedores de autopeças que dimensionam a produção à demanda do parque automotivo:

— Quando a economia se recuperar, as vendas voltam. Não estamos cancelando investimentos. Há R$ 82 bilhões entre 2012 e 2018 de investimentos que estão mantidos. Começamos 2016 com a Nissan anunciando injeção de R$ 750 milhões na fábrica de Resende (RJ) e a Toyota, de R$ 30 milhões em Sorocaba (SP).

EXPORTAÇÃO PODE AJUDAR

Moan aposta também na exportação, com a valorização do dólar. Ele estima alta de 8% nas vendas externas para México, Argentina, Colômbia e Uruguai, países africanos e Europa.

Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), alerta que o caminho não é tão fácil assim de trilhar:

— O Poder Público está sem capacidade para dar estímulo. Tem que olhar para fora, para o mercado externo. Mas o câmbio não é a varinha mágica do Mago Merlin. Voltar ao mercado não é trivial.

Baggi acredita que o próprio mercado interno é a solução mais para frente. O Brasil ainda tem muita gente sem carro, mesmo comparando com países de mesmo perfil como México e Argentina. Atualmente, dois em cada dez brasileiros têm carro. Nos Estados Unidos são oito, no México e Europa Oriental entre três a quatro em cada dez.

— A recuperação das vendas virá das cidades médias. Nas capitais, o mercado está estacionado há muito tempo. No Nordeste, em algumas regiões, há um habitante com carro para cada dez. Há um potencial enorme ainda a ser explorado.

O caminho do exterior, facilitado pela valorização do dólar, pode ser bloqueado diante da revolução tecnológica que vive o setor, com carros inteligentes, híbridos e elétricos. Revolução que não chegou às indústrias por aqui.

— O futuro da indústria automobilística exige cada vez mais tecnologia embarcada e veículos menores e não poluentes. As cidades não sustentam essa quantidade de carros que entram todo o ano. Não é o que acontece no Brasil. Há altíssima capacidade instalada de produção, jogando cada vez mais veículos baratos no mercado — afirmou Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral.

Ele diz que não há política de substituição de frota, estimada em 40 milhões, com inspeção veicular:

— O novo vira seminovo, seminovo vira usado e usado vira velho e todos eles convivem no mesmo espaço. A mesma coisa com os caminhões. É uma história de acidentes e mortes. Somos o país que mais mata caminhoneiros no mundo. São 9 mil por ano. Sem contar com as 50 mil mortes no trânsito. É uma guerra. A maioria morre em colisões frontais, de pistas simples, em carros sem airbag.

Para Galante, da Oikonomia, embora a fabricação de carros elétricos seja uma alternativa para garantir o futuro, ela só deve começar em escala daqui a uma geração.

José Velloso Dias Carneiro, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), diz que nem na crise da dívida externa, com hiperinflação, no início dos anos 1980, o uso da capacidade instalada foi tão baixo.

 

— Nem no (governo de Fernando) Collor, com hiperinflação, nem no calote de (José) Sarney, a utilização foi tão baixa. Outra medida da crise é a carteira de pedidos que está em 2,4 meses. Isso é inimaginável para indústria de máquinas e equipamentos, que pode levar até dois anos para entregar uma máquina. É muito grave.

A utilização de capacidade da indústria geral está em 66% quando se olha as grandes empresas e baixa para 58% quando se inclui as pequenas. Normalmente, a ociosidade é de 20% e não de 40% como agora. O setor caminha para o terceiro ano seguido de queda na produção. Ano passado, recuou 14% e deve cair mais 9% este ano.

— E ainda querem taxar a importação de aço, aumentando mais os custos — diz Velloso.

Fonte: O Globo

Carga tributária alcança R$ 2 trilhões em 2015, novo recorde

Marca foi registrada pelo Impostômetro em 30/12/15

O impostômetro atinge marca de R$ 2 trilhões na arrecadação de impostos – Marcos Alves / Agência O Globo

O total de impostos e tributos pagos por cidadãos e empresas no país ultrapassou os R$ 2 trilhões, de acordo com o Impostômetro, sistema criado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) em parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). A marca de R$ 2 trilhões foi alcançada na manhã desta quarta-feira é o maior valor desde a implantação do Imostômetro, em 2005. Em 2014, o sistema registrara a arrecadação de R$ 1,95 trilhão.

De acordo com o IBPT, os tributos federais respondem por 65% da arrecadação, ao passo que os estaduais equivalem a 28,47% e o municipaís, 5,58%. Individualmente, contudo, o tributo com maior arrecadação é o ICMS (19,86%), cobrado pelos estados, seguido do INSS (19,18%), Imposto de Renda (15,62%) e Cofins (10,13%).

Para Alencar Burti, presidente da ACSP, a crise fiscal por que passa toda a administração pública (federal, estadual e municipal) evidencia a ineficiência da aplicação dos recursos arrecadados. “Se fossem mais bem aplicados, os R$ 2 trilhões em tributos pagos pelas empresas e cidadãos seriam mais que suficientes para atender às necessidades dos brasileiros”, diz Burti, em comunicado, lembrando que o Impostômetro foi criado com a finalidade de informar os cidadão sobre o peso dos tributos e incentivá-los a exigir dos governos (federal, estaduais e municipais) serviços de qualidade.

Por isso, acrescenta o dirigente, é imprescindível uma reforma tributária no país. “Reforma que só poderá ser feita se houver solução satisfatória para a crise política, com a urgência que o país requer”, completa o dirigente.

Fonte: O Globo

Brasil ainda cria oportunidades de empregos: saiba onde estão as vagas

Pela alta rotatividade, vagas operacionais podem ser as mais fartas no mercado. No entanto, a disputa por elas está se acirrando

Carlos Moura/CB/D.A PressA proprietária de um salão de beleza, Priscilla (ao centro), com a equipe: Géssica e Jaqueline (à frente) foram contratadas recentemente
Tanto para quem busca o primeiro emprego quanto para quem quer se recolocar, o cenário é frustrante. No terceiro trimestre de 2015, o índice de desemprego subiu para 8,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No caso dos jovens de 18 a 24 anos, a taxa é de 19,7%. No entanto, especialistas garantem que a recessão não é sinônimo de conjuntura estática, e as vagas existem — em todas as vagas. Em alguns ramos, porém, podem ser mais fartas.Professor de cenários econômicos e macroeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin aponta que o mercado continua dinâmico. “Há fechamento e abertura de vagas em todo momento — só que, nos últimos 18 meses, o número de encerramentos foi bem maior”, pondera. Segundo Rochlin, a tendência é que empresas ligadas à exportação — que podem ser de vários setores, como automóveis, soja e aço — demandem mais diversos tipos de profissionais porque o dólar em alta torna o setor mais competitivo. “Fazendo um corte por setor, nenhum abre mais do que fecha no momento. No entanto, algumas empresas estão em situação melhor que outras”, diz.“Há mais desemprego e menos vagas que o normal, mas os setores são afetados pela crise de manerias distintas. Alguns — como o automotivo — sofrem mais. Crescimento e contratações, porém, dependem muito da postura da empresa: se ela é agressiva e vê a crise como oportunidade pode contratar em vez de demitir”, aponta Ana Seraceni, estrategista de carreira da Comserventia. Coordenadora de recursos humanos da OD&M Consulting, Andréia Melo, acredita que as ofertas de trabalho estão diminuindo no geral e afirma que “a alta rotatividade dos profissionais operacionais faz com que oportunidades do tipo sejam constantes e representem a maior fatia disponível no mercado.”

Radiografia do emprego
Segundo a 8ª edição do guia salarial da Robert Half, divulgado na semana passada, as empresas estão se adequando ao cenário de menor crescimento e buscam eficiência. Nesse contexto, profissionais capazes de alcançarem bons resultados em situações adversas são mais valorizados. A expectativa é que não haja significativa expansão de vagas em 2016. Uma coisa é certa para as contratações futuras: serão mais rigorosas. É o que aponta Fernando Mantovani, diretor de Operações da empresa no Brasil. “Pessoas morrem, se aposentam, e incompetentes são demitidos. Tem empresa mandando embora dois para contratar um. Vagas de trabalho existem sim, mesmo que apenas de reposição. A questão é que, quando o mercado está crescendo, contrata-se mais e não há tantos critérios na busca. Em momento de crise, a situação muda”, decreta.

“Empresas de exportação estão crescendo por causa da alta do dólar e podem contratar profissionais de diversas áreas. Instituições automotivas estão produzindo menos carros e podem tentar recuperar rendimento contratando bons profissionais. Há muito mais movimento numa exportadora do que numa firma do setor automotivo, mas pode ser que as duas contratem”, exemplifica. Segundo ele, é difícil indicar carreiras específicas que devem contratar mais em 2016, mas, entre essas, ele destaca a área jurídica societária e a comercial em startups.

Cenário comercial
“Setores de essencialidades — como supermercados, farmácias, postos de combustíveis — continuam e vão continuar contratando”, garante o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Adelmir Santana. O comércio do DF teve queda de -0,23% nas vendas em outubro na comparação com setembro. O setor de serviços apresentou decréscimo de -0,11%. No comércio, os segmentos com maior alta nas vendas foram: tecidos (13,49%) e floriculturas (8,86%); tiveram queda bares, restaurantes e lanchonetes (-2,59%) e material de construção (-1,86%), por exemplo. No setor de serviços, alguns dos que apresentaram crescimento são casa de eventos (12,29%), aluguel de artigos para festas (9,41%), clínica de estética (1,85%) e salão de beleza (0,92%).

Entre os segmentos em baixa e que não devem contratar, Cyndia Bressan, mestre em psicologia do trabalho, coordenadora do MBA em gestão de pessoas por competências, indicadores e resultados do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (Ipog), destaca o de restaurantes. Em contrapartida, o ramo de entrega de comida tem crescido: é o que aponta a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). O nicho deve movimentar R$ 9 bilhões até o fim do ano, R$ 1 bilhão a mais que 2014. Diferentemente de restaurantes, a opção elimina custos, como o de transporte. “Em fim de ano, há demanda por setores de festa e estética”, diz Cyndya Bressan — conclusão reiterada pelos números da Fecomércio. Sobre o mercado de beleza — incluindo salões, lojas e até cirurgias plásticas —, ela percebe que esse continuará efetivando mão de obra. “As pessoas economizam, mas não deixam de fazer exceções em prol da autoestima”, diz.

Priscilla Amaral, 31 anos, proprietária do salão de beleza Zug Hair, localizado no Lago Sul, percebe os bons ventos. Durante a crise, o número de clientes até aumentou. Nos últimos dois meses, ela contratou duas novas empregadas — uma em vaga de reposição e outra em nova oportunidade. “As pessoas não deixam de vir, no máximo param de procurar atendimentos para tarefas que conseguem fazer sozinhas, como manicure e escova”, observa. Entre as novas aquisições do Zug Hair, está a cabeleireira Géssica Luzia Carvalho, 24. “Saí do antigo salão em que eu trabalhava porque o movimento estava fraco. Fiquei dois meses em casa para resolver problemas pessoais e fui indicada para a vaga.” Jaqueline Alves, 21, entrou para trabalhar como manicure. “Demorei duas semanas para encontrar trabalho depois de ter saído do meu antigo emprego. Não me preocupei com a crise porque percebo que não falta emprego na área”, comemora.

Educação deficiente, burocracia e corrupção derrubam produtividade

O Brasil ocupa as piores posições em rankings internacionais que medem a capacidade de produzir mais e melhor com menos recursos.

Quando o assunto é competitividade — capacidade de produzir mais e melhor com menos recursos —, o Brasil ocupa as piores posições nos rankings internacionais. No Índice de Competitividade do Talento Global, que mede a qualidade do capital humano, o país está em 49° lugar entre 93 países. Na produtividade por trabalhador, fica ainda mais abaixo, na 64ª posição. As razões para essas disparidades, dizem especialistas, são educação deficiente ou inapropriada para o mercado de trabalho, alto índice de analfabetismo, queda dramática nos investimentos e excesso de burocracia, além da nódoa cultural da corrupção, do jeitinho brasileiro e do desinteresse do próprio funcionário em melhorar sua condição.

“Tudo converge para a educação. Começa na capacitação”, resume Luiz Gonzaga Bertelli, presidente dos conselhos diretor e de administração do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Há, destaca, um pernicioso e intencional afastamento da tecnologia de ponta, resultado de um problema que se tornou endêmico no país: o temor da matemática por jovens e adultos. “Uma sociedade sem bons conhecimentos matemáticos é pouco competitiva no mercado internacional”.

Bertelli lembra que estudo encomendado pelo Instituto Círculo da Matemática aponta que 75% das pessoas pesquisadas, em 25 cidades, não sabem calcular média simples, 63% não conseguem responder a perguntas sobre percentuais, 75% não entendem frações e 69% não fazem contas com taxas de juros. “A matemática é a base para a engenharia. Quanto mais um país cresce, mais precisa de profissionais dessa área. Mas temos problemas piores: 25% da população é analfabeta, outros 25% não entendem o que leem, além de milhões que cultivam a ignorância desejada, isto é, são alienados”, lamenta.

Fonte: correioweb

Mais de cem mil devem perder emprego em grandes obras

Construção sofre efeitos de ajuste e da Petrobras. Belo Monte demitirá 12 mil até 2016

    Mais de cem mil trabalhadores devem ser demitidos das obras de infraestrutura daqui até o fim do ano, estima a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), somando 180 mil em 2015. Somente de janeiro a setembro, foram 79.131 demissões. Quando se inclui nessa conta a construção de edifícios, o total chega a 222.711. O setor está em crise, e todos os impulsos para a atividade avançar foram anulados, dizem especialistas. As demissões normalmente são concentradas no último trimestre. No início do ano, costumam acontecer as contratações, mas não foi o que ocorreu desta vez, diz José Carlos Martins, presidente da Cbic. Sem novos ciclos de investimento à vista e com grandes obras no fim ou em ritmo mais lento, a crise no setor se agravou. Operários da hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, no Pará, estão sendo demitidos em razão da conclusão de etapas da obra. Em Pernambuco, cerca de 40 mil perderam o emprego em 2014 com a paralisação dos trabalhos da refinaria de Abreu e Lima e não houve como absorver essa mão de obra. No Rio, o Comperj praticamente parou.

Dissídio: assembleia de operários de Belo Monte na semana passada: preparação de pauta de reivindicações – Divulgação / Divulgação

— A restrição fiscal nos estados e municípios fez parar tudo. Não tem um centavo para aplicar. Não temos expectativa de quando isso vai mudar — diz Martins, que calcula um total de 530 mil empregos cortados na construção civil este ano, incluindo obras de infraestrutura, construção de edifícios e serviços especializados.

 

O ajuste fiscal no governo federal e nos estados e municípios abateu a indústria da construção pesada, já afetada pelo corte de mais de 30% nos investimentos da Petrobras e pela Operação Lava-Jato, que paralisou ou fez andar mais devagar obras de grandes empreiteiras do país e seus fornecedores.

— É um quadro bastante ruim e, particularmente ruim na infraestrutura, por um conjunto de fatores. Na Região Norte, o emprego caiu 19,06% este ano (até setembro) já por causa das demissões em Belo Monte. E vai piorar quando essa desmobilização for completa. Como não houve licitação para as obras para o complexo hidrelétrico do Rio Tapajós, o impacto vai ser forte na região — afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Em Altamira, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada do do Pará já não dá conta das homologações das dispensas no canteiro de Belo Monte. Acertou com o consórcio construtor a demissão de 50 trabalhadores por dia, mas o número vem crescendo. Em agosto, foram 1.749 demissões. De acordo com cronograma enviado ao Ministério Público do Trabalho (MPT) pelo consórcio construtor da usina de Belo Monte, formado por Camargo Corrêa, Odebrecht e Andrade Gutierrez, serão demitidos 12 mil trabalhadores de outubro a fevereiro do ano que vem. Em abril, o canteiro abrigava 31.800 trabalhadores. Em fevereiro, serão 13.100.

O temor dos procuradores do Trabalho é que esses trabalhadores, sem conseguir outra obra, fiquem na cidade sem condições de voltar para seus locais de origem. Muitos, para conseguir a vaga na construção da hidrelétrica, disseram que moravam em cidades próximas — os contratantes preferiam trabalhadores da região — e ficaram sem receber a “baixada” (direito a transporte e tempo para ver a família).

— A cidade de Altamira poderia receber milhares de trabalhadores de uma só vez, o que poderia gerar uma situação de confusão na cidade. Por esta razão, o consórcio comprometeu-se a garantir o transporte dos trabalhadores partindo diretamente dos canteiros de obras, sem a necessidade de passarem pelo terminal rodoviário, com vistas a garantir a tranquilidade neste momento — afirma o procurador Erik de Oliveira.

O vice-presidente do sindicato dos trabalhadores, Roginel Gobbo, diz que os operários voltam para suas cidades por conta própria, com raras exceções.

 

REGIÃO NÃO CONSEGUIRÁ ABSORVER OPERÁRIOS

Ele diz ainda que as medidas recomendadas pelo MPT consideram que não haverá, a princípio, como absorver esse pessoal na região de Belo Monte (Altamira e Vitória do Xingu), pela própria singularidade de tais locais, nem mesmo para a operação de Belo Monte, que exigirá pessoal especializado e de formação diversa desses trabalhadores.

Grande parte dos trabalhadores de Belo Monte veio de Rondônia, depois que acabaram as obras nas duas hidrelétricas do Rio Madeira — Jirau e Santo Antônio — também nas mãos das construtoras que hoje sobem as barreiras no Rio Xingu. A construção do complexo no Rio Tapajós não saiu do papel e, portanto, não vai absorver essa mão de obra desligada dos canteiros de Belo Monte.

— Vieram equipes inteiras para Belo Monte. Há alguma obra no Pará que pode absorver, mas a expectativa era que eles fossem deslocados para Itaituba (Tapajós) — diz Roginel Gobbo, vice-presidente do sindicato dos trabalhadores .

Alguns estão sendo aproveitados na próxima etapa da obra, a montagem dos equipamentos. Mas a demanda é bem menor: 4.500 na obra inteira. O Consórcio Construtor Belo Monte afirmou que não faria comentários sobre as demissões.

‘Mais de 10 mil trabalhadores ficaram sem receber salário na refinaria de Abreu e Lima’

– DÉBORA TITOProcuradora do Trabalho

Também no Pará, as obras em Canaã do Carajás, o maior projeto de mineração da Vale, já estão no auge, com 32 mil operários trabalhando na construção da ferrovia (13 mil), do porto (4 mil) e da mina e da usina (15 mil). Segundo a empresa, a mina começa a operar no segundo semestre do ano que vem, mas as obras da ferrovia vão até 2018. Essas obras não vão abrir mais vagas na construção civil. Gobbo, do sindicato, diz porém que, no caso da Vale, sempre tem obra em Parauapebas, mas não o suficiente para absorver toda a mão de obra que deixará Belo Monte.

Outra grande obra de infraestrutura foi atingida duramente pela Operação Lava-Jato: a da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Somente no ano passado foram 30 mil demitidos. A desmobilização era esperada, segundo a procuradora do Trabalho do estado Débora Tito. Eles criaram um fórum juntamente com o governo do estado para tentar realocar esses operários que, em sua maioria (58%), eram de Pernambuco. Mas a Operação Lava-Jato, com o bloqueio dos recursos da Petrobras para determinados fornecedores, obrigou os procuradores a mudarem a direção dos trabalhos: passaram a lutar pelo pagamento de indenizações.

— Mais de 10 mil trabalhadores ficaram sem receber salário. Foram 42 mil contratações para a construção de Abreu Lima e foram mantidos apenas 30% desse quadro. Uma empresa ainda tem dívidas trabalhistas de R$ 75 milhões no estado — diz Debora.

Agora a situação começa melhorar na região, com a construção de uma petroquímica, que está contratando operários. Mas novos problemas começam a surgir.

— Recebemos denúncia do sindicato de que há pessoas, agenciadores, vendendo vagas de emprego por R$ 4.000. Com a massa de demissões que houve, há muito mais gente desempregada do que postos oferecidos — afirma a procuradora do Trabalho.

 

CONSTRUÇÃO EM QUEDA DESDE 2014

A construção civil vive uma das suas piores crises nos últimos anos. Nas Contas Nacionais, o setor vem em queda desde o segundo trimestre de 2014 na comparação com o ano anterior. Já caiu 4,7% nos últimos quatro trimestres, um recuo bem mais acentuado do que o da média da economia, que caiu 1,2%. Essa retração do setor é mais aprofundada com o pessimismo que se instalou, principalmente entre os que tocam obras de infraestrutura. A Sondagem da Construção que a FGV divulgou na última semana mostra a confiança do setor no seu mais baixo patamar desde 2010. Na composição do índice, os empresários de infraestrutura são os mais pessimistas. Nesse grupo, a queda na confiança foi de 5,5%, contra 3,9% na média, e de 1,9% na construção predial. E a piora foi rápida. Até agosto, os empresários até melhoraram a percepção da situação atual, mas, em setembro e outubro, o pessimismo dominou: queda de 10% em setembro e de 5,5% em outubro.

A situação do emprego também é pior na infraestrutura. No ano, até agosto, a ocupação caiu 13,7% contra 9,6% da média da construção.

Outro setor da construção que poderia absorver esses trabalhadores também sofre com a crise econômica. Com o ajuste fiscal, diminuiu a verba para o programa Minha Casa Minha Vida, os recursos da Caixa Econômica Federal para financiamentos habitacionais estão mais escassos e a demanda recua mais ainda com o emprego e o salário em queda em todas as atividades. Este ano, o setor de edificações já demitiu 115 mil trabalhadores.

Fonte: O Globo

Inflação no DF chega a ser o triplo da média nacional

Em Brasília, preços de mercadorias e serviços sobem, em outubro, quase o triplo do que no resto do país. Boa parte da alta é provocada por reajustes de serviços públicos, como passagens de ônibus e de metrô, além da elevação de tributos

Tamara Paiva diz que está assustada com os preços na cidade: “Tudo subiu”

A inflação tem subido sem dó no Brasil inteiro. Mas, em Brasília, a população tem pagado mais do que em qualquer outro lugar pelos produtos e serviços que consome. De acordo com o o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo medido entre 16 de setembro e 15 de outubro (IPCA-15) aumentou 0,66% no país. Em Brasília, foi o dobro: 1,28%. O mesmo ocorreu com o Índice de Preços ao Consumidor—Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas. Pelo indicador, a carestia nacional registrou alta de 0,67% na terceira quadrissemana de outubro, mas na capital federal o salto foi quase três vezes maior: 1,79%.

Pelos dados do IPC-S, o que mais tem contribuído para o aumento da carestia no Distrito Federal é o arrocho nos preços da tarifas públicas: a passagem de ônibus urbanos subiu 18,33%, e a conta de luz teve alta de 7,61%. No ano, os bilhetes de ônibus já aumentaram entre 20% e 50% dentro do pacote de reajustes promovido pelo governo local. As passagens do metrô ficaram 33% mais caras. Cigarros e bebidas subiram por causa da elevação do ICMS de 25% para 29%. E a alta nos combustíveis aplicada pela Petrobras nas refinarias foi repassada integralmente aos consumidores pelos donos dos postos de gasolina da cidade.

Outra bomba está prometida para janeiro no quesito impostos. O governo distrital já anunciou que IPTU, IPVA e ICMS de combustíveis vão subir. Em Brasília, também se paga mais do que em qualquer outro lugar por serviços de internet e de tevê por assinatura, e um aumento de até 15% só de ICMS está previsto nos pacotes dos clientes. Só com a elevação dos impostos desses serviços, o GDF espera uma receita extra de R$ 52 milhões para cobrir rombos no orçamento. A conta dos desajustes, como sempre, é paga pelo consumidor.

Transportes
Para Nilton Marques, ex-coordenador do Núcleo de Análise de Preços da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), a inflação na capital subiu acima da média principalmente pela alta generalizada das tarifas. Ele explica, no entanto, que também pesa muito o fato de a capital ser um hub (entroncamento) aéreo. “Dentro do grupo transportes, os preços das passagens aéreas têm impacto enorme na economia da cidade porque a maioria dos produtos vem de outros estados, por avião ou por rodovia. Nessa conta, entra ainda a gasolina, que já acumula alta de, pelo menos, 15% este ano”, explica. “Não temos indústrias. Desde carros até alimentos, tudo vem de fora”, destacou.

Marques ainda salientou que o aumento de preços dos serviços públicos e dos produtos em geral também chega à moradia. “Os aluguéis em Brasília estão entre os mais altos do país.” Segundo o Sindicato dos Condomínios (Sindicondomínio-DF), os boletos dos moradores tiveram elevação média de 12% em 2015. A alta foi puxada principalmente pela contas de energia elétrica e de água.

A fisioterapeuta Tamara Paiva, 28, está assustada com os preços praticados na cidade. Ela veio há três anos de São Gonçalo do Sapucaí, no sul de Minas, e, até hoje, não se acostumou. “Minha mãe, quando me visita, fica inconformada. Ela diz que os comerciantes daqui pensam que todo mundo é político”, contou. Tamara reclama que, neste ano, os preços dispararam. “Tudo subiu: alimentação, combustível, produtos de limpeza, luz, água, internet, telefone. Já reduzi quantidades, troquei de marca, mas está difícil diminuir os custos. Minha vida social também não existe mais. Restaurantes, só uma vez por mês”, afirmou.

Tamara diz que veio morar em Brasília porque arrumou emprego com salário quatro vezes maior do que ganhava em São Paulo. “Na minha cidade, em Minas, no Sudeste todo, a minha profissão está saturada. Aqui é um bom campo”, constatou. A questão dos salários é destacada por Marques como um dos fatores determinantes da inflação mais alta na cidade. “As pessoas pagam. O DF tem a maior renda per capita do país. O setor público ganha muito bem e puxa o setor privado”, avaliou.

No entanto, a vida não está fácil mesmopara quem trabalha ou é aposentado do serviço público. Paulo Furtado, 72 anos e a mulher, Antonia Furtado, disseram que já não têm ideia de quanto gastavam no mês passado. “Perdemos as contas. Sempre procuramos o mais barato. Se não fosse a aposentadoria integral, não teríamos como viver”, asseguraram, enquanto faziam compras num supermercado do Cruzeiro.

Já o servidor Alexandre Magno avalia que a inflação vem dos desmandos políticos e da alta do dólar. “A carne subiu 100% desde o ano passado. A crise chegou para todo mundo. Os políticos tratam o dinheiro dos nossos impostos como se fosse deles. As contas públicas não são transparentes, não tem fiscalização”, indignou-se.

Recessão devolve 3,3 milhões de famílias à classe D/E, diz estudo

Eles começaram a ter acesso a produtos e serviços que antes não cabiam no bolso, mas começam a fazer o caminho de volta.

A recessão derrubou parte da nova classe média, a população da classe C, para a base da pirâmide social. Entre 2006 e 2012, no boom do consumo, 3,3 milhões de famílias subiram um degrau, das classes D/E para a classe C, segundo um estudo da Tendências Consultoria Integrada. Eles começaram a ter acesso a produtos e serviços que antes não cabiam no seu bolso, como plano de saúde, ensino superior e carro zero. Agora, afetadas pelo aumento do desemprego e da inflação, essas famílias começam a fazer o caminho de volta.

De 2015 a 2017, 3,1 milhões de famílias da classe C, ou cerca de 10 milhões de pessoas, devem cair e engordar a classe D/E, aponta o estudo. “A mobilidade que houve em sete anos (de 2006 a 2012) deve ser praticamente anulada em três (de 2015 a 2017). Estamos vivendo, infelizmente, o advento da ex-nova classe C”, diz o economista Adriano Pitoli, sócio da consultoria e responsável pelo estudo.

Para projetar esse número, Pitoli considerou que, entre 2015 e 2017, a economia deve recuar 0,7% ao ano; a massa real de rendimentos, que inclui renda do trabalho, Previdência e Bolsa Família, vai cair 1,2% ao ano, e o desemprego deve dar um salto, atingindo 9,3% da população em idade de trabalhar em dezembro de 2017 – o maior nível em 13 anos. Segundo o estudo, a classe C é formada por famílias com renda mensal entre R$ 1.958 e R$ 4.720 e a classe D/E por aquelas com rendimento mensal de até R$1.957

“É a primeira queda da classe C em número de famílias desde 2003 e o primeiro ano de crescimento expressivo da classe D/E”, diz Pitoli. Só neste ano, a classe D/E vai ser ampliada em cerca de 1,5 milhão de famílias; em 1,1 milhão em 2016 e em 454 mil em 2017. “Grande parte dessas famílias está fazendo o caminho de volta, vieram da classe C”, diz Pitoli. Mas ele pondera que outra parcela é de novas famílias formadas dentro da própria classe D/E.

O economista diz que as pesquisas do IBGE, base da projeção, não permitem saber quanto é cada parcela, uma vez que a instituição não acompanha família a família. “Mas, naturalmente, a mudança de composição tem a ver com as migrações (de uma classe para outra).”

Para o economista Mauro Rochlin, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os fatores que estariam levando parte das famílias de classe C a retornar ao estrato de origem são a alta impressionante no número de desempregados, o fechamento de vagas, o salário médio real que parou de subir e o crédito mais caro e restrito. “Tudo isso conspira a favor da ideia de que estaria havendo essa migração.”

Maurício de Almeida Prado, sócio-diretor do Plano CDE, consultoria com foco na baixa renda, aponta que a faixa mais vulnerável à recessão é a baixa classe C, uma vez que 50% dela estão na informalidade. “A classe média baixa tem maior risco de voltar atrás. Ela tem pouca escolaridade, sente muito a queda da economia pelo emprego informal, quase nenhuma poupança e uma rede de contatos limitada para obter emprego.”

Na prática

Myrian Lund, professora da FGV e planejadora financeira, que orienta por meio de um site famílias que precisam reestruturar as finanças, diz que a perda de poder aquisitivo da classe C afeta tanto empregados como desempregados. No caso dos empregados, ela diz que estão muito endividados, pois pegaram empréstimo com desconto em folha (consignado). Apesar de o juro dessa linha de crédito ser menor, hoje a prestação do financiamento está pesando mais no bolso dessas famílias, já que, em meio à recessão, o salário não terá aumento acima da inflação.

Para Prado, da Plano CDE, ainda que essas famílias tenham queda de renda, elas configuram uma classe baixa diferente, pela experiência adquirida com a ascensão. “É um novo tipo de classe baixa: mais conectada, escolarizada e de certa forma até mais preparada.”

Desemprego atinge as mulheres: empresas preferem demitir trabalhadoras

Esse movimento amplia a desigualdade no mercado. Em 2012, quando a economia ainda crescia, elas respondiam por 45,5% do total de vagas. Agora, ocupam 43,2%

A crise econômica está destruindo, com mais força, o mercado de trabalho para um dos grupos que foi determinante à reeleição da presidente Dilma Rousseff: as mulheres. Neste ano, a taxa de desocupação entre elas saltou de 6%, em janeiro, para 8,7%, em setembro, segundo a Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na mesma base de comparação, o desemprego entre os homens pulou de 4,7% para 6,6%. Na avaliação de especialistas, as empresas estão preferindo demitir as mulheres por terem salários menores — as rescisões de contratos são mais baratas —, mesmo sendo elas, na maior parte dos casos, mais escolarizadas e produtivas, e por preconceito, pois muitas se ausentam por causa da maternidade.

Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), confirmam esse quadro preocupante, principalmente em estados menos desenvolvidos, nos quais a inserção da mulher no mercado de trabalho sempre foi mais difícil. Em Alagoas, enquanto as demissões das profissionais subiram 7,1% ante os 12 meses imediatamente anteriores, entre os homens, os desligamentos recuaram 9,8%. Na Paraíba, o fechamento de vagas entres as trabalhadoras foi 8,7% maior; entre eles, houve incremento de minguado 0,3%. No Piauí, os cortes entre as mulheres saltou 17,1% e, entre os homens, 3,7%. Essas discrepâncias mostram que a desigualdade no mercado de trabalho voltou a aumentar.

“A questão é: os homens estão sendo desligados com menos frequência do que as mulheres”, diz Fábio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “É uma regressão. Nos anos de bonança, mais mulheres entraram no mercado. Agora, com a recessão, são elas as que mais sofrem com o fechamento de vagas formais”, acrescenta. A tendência, ressalta Bentes, é de esse quadro se agravar à medida que a economia afunda. Em 2012, elas chegaram a responder por 45,5% dos postos de trabalho. No fim do ano passado, esse índice já estava em 43,2%.

As demissões têm sido dramáticas para muitas mulheres. Grazielle Araújo ainda não se recuperou do dia em que foi comunicada da dispensa do cargo de gerente de uma loja de cosméticos. “Faz três meses, mas continuo abalada”, afirma. Não sem razão. “Estava me planejando financeiramente para comprar um imóvel. Esse sonho teve que ser abandonado”, relata. Não foi só. Com a perda do emprego veio o fim do casamento. A falta da garantia do salário todos os meses foi determinante para a desestruturação do relacionamento.

O que mais assusta Grazielle é que, olhando para a frente, não há perspectivas de melhoras. A recessão na qual o país se atolou está destruindo ao menos 100 vagas com carteira assinada por hora. Vários amigos dela já foram vítimas do desemprego. “Há um ano, eram muitas oportunidades. Era chamada para várias entrevistas de trabalho. Hoje, até com indicações de amigos e familiares está difícil arrumar alguma coisa”, lamenta. A jovem cursa direito com a ajuda do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e teme as condições futuras para o pagamento da dívida. “Não sei se estarei empregada quando me formar. Preciso de um emprego para honrar os compromissos que virão”, afirma.

Na opinião do professor Carlos Alberto Ramos, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), a crise econômica pode estar amplificado o preconceito contra as mulheres no mercado de trabalho. “Existe uma lógica econômica que, diante da possibilidade de gravidez e da ausência por conta dos filhos, o empregador tenda a contratar um homem. Já os que dão chances às mulheres oferecem rendimentos menores, mesmo que elas sejam mais produtivas”, afirma. Nos cálculos de Fábio Bentes, da CNC, em média, os salários pagos a elas são 20,8% menores que os dos homens.

Informalidade
Pelos dados do Caged, 7,6 milhões de mulheres perderam o emprego neste ano. Como as demissões vão continuar, diz Tiago Cabral Barreira, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a tendência é de que parte delas migre para a informalidade, trabalhando por conta própria. Foi o que fez Viviane Florentino da Silva, 26 anos, que tem vendido produtos de beleza desde o desligamento de uma loja de informática, em agosto do ano passado. Quando as vendas estão boas, ela embolsa aproximadamente R$ 1,1 mil, salário que recebia como recepcionista.

Com esse valor, no entanto, Viviane só consegue bancar as necessidades básicas. Para ela, que é mãe de uma criança de apenas um ano, não será fácil retornar ao mercado de trabalho. “Acredito que antes era mais fácil conseguir um emprego porque eu não tinha filho. Agora, muitas portas se fecharam”, lamenta.

Fonte: Correioweb

Governo corta verbas de sete programas sociais

Vitrine de Dilma, ações como Farmácia Popular e Ciência sem Fronteiras sofreram cortes

O programa Farmácia Popular sofreu com cortes – Fábio Guimarães (arquivo/Agência O Globo
A crise econômica e o ajuste fiscal levaram o governo federal a fazer cortes em pelo menos sete programas sociais, alguns exibidos como bandeiras de campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Somente em dois deles (Pronatec e Aquisição de Alimentos) os gastos previstos no orçamento de 2016 caíram R$ 2,487 bilhões em relação à previsão de despesas deste ano. O governo cortou, no orçamento do próximo ano do Farmácia Popular, R$ 578 milhões para subsídios na compra de medicamentos vendidos na rede conveniada, o que permite descontos de até 90% no preço dos remédios. Dilma, que chegou a prometer que a área social seria poupada, já admitiu cortes no setor.

Há casos de programas, como o Minha Casa Melhor (de aquisição de móveis e eletrodomésticos para beneficiados pelo Minha Casa Minha Vida) que tiveram suas contratações suspensas em fevereiro deste ano. Outros já haviam sofrido cortes drásticos em 2015. O Água para Todos, por exemplo, destinado a garantir água para regiões carentes, teve uma queda de R$ 550 milhões, se comparado o orçamento de 2014 com o deste ano.

No caso do Fies, a oferta de vagas do primeiro para o segundo semestre de 2015 ano caiu 75%. Além disso, os juros cobrados subiram de 3,5% para 6,5% ao ano. Entre 2014 e 2015, o programa já sofrera uma redução de 418 mil vagas (de 731 mil para 313 mil). Já o Ciência sem Fronteiras sofre um baque no número de bolsas oferecidas para interessados em estudar no exterior. O objetivo inicial, anunciado em 2011, era distribuir 101 mil bolsas até o fim deste ano. Mas o painel de controle do próprio programa informa que a meta não será alcançada. Até o primeiro trimestre de 2016, serão 87 mil bolsas oferecidas.

A redução dos investimentos prejudica a vida de quem depende dos programas sociais, entre eles, os produtores rurais. A Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) afirma que em estados como São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, o governo não renovou contratos de fornecimento de alimentos este ano, tampouco informou aos produtores com antecedência que o programa sofreria cortes. Com isso, os alimentos que já haviam sido plantados e estão em ponto de colheita vêm sendo descartados e até mesmo jogados aos porcos.

— Foi um desastre. Era a nossa sobrevivência. A gente não sabe o que vai acontecer daqui para frente — conta Lucilei Guilhem, presidente da Associação Nossa Senhora Das Graças e Malu, em Caiuá, interior de São Paulo.

A Confederação de Trabalhadores na Agricultura (Contag) confirma o impacto dos cortes e diz receber reclamações de atrasos de pagamento aos profissionais rurais. O governo nega a falta de pagamentos e cortes, mas confirma a redução do orçamento do programa este ano e também na previsão orçamentária de 2016. Enquanto em 2014 o orçamento do Aquisição de Alimentos era de R$ 1 bilhão, este ano a previsão de gastos já havia caído para R$ 647 milhões. Desse montante, foram gastos até setembro R$ 300 milhões. A previsão de orçamento para 2016 é de R$ 560 milhões.

— Já enviamos diversos documentos pedindo ao governo que o orçamento se recomponha. Recebemos reclamações de vários estados falando sobre a falta de pagamento aos agricultores — conta Alberto Broch, presidente da Contag.

Em Goiás, a presidente da Cooperativa Mista Agropecuária dos Produtores Rurais de Ferninópolis, Luciana Naves, conta que enviou à Conab o projeto de 2015, com o que cada agricultor continuaria a produzir, mas os contratos não foram celebrados.

— Enviamos o projeto de 2015 e a Conab aprovou. Mas, no fim de agosto, tivemos a má notícia de que a verba para atender aos projetos estava cortada. Pegaram-nos de surpresa. Não fomos orientados a não fazer o projeto e os produtores se organizaram para entregar esses produtos. São 84 famílias cadastradas pela cooperativa e a maioria tem esse valor como uma forma de sobrevivência. Nunca passamos por essa situação antes — diz.

Na pasta da Educação, os cortes atingem principalmente um dos programas mais exaltados durante a campanha presidencial, o Pronatec. O programa sofreu corte de mais da metade em seu orçamento para 2016, em comparação com o gasto previsto para 2015, que é de R$ 4 bilhões. Na lei orçamentária apresentada à Câmara pelo governo, a previsão caiu para R$1,6 bilhão no próximo ano. Do montante previsto para 2015, foram executados até setembro R$ 2,4 bilhões. O Pronatec terá este ano um milhão de vagas, um terço do oferecido em 2014.

Sobre a redução dos investimentos nos programas, o MEC afirma que tem trabalhado para viabilizar as metas do Plano Nacional de Educação e, para tanto, todos os programas e ações do ministério estão mantidos e terão continuidade no próximo ano. Porém, diante da situação fiscal pela qual passa o país, o ministério terá que fazer mais com menos.

SUSPENSÃO NO CRÉDITO

Lançado em junho de 2013, o Minha Casa Melhor, da Caixa, foi suspenso no fim de fevereiro deste ano e não há previsão de retomada das contratações. O objetivo do programa era oferecer linha de crédito para aquisição de móveis e eletrodomésticos para os beneficiários do Minha Casa Minha Vida. Dos R$ 3 bilhões destinados ao programa, aproximadamente R$ 2,92 bilhões foram utilizados. Cerca de 700 mil famílias utilizaram o cartão, segundo o banco.

Ainda na área da habitação, o governo afirma que pretende investir este ano R$ 250 milhões no programa Água para Todos. Deste montante, foram gastos R$ 204 milhões até setembro. Os investimentos estão bem abaixo do valor de 2014, quando foram gastos R$ 800 milhões no programa. Para 2016, a previsão orçamentária é de R$ 268 milhões. De acordo com o Ministério da Integração Nacional, o programa continua, e, desde 2011, já beneficiou mais de cinco milhões de pessoas com “tecnologias de abastecimento de água”.

Na área da Saúde, a navalha vai passar pelo Farmácia Popular. A doação de remédios vai continuar, mas o governo acabará com subsídios de R$ 578 milhões, que garantiam descontos nas farmácias e drogarias da rede privada com a identificação “Aqui tem farmácia popular”.

Com o fim do cofinanciamento de medicamentos, a Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa) estima que cerca de três milhões de pessoas devem deixar de ser beneficiadas. A modalidade oferece tratamento para colesterol, osteoporose, mal de Parkinson, glaucoma e rinite.

Em nota, o Ministério da Saúde disse que os medicamentos cofinanciados ofertados como parte do programa integram a Relação Nacional de Medicamentos (Rename) e, portanto, devem ser ofertados na rede pública de saúde, independente da disponibilização no Programa Farmácia Popular.

Sobre a redução nos programa sociais, o Ministério do Planejamento afirma que, em momento de cenário restritivo, escolhas precisam ser feitas. Segundo a pasta, a prioridade é pagar o que já está contratado e alterar o calendário de novas ações. O objetivo é reduzir os restos a pagar, com menos limite orçamentário e mais limite financeiro.

Fonte: O Globo

Em apenas um semestre, a taxa de desemprego nas grandes metrópoles voltou aos níveis de 2010, e analistas já preveem que ela ultrapasse os 10% no próximo ano. A piora rápida do mercado de trabalho fica mais evidente quando se observa o aumento da parcela de lares onde ninguém trabalha. Em 2012, ela correspondia a 17,4%. O número subiu para 18,6% em 2014 e já chega a 19,3% no primeiro semestre. De um ano para outro, o número de domicílios nos quais ninguém trabalha aumentou em 770 mil. No país, já são 13,1 milhões de casas em que não há renda do trabalho. As informações são do jornal O Globo.

O cruzamento de dados foi feito pelo pesquisador do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets) e diretor de Oportunidades, Pesquisa e Estudos Sociais (OPE Sociais), Samuel Franco, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. O levantamento mostrou que, no Rio, essa situação é realidade em 23,5% das casas ou em 1,44 milhão de famílias. É a terceira maior parcela entre os estados, só perdendo para Alagoas (28%) e Pernambuco (24,5%). Nesse conjunto, há desempregados, aposentados, pessoas que vivem de renda e de transferências do governo. A piora no Rio foi mais intensa do que no resto do país. Aqui, a alta do indicador foi de 9,73%, no Brasil, de 6,73% em um ano.

— O mercado de trabalho piora a cada mês, e esse aumento na proporção de domicílios sem ocupados está acontecendo mais nos lares onde o chefe tem baixa escolaridade, tanto no Rio quanto no Brasil. Poderia estar até pior no Rio se não fossem as obras para as Olimpíadas – afirmou Franco.

NO CAMINHO DO EMPOBRECIMENTO

Esse pode ser considerado um dos sinais do empobrecimento da população previsto pelos especialistas num cenário de recessão — estimada em 3% neste ano e em 1% no próximo — e da inflação, que pode chegar a 10% este ano.

— É praticamente certo que haverá empobrecimento de grande parte da população. Mas sem perder todos os ganhos de uma década. As informações são que houve aumento substancial do desemprego. Além da perda de renda dos desempregados, isso quebra o poder de barganha do trabalhador. Certamente está ocorrendo aumento da pobreza – disse Rodolfo Hoffmann, pesquisador da Esalq USP, especialista em pobreza e desigualdade.

A servente Sonia Maria de Sousa Barbosa, de 55 anos, já sente os efeitos desse cenário. Ela perdeu o emprego depois que a empresa terceirizada na qual trabalhava não conseguiu renovar o contrato com uma universidade. O salário mínimo era a única renda da casa onde Sonia e o neto, de 13 anos, moram. Na última sexta-feira, ela estava na fila para dar entrada no seguro-desemprego, mas faltavam documentos. Sem eles, não conseguiu obter renda para sustentar a família até encontrar outra vaga:

— Conto com a ajuda da minha irmã, que me dá uma cesta básica. Mas ela tem seis filhos para criar. Estou procurando uma faxina, roupa para passar. A mãe do meu neto não me passa a guarda do menino, e não posso pedir o Bolsa Família.

Ao perder o emprego, Sonia engrossou a estatística de domicílios sem ocupados no Rio. Nos lares em que o chefe da família tem ensino fundamental incompleto, como é o caso de Sonia, a proporção chega a 34,6% no estado, realidade em 707 mil lares.

Luísa Azevedo, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que o Rio tem a maior parcela de população com 60 anos ou mais entre os estados e isso ajuda a explicar a alta proporção de lares sem ocupados. O aumento do indicador em um ano, porém, reflete, segundo ela, a crise na Petrobras, que cortou vagas em petróleo, construção civil e indústria naval:

— Em janeiro, o Rio respondeu por metade das vagas cortadas no Brasil. De 80 mil vagas extintas, 40 mil foram no Rio. Depois disso, o Rio tem acompanhado o (ritmo de fechamento de vagas do) Brasil, inclusive com aumento menor do desemprego.

Luísa acredita que a falta de esperança de encontrar um emprego, que os especialistas chamam de desalento, também explica o resultado, já que houve queda na taxa de participação (parcela de empregados e desempregados entre os que estão em idade de trabalhar):

— Enquanto essa taxa ficou estável no Brasil, caiu no Rio. E a piora parece estar mais concentrada nos domicílios com a escolaridade menor.

A renda de Luciana Félix da Silva caiu pela metade há dois meses. Ela perdeu o emprego de camareira, onde estava há nove meses. Mora com o marido, que é contínuo, e com a enteada, de 16 anos. Está endividada no cartão de parentes, e os planos de continuar a mobiliar a casa doada pela sogra foram abandonados. Os cortes feitos para conter os gastos públicos do governo atingiram diretamente Luciana. Ela precisava ter ficado um ano no emprego para ter direito ao seguro-desemprego. No sistema da Secretaria Estadual de Trabalho não apareceu uma vaga em que ela se encaixasse:

— Estou escolhendo que conta posso pagar.

O carpinteiro Adailson Aires dos Santos, casado e com um filho de 3 anos, espera encontrar emprego quando voltar do Maranhão. A parte da obra do estádio Engenhão onde trabalhava acabou:

— Tenho fé em Deus que quando voltar em dezembro conseguirei vaga nas obras do BRT.

Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria, avalia que a piora no mercado de trabalho afeta até a sazonalidade. Ele estima que a taxa média de desemprego de 2015 nas seis principais regiões metropolitanas fique em 7%, mas chegue a 8% em dezembro, mês em que tradicionalmente a procura por trabalho é menor:

— Em 2014, a taxa média foi de 4,8%. Voltamos aos números de 2010 em um semestre. Houve a volta das pessoas inativas ao mercado com a queda da renda, e a recessão tem se intensificado.

Quase um milhão de vagas formais foi extinta no país nos últimos 12 meses. A saída do emprego formal é um dos fatores que deixam a família com mais chance de entrar na pobreza. Dissertação de mestrado, premiada pelo BNDES, da economista Solange Ledi Gonçalves listou o que torna as famílias mais vulneráveis à pobreza.

— Formalidade é uma questão importante para garantir menor vulnerabilidade. O trabalho informal tem uma insegurança maior, a renda varia bastante, o que pode fazer a família entrar e sair da pobreza. Quando se está no setor informal, perde-se benefícios que compõem a renda da família como vale-alimentação e seguro-saúde.

Diante do desemprego, a família é obrigada a fazer escolhas que têm impacto no médio prazo, como cortar gastos com educação, diz Solange. Sem carteira assinada, fica mais difícil obter crédito, que funciona como tábua de salvação. Os lares chefiados por mulheres e pessoas com baixa escolaridade também correm risco de entrar na pobreza:

— Nas famílias chefiadas por mulher, majoritariamente não há cônjuge. Nas famílias formadas por pessoas sem instrução, 25% são vulneráveis. Nas que têm 15 anos de estudos, somente 1%. O Bolsa Família pode amenizar a pobreza, mas a renda do trabalho é muito importante — disse Solange.

O benefício social não sofre reajuste desde junho de 2014. A inflação acumulada ultrapassa 10%.

— A experiência passada mostra que a inflação elevada é particularmente prejudicial para os pobres, que, de maneira geral, têm menos condições de se proteger da elevação de preços. A inflação elevada também contribui para o aumento da pobreza — disse Hoffmann.

Fonte: O Globo

Governo já cortou quase 800 mil famílias do Bolsa-Família

Junto com os sem-casa e os sem-Pronatec, excluídos do principal programa social do governo formam um novo contingente de desvalidos: o daqueles de quem o Estado, silenciosamente, começou a tirar o que deu

Os novos retirantes – Desde maio, o agricultor Osmar de Oliveira não recebe mais os 309 reais a que tinha direito pelo Bolsa Família. A moto estacionada na frente da casa, ou o fato de sua mãe, que mora no mesmo terreno, receber aposentadoria do INSS, pode ter sido o motivo da suspensão do pagamento, desconfia ele. Agora, sem dinheiro para a carne e a gasolina, Oliveira estuda seguir a trilha que conterrâneos percorreram décadas atrás e deixar a mulher, Jailma, e os filhos, Beatriz e Ismael, para buscar emprego em São Paulo

Os novos retirantes – Desde maio, o agricultor Osmar de Oliveira não recebe mais os 309 reais a que tinha direito pelo Bolsa Família. A moto estacionada na frente da casa, ou o fato de sua mãe, que mora no mesmo terreno, receber aposentadoria do INSS, pode ter sido o motivo da suspensão do pagamento, desconfia ele. Agora, sem dinheiro para a carne e a gasolina, Oliveira estuda seguir a trilha que conterrâneos percorreram décadas atrás e deixar a mulher, Jailma, e os filhos, Beatriz e Ismael, para buscar emprego em São Paulo(Leo Caldas/VEJA)

Primeiro, chega a “cartinha”. Com carimbo do Ministério do Desenvolvimento Social, ela pede ao beneficiário do Bolsa Família que se apresente na prefeitura da cidade para agendar a visita de um assistente social à sua casa. A partir desse momento, o dinheiro do programa já para de entrar na conta da família. Semanas depois, o assistente social toca a campainha. Prancheta, caneta e almofadinha de carimbo na mão (para os casos em que o beneficiado não sabe escrever), ele faz perguntas sobre cada morador da casa: quem estuda, quem trabalha, quanto ganha. Caso note a presença de uma moto, de uma TV de LED ou de qualquer elemento que destoe do cenário de pobreza obrigatório, indaga quando a família adquiriu o bem e com que recursos. Encerrada a entrevista, pede ao beneficiário que assine o formulário preenchido e encaminha o papel à prefeitura. Feito isso, o resultado é quase sempre o mesmo: adeus, Bolsa Família. Poucos dos que recebem a visita do assistente social conseguem manter o benefício.

Sem anúncio nem alarde, o governo federal começou a passar a tesoura nos programas sociais. O Bolsa Família, carro-chefe da administração petista, sofreu neste ano o mais profundo corte desde que foi criado, há onze anos. Apenas no primeiro semestre de 2015, 782.313 famílias deixaram de receber o benefício.

Para diminuir os custos do programa sem admitir sua redução, o governo passou a promover um pente-fino silencioso entre os cadastrados. Desde maio, vem cruzando seus dados com informações do INSS e do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), por exemplo. O objetivo é identificar quem possui bens incompatíveis com o teto de renda permitido aos participantes do programa (até 154 reais por membro da família, o que torna difícil a compra de um carro, por exemplo) ou está acumulando benefícios indevidamente. Os que já recebem a aposentadoria rural de um salário mínimo não podem ganhar Bolsa Família. Também estão impedidos de integrar o programa pescadores que recebem o seguro-defeso – pago durante o período de procriação dos peixes. Esse veto surgiu de uma portaria criada pelo governo federal em março deste ano. Desde então, em cidades do Nordeste que vivem da pesca, como Saubara, na Bahia, a queda no número de beneficiários do Bolsa Família foi de quase 70%.

Na crise, brasileiro corta salgadinho e compra menos cerveja

Com a alta da inflação, consumidores economizam em produtos considerados menos relevantes para gastar em luxos alcançados nos últimos anos

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112Com menos poder de compra, consumidor troca carne bovina por frango ou porco (Foto: Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

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A aposentada Maria da Conceição trocou o contrafilé por carne moída e peito de frango. “E ainda misturo com bastante arroz para render mais”. A desempregada Lilian Silva de Oliveira aderiu às marcas próprias dos supermercados, geralmente mais em conta. “E compro tudo em menor quantidade”. A analista administrativa Tatiana Medeiros substituiu o cream cheese pelo requeijão, mas manteve o achocolatado da melhor qualidade. O comerciante Dailson Pereira de Sousa só pega o que estiver em promoção, mas não abre mão do refrigerante mais caro. A empregada doméstica Alcione América de Souza preferia melancia e manga, mas passou a se contentar com banana e maçã – estas, mais baratas.

Personagens

Aposentada Maria Rosa e a servidora pública Ivete Santos(VEJA.com/VEJA)

Com a inflação beirando os 10% no ano, o comportamento dos brasileiros no supermercado mudou. A mesa está menos farta, a variedade de produtos é menor, mas, ao economizar comprando menos quantidade e menos itens, sobra um trocado para levar ao menos um “luxo”, como que em um afago à memória dos tempos de bonança – ou, ao menos, para se sentir menos pobre. Essas são algumas das conclusões da pesquisa feita pela Dunnhumby, consultoria de mercado com sede em Londres, obtido com exclusividade pelo site de VEJA. “A crise força os clientes a tomar decisões mais fortes e conscientes”, diz Adriano Araújo, diretor geral da Dunnhumby no Brasil, onde a empresa tem como clientes empresas como Pão de Açúcar, Coca-Cola, Drogasil e Unilever. “Assim, ele escolhe categorias que realmente fazem a diferença para ele. Nas categorias menos importantes, ele vai para o mais barato.”

Os salgadinhos são os primeiros a serem riscados da lista: 30% dos entrevistados disseram que não os compram mais. Em relação aos produtos de limpeza, os mais baratos agora são os mais procurados – 38% dos consumidores ouvidos afirmaram ter optado por marcas mais econômicas. Já com bebidas alcóolicas (cerveja, vodca e vinho), a qualidade é o que mais importa – 42% afirmaram ter mantido a marca, mas reduzido a quantidade. Obviamente, os alimentos básicos (arroz, feijão e açúcar) continuam a vender a todo vapor – 54% disseram ter conservado o mesmo padrão de consumo de antes da crise.

Sim, a crise força compras menores e de versões mais baratas de produtos essenciais. Mas, no Brasil pós-ascensão da classe C, agora a carestia dá chance a um mínimo de autoindulgência. “Os dois extremos – o dos produtos mais baratos e o dos mais caros – são os menos afetados. A faixa intermediária é a que se dá pior”, afirma Araújo. A Dunnhumby ouviu 700 consumidores das classes A, B e C entre os dias 25 e 28 de agosto deste ano.

Segundo a pesquisa, 80% dos entrevistados declararam economizar em determinados produtos para manter o luxo em outros. É o caso da empregada doméstica Alcione Souza, de 26 anos. Mãe de uma menina de 4 anos, ela diz que cortou tudo o que podia. “Mas com criança não dá para cortar leite, biscoito e ‘Danone’. Por isso, economizo no material de limpeza. Nem sei mais o nome do sabão em pó que compro”, diz. O mesmo raciocínio, embora com outros itens, fez a funcionária pública Ivete Santos, de 46 anos. Ela diz ter eliminado de sua lista de compras o que chama de “besteirinhas” – salgadinho e biscoito -, mas na sua geladeira não podem faltar os iogurtes funcionais. “Para mim, eles são saúde”.

“O necessário, somente o necessário. O extraordinário é demais”, cantarola a professora Maria Rosa, de 83 anos, ao ser perguntada sobre o que continua comprando com o orçamento mais apertado. “Antes eu comia mais fruta do que arroz e feijão. Agora, é o contrário”, conta. Ainda assim, ela não eliminou alguns luxos, como tomar uma taça de vinho à noite no jantar. Em vez das caras frutas, arroz e feijão – e vinho.

As principais vítimas da alta dos preços são os mais pobres. Nos cálculos da Associação Paulista de Supermercados (Apas), enquanto as classes A e B gastam, em média, 22% da sua renda com o abastecimento de produtos básicos, as classe C, D e E consomem 40% da renda. “O brasileiro tentar manter o seu padrão de consumo. O país teve uma evolução muito rápida nos últimos anos. E essas pessoas que nunca tiveram acesso a certos produtos não querem mais perdê-lo”, diz Rodrigo Mariano, economista da entidade.

Gráfico sobre hábitos de consumo durante a crise

(VEJA.com/VEJA)

De acordo com a Dunnhumby, mais da metade dos brasileiros (66%) passaram a visitar mais supermercados em busca do melhor preço. A vendedora Maria das Graças Silva Lima, de 61 anos, leva a prática bastante a sério. Ela diz saber de cor os dias de oferta dos mercados da região onde mora, na Santa Cecília, no centro de São Paulo – “na quarta-feira, é no Extra e no Futurama. Na quinta, é no Dia” -, e os melhores locais para comprar determinados produtos – “verdura é mais barato no Todo Dia, produtos de limpeza no Dia, e no Extra às vezes tem umas boas promoções”. Ao final de cada compra, Maria pega a nota fiscal e olha item por item. Se pagou algum centavo a mais, volta rapidamente ao caixa. “Na semana passada, me devolveram 9 reais porque o preço que caiu na tela não era o mesmo da estante”, diz, orgulhosa. No último dia 9, ela ficou com vontade de comprar uma melancia. “Mas por sete reais eu não levava”, contou. E deu um jeito: achou uma mulher que topou dividir a fruta com ela. Cada uma ficou com uma parte por 3,50 reais.

Veio para ficar – Dos números, os especialistas tiram a seguinte lição: com a crise, os brasileiros estão ficando cada vez mais parecidos com os consumidores de países desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa. O nível de exigência aumentou e eles não se contentam mais em escolher entre apenas dois tipos de mercadoria na prateleira. “Ele passa a demandar mais diversidade e um mix maior na cesta. Então, o supermercado não pode mais ter só uma marca de molho, mas no mínimo sete”, diz Mariano.

Para Ricardo Alvarenga, especialista em tendências de mercado da consultoria Nielsen, este é um ótimo momento para as marcas desafiantes – as que não são líderes dos segmentos – ganharem espaço no mercado. “Na crise, as pessoas ficam mais abertas para experimentar, conhecer novos produtos. E, se gostarem, é possível que continuem com ele quando a situação melhorar. As mudanças vêm para ficar”, afirma. Em contrapartida, argumenta o especialista, as marcas mais consolidadas têm mais capacidade para inovar e formular estratégias mais certeiras para atrair os clientes. Segundo estudo da Nielsen, elaborado entre fevereiro e abril deste ano, 29% das 127 marcas líderes perderam volume de vendas em comparação com o mesmo período do ano passado.

Essa procura pelo menor preço alavanca a venda de produtos de marca própria. É o caso do carro chefe do Grupo Pão de Açúcar, a Qualitá. Segundo o gerente de marcas exclusivas do grupo, Rafael Berardi, o volume de vendas da marca cresceu 10% neste ano em meio ao fraco desempenho do varejo. Berardi também ressalta que só as marcas próprias já respondem por 11% da comercialização de todos os produtos da rede – em 2010, esse porcentual estava em torno de 6%. Lilian de Oliveira, de 26 anos, é um bom exemplo desse fenômeno. “Eu vou no Dia porque gosto das marcas de lá. É mais barato”, diz “Mas na crise até elas estão ficando mais caras.”

Para não perder o controle das suas finanças, Lilian passou a racionalizar os gastos. “Eu ainda compro tudo o que comprava antes, mas em menos quantidade. Se pegava quatro, agora só pego dois”, diz. Ela também entra em outra estatística, que só vem crescendo com a crise econômica, a do desemprego – há dois meses foi demitida do restaurante onde trabalhava, que fechou as portas por falta de movimento. “Só espero para ver quando vai acabar essa carestia. Coitados de nós, brasileiros: sem trabalho e com tudo aumentando”. A aposentada Maria Francisca da Silva, de 63 anos, resume bem a situação: “O que antes eu comprava com 100, agora dá 300 reais. Se continuar assim, a coisa vai ficar preta”.

Fonte: Veja

Fazenda vai propor a Dilma vetar qualquer aumento para funcionalismo público

Ministério também vai insistir na recriação da CMPF


O ministro da Fazenda, Joaquim Levy – Marcelo Carnaval / Agência O Globo

 

O Ministério da Fazenda preparou uma lista com dez itens que serão levados à presidente Dilma Rousseff propondo novas ações para ampliar a arrecadação do governo e reduzir os gastos. Entre as medidas que foram definidas pelos técnicos da Fazenda em reunião que terminou na noite de ontem estão insistir na recriação da CMPF, o chamado imposto do cheque, e não conceder aumento nenhum aos servidores públicos federais em 2016.

A proposta de recriar a CMPF já foi duramente criticada por integrantes da base do governo e pode ser uma medida com dificuldade para aprovação no Congresso. Já a ideia do “aumento zero” para o funcionalismo surgiu na Comissão Mista de Orçamento. O relator da comissão, deputado Ricardo Barros (PP-RS), passou a defender a proposta diante do rombo nas contas do governo no orçamento do ano que vém.

Também estão na lista de ações preparadas pela equipe econômica alteração na cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mudanças no imposto de renda de pessoa jurídica, na contribuição sobre a folha e ainda no recolhimento do FGTS.

Essas medidas fazem parte do arrocho nas contas que a Fazenda defende para tentar reequilibrar as contas do governo. Já o Ministério do Planejamento prepara cortes no orçamento dos demais ministérios e a redução de ser iniciada nos gastos com empresas terceirizadas.

Fonte: O Globo

A economia brasileira, medida pelo PIB (Produto Interno Bruto), encolheu 0,6% no 2º trimestre em relação aos três meses anteriores. Além disso, os resultados do 1º trimestre de 2014 foram revisados de alta de 0,2% para queda de 0,2%.

Com dois trimestres seguidos de resultado negativo, considera-se tecnicamente que o país está em recessão. Isso não acontecia desde a crise financeira global de 2008 e 2009.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em valores correntes, o PIB do 2º trimestre alcançou R$ 1,27 trilhão.

Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi ainda maior: de 0,9%.

No acumulado do 1º semestre, houve crescimento de 0,5% em relação a igual período de 2013.

O PIB acumulado nos quatro trimestres terminados em junho de 2014 teve crescimento de 1,4% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores.

Após a divulgação do resultado do 1º trimestre, no final de maio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tinha dito que a Copa do Mundo ajudaria a impulsionar os setores de comércio e serviços, e que o resultado do PIB no 2º trimestre provavelmente seria melhor

Agropecuária cresceu 0,2%; indústria e serviços encolheram

A agropecuária foi o único setor que cresceu no 2º trimestre em relação ao trimestre anterior, com leve alta de 0,2%.

A indústria encolheu 1,5%. Dentro dos subsetores, apenas a extrativa mineral registrou expansão: 3,2%. A indústria de transformação encolheu 2,4%, a de construção civil recuou 2,9%, e a de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana caiu 1%.

Os serviços encolheram 0,5%, puxados pelo desempenho negativo do comércio, que recuou 2,2%.

Na comparação com o segundo trimestre de 2013, a agropecuária permaneceu estável, a indústria encolheu 3,4% e os serviços cresceram 0,2%.

No acumulado do 1º semestre em relação a igual período de 2013, a agropecuária cresceu 1,2% e os serviços, 1,1%. A Indústria, por sua vez, encolheu 1,4%.

Previsões para o PIB têm sido cortadas

O governo federal cortou sua projeção de crescimento econômico de 2,5% para 1,8%, segundo relatório bimestral de Receitas e Despesas divulgado pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento em julho. Ainda assim, a previsão está otimista em relação às demais.

O Banco Central diminuiu sua previsão para o PIB neste ano de 2% para 1,6%, de acordo com o relatório trimestral de inflação divulgado em junho.

Já o FMI (Fundo Monetário Internacional) cortou sua previsão pela quinta vez seguida, em julho, e agora estima um crescimento de 1,3% do Brasil neste ano.

Os economistas das principais instituições financeiras, por sua vez, falam em PIB de 0,7% em 2014. A informação aparece no Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira (25). Foi a 13ª semana seguida em que a previsão foi cortada.

Dado do BC apontou queda de 1,2% no acumulado do trimestre

A estimativa do Banco Central, mostrada por meio do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), era de recuo de 1,2% em relação ao 1º trimestre.

O índice é elaborado mensalmente pelo BC e é considerado pelo mercado uma prévia do PIB, embora o Banco Central oficialmente não reconheça que seja uma previsão do PIB.

Mesmo assim, o indicador do BC é visto pelo mercado como uma antecipação do resultado do PIB, e serve de base para investidores e empresas adotarem medidas de curto prazo. Porém, não necessariamente reflete o resultado anual do PIB e, em algumas vezes, distancia-se bastante.

Em entrevista, um diretor do BC justificou a diferença, dizendo que o IBC-Br não tem a pretensão de medir o PIB, apesar de o mercado o usar como um balizamento.

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É de se esperar que economias conhecidas como “emergentes” cresçam em um ritmo mais rápido que os mercados maduros. Mais ainda se os tais mercados maduros estão em crise.

Mas não é isso que está acontecendo neste ano. O PIB (produto interno bruto) do Brasil no segundo trimestre foi 0,6% menor do que no primeiro e 0,9% menor do que no segundo trimestre do ano passado, como informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os resultados foram piores que o da maior parte dos países ricos que estão em crise.

Na comparação com o primeiro trimestre, a retração de 0,6% foi mais intensa do que a de qualquer dos países da zona do euro que já divulgaram seus números. Na Alemanha e na Itália, a queda foi de 0,2%. Na França, o PIB ficou estagnado.

A Grécia, que sofre para se recuperar de uma crise, não divulgou os dados do segundo trimestre em comparação com o primeiro. Informou, apenas, a variação em relação ao segundo trimestre do ano passado: uma queda de 0,2% – mais branda, portanto, que a do PIB brasileiro, de 0,9% no mesmo tipo de comparação.

Entre as grandes economias, o Japão foi a única que apresentou uma retração maior que a do Brasil, quando se compara o segundo trimestre com o primeiro. A economia japonesa encolheu 1,7% no período.

Na comparação entre o segundo trimestre deste ano e o período equivalente do ano passado, o PIB do Brasil encolheu mais do que o de qualquer grande economia, entre as que já divulgaram seus resultados, como aponta o gráfico abaixo.

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Entrevista

O professor de economia Otto Nogami, do Insper, concedeu ao blog a entrevista abaixo, a respeito do assunto.

O que a variação do PIB do Brasil significa em comparação com a de outros países?

É um resultado péssimo. Se compararmos com o contexto das principais economias mundiais, incluindo os emergentes e América Latina, a nossa performance é a pior [entre os países que já divulgaram os dados], excetuando-se o Japão, que está em uma crise que já dura 20 anos.

Esses números reforçam uma característica da maneira como o governo vem conduzindo a politica econômica nos últimos quatro anos. O governo age de maneira muito pontual, sem ações de médio e longo prazo que possam dar sustentação a um processo de crescimento.

Que ações poderiam levar ao crescimento de longo prazo?

Reduzir gastos públicos para diminuir a necessidade de financiamento do deficit e, consequentemente, ter mais recursos para o setor privado investir.

PIB do Brasil fica em 33º lugar em ranking de 35 países

Crescimento do país só não foi pior que o da Ucrânia e Rússia, segundo lista elaborada pela agência de classificação de risco Austin Ratings

Austin Rating prevê queda de 2,1% para o PIB de 2015 e retração de 0,3% em 2016(Jefferson Bernardes/VEJA)
Taxa de crescimento do PIB no 2º semestre de 2015

(VEJA.com/VEJA)

Com a queda de 1,9% da economia brasileira no segundo trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior, e de 2,6% na comparação com mesmo período do ano passado, o Brasil ficou com a 33ª colocação em um ranking que leva em consideração a taxa de crescimento de 35 países.

De todas as nações analisadas pela agência de classificação Austin Rating – que contempla os países que publicaram seu resultado até o momento – só três não tiveram resultado positivo: Brasil, Rússia e Ucrânia. O país superou somente as duas outras economias, que amargaram retração de 4,6% e 14,7%, respectivamente, na comparação anual. A China lidera o levantamento, com um crescimento de 7%, seguida por Filipinas (5,6%) e Malásia (4,9%).

A estimativa da Austin Rating é de queda de 2,1% para o PIB brasileiro de 2015 e de recuo também em 2016, de 0,3%. “Se confirmado nossa estimativa de retração do PIB brasileiro no biênio 2015-2016 será o pior desempenho econômico do Brasil em 85 anos Ou seja, a última vez que o Brasil anotou queda do PIB por dois anos consecutivos foi em 1930 (-2,1%) e 1931 (-3,3%) refletindo, em parte, o crash da bolsa de Nova York em 1929 e o ambiente político nacional conturbado com o fim da oligarquia paulista devido a revolução de 1930″, destaca a Austin. A agência tomou como base a série histórica do Ipea, que compila dados anteriores à série do IBGE, que começa em 1948.

Fonte: Uol e Veja

Contas públicas registram rombo de R$ 10 bilhões em julho, pior desempenho desde 2001

Além da União, estados, municípios e empresas estatais também tiveram déficit


Notas de real – Andrew Harrer / Bloomberg News

O resultado fiscal é um reflexo da crise econômica que vive o país. Como as empresas produzem menos e o consumo caiu, os entes públicos deixam de arrecadar. Além disso, os gastos pressionam o orçamento e é difícil economizar para pagar juros da dívida pública, que não param de subir porque o próprio governo teve de aumentar a taxa básica para conter a inflação.

— O resultado está fortemente impactado pelo desempenho da economia neste ano. É o resultado de uma economia fraca e em recessão. Todos viram o resultado do PIB divulgado nesta manhã (queda de 1,8% da economia no 2o trimestre). Uma economia com o desempenho menor, se traduz em menor desempenho fiscal — frisou o chefe-adjunto do departamento econômico do BC, Fernando Rocha.

Somente no mês passado, os juros que o governo deveria ter pago chegaram a nada menos que R$ 62,8 bilhões. De janeiro a julho, o peso dessa carga é muito maior: R$ 288,6 bilhões. Além de ser um recorde, está perto do que deveria ser pago em todo o ano passado: R$ 311,5 bilhões.

— O resultado está impactado pelos gastos com swap cambial. Em julho, o gasto chegou a R$ 23,9 bilhões — informou Rocha

As despesas com os chamados contratos de swaps cambiais – instrumentos de intervenção que funciona como venda de moeda americana no mercado futuro – aumentaram desde quando o BC retomou a política de irrigação do mercado, apelidada de “ração diária”. Desde 2002, o BC tem colocado contratos desse tipo no mercado para oferecer “hedge” (ou seja, proteção) para a oscilação da moeda americana.

Ontem, o BC apresentou o balanço do semestre que mostrava perdas de R$ 37 bilhões. No entanto, ela é feita com outra metodologia contábil. Pelo critério de competência, os gastos somam R$ 66,7 bilhões. Pelo critério caixa, a despesa é de R$ 57 bilhões.

De janeiro a julho, o peso dessa carga é muito maior: R$ 288,6 bilhões. Além de ser um recorde, está perto do que deveria ser pago em todo o ano passado: R$ 311,5 bilhões.

Como em 2014, o setor público não tem a menor condição de arcar com essa fatura agora. Ou seja, essa conta vai aumentar o endividamento. Nos sete primeiros meses, as contas públicas têm superávit primário de R$ 6,2 bilhões. A meta é economizar 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB).

Nos últimos 12 meses, entretanto, há um déficit primário por causa dos constantes rombos do ano passado de nada menos que 51 bilhões. Ou seja, o Brasil não conseguiu pagar nenhum centavo dos R$ 451,8 bilhões em juros que deveriam ser pagos nesse período. É uma carga de juros de 7,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Assim, o chamado déficit nominal (que teoricamente deveria ser o valor dos juros menos o esforço fiscal feito pelo governo) somou dois prejuízos: a carga de juros e o déficit primário. Por isso, chegou a R$ 505,8 bilhões. Isso representa nada menos que 8,81% do PIB: nunca o país teve um rombo desse tamanho, segundo o Banco Central.

Fonte: O Globo

Mais de 40% dos trabalhadores brasileiros trocam de emprego pelo menos uma vez por ano. Essa alta rotatividade tem aumentado os pedidos de seguro-desemprego. Mas essa não é única explicação. Muita gente acaba caindo na informalidade para burlar a lei e pegar o seguro-desemprego.

Existe hoje uma distorção. Com as regras atuais, em algumas situações pode ser até vantajoso sair do emprego formal e trabalhar sem carteira assinada por um período. O problema é que os gastos com o seguro-desemprego são pagos pelo contribuinte.

A Andréia está sem emprego, mas não reclama. “Tem oferta. Quando você tem experiência na área, fica mais fácil”, diz Andréia.

Já Edmilson, quer o seguro-desemprego. “Enquanto não arranja outro, a gente recorre a alguma coisa, para que a gente possa equilibrar as nossas contas”, afirma Edmilson Ribeiro, encarregado de obra.

Apesar da queda expressiva do desemprego no país, os postos de atendimento ao trabalhador continuam recebendo um grande número de pessoas em busca do seguro-desemprego. Os números mostram essa contradição. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego tem caído nos últimos 10 anos. Entre 2003 e 2013, passou de 12,4% para 5,4%.

Ao mesmo tempo, aumentou muito a procura pelo seguro-desemprego, principalmente nos últimos anos. Até 2005, ficava por volta de cinco milhões de pessoas por ano. Mas de lá pra cá, esse número tem subido constantemente. No ano passado, chegou a 8,5 milhões de pessoas. E pode passar de nove milhões este ano.

Além disso, segundo o governo, mais de 40% dos trabalhadores brasileiros trocam de emprego pelo menos uma vez por ano. Uma alta rotatividade. “Esse número, em princípio, parece um número elevado. E o ministério está justamente tentando ver se há como diminuir o patamar dessa rotatividade de mão-de-obra, inclusive com uma melhor qualificação profissional do trabalhador”, diz Rodolfo Torelly, diretor do departamento de emprego/MTE.

Camila está sempre em busca de um emprego melhor. “Trabalhava em uma outra empresa, aí eu saí e agora eu estou buscando um outro. Uma coisa melhor, um salário melhor”, afirma Camila Silva, estudante.

O governo diz que o aumento dos gastos com seguro-desemprego se deve, em parte, ao fato de que hoje há mais trabalhadores com carteira assinada e, portanto, mais gente tem direito ao seguro-desemprego. O especialista José Márcio Camargo diz que essa é apenas uma das explicações e mostra que há um estímulo a essa alta rotatividade no mercado de trabalho.

Para quem ganha até dois salários mínimos compensa trabalhar sete meses, porque o dinheiro que o trabalhador ganha com a demissão com todos os benefícios equivale a um ano de trabalho.

“O trabalhador ainda pode tentar trabalhar sem carteira assinada, enquanto está recebendo o seguro-desemprego. Isso significa que ao longo de três meses que ele está recebendo o seguro desemprego, ele tem dois salários. Tem que mudar a legislação. O acesso ao seguro-desemprego tinha que ser mais restrito”, afirma José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ.

Michelli, que é formada em administração e mudou há pouco tempo para Brasília, pediu o seguro-desemprego. Mas, quer voltar a trabalhar o mais rápido possível. “Eu requeri o seguro para esse tempo, até eu achar um emprego bacana para mim”, diz Michelli Kotoski, administradora.

Segundo o governo, o trabalhador é o grande prejudicado nessa manobra de não assinar carteira para continuar recebendo o seguro-desemprego. O tempo de trabalho não conta para a aposentadoria. E no fim da vida profissional, quando já está cansado, ele será obrigado a trabalhar em média, mais cinco meses para completar o prazo mínimo para se aposent

A balança comercial brasileira registrou um déficit (importações maiores do que vendas externas) de US$ 6,07 bilhões no primeiro trimestre deste ano, informou  o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Em igual período do ano passado, o saldo ficou deficitário em US$ 5,15 bilhões, de acordo com números oficiais. Segundo a série histórica do Ministério do Desenvolvimento, o déficit registrado nos três primeiros meses deste ano é o maior, para este período, desde o início da sua série histórica, em 1994. Até o momento, o pior resultado para o primeiro trimestre havia sido registrado em 2013.

No acumulado deste ano, as exportações somaram US$ 44,58 bilhões, com média diária de US$ 812 milhões, uma queda de 4,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. As importações, por sua vez, totalizaram US$ 55,66 bilhões, o equivalente a US$ 912 milhões em média por dia útil, com recuo de 2,2% sobre o mesmo período de 2013.

De acordo com dados do governo, as vendas ao exterior de produtos semimanufaturados recuaram 11,4% no trimestre, enquanto que as exportações de manufaturados caíram 9,5%. Já as vendas de produtos básicos subiram 2% nos três primeiros meses deste ano. Do lado das importações, houve queda nas aquisições de combustíveis e lubrificantes (-12%), de bens de capital (-2,7%) e de matérias-primas e intermediários (-0,2%), enquanto cresceram as compras de bens de consumo (+3,9%).

Pior março desde 2001
Somente no mês de março, ainda de acordo com informações do governo, a balança comercial registrou um superávit (exportações menos importações) de US$ 112 milhões. Trata-se do pior resultado, para meses de março, desde 2001 – quando foi registrado um déficit comercial de US$ 276 milhões. Em março de 2013, houve um saldo positivo de US$ 161 milhões.

No mês passado, as exportações recuaram 4%, contra o março de 2013, para US$ 17,62 bilhões. Ao mesmo tempo, as compras do exterior somaram US$ 17,51 bilhões, e registraram queda de 3,8% sobre o mesmo mês do ano passado.

Resultado de 2013
Em 2013, a balança comercial brasileira registrou superávit (exportações menos importações) de US$ 2,56 bilhões, o pior resultado para um ano fechado desde 2000 – quando houve déficit de US$ 731 milhões.

De acordo com o governo, a piora do resultado comercial do ano passado aconteceu, principalmente, por conta do serviço de manutenção de plataformas de petróleo no Brasil, que resultou na queda da produção ao longo de 2013, e pelo aumento da importação de combustíveis para atender à demanda da economia brasileira.

Os dados oficiais mostram, porém, que o saldo comercial do ano passado só foi positivo por conta da “exportação” de plataformas de petróleo que, na realidade, nunca deixaram o Brasil. Essas operações somaram US$ 7,73 bilhões em 2013.

As plataformas foram compradas de fornecedores brasileiros por subsidiárias (empresas que têm o capital de outras) no exterior de companhias como a Petrobras e, depois, “internalizadas” no país como se estivessem sendo “alugadas”, mesmo sem saírem fisicamente do Brasil. Com isso, as empresas do setor recolhem menos tributos.

Expectativa para este ano
A expectativa do mercado financeiro para este ano, segundo pesquisa realizada pelo Banco Central com mais de 100 instituições financeiras, é de pequena melhora do saldo comercial. A previsão dos analistas dos bancos é de um superávit de US$ 4,25 bilhões nas transações comerciais do país com o exterior.

O BC, por sua vez, baixou na semana passada sua previsão para o superávit da balança comercial deste ano. Antes, a autoridade monetária projetava um saldo positivo de US$ 10 bilhões para 2014 – valo

Contas externas têm maior déficit da série histórica no 1º trimestre

No primeiro trimestre de 2014, resultado negativo somou US$ 25,18 bilhões.
Em 12 meses até março, déficit em conta corrente foi de 3,64% do PIB.

O déficit em transações correntes, um dos principais indicadores das contas externas brasileiras (resultado da balança comercial, balança de serviços e transferências unilaterais, como remessas de lucros e doações), somou US$ 25,18 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o maior valor nominal da série histórica, que tem início em 1947.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, o resultado está relacionado com uma “reação mais lenta da balança comercial”. “Foi um resultado abaixo do que se esperava, grande parte em função dos preços de produtos importantes na nossa pauta. Estão em patamar relativamente baixo, em especial produtos agrícolas”, declarou ele.

Na proporção com o Produto Interno Bruto (PIB), o resultado negativo somou 4,71% nos três primeiros meses de 2014. Trata-se, do pior resultado para o primeiro trimestre de um ano, desde 1983 – ou seja, em mais de 30 anos.

Nos três primeiros meses do ano passado, ainda segundo informações da autoridade monetária, o resultado negativo havia somado US$ 24,76 bilhões – o equivalente a 2,98% do Produto Interno Bruto.

Resultado em doze meses
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central avaliou que, na proporção com o PIB, o resultado mais importante é o acumulado em doze meses – que somou US$ 81,5 bilhões, ou 3,64% do PIB – até março.

“O PIB tem sazonalidade acentuada. A proporção em relação ao PIB mais adequada é aquela que a gente faz em doze meses, quando o efeito da sazonalidade é anulado”, declarou Tulio Maciel.

Para todo este ano, a previsão do Banco Central é de um resultado negativo de US$ 80 bilhões na conta de transações correntes – a “conta” do Brasil com o exterior, formada pela balança comercial, pelos serviços e pelas rendas, em 2014.

Componentes das contas externas
Nos três primeiros meses deste ano, ainda segundo informações do Banco Central, a balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 6,07 bilhões, contra um resultado negativo de US$ 5,15 bilhões em igual período do ano passado.

A conta de serviços, por sua vez, que engloba os gastos de brasileiros no exterior, registrou um déficit de US$ 10,43 bilhões no primeiro trimestre de 2014, contra um resultado negativo também de US$ 10,4 bilhões no mesmo período do ano passado.

Já as rendas registraram um déficit de US$ 9,1 bilhões no acumulado deste ano, contra um valor negativo de US$ 10 bilhões no mesmo período de 2013.

Investimentos estrangeiros
O BC informou que os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 14,17 bilhões no primeiro trimestre deste ano, contra US$ 13,25 bilhões nos três primeiros meses de 2013. A previsão da autoridade monetária, para todo este ano, é de um ingresso de US$ 63 bilhões em investimentos estrangeiros no país.

Com isso, o resultado negativo da conta corrente, nos três primeiros meses deste ano, não foi, novamente, “financiado” em sua totalidade pela entrada de investimentos produtivos na economia brasileira – algo que já aconteceu em 2013 e que, antes disso, não ocorria desde 2001.

Financiamento do déficit externo
Quando o déficit não é “coberto” pelos investimentos estrangeiros, o país tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeiras, ou empréstimos buscados no exterior, para fechar as contas.

Analistas alertam, entretanto, que em um cenário de crescimento menor do PIB e menor disponibilidade de recursos nos mercados (com a sinalização do fim das medidas de estímulo nos Estados Unidos), a atratividade da economia brasileira também é menor – o que pode significar um pouco mais de dificuldade no financiamento do déficit das contas externas.

O governo tem lembrado, entretanto, que as reservas internacionais brasileiras, acima de US$ 375 bilhões, conferem tranquilidade na administração das contas externas brasileiras.

Despesas de brasileiros no exterior caem para US$ 1,83 bilhão em março

Com isso, houve leve queda de 1,34% sobre o mesmo mês de 2013.
No trimestre, gastos somaram US$ 5,87 bilhões, com recuo de 1,83%.

 

O recorde para março continua sendo o de 2013, quando as despesas lá fora somaram US$ 1,86 bilhão

Os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 1,83 bilhão em março, com um pequeno recuo de 1,34% sobre o mesmo mês do ano passado, informou nesta sexta-feira (25) o Banco Central (BC).

Desse modo, o recorde para o terceiro mês do ano continua sendo o de 2013, quando as despesas lá fora somaram US$ 1,86 bilhão, ainda de acordo com números da autoridade monetária. A série histórica do Banco Central teve início em 1947.

Dólar
Em março, o dólar fechou em R$ 2,26, com queda de 3,22% em relação ao final de fevereiro  O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, observou, porém, que o dólar estava em R$ 1,98 em março do ano passado.

Com isso, houve um encarecimento de passagens e hotéis no exterior frente ao mesmo mês de 2013. “O principal fator [que impactou os gastos no exterior] foi o câmbio. Houve uma mudança do câmbio: o dólar ficou mais caro [na comparação com março de 2013], o que desestimulou as viagens”, declarou Maciel.

Primeiro trimestre
Ainda de acordo com o Banco Central, as despesas no exterior somaram US$ 5,87 bilhões nos três primeiros meses deste ano – o que representa queda de 1,83% frente ao mesmo período do ano passado, quando somaram US$ 5,98 bilhões (recorde histórico para o período).

Alta do IOF
No fim de 2013, o governo também adotou medidas para conter os gastos no exterior. A alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente nos pagamentos em moeda estrangeira feitos com cartão de débito, saques em moeda estrangeira no exterior, compras de cheques de viagem (traveller checks) e carregamento de cartões pré-pagos foi elevada de 0,38% para 6,38%. Com isso, essas operações passaram a ter a mesma tributação dos cartões de crédito internacionais.

Histórico de gastos no exterior
Em 2013, os gastos no exterior somaram US$ 25,3 bilhões e bateram recorde para um ano inteiro, contra US$ 22,2 bilhões nos 12 meses anteriores. Em 2011, as despesas de brasileiros lá fora haviam somado US$ 21,2 bilhões.

Até 1994, quando foi editado o Plano Real para conter a hiperinflação no Brasil, os gastos de brasileiros no exterior não tinham atingido a barreira dos US$ 2 bilhões. Naquele ano, porém, somaram US$ 2,23 bilhões. Entre 1996 e 1998, as despesas no exterior oscilaram entre US$ 4 bilhões e US$ 5,7 bilhões.

Com a maxidesvalorização cambial de 1999, com o dólar subindo para além de R$ 3 em um primeiro momento, as despesas no exterior também ficaram mais caras. Com isso, os gastos voltaram a recuar e ficaram, naquele ano, próximo de US$ 3 bilhões.

As despesas de brasileiros fora do país voltaram a atingir a barreira de US$ 5 bilhões por ano apenas em 2006. Desde então, têm apresentado forte crescimento: em 2007, 2008 e 2009, por exemplo, atingiram US$ 8,2 bilhões, US$ 10,9 bilhões e US$ 10,8 bilhões, respectivamente

INFLAÇÃO

A previsão do mercado para
o IPCA de 2014 subiu pela sétima semana consecutiva

Os economistas do mercado financeiro já esperam que a inflação deste ano ultrapasse o teto da meta do governo, de 6,5%. Segundo dados coletados pelo Banco Central, a expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), passou de 6,47% para 6,51% na semana passada. O relatório de mercado, também conhecido como Focus, é fruto de pesquisa com mais de 100 instituições financeiras.

Esta foi a sétima alta consecutiva da previsão para a inflação. Para 2015, a estimativa ficou estável em 6%. Pelo sistema que vigora no Brasil, a meta central, para 2014 e 2015, é de 4,5%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5%, sem que a meta seja formalmente descumprida.

No início de 2013, o mercado previa que o IPCA deste ano somaria 5,5%. Nos meses seguintes, a estimativa foi se deteriorando, terminando o ano passado em 5,97%. A estimativa ficou consistentemente acima de 6% a partir de 20 de fevereiro, e superou o teto da meta após a inflação de março ter registrado o pior resultado desde 2003

Quando a meta de inflação é descumprida, o presidente da autoridade monetária precisa escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando as razões que motivaram o “estouro” da meta formal. No começo do ano, a inflação avançou com mais intensidade por conta do aumento dos preços dos alimentos – resultado das condições climáticas adversas (seca ou excesso de chuvas) no país.

Taxa de juros
A perspectiva do mercado financeiro é que a elevação dos juros, feita no fim do mês passado pelo Banco Central, não seja a última alta do ano na taxa básica (Selic) da economia brasileira – que vem avançando desde abril do ano passado para conter pressões inflacionárias.

Para o fechamento de 2014, a previsão dos analistas para a taxa de juros permaneceu em 11,25% ao ano e, para o final de 2015, ficou estável em 12% ao ano.

Crescimento do PIB
Para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, a previsão dos economistas caiu de 1,65% para 1,63% na última semana. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos em território brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz.

O crescimento do PIB do país previsto para 2014 continua abaixo do estimado no orçamento federal – de 2,5% – e também menor que a previsão (2%) divulgada pelo Banco Central no mês passado. Para 2015, a perspectiva de expansão da economia brasileira, feita por analistas do mercado financeiro, ficou inalterada em 2% de alta.

Câmbio, balança comercial e investimentos estrangeiros
Nesta edição do relatório Focus, a projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2014 ficou estável em R$ 2,45 por dólar. Para o fechamento de 2015, a estimativa dos analistas dos bancos para o dólar caiu de R$ 2,53 para R$ 2,51.

A projeção para o superávit da balança comercial (exportações menos importações) em 2014 subiu de US$ 3 bilhões para US$ 3,02 bilhões na semana passada. Para 2015, a previsão de superávit comercial permaneceu em US$ 10 bilhões.

Para 2013, a projeção de entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil permaneceu em US$ 60 bilhões. Para 2015, a estimativa dos analistas para o aporte de investimentos estrangeiros ficou inalterada em US$ 55 bilhões.

Fonte: G1

Reportagem publicada  no site do jornal britânico “Financial Times” utilizou o termo “sentença de morte” em uma projeção para o futuro da estratégia econômica brasileira.

A publicação afirma que a nova matriz de políticas econômicas, que consiste em taxas de juros baixas e o câmbio enfraquecido por meio de controles cambiais e incentivos fiscais temporários para a indústria, visava uma taxa de crescimento de 4%. Entretanto, de acordo com o jornal, o resultado dessas medidas foi um cenário de baixo crescimento e alta inflação.

O jornal apontou que, este ano, a economia do Brasil deverá crescer cerca de 2%, continuando com uma de suas mais lentas taxas desde a década de 1990. Enquanto isso, a inflação deverá atingir 6,3%.

Pressões inflacionárias forçaram o Banco Central do Brasil a retomar as taxas de juros, que estavam em uma baixa recorde de 7,25% em 2012, para 11% na última semana, com possibilidade de novos aumentos, segundo o jornal.

De acordo com a publicação, entre as questões estruturais mais importantes estaria a redução da carga tributária, que subiu de 27% do Produto Interno Bruto (PIB) em 1997 para 36% em 2012. Essa taxa é maior que a do Chile, cerca de 20%, e superior à média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou a falta de crédito para estimular o consumo do brasileiro e, consequentemente, a economia do país. “Temos um dos maiores mercados internos do mundo porque a massa salarial do brasileiro continua crescendo e continuará crescendo, mas temos crédito escasso para o consumo. Tão logo ele seja reimplantado, teremos um avanço maior do mercado interno”, afirmou Mantega durante o Seminário Brasil Novo, na Câmara dos Deputados, em 29/4/14.

Para o presidente do banco Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, essa análise é equivocada. “Não existe escassez de crédito. Mesmo nos balanços que foram publicados, o crédito, ano a ano tem crescido acima de 10%. Ele tem uma relação com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Temos um PIB potencial e a oferta de crédito vai crescer na proporção da demanda por parte das pessoas físicas e das empresas. O credito está colocado”, afirmou o presidente do Bradesco, após participar de um debate no mesmo seminário na Câmara e pouco antes de participar de um encontro na Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Na avaliação de Trabuco, o peso dos tributos sobre financiamentos chega a 16% do PIB e é um dos fatores que inibem o crédito porque compõem boa parte do spread bancário. “Segundo as estatísticas, metade da carga tributária quando olhada para os impostos que são relacionados ao crédito, ele chega a esse nível. Não cogitaríamos não ter imposto. O problema é que a cunha fiscal é forte, que responde por mais de um terço do spread final”, disse ele destacando que o lucro dos bancos, que tem sido bastante elevado é resultado, em sua essência, da eficiência dos bancos porque eles investem bilhões de reais em informatização. “O spread é uma parte do lucro”, resumiu.

Diálogo

De acordo com Trabuco, o setor financeiro tem tido várias conversas com o governo e representantes do setor automotivo para facilitar a retomada das vendas de veículos, criando um fundo garantidor para os financiamentos. “Existe um diálogo no sentido de criar condições para que o crédito seja mais acessível. O volume total de crédito ao setor automotivo não caiu. O fundo tem relação com a demanda. Cada banco possui sua política e o financiamento depende do montante de entrada e do prazo de cada instituição. Os carros no pátio não podem ser justificados unicamente pela falta de crédito”, ponderou.

Nesta tarde, Mantega se reúne em seu gabinete com representantes do governo argentino e das montadoras para tentar encontrar uma solução para a retomada das vendas de veículos fabricados no país para o parceiro do Mercosul.

Análises rasas

Mantega voltou a afirmar que o governo não vai deixar a inflação estourar o teto da meta (de 6,5% ao ano). Na avaliação do ministro, a taxa de investimento está crescendo e as críticas de especialistas de que o modelo econômico está somente baseado no consumo não passam de “análises rasas”. “O investimento cresceu 6,1% de 2003 a 2012, e a gente espera que ele avance 7% a partir de 2013 até 2022. O investimento é uma prioridade do governo. A crise derrubou o investimento, mas ele vem se recuperando. No ano passado, cresceu 6,2%, e foi um excelente desempenho e poucos países tiveram um crescimento do investimento tão grande”, afirmou Mantega destacando que o plano de concessões em infraestrutura vai atrair quase R$ 700 bilhões de recursos da iniciativa privada no país, o que vai garantir “um novo ciclo de desenvolvimento da economia brasileira”. “Temos necessidade de aumentar a oferta de infraestrutura do país”, disse ele enumerando as áreas estratégicas como transportes, energia elétrica, petróleo e construção civil.

A taxa de juros do crédito para as famílias de 41,6% ao ano, em março deste ano, é a mais alta desde fevereiro de 2012, quando ficou em 41,7% ao ano, de acordo com dados do Banco Central (BC)

A alta dos juros ocorre em momento de ciclo de alta da taxa básica Selic, usada pelo BC para regular a inflação. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a Selic, que serve de referência para as demais taxas no mercado, nove vezes seguidas. Atualmente, a Selic está em 11% ao ano. Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida e isso gera reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o crédito é um canal importante de transmissão dos efeitos da alta da Selic. “Boa parte das modalidades [de crédito] tem taxas de juros em março deste ano superior àquela observada no início do ano passado, refletindo o ciclo [de alta da Selic], mas muito aquém do pico da série [histórica do BC, iniciada em março de 2011]. A taxa média de juros mais alta na série histórica para as famílias foi registrada em julho de 2011, quando ficou em 42,7% ao ano.”

A taxa de inadimplência para as famílias ficou estável em relação a fevereiro, em 6,5%. Segundo Maciel, a inadimplência na maioria das modalidades de crédito “está no piso ou muito próximas a isso”. Uma exceção é a inadimplência de financiamento de veículos que ficou em 11,3%, em março. Por isso, Maciel acredita que ainda há espaço para recuo na inadimplência de financiamento de carros.

O BC classifica como inadimplência atrasos superiores a 90 dias. Mas o BC também tem dados de atrasos entre 15 e 90 dias, considerado um indicador antecedente de inadimplência. Por esse indicador, os atrasos para pessoas físicas subiram de 6,2%, em fevereiro, para 6,8%, em março. Entretanto, Maciel disse que ainda é preciso esperar para saber se esse aumento mostra uma tendência de alta da inadimplência nos próximos meses. É preciso aguardar um pouco mais para inferir se isso representa uma interrupção da trajetória de declínio das taxas de inadimplência que temos observado desde 2012”, destacou.

Fonte: Correioweb

O percentual de famílias brasileiras que afirmaram ter dívidas chegou a 63,4% em janeiro, alta de 1,2 ponto percentual em relação aos 62,2% registrados em dezembro de 2013, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).. Os débitos dos brasileiros incluem cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro.

O índice também aumentou na comparação com janeiro de 2013, quando marcou 60,2%. Já o percentual de famílias com contas em atraso recuou tanto na comparação mensal quanto anual, passando de 20,8% em dezembro para 19,5% em janeiro. Em  janeiro de 2013, o  indicador alcançava 21,2%.

A diferença entre os índices de famílias que têm dívidas com o das que têm contas em atraso é simples. Um consumidor que usa cartão de crédito, por exemplo, e paga suas mensalidades em dia, entra na primeira categoria: ele tem dívidas programadas e se organiza para quitá-las dentro do prazo. Se esse sujeito deixa de pagar um único mês, torna-se inadimplente e entra na segunda categoria, ainda que tenha recursos para cumprir com seu débito no futuro. Se não tiver o dinheiro, vai para um terceiro indicador, o das famílias que não têm condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso, permanecendo inadimplentes.

O percentual dessas famílias ficou estável nas comparações mensal e anual, alcançando 6,5% em janeiro, mostrou a pesquisa da CNC.

Marianne Hanson, economista da confederação, afirma que, apesar da alta do endividamento no país, os indicadores de inadimplência diminuíram em janeiro.

“O efeito sazonal dos ganhos com o 13° salário continuou influenciando positivamente esse resultado. Houve, também, melhora na percepção das famílias em relação à sua capacidade de pagar débitos em atraso. Na comparação anual, a melhora no perfil de endividamento permitiu que os indicadores de inadimplência recuassem, apesar do maior nível de endividamento”

Fonte: G1

Em Jundiaí, foram demitidos 1.500 trabalhadores. Fabricantes de plásticos que fornecem para montadoras enfrentam redução de pedidos e suspensão de encomendas

Eduardo* foi pego de surpresa – ou quase. Aos 34 anos, 15 deles dedicados à empresa onde trabalhava com produção de autopeças plásticas, foi demitido. Cursando a faculdade e pai de dois filhos, de fato, não esperava ficar sem emprego, mas confessa não ter estranhado a decisão. A empresa onde ele trabalhava passa por uma reestruturação e o mercado de plásticos para veículos vai mal.

“Esse segmento é muito cruel. É uma disputa brava por projetos, qualquer coisa que perde já reflete na operação”, conta. A crise na venda de veículos não passaria despercebida. “As montadoras arrancam o couro mesmo. Já vi pegar projeto que dá prejuízo para poder manter o fornecimento para a montadora. As empresas estão cambaleando.”

Agora, Eduardo vai procurar uma nova colocação. Diz já estar acionando os contatos pelo LinkedIn. “A rescisão foi boa, mas não dá para ficar descansando muito, a oportunidade passa”, comenta. Difícil vai ser conseguir novamente os R$ 7,5 mil que ganhava. “Era acima da média de mercado, já havia recebido propostas em que não pagavam isso.”

Eduardo é um dos 1,5 mil já demitidos em Jundiaí (no interior paulista), conhecida pela forte produção de materiais plásticos para veículos. O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) ainda não tem número consolidado, uma vez que o aumento no volume de demissões começou neste mês, segundo Alexandro Zavarizi, vice-diretor da instituição.

No Estado de São Paulo, o saldo de emprego no setor transformação de plásticos – que inclui produtos para cozinha, entre outros – é de 791 empregos neste ano, segundo números fornecidos ao iG pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Esse valor é brutalmente menor que o saldo de 2.297 vagas no mesmo período do ano passado.

Na empresa que Zavarizi preside, a demanda das montadoras já caiu 25%. Por enquanto o Ciesp segue consolidando as informações de outras fabricantes da região. “Já estamos acompanhando a redução das encomendas e até a suspensão de alguns pedidos”, comenta.

Os fabricantes de plástico que investiram em diversos mercados ainda encaram o momento sem grandes traumas. O mesmo não acontece com as indústrias que produzem exclusivamente para a cadeia automotiva. “Esses já estão demitindo em massa”, comenta Zavarizi. “Especialmente quem fabrica para modelos de veículos mais antigos, que estão para sair de linha. Os modelos novos ainda estão rendendo algumas encomendas.” O executivo não sabe dizer quais são as montadoras que estão cortando os pedidos;

Zavarizi explica que a queda na produção tem como pano de fundo em questões relacionadas ao mercado externo. O fechamento das portas do mercado e a queda na cotação do dólar não só dificultaram a venda de produtos nacionais como também estimularam a entrada de produtos importados.

Os efeitos do programa Inovar-Auto, que previa 60% de nacionalização do conteúdo, também frustraram os industriais. “A coisa não ficou como imaginávamos ainda”, lamenta o empresário. O mau momento enterra a expectativa dos empresários do mercado de plástico, que contavam um aumento de demanda das montadoras, que estariam de olho no cumprimento dos requisitos de redução no consumo de combustível – quanto mais plástico, mais leve e menos poluente o veículo.

Sindicatos entram em estado de alerta

Na base do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Material Plástico de Jundiaí e Região (Sindiplástico, ligado à Força Sindical), desde janeiro já foram demitidos 11% ou 1,5 mil trabalhadores ligados à produção de materiais plásticos, segundo João Henrique dos Santos, presidente da

Os fabricantes de plástico que investiram em diversos mercados ainda encaram o momento sem grandes traumas. O mesmo não acontece com as indústrias que produzem exclusivamente para a cadeia automotiva. “Esses já estão demitindo em massa”, comenta Zavarizi. “Especialmente quem fabrica para modelos de veículos mais antigos, que estão para sair de linha. Os modelos novos ainda estão rendendo algumas encomendas.” O executivo não sabe dizer quais são as montadoras que estão cortando os pedidos;

Zavarizi explica que a queda na produção tem como pano de fundo em questões relacionadas ao mercado externo. O fechamento das portas do mercado e a queda na cotação do dólar não só dificultaram a venda de produtos nacionais como também estimularam a entrada de produtos importados.

Os efeitos do programa Inovar-Auto, que previa 60% de nacionalização do conteúdo, também frustraram os industriais. “A coisa não ficou como imaginávamos ainda”, lamenta o empresário. O mau momento enterra a expectativa dos empresários do mercado de plástico, que contavam um aumento de demanda das montadoras, que estariam de olho no cumprimento dos requisitos de redução no consumo de combustível – quanto mais plástico, mais leve e menos poluente o veículo.

Sindicatos entram em estado de alerta

Na base do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Material Plástico de Jundiaí e Região (Sindiplástico, ligado à Força Sindical), desde janeiro já foram demitidos 11% ou 1,5 mil trabalhadores ligados à produção de materiais plásticos, segundo João Henrique dos Santos, presidente da entidade.

Para Santos, os empresários estão contando com a mão amiga de Brasília para estimular as vendas e resgatar a indústria. “Só que o governo já está na defensiva, não há previsão de novas medidas e o cenário que se desenha não é nem um pouco favorável”, diz. Futuras demissões não estão descartadas.

A grande sensibilidade do setor estaria na fragilidade da gestão. “Cerca de 90% dessas empresas são pequenas, aquelas típicas empresas ‘do dono’, que giram conforme o mercado”, explica o sindicalista. A falta de planejamento teria feito com que os administradores fossem pegos de surpresa por esse momento de retração. “Com as empresas grandes a gente até conseguiu negociar três avisos prévios ou extensão do plano de saúde, mas com as pequenas foi demissão sumária mesmo.”

Sérgio Luiz Leite, presidente Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimifar, ligada à Força Sindical), já solicitou mais informações às suas regionais. “Estamos em alerta, porque como as montadoras não trabalham com estoques a crise chega instantaneamente no nosso setor”, sinaliza.

Ameaça se espalha pelo interior de São Paulo

As regiões de Americana e Sorocaba (no interior paulista) também estão em estado de alerta com a crise na indústria automotiva. Fabrício Cardoso, presidente do Sindicato dos Químicos de Americana e Região (ligado à Força Sindical), que engloba sete cidades, conta que ainda não enfrenta demissões, mas não desconsidera essa possibilidade. Por conta disso, três advogados já estão o dia inteiro fazendo homologações de funcionários.

Já em Guarulhos (na Grande São Paulo), Antonio Silvan Oliveira, presidente do Sindicato dos Químicos de Guarulhos e Região (ligado à Força Sindical), acha que o aumento no custo dos juros tem sido o maior gerador de impacto. “A demanda ainda não caiu tanto, mas as empresas já estão sem capital de giro”, explica. “As demissões que tivemos estão mais relacionadas às dificuldades financeiras que à parada de produção.”

Na região, além dos plásticos também são produzidas as tintas para automóveis. “Ainda acho que vamos ver uma melhora do cenário no segundo semestre.”

Fonte: Ig

Com os pátios das fábricas abarrotados e as vendas de automóveis em queda, pelo menos 11 montadoras já anunciaram medidas para diminuir a produção no país, como férias coletivas, na tentativa de reequilibrar a oferta com o apetite do consumidor.

Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicam que, no final de março, os estoques eram equivalentes a 48 dias de vendas, volume semelhante ao de novembro de 2008, um dos períodos mais agudos da crise financeira. Estima-se que o tamanho ideal de reserva seria de 23 a 32 dias.

Além do desaquecimento da economia e do endividamento das famílias, contribuíram para a situação a queda das exportações para a Argentina e o aumento da produção das montadoras nos últimos meses de 2013, diz Milad Kalume Neto, executivo da consultoria Jato Dynamics no Brasil, especializada no segmento automotivo.

– As fabricantes aceleraram a produção no final do ano passado porque a partir de 2014 seria obrigatório que os automóveis viessem com freios ABS e airbag. Com isso, os veículos ficariam em média R$ 1,1 mil mais caros. Em janeiro e fevereiro houve muita venda desse estoque antigo, mas em março o mercado despencou – explica Milad.

No mês passado, o emplacamento de automóveis nacionais novos caiu 16,5% em relação a março de 2013, enquanto a produção retraiu 16,7%. Milad lembra que em julho termina a retirada escalonada dos incentivos fiscais de IPI, o que tornará os veículos ainda mais caros.

Por ser um ano eleitoral, o especialista ainda espera medidas do governo federal, sob pena de demissões na indústria. Com a alta da Selic, dificilmente a saída seria reduzir juros ao consumidor. A alternativa poderia ser facilitar acesso ao crédito.

Na unidade da General Motors (GM) no Rio Grande do Sul a situação é melhor, mas a montadora avisou que haverá parada de dois dias de produção, embora não tenha confirmado datas, revela Edson Dorneles, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí. A entidade chegou a ameaçar uma greve, mas desistiu na quinta-feira.

Na contramão do mercado nacional, as vendas dos dois veículos produzidos na planta gaúcha, Onix e Prisma, aumentaram na passagem de fevereiro para março.

– Mas visualmente dá para perceber que há muito carro no pátio. Temos receio porque não somos uma ilha – afirma Dorneles.

Enquanto o mercado interno ainda demonstra procura pelos veículos leves produzidos no Estado, os primeiros sinais do ano quanto às exportações gaúchas são preocupantes. O sistema de consulta do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostra que, na comparação do primeiro trimestre de 2013 com o período equivalente deste ano, os embarques de automóveis caíram de US$ 42,3 milhões para US$ 9 milhões.

Barreiras argentinas emperram exportações

O quadro reflete principalmente as barreiras impostas pela Argentina, destino de quase toda a exportação gaúcha de automóveis no ano passado. O cotejo dos dois trimestres mostra que as vendas para o país vizinho murcharam de US$ 40,7 milhões para apenas US$ 1 milhão. Em unidades, a queda foi de 5 mil veículos para somente cem.

Apesar das exportações, o Índice de Desempenho Industrial (IDI) do setor de veículos – que engloba automóveis, caminhões, ônibus e autopeças – aponta para uma situação razoável pelo menos até o primeiro bimestre.

O Indicador da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) mostra em fevereiro um nível de atividade positivo em relação a janeiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado e em 12 meses. No acumulado do ano, porém, está abaixo do bimestre inicial de 2013.

Fonte: Zerohora

Com pátios lotados, montadoras liberam pessoal e cortam produção

Quase metade das fabricantes de veículos do país anunciou medidas de redução da jornada de trabalho, como férias coletivas e dispensa temporária de funcionário

 

A queda de 8% na produção de veículos no primeiro trimestre e de 32% nas exportações para a Argentina no mesmo período já afeta o regime de trabalho nos principais parques automotivos brasileiros. Das 20 fabricantes de automóveis, comerciais leves e caminhões instaladas no país, quase metade anunciou alguma medida para reduzir o ritmo de produção, como corte de turno, férias coletivas e plano de demissão voluntária. Nessa lista estão Volkswagen, Renault, Fiat, Peugeot-Citroen, Ford e GM, na área de automóveis, e Mercedes-Benz, Man e Scania, na de caminhões.

Sem saída

Metalúrgicos da Volks aprovam suspensão de mais 400 contratos

Após três assembleias, os trabalhadores da Volkswagen em São José dos Pinhais aprovaram a proposta da montadora de suspender os contratos de trabalho de mais 400 empregados. Em fevereiro outros 300 já tinham tido seus contratos interrompidos por três meses. Com essa nova leva, cerca de 30% dos funcionários de chão de fábrica da Volks no Paraná vão ficar em casa nos próximos meses.

A suspensão – conhecida como layoff – é um mecanismo previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que autoriza a empresa a interromper temporariamente os contratos de trabalho. Os 400 funcionários da Volks ficarão cinco meses sem trabalhar a partir do próximo dia 5.

Segundo Jamil D’Avila, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, dos 300 que tiveram os contratos suspensos no início do ano, 150 entraram em recesso em fevereiro e outros 150 vão parar em junho. Cada grupo desse ficará afastado das funções por três meses.

Nesse período, a empresa vai pagar parte dos salários, que serão complementados com o valor do seguro-desemprego. Benefícios como participação nos lucros e resultados (PLR), férias e 13.º salário são mantidos. A empresa pagará 8% do valor do FGTS. A medida tem como objetivo equilibrar a demanda aos estoques. A Volks tem uma capacidade de produção de 870 veículos por dia, mas hoje monta 640.

Os funcionários que estarão fora da linha de produção receberão treinamento e qualificação. A Volks planeja lançar novos produtos em 2015, entre eles o novo Golf. Hoje a empresa fabrica os modelos Fox, CrossFox e Spacefox no Paraná.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no fim de março havia 387,1 mil veículos acumulados nos pátios, o que equivale ao volume de vendas de 48 dias. É o estoque mais alto desde novembro de 2008, quando correspondia a 56 dias de vendas. O setor considera saudável um estoque entre 25 e 35 dias.

Impacto

Diante disso, montadoras instaladas no Paraná adotaram medidas de contenção. Ontem, os funcionários da fábrica da Volkswagem em São José dos Pinhais, na região de Curitiba, aprovaram a proposta da montadora para suspender temporariamente mais 400 contratos de trabalho, a partir de maio.

Já a Renault, que cortou parte da produção após o Carnaval, parou a linha de montagem de automóveis, também em São José, ao decidir prolongar a folga do feriado de Tiradentes até o fim da semana.

Antes da Páscoa, a Fiat concedeu férias coletivas de 20 dias a 800 funcionários na fábrica de Betim (MG). Mas a ação mais radical até agora foi da Mercedes-Benz, que anunciou um plano de demissão voluntária e suspendeu um dos dois turnos da linha de caminhões em São Bernardo do Campo (SP). Parte do excedente de mão de obra – estimada em cerca de 2 mil operários – ficará afastada da fábrica por meio de licença remunerada.

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Sergio Butka, a situação preocupa porque não há sinais de reação do mercado. “No Paraná, o caso mais difícil é o da Volkswagen, porque a empresa adiou a renovação de produtos e o mercado interno está mais fraco. No caso da Renault, o principal problema é a crise na Argentina”, diz. O mercado argentino é o destino de 13% da produção brasileira de veículos.

Autopeças

O pé no freio das montadoras já atinge a cadeia de autopeças. “O ajuste é imediato”, diz o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) no Paraná, Benedicto Kubrusly Júnior. Segundo ele, no entanto, ainda não há informações sobre demissões no setor.

Kubrusly afirma que o mercado não deve esboçar reação até o fim do semestre, ainda pressionado pelo endividamento do consumidor, o fim da redução do IPI e o crédito mais seletivo por parte dos bancos. “As montadoras não vão conseguir produzir o mesmo que em 2013, como previam inicialmente. A produção vai cair”, prevê.

Anfavea propõe mais prazo para férias coletivas

Da Redação

A indústria automotiva e as centrais sindicais discutem, conjuntamente, uma proposta para flexibilizar as férias coletivas e manter o emprego na indústria. Segundo o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, a proposta consiste em ampliar o prazo para suspensão de contratos de trabalho (o chamado layoff) em tempos de queda na produção para evitar demissões. As informações são da Agência Brasil.

Atualmente, a legislação permite que as montadoras concedam férias coletivas de até cinco meses aos empregados. Nesse período, os trabalhadores ficam em casa recebendo 100% do salário líquido. Do total, parte é bancada pelas empresas e parte é coberta pelo seguro-desemprego. De acordo com Moan, os empresários e os trabalhadores querem a ampliação do prazo de dispensa, mas o novo período de férias coletivas ainda não está definido.

A proposta, disse o presidente da Anfavea, ainda não foi discutida com o governo. “Essa é uma ideia que está sendo formatada. Não há nenhuma definição. Estamos traçando, com as centrais sindicais, um planejamento de médio e longo prazo”, esclareceu.

Na opinião dele, a flexibilização das férias coletivas é essencial para preservar os postos de trabalho.

Fonte: Gazeta do Povo

O saldo da geração de empregos formais no mês de abril  de 2014 foi de 105.384 vagas, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta quarta-feira, 21, pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O número é o resultado da diferença entre 1.862.515 contrações e 1.757.131 demissões. Conforme a pasta, o número é o pior para meses de abril em 15 anos.

O resultado ficou abaixo do piso do intervalo das previsões dos economistas do mercado financeiro ouvidos pelo AE Projeções, que esperavam saldo líquido de empregos formais de uma geração de 130 mil a 208 mil vagas. A mediana encontrada foi de criação de 160 mil postos de trabalho.

Na crise, vale tudo para atrair clientes aos shoppings

Crise faz administradores negociarem aluguéis com lojistas, e os novos projetos minguam


Eventos como desfiles, shows e recreação infantil, além de promoções, compõem a estratégia dos shoppings para atriar o cliente e ampliar vendas em tempos de crise – Gustavo Stephan / Fotos de Gustavo Stephan

 

A expectativa é que 15 shoppings sejam inaugurados até dezembro, ante 25 em 2014. Até julho, as vendas em shoppings subiram 3,5% – um tombo em relação aos 7% do mesmo período de 2014. A previsão original para este ano era de 8,5%, segundo dados da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce).

– As inaugurações deste e do próximo ano foram pensadas há dois, três anos, em um momento que a economia estava melhor. Vemos poucos lançamentos em 2017, porque agora o momento da economia é pouco favorável – diz Adriana Colloca, da Abrasce.

Além disso, quando possível, a inauguração de empreendimentos está sendo adiada.

– Alguns shoppings estão postergando os projetos, para não pegar o pior momento da economia. Esperam conseguir comercializar os seus espaços em melhores condições – explica Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da consultoria em varejo GS&BW.

PROMOÇÕES E EVENTOS

Para evitar que o cenário se agrave, os administradores de shoppings investem em promoções e eventos, sem se restringir às datas fortes do varejo, como Dia das Mães e Natal.

– Isso faz com que o fluxo aumente e o consumidor pode fazer alguma compra por impulso – explicou Eduardo Prado, superintendente de Relações com Investidores da Aliansce, que administra, entre outros, o West Plaza, em São Paulo, e o Leblon, no Rio.

Em agosto, o fluxo de pessoas em centros comerciais do país caiu 3,3% ante igual mês de 2014, segundo o Ibope. As vendas têm crescido cada vez menos, conta Felipe Vasconcelos, diretor-executivo da Brookfield Gestão de Empreendimentos. A inadimplência, o prazo de vacância (período em que uma loja fica fechada) e a rotatividade estão maiores. Os mais afetados são aqueles mais novos e os voltados para a classe C, público mais afetado pela alta dos preços.

 

– Num período de crise, quanto maior a diversidade do mix de lojas e serviços, maior a resiliência do shopping, pois está mais atrelado ao dia a dia das pessoas – explica Eduardo Novaes, diretor superintendente de shoppings da Multiplan.

A empresária e estilista Mary Zaide aposta em qualidade de serviço e em operações enxutas para atravessar o período de retração no consumo – Gustavo Stephan

Com os lojistas vendendo menos, a Abrasce viu a inadimplência subir de 3,8% para 4,4% no primeiro semestre, em comparação ao mesmo período de 2014. Christian Vasconcellos, que dirige a área de shoppings da JHSF, que administra o Cidade Jardim, avalia que é preciso ajudar o lojista a vender mais, como ações de marketing e promoções, e a reduzir os custos do condomínio. Já os descontos são dados caso a caso.

– Este ano, não reajustamos o condomínio, economizando em custos de água, energia e mão de obra. O fundo de promoção foi reduzido de 24% para 21% do valor do aluguel. E mesmo o pagamento do aluguel é negociado em alguns casos – diz Cecília Figueiredo, superintendente dos shoppings cariocas Rio Design Barra e Leblon.

Maria Fernanda de Poli, corporativa de marketing da BRMalls, conta que é preciso se adaptar às necessidades do consumidor:

– Só liquidação não basta. A experiência mostra que se fisga o cliente pela emoção. Focamos em entretenimento para a família e buscamos trazer a pessoa para o shopping oferecendo momentos de felicidade e relaxamento. A venda é uma consequência disso.

A estratégia parece funcionar. A cabeleireira Luciene Lopes, que mora e trabalha na Zona Sul, foi pela primeira vez ao Rio Design Barra na última quinta-feira. Levou os dois cachorrinhos da família, em companhia da filha e do marido, para o desfile pet que abriu a programação da edição deste ano da Vogue Fashion’s Night Out. Depois da passarela, ela ficou para rodar pelos corredores do mall.

QUITUTES E CHAMPAGNE

Juntos, os dois Rio Design somaram R$ 1,5 milhão em vendas no dia do evento de moda do ano passado. As lojas ofereceram uma profusão de produtos inspirados na coruja-símbolo do programa da Vogue – incluindo camiseta de colorir – contrataram barmen, DJs, montaram mesas com quitutes e champagne. E havia descontos de até 50%.

A estilista e empresária Mary Zaide, à frente da grife homônima, recebia pessoalmente, ao lado das filhas Flávia e Renata, a clientela na filial do Rio Design Barra. Ela afirma que, na crise, é preciso reforçar mais o serviço:

– Hoje, as pessoas buscam bom serviço e preço justo, estão mais seletivas. É um ano para se recolher, tirar o que não está funcionando e se preparar para a retomada.

 

Ainda assim, há grupos firmes na expansão. A carioca Saphyr inaugura o Bossa Nova Mall, no terminal vizinho ao Aeroporto Santos Dumont, em novembro. E apostam no perfil de entretenimento do projeto, que contará com hotel, casa de show, restaurantes, vista para a Marina da Glória e a Baía de Guanabara, além de ser vizinho de museus e do Centro do Rio, como garantia de resultado.

– O Bossa Nova é uma espécie de shopping temático do Rio de Janeiro, tem um quê de atração turística, boa localização – diz Luís Henrique Stockler, da consultoria ba}Stockler.

Eliza Santos, gerente de marketing corporativo da Saphyr, destaca justamente esse perfil de entretenimento como o trunfo do Bossa Nova para conquistar mercado. Nos demais empreendimentos do grupo, os esforços estão concentrados em eventos e novidades como lojas temporárias, as pop-up stores.

Fonte: O Globo

Sonhos adiados na classe C

Após década de bonança, camada social sofre mais com a crise e abre mão de projetos para o futuro

Na última década, o bom momento da economia elevou milhões de brasileiros à classe média. Com juros baixos e renda em alta, a chamada classe C conseguiu comprar carro, financiar a casa e entrar na faculdade. Agora, sente o peso da crise e se vê obrigada a adiar sonhos. Das grandes compras ao consumo do dia a dia, precisou frear o processo de ascensão social para não perder as conquistas acumuladas no período de bonança.

 

Inflação e endividamento cancelam projetos

A consultora de negócios Fernanda Alves cogita trocar o curso presencial por outro à distância, no qual a mensalidade custa um terço do valor – Custódio Coimbra / Agência O Globo

 

A crise não estava nas contas da família Almeida. Há dois anos, Mario e Marlene Almeida, de Queimados, Baixada Fluminense, resolveram abrir a própria lanchonete, embalados por uma economia que, embora já desse sinais de desaceleração, ainda resistia — cresceu 2,5% em 2013, ante um horizonte de recessão de até 2% este ano. Hoje, o sonho de empreender perdeu o brilho. Com o freio no consumo no país, as vendas do negócio despencaram 70%, passando de R$ 500 para R$ 150 por dia de fim de semana. Ao mesmo tempo, a conta de luz da loja subiu mais de 65%, saltando de R$ 160, em dezembro passado, para R$ 267, em junho. Resultado: o espaço, alugado por R$ 600 mensais, precisou ser fechado, sendo substituído por uma estrutura mais modesta na garagem de casa.

A história da família Almeida é um retrato do que vive a classe C atualmente. Mais vulnerável, sente mais os efeitos da alta da inflação e dos juros. Com o orçamento familiar encolhendo, há corte de gastos e aumento do endividamento. Caso o cenário de recessão persista, as conquistas socioeconômicas da última década estarão ameaçadas, avaliam especialistas ouvidos pelo GLOBO. Por ora, para evitar o retrocesso, a classe média faz bicos para manter suas conquistas e adia sonhos — do projeto de ampliar o próprio negócio à compra do carro zero quilômetro, dos supérfluos na cesta de consumo ao investimento em educação superior.

— Fui obrigado a fazer um “bico” numa transportadora, e ganhava R$ 1.500 por mês — conta Mario de Almeida, motorista de ônibus aposentado, que foi obrigado a parar de prestar o serviço após o diagnóstico de problemas cardíacos. — Chegamos a colocar o carro à venda, mas desistimos por causa da minha saúde.

O esforço para ampliar a renda vem de uma necessidade comum às famílias da classe média: pagar dívidas. Os Almeida somam dois empréstimos consignados no valor de R$ 16 mil, contratados em 2012 e que devem ser quitados ano que vem. Mario recebe aposentadoria de R$ 1.700, de onde sai a parcela para pagar esses débitos. Sobram pouco mais de R$ 1 mil. Por mês, a família desembolsa R$ 540 para pagar o imóvel adquirido pelo Minha Casa Minha Vida três anos atrás. O financiamento se alonga por mais 22 anos. Pesa no déficit doméstico um empréstimo de R$ 7 mil obtido junto a familiares, além do cartão de crédito, cuja dívida pulou de R$ 800 para R$ 2 mil em quatro meses.

‘Quem provou mel dificilmente volta para o melado’

– DORIVAL MATA-MACHADOPesquisador do Instituto Ipsos

Com menor margem de manobra para acomodar reajustes de preços, a classe média tem mais dificuldade de pagar as contas em dia, explica Marianne Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Pesquisa da entidade mostra que a fatia de famílias endividadas com renda de até dez salários mínimos subiu de 58,8% para 63,3% em 2015. Nos lares com rendimento superior a dez salários, a expansão foi de 50,8% para 55,4%.

A inadimplência no grupo de menor renda saltou de 19,8% para 24,1% de janeiro a julho, segundo a CNC. O percentual dos que se disseram sem condições de pagar dívidas avançou de 7,4% para 9,5%. No grupo acima de dez salários, o volume de pessoas com contas em atraso passou de 8,6% para 9,8%. O percentual dos que preveem dar calote foi de 2,6% para 2,8%.

Parte da explicação para o quadro está na perda de poder aquisitivo, especialmente nas famílias com renda de até 2,5 salários mínimos, considerada a faixa mais vulnerável da classe C. A inflação dos últimos 12 meses ficou em 9,61%. Entre famílias de renda menor, ela chega a 10,31%, segundo o economista André Braz, da FGV, com base no Índice de Preços ao Consumidor, calculado pela entidade.

PODER AQUISITIVO CAI 10%

Despesas com itens básicos pesam mais no orçamento de quem ganha menos. O grupo de alimentação e bebidas, que responde por 25% do índice oficial de inflação, representa mais de 30% da cesta de produtos consumidos pelos mais pobres.

— Se a inflação subiu 10%, a renda das famílias dessa classe recuou em termos reais. Na prática, eles precisam desembolsar mais dinheiro para consumir a mesma cesta de bens e serviços de um ano antes. Isso mostra que a inflação já pesa mais para os menos favorecidos — explica Braz.

Há ainda uma crise de confiança do consumidor, pondera Dorival Mata-Machado, do Instituto Ipsos. A queda na renda e a retração no mercado de trabalho seguram os gastos. No entanto, o esforço é para manter as conquistas:

— A classe C levou um tombo em confiança. Depois do que experimentou, em melhorias de condições de vida e ganho de renda, é frustrante a expectativa de deixar esse caminho de melhora. É como se diz em Minas Gerais: Quem provou mel dificilmente volta para o melado.

Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, a classe C está empenhada em fazer o ajuste doméstico pois não vê saída para a crise. O lado positivo é que, ao mesmo tempo, se vira para manter o patamar de consumo conquistado:

— A classe média se vira sempre. Está acostumada a contornar dificuldades e se sai melhor na crise. Encontra uma forma de complementar a renda, faz hora extra, arruma uma segunda atividade. Faz rodízio de contas, num mês paga as Casas Bahia; no outro, a conta de luz. A crise é forte, mas não há indicativo de encolhimento da classe C. Isso só aconteceria com o desemprego em torno de 15%.

O peso da inflação já fez os planos da técnica de laboratório Flávia Rezende mudarem. Moradora de Inhaúma, Zona Norte do Rio, adiou o projeto de substituir o Gol ano 2000 — parado na garagem à espera de conserto — por um zero quilômetro. As viagens foram cortadas:

— Está tudo mais difícil para quem é pobre. A última vez que viajamos foi para a Região dos Lagos, queríamos ter feito uma viagem melhor — diz Flávia, que trocou a casa alugada por um imóvel menor e próprio, após reajuste do aluguel em 50%.

‘PERSPECTIVA DE FUTURO PREOCUPANTE’

Faltam recursos para pagar mensalidades escolares, sobretudo em curso de nível superior. Muitos jovens estão entrando no mercado de trabalho para reforçar o orçamento familiar. A Educafro, ONG que mantém uma rede de cursos de pré-vestibular para afrodescendentes e carentes, registra evasão de 30% no primeiro semestre, conta Frei David, à frente da entidade:

— A evasão preocupa. A perspectiva de futuro que o povo pobre está projetando para si é preocupante. Um dos problemas é os governos não incluírem a gratuidade de transporte público para estudantes de pré-vestibulares comunitários.

O aperto nas finanças, diz ele, leva jovens já na universidade a desistir ou a adiar o curso. A ONG tem uma rede de instituições de ensino conveniadas, que oferece bolsas a estudantes. Mês passado, a Unicastelo, de São Paulo, rompeu o contrato, levando centenas de alunos a deixarem a faculdade, diz Frei David:

— Só para a Unicastelo enviamos 1.065 alunos em 2013 e 2014. Este ano, mais de 600 abandonaram seus cursos. Houve suspensão de bolsa, aumento súbito das mensalidades, além do corte do Fies, que atingiu em cheio os pobres, e a crise econômica. Enviamos contranotificação à UniCastelo, contestando a rescisão em 18 de julho. Não obtivemos resposta. Vamos fazer uma ocupação da universidade.

A recepcionista Jennipher Nascimento, de 20 anos, abandonou o curso de Odontologia na Unicastelo, iniciado em 2014:

— Comecei com bolsa de 50%, pagando R$ 570. No meio do ano, a regra mudou. E metade da mensalidade seria paga pelo Fies. Como isso não se confirmou, teria de pagar R$ 1.100. Sem desconto, não dá.

A Unicastelo argumenta, em nota, que a crise atinge o segmento educacional. E destaca “o agravamento das dificuldades causado pelas alterações realizadas pelo governo federal na sistemática do Fies, privando milhares de alunos que pleiteiam uma vaga nas instituições de ensino de prosseguirem com seus estudos, acarretando perda de receita considerável para as instituições, obrigando-as a rever estratégias”. Nesse sentido, a universidade rescindiu o contrato com a Educafro e com as outras instituições com as quais mantinha convênios. Ressalta, porém, que a medida não afeta alunos da ONG já beneficiados.

Frederico Abreu, diretor financeiro da Kroton, maior grupo de educação privada do país, afirmou, na semana passada, que “existe um potencial de aumento da inadimplência”. Ele admitiu que o pagamento em dia desde o início do ano está “um pouco pior”. A empresa trabalha em planos de controle da evasão de alunos diante da queda da renda da população e de mudanças regulatórias no Fies.

O funcionário público Reinaldo Oliveira adiou a entrada do filho na faculdade:

— Em fevereiro, teria como pagar a mensalidade do Pedro. Mas o aluguel subiu quase 65%. Pensamos em partir para a compra da casa própria, mas não é viável pagar a entrada ou valor das prestações.

Já a consultora de negócios Fernanda Alves cogita trocar o curso presencial por outro à distância, no qual a mensalidade custa um terço do valor. Em 2010, ela iniciou o curso de publicidade na Unigranrio. Fez apenas um semestre. Desde então, teve dois filhos e está construindo uma casa:

— Assim que tranquei, deixei três meses em aberto. Só consegui pagar no ano passado. Tentei conseguir bolsa ou desconto para não parar, já que meu trabalho exige curso superior para que eu seja promovida.

No supermercado, menos tem de ser mais

A hora de ir às compras é, para o consumidor da classe C, a de encarar a realidade: o dinheiro no bolso já não é suficiente para encher o carrinho como antes. Com a renda garfada pela inflação, a nova classe média tem encontrado alternativas para lidar com a crise. Busca promoções, compra menos, evita supérfluos, pesquisa mais.

Essa é a receita da produtora de eventos Elma Lúcia Antônio. Com renda familiar de R$ 4 mil, ela tenta manter as compras de mês na faixa dos R$ 600. Da última vez, no entanto, não conseguiu cumprir a meta. Acabou gastando cerca de R$ 620 e diz que levou menos do que gostaria:

— Não uso mais vários produtos de limpeza. Para economizar, passo cloro em tudo.

Este ano, 28 categorias estão perdendo espaço na cesta de consumo da classe C, ante cortes de 22 na AB e 11 na DE, segundo dados da Nielsen. Outro parâmetro do freio nas compras é que 64% dos supérfluos têm presença decrescente nos itens comprados pela classe média, enquanto produtos mais básicos avançam 56%. A meta é comprar o necessário e na medida do consumo.

Fazer poucos produtos renderem mais é lema da cantora Noêmia Duque. A inspiração vem da infância. Baiana que mora no Rio há 20 de seus 44 anos, ela hoje usa as receitas da mãe que, na infância, precisava alimentar sete filhos:

— Não dava pra fazer bife todos os dias. Minha mãe fazia omelete, e a gente achava que era um manjar dos deuses. Hoje, faço risoto no lugar de moqueca para render mais.

De acordo com a Nielsen, a classe C gastava 15,1% mais do que recebia em 2013. Do ano passado para cá, essa taxa encolheu para apenas 2,9% a mais que a receita. Os reflexos no consumo são imediatos.

— Em 2015, a classe C estabilizou o número de idas ao ponto de venda e o aumento do tíquete médio. E há mudança no consumo. A categoria de acesso, quando a pessoa compra um produto que nunca consumiu, parou de crescer. E ela só faz a troca por um produto de qualidade superior ao que usa se enxergar vantagem real na troca — explica Natalia Uliano, analista de mercado da Nielsen.

Substituir marcas mais caras por mais baratas foi a estratégia encontrada pela técnica de laboratório Flávia Rezende, que cortou supérfluos. Nem o cereal matinal pedido pelo filho de 13 anos escapou da tesourada.

— Estou substituindo as marcas, principalmente. Hoje fiz compras e troquei a marca líder, que estava R$ 4,95, por outra que saiu por R$ 2,99. Meu filho adora cereal, e não estou podendo mais comprar — diz ela.

Outras estratégias são a compra de produtos de marca própria das varejistas, com preço até 30% menor, e o uso de encartes de promoções para garantir o melhor preço na boca do caixa, diz o consultor de varejo Marco Quintarelli.

Apesar do mau momento, a classe média deve continuar comprando este ano. Segundo Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing, o gasto médio dos domicílios da nova classe média baterá R$ 42,8 mil em 2015. O valor é 24% superior ao calculado para 2014, mas o avanço é menor que o das outras classes sociais, menos impactadas pela crise.

— A classe C ainda está resistindo bravamente à crise, mas, a partir do momento em que os níveis de emprego começarem a diminuir, pode ter uma menor participação no potencial de consumo brasileiro — avalia Pazzini.

Christian Travassos, gerente de Economia da Fecomércio-RJ, lembra que o forte freio em vendas é também consequência do pico de consumo experimentado nos últimos anos.

Analistas veem risco de retrocesso social

Lojas fechadas na praça central do shopping Itaipu Multicenter – Hermes de Paula / Agência O Globo

O processo de encolhimento da classe C já começou e pode se intensificar, caso o mercado de trabalho não reaja rapidamente. A análise é do economista Waldir Quadros, professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp. O pesquisador usa um critério próprio para classificar a população brasileira, em que a profissão também influencia. Pela metodologia, professores do Ensino Médio e técnicos em contabilidade, por exemplo, estão entre as ocupações mais comuns da chamada média classe média. Assim, divide o país em cinco padrões de vida, que vão de “alta classe média” a “miseráveis”.

Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), cujos dados mais recentes são referentes a 2013, Quadros calcula que, naquele ano, a população da média classe média encolheu de 2,6 milhões de pessoas, na comparação com 2012, desconsiderando o crescimento populacional no período. Os dados são de um estudo publicado no ano passado.

— Os mais prejudicados foram os que subiram recentemente, de 2004 para cá. As tendências estão claras. Olhando o que aconteceu em 2013, projetamos que 2014 e 2015 vão ser piores ainda — avalia Quadros

Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), também vê risco de encolhimento da classe C e retrocesso social:

— Se as condições atuais se deteriorarem ainda mais, o retrocesso socioeconômico será inevitável. Já existe perda de renda. Isso freia o consumo em diversas frentes, no supermercado, na saúde, na educação — afirma Oliveira. — As pessoas já estão sendo afetadas. Elas já precisam fazer escolhas que incluem perdas em qualidade de vida. Todos já sofrem um rebaixamento em bem-estar.

Rudi Rocha, pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ, lembra que a classe C tem se mostrado resiliente à desaceleração da economia. Em artigo de 2013, ele avaliava que a perda de ritmo, que já começava a aparecer, tinha pouco impacto. Mas, agora, destaca que o agravamento da crise preocupa:

— O que vemos agora é uma crise de grandes proporções. Recessões como esta tendem a afetar mais fortemente trabalhadores com baixa qualificação e com dificuldades de inserção no mercado de trabalho. De todo modo, ainda precisamos de tempo e de uma análise mais cuidadosa a respeito de como os efeitos desta recessão em particular têm se distribuído entre os diferentes setores de atividade e trabalhadores.

QUEDA NO CONSUMO

Outros especialistas reconhecem perdas, mas negam o recuo da classe C.

— A redução no número de postos de trabalho vai reduzir o padrão de vida de muitas famílias. No geral, porém, o cenário hoje não é de encolhimento da classe média. Queda de 2% no PIB e 7% de desempregos não são suficientes para reverter o avanço de mais de dez anos -— diz Marianne Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Já Bianca Ambrósio, gerente de estatística da TNS — uma das consultorias que participou da elaboração do novo critério de classificação social, em vigor desde o início do ano, destaca que não há risco de perda brusca das conquistas da última década. Isso porque o critério mais aceito leva em conta não só a renda, mas também condições mais difíceis de serem perdidas, como anos de estudo.

— O modelo de classificação socioeconômica é muito robusto A gente não vai ver um movimento brusco das classes, do tipo quem está na classe C ir para D — argumenta Bianca. — A crise vai impactar de forma mais visível só no ano que vem. Quem tem um grau de instrução elevado não vai deixar de ter. Não vão deixar de ter água encanada. O que vai acontecer é que a capacidade dos indivíduos de consumir vai diminuir.

Esse freio no consumo já aparece nos dados oficiais do IBGE, mostrando que o momento atual é o ponto mais baixo de uma trajetória de desaceleração iniciada há alguns anos. O volume de vendas do varejo cai ano a ano. Em 2012, cresceu 8,4%. Em 2013, 4,3%. No ano passado, a expansão foi de 2.2%. Agora, de janeiro a junho de 2015, registrou retração de 2,2%, pior resultado para o primeiro semestre desde 2003, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).

— O consumo continua sendo a mola propulsora, via comércio e serviços, puxando a economia. A vantagem é que nesta crise temos um cliente mais preparado do que em outras crises do passado. As pessoas têm cartão de crédito, há maior número de pessoas com carteira assinada e mais capacidade de manter o padrão de consumo — avalia Christian Travassos, gerente de Economia da Fecomércio-RJ.

Christine Pereira, diretora comercial da Kantar, lembra que a queda, que iniciou nas grandes compras, os chamados bens duráveis, já começa a aparecer no pequeno varejo, afetando os bens não duráveis também. A consultoria calcula que o volume médio de compras da classe C recuou 10% no semestre, frente a igual período do ano passado — a pior retração entre as classes pesquisadas pelo levantamento.

— A gente já estava vendo essa racionalização do consumo, com as famílias indo menos vezes aos pontos de venda. Mas, no ano passado, o volume médio se mantinha estável. Agora, começou a cair — argumenta Christine.

ESFORÇO PARA MANTER PADRÃO

Uma das principais preocupações de economistas é que uma queda do investimento em educação torne a parcela dos que ascenderam recentemente à classe média ainda mais vulnerável, em um momento de desaceleração do mercado de trabalho. Analistas estimam que o país destruirá cerca de 1 milhão de vagas formais até o fim de ano.

— Esses 40 milhões que trasladaram estão no maior risco. Eles têm, na média, uma escolaridade mais baixa, e consequentemente uma produtividade mais baixa. São as pessoas menos demandadas pelo mercado de trabalho. Quando o mercado está em crise, demite quem tem menos produtividade — explica Manuel Thedim, coordenador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS).

A boa notícia é que há um esforço da classe C para manter as conquistas e o padrão de vida atual. As pessoas passaram a buscar formas de complementar o orçamento, o que inclui atividades informais e formais. Áreas como as de gastronomia, beleza e bem-estar estão entre as que podem garantir um dinheiro a mais para as famílias nesse momento de aperto no bolso.

O Senac RJ registrou o dobro de acessos por informações sobre curso de maquiador em seu site este ano, na comparação com igual período de 2014. A área de ensino à distância — que oferece cursos técnicos com preços até 30% menores que os dos cursos presenciais e maior flexibilidade de horário — teve 50% mais consultas.

— O brasileiro vai tentar se virar, tem muita criatividade. Vai procurar saídas para atravessar essa crise. Mas a gente está torcendo que esse momento passe o mais rápido possível — afirma Ricardo Ismael, professor do departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio.

Penhora de joias aumenta 17%

por Juliana Garçon / Luiza Xavier

Em 2001, o pai de Ovídio Faria morreu e deixou um cordão de ouro penhorado na Caixa – Leo Martins / Agência O Globo

Com juros em alta, crédito mais escasso e a capacidade de endividamento dos brasileiros abalada pela crescente inadimplência das famílias —, mais gente está se voltando para uma tradicional forma de conseguir dinheiro com custo relativamente baixo e pouca burocracia: o empréstimo garantido com penhor de joias e metais preciosos, que dispensa análise cadastral, comprovação de renda e avalista. Nos primeiros seis meses deste ano, o número de pessoas que foi a uma agência da Caixa — único banco que faz a operação no país — buscar um fôlego imediato, usando o penhor, aumentou em 16,6% em comparação com o primeiro semestre do ano passado. O salto foi especialmente alto em março, quando o volume de contratos superou em 34% o registrado em igual mês de 2014.

E o contingente de interessados pode ser maior, mas a Caixa só tem avalistas e faz empréstimos mediante penhor em 479 de suas 3.404 agências. A instituição pretende, até o fim do ano, ampliar os canais de renovação de contratos do penhor, e a operação poderá ser feita até por internet, diz o superintendente de Estratégia de Pessoa Física da Caixa, Jeyson Leyser. Hoje, são fechados 60 mil contratos por mês, com valor médio de R$ 1.360. O limite para empréstimo imediato é de R$ 100 mil.

Os apelos são evidentes: com poucos documentos e um objeto de valor — diamantes lapidados, pérolas, joias, relógios e canetas originais de valor, metais preciosos (ouro, platina, prata e paládio) e pratarias autênticas —, é possível obter dinheiro no dia, com seis meses para quitar e um dos menores custos do mercado — juro de 1,93% ao mês, contra a média, em julho, de 4,13% ao mês no crédito pessoal e de 10,1% do cheque especial, conforme pesquisa da Associação Nacional de Executivos de Finanças.

VALOR AFETIVO NÃO TEM PREÇO

Mas, às vezes, o barato sai caro — em termos financeiros e sentimentais. O professor de educação física Ovídio Faria que o diga: em 2001, o pai dele morreu e deixou um cordão de ouro penhorado na Caixa. Ele entrou com processo para obter o alvará que liberaria o item, mas, toda vez que levava o documento à agência, os funcionários alegavam que não se tratava do papel adequado. O vaivém durou uma década. Após reclamação ao GLOBO, a Caixa informou que encaminhou ofício ao cartório sobre o penhor, “tendo em vista que a sentença judicial contemplava decisão diferente da que constava no alvará apresentado”, acrescentando: “Desta forma, a agência Bangu reiterou o ofício (…) e aguarda retorno do cartório para providenciar a entrega das garantias”. Acontece que a joia sumiu, conta o professor.

— No processo, dizem que foi extraviada.

O cordão foi, então, avaliado em R$ 3.500, cifra que Faria considera baixa. Além disso, ele se ressente porque a peça tinha valor afetivo.

— Sempre disseram que o cordão estava lá, mas nunca mostraram. O cordão tem mais de cem gramas de ouro e foi do meu pai — pondera.

Procurada pela repórter, a Caixa disse que não se manifestará sobre os desenvolvimentos do processo e informa que, em caso de morte do cliente, “o empréstimo deve ser liquidado pelos herdeiros e, para a entrega dos bens, é necessária a apresentação de alvará judicial, inventário ou partilha por escritura pública”.

Numa situação análoga, uma cliente de São Paulo ficou sem as joias penhoradas porque a agência onde estavam guardadas foi assaltada. A Caixa reconheceu o dever de indenizá-la, mas o valor a ser pago gerou impasse. O caso acabou na Justiça, que, em primeira instância, condenou o banco a pagar R$ 2.044,25. A cliente achou pouco e pediu elevação do montante para R$ 14.155,80, além de ressarcimento por danos morais, pois as peças tinham valor sentimental: algumas tinham pertencido à mãe, outras foram recebidas em ocasiões especiais, como aniversário de casamento. O processo ainda está em tramitação.

Sem comentar o caso específico, a Caixa afirma apenas que “utiliza diversos meios de segurança com modernos equipamentos eletrônicos para proteção das garantias”, completando: “Em quase dez anos, houve apenas uma ocorrência de furto com menos de 50 garantias. Não existem ocorrências registradas de algum tipo de desvio de garantia”.

No Rio, o aposentado Marcelo Bastos Goulart conseguiu o empréstimo — e a devolução das peças, quando fez o pagamento —, mas reclama que o atendimento foi muito ruim. Relata que teve de esperar “por horas” na agência de Copacabana até ser atendido. A Caixa diz que tem cerca de 900 avaliadores de penhor, “que suprem a necessidade atual de atendimento”.

O ALTO CUSTO DA INADIMPLÊNCIA

Se o empréstimo é barato, o custo da inadimplência é alto: se o pagamento estiver com mais de 30 dias de atraso, a peça pode ir a leilão. E, segundo a Caixa, não é preciso nem avisar o cliente. “Mesmo não sendo obrigatório, a Caixa emite aviso de licitação para todos os clientes que possuem contratos relacionados, além de publicar edital em jornal de grande circulação e em sua vitrine virtual”. O advogado Gustavo Gonçalves Gomes, sócio de relações de consumo do escritório Siqueira Castro, discorda:

— Se, por algum motivo, o banco precisar se desfazer do bem em virtude do não pagamento da dívida, o devedor precisa ser cientificado de que o bem poderá ser leiloado ou vendido.

Não foi o que aconteceu com uma cliente da região Sul, que ajuizou uma ação após suas joias — de grande valor sentimental, entre elas, alianças de casamento e bodas — serem leiloadas. Ela argumentou que, ao não comunicar que venderia as peças, a Caixa feriu o Código de Defesa do Consumidor (CDC). O Tribunal Regional Federal da 4ª Região contudo, negou indenização por danos morais.

A respeito do leilão, a Caixa destacou que “não tem interesse na venda das garantias, mas é um instrumento necessário para manter a carteira saudável. O cliente deve manter seus dados cadastrais atualizados, principalmente quando houver alteração de endereço”. E frisou: “O percentual de garantias vendidas é menor que 1% do estoque”.

Para evitar que a dívida se transforme em mágoa, aconselha Gonçalves, é preciso estar atento a todas as condições: valor estimado do bem, juros e prazos de vencimento.

— Esse tipo de operação é muito comum em crises, quando o consumidor precisa obter rapidamente algum tipo de aporte financeiro.

Fonte: G1

Expectativa é que a nova CPMF traga R$ 80 bilhões aos caixas dos governos

A proposta pode chegar ao Congresso na próxima segunda-feira, a depender dos avanços das negociações com os parlamentares

Com novo nome, mas a velha alíquota de 0,38% sobre qualquer operação bancária, o governo ameaça ressuscitar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), admitiu ontem à noite o ministro da Saúde, Arthur Chioro. Ele assegurou que não se trata de uma proposta pessoal, mas algo discutido com a presidente Dilma Rousseff — no primeiro semestre, ela o desautorizou a falar sobre o tema.

Na tentativa de tornar palatável a proposta altamente impopular — ainda mais com o país mergulhado em recessão —, a ideia é dividir a receita com estados e municípios, que seriam obrigados, como o governo federal, a direcionar os recursos exclusivamente para a área. Daí o novo nome: Contribuição Interfederativa da Saúde (CIS). Só que o tributo deve financiar programas de assistência média que já existem, portanto sobrarão recursos de outras fontes para cobrir o crescente rombo nas contas públicas.

A confirmação da medida pelo ministro da Saúde funcionou como contraponto a declarações de outros integrantes da Esplanada e de líderes da base aliada, que negaram, ao longo do dia, a intenção da volta no próximo ano do imposto do cheque, como era conhecida a CPMF.

Segundo Chioro, há um entendimento avançado entre os governos federal, estaduais e municipais em adotar o que ele chamou de Contribuição Interfederativa da Saúde (CIS). A alíquota de 0,38% é uma referência para o debate e é o mesmo percentual da última cobrança da CPMF, antes de ser extinta pelo Congresso há oito anos. “Os repasses serão feitos diretamente para estados e municípios, ficando uma terceira parte para o governo federal”, disse Chioro.

A proposta pode chegar ao Congresso na próxima segunda-feira, a depender dos avanços das negociações com os parlamentares. O ministro afirmou que ainda não está definido se o texto será em forma de Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que prevê quórum qualificado e dois turnos de votação nas duas Casas, ou um projeto mais simples, de lei complementar.

A expectativa é que, com a aprovação da contribuição, os governos tenham em caixa R$ 80 bilhões por ano — hoje, os gastos com a saúde no país chegam a R$ 215 bilhões. Segundo Chioro, os recursos seriam usados diretamente para a saúde, ao contrário da antiga CPMF, que estabelecia repasses também para a Previdência Social e para o Fundo de Erradicação da Pobreza. “Há uma dificuldade e uma pressão do governo federal e dos governos estaduais e municipais para bancar esse gasto”, disse Chioro.

Fonte: Correioweb

Lava-Jato ajuda a derrubar construção civil no pior trimestre desde 1996

Setor amarga queda de 8,4%, afetando os indicadores de investimento


Setor de construção civil teve o pior trimestre desde o início da série história do PIB, em 1996 – Fabio Rossi / Agência O Globo

 

Com peso de 28% sobre a indústria, a construção civil teve o seu pior trimestre desde o início da série histórica do PIB, em 1996. Com uma queda de 8,4% frente ao primeiro trimestre, o setor respondeu por pelo menos um quinto (21%) da queda de 1,9% do PIB, segundo cálculo da LCA Consultores. Isso representa 0,4 ponto percentual do resultado negativo. Se forem incluídos impactos indiretos — o setor é intensivo em mão de obra e, por isso, demissões têm impacto em consumo — essa parcela pode chegar ao dobro, ou 0,8 ponto percentual.

As perdas também ocorreram em outras bases de comparação. Frente ao segundo trimestre do ano passado, o recuo foi de 8,2%, o pior desde 2003. No acumulado do semestre, o recuo já chega a 5,5%.

Um desempenho que tem impacto direto sobre o nível de investimentos no país. No segundo trimestre, a formação bruta de capital fixo (indicador que inclui a compra de máquinas, equipamentos e a construção civil) teve queda de 8,1% em relação aos três meses anteriores. Frente ao mesmo período do ano passado, o tombo foi de 11,9%, o pior desde 1996.

CBIC: ‘MORTE ANUNCIADA’

Com isso, a taxa de investimento recuou de 19,5% do PIB, no segundo trimestre de 2014, para 17,8% — menor percentual para o período em oito anos. Em proporção semelhante, caiu também a taxa de poupança, formada pelos recursos guardados por empresas, famílias e governo: e 16% para 14,4%. Segundo Carlos Rocca, diretor do Centro de Estudos do Ibmec e autor de estudos sobre a deterioração da poupança nacional, a maior parte desse recuo decorre do estrangulamento da capacidade de poupar das empresas.

— Essa queda da taxa de poupança já vem há alguns anos. A partir de 2010 e 2011, isso começa a acontecer de modo muito significativo — diz Borges.

Com a piora do ambiente para investir, as perspectivas para a construção civil não são boas. Para José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a situação do setor é uma “morte anunciada”.

— Estamos alertando o governo desde o início do ano que isso iria acontecer. Elevar impostos e reduzir investimento para equilibrar as contas públicas não dá certo. Sem receita, a conta não fecha — diz Martins, que estima corte de 500 mil empregos no setor neste ano. — É preciso coragem para encarar o problema real: cortar gastos públicos.

Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, lembra que a situação tende a se deteriorar, com a piora da economia e do cenário político:

— Não é surpresa essa queda na construção civil. E a tendência não é de melhora, porque o setor é um reflexo da situação econômica e política do Brasil.

Para Fabio Silveira, da GO Associados, é preciso uma retomada da confiança.

 

— O investimento depende de confiança e expectativa. Quando não tem, não há investimento — afirma. — Para melhorar, tem de baixar o endividamento das famílias e das empresas. Aí vamos ver a tão decantada força do empreendedorismo, é preciso saber como e onde cortar.

Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos de Construção da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que o resultado da construção civil não foi inesperado. Pesquisa de emprego da FGV mostrou recuo de 8,8% nas empresas com canteiro de obras na construção civil no primeiro semestre, em comparação ao mesmo período de 2014.

— A sondagem da Construção mostrou queda de 26% na confiança do empresário em agosto. O setor está sofrendo pressão de todos os lados. Há corte de investimentos públicos e privados, além de queda na demanda — explica ela.

Brasileiro começa a trocar o avião pelo ônibus

Com queda na renda e alta do dólar, viagens para destinos domésticos ganham espaço

Sala de espera na rodoviária: empresas de transporte de ônibus esperam se beneficiar da migração de passageiros que usavam o avião – Agência O Globo / Custódio Coimbra

Diante da necessidade de economizar, o brasileiro volta a incluir o ônibus em seus planos de viagem. Com o orçamento apertado, a rodoviária ganha espaço, principalmente, para quem viaja com frequência. Um levantamento do Ministério do Turismo e da Fundação Getulio Vargas mostra que 14% dos entrevistados pretendem usar o transporte rodoviário nos próximos seis meses. Trata-se do maior percentual para o mês desde 2005, quando a pesquisa começou a ser divulgada. Segundo especialistas, o pano de fundo da mudança de rota inclui a queda na renda e a alta do dólar.

A preferência pela viagem de avião recuou de 58,3% em setembro de 2014 para 51,8% no mês passado. Nos últimos anos, com os ganhos de renda conquistados antes de a crise reduzir o poder de compra do brasileiro, o número de “marinheiros de primeira viagem” era de tal ordem que as agências de turismo passaram a publicar guias para quem começava a se familiarizar com a rotina dos aeroportos. A pesquisa do Ministério do Turismo mostra essa trajetória. Entre 2005 e 2010, nas sondagens realizadas em setembro, a intenção de viajar de ônibus caiu constantemente, até chegar a 8%. Agora, a tendência começa a se inverter. A alta do dólar afeta diretamente o custo do querosene de aviação, o combustível usado pelas aéreas.

— É como carne de segunda e carne de primeira. Quando aumenta a renda, aumenta o consumo de carne de primeira. E quando diminui, acontece o contrário — compara o consultor Adalberto Feliciano, professor licenciado de Economia do Transporte Aéreo da Universidade Anhembi Morumbi.

Mesmo assim, Feliciano avalia que a retomada das viagens de ônibus será apenas parcial:

— Se o ônibus perdeu 50% dos passageiros para o avião, não vai ganhar esses 50% de volta.

TROCA GRADUAL

Entre viajantes frequentes, há quem comece gradualmente a substituir o transporte aéreo pelo rodoviário. É o caso do produtor Vitor Aiello, usuário da ponte aérea Rio-São Paulo. Anteontem, ele embarcava para fazer o trajeto pelas estradas, pela primeira vez:

— Tive de fazer essa viagem em cima da hora. Antes, conseguia preços melhores, mesmo com pouca antecedência. Agora, fui pesquisar, e a passagem estava R$ 500 só a ida. Preferi pagar R$ 90 na passagem de ônibus.

A biomédica carioca Julia Lemos sente na pele a alta de preços. Com um namorado mineiro, viaja ao menos uma vez por mês para Belo Horizonte. Até o início do ano, fazia o trajeto de avião — desde que a passagem saísse por menos de R$ 200, o que tem sido cada vez mais difícil:

 

— Nas últimas vezes que meu namorado veio para cá, veio de ônibus. Na semana passada, ele encontrou passagem de ida e volta de avião por mais de R$ 900. Optamos pelo ônibus.

– Editoria Arte

Para as viagens de férias, a pesquisa do Ministério do Turismo mostra ainda outra tendência que beneficia o transporte rodoviário: a preferência por destinos domésticos. Também na esteira do dólar alto, as rotas internacionais têm sido deixadas de lado. Em setembro, 77,6% dos entrevistados para o estudo responderam que pretendem fazer viagens pelo Brasil, contra 76,4% calculados em setembro de 2014. Viagens para o exterior eram preferência de 18,7%, contra 20,4% no mesmo mês do ano passado.

José Francisco Salles Lopes, diretor de Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, acrescenta que as rotas mais próximas ganham espaço, quando o consumidor tem menos para gastar.

— Se a pessoa está pretendendo sair de Juiz de Fora e passar uma temporada no Rio, o ônibus é a opção natural — avalia.

O aumento da preferência pelo ônibus, no entanto, não impediu o setor de amargar um mau momento. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o número de passageiros pagantes em ônibus interestaduais recuou 5,16%, para 23 milhões de pessoas.

As empresas confirmam a fase ruim. Segundo Carolina Esteves, gerente de marketing da Util, a tendência é que a alta do diesel afete a margem de lucro, já que o mercado é regulado, e não é possível reajustar preços até julho. A migração do meio aéreo para o rodoviário traz esperança ao setor.

— Existe uma estimativa de aumento da demanda por uma migração dos passageiros do aéreo que, nos próximos meses, possivelmente, passarão a usar as empresas rodoviárias. Esse cenário é muito recente, e ainda não estamos sentindo um impacto significativo, mas esperamos aumento de 10% nos próximos meses — disse a executiva, em entrevista por e-mail.

Nos terminais de São Paulo, a crise também foi sentida. Segundo a Socicam, empresa que administra as rodoviárias da cidade, o movimento nos três terminais paulistas (Tietê, Barra Funda e Jabaquara) recuou 1,1% entre janeiro e setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado, ficando em 13,3 milhões de passageiros. Para os feriados de Natal e Ano Novo, a expectativa é de estabilidade.

No Rio, a rodoviária Novo Rio também sentiu a queda de passageiros, e diz que busca atrair clientes com novas instalações. “Nos últimos 5 meses, registramos, inclusive, uma queda de aproximadamente 8% no embarque de passageiros pela Novo Rio, em reflexo da crise econômica”, afirmou a concessionária, em nota.

ALTA NO FERIADÃO

Em nota, a viação 1001 admitiu o momento ruim para o setor, mas destacou que busca competir com outros meios de transporte. “O transporte rodoviário de passageiros também foi afetado pela crise, com retração da demanda e aumento dos custos”.

Para Cesário Martins, sócio da ClickBus, plataforma de vendas de passagens rodoviárias on-line, o cenário é parecido com o que o setor viveu em 2013, com a alta do dólar — na época, em outro patamar. A empresa é parceira de 60 companhias de ônibus e tem 1 milhão de usuários frequentes:

— Em 2013, quando o dólar subiu a R$ 2,28, valor alto para a época, a gente viu esse movimento. Para o feriado de 12 de outubro, tivemos alta de 10% nas vendas em relação ao último feriado prolongado, de 7 de setembro. Para o fim do ano, a expectativa é de alta de 150% em relação ao ano passado.

Fonte: O Globo