Como investimentos estrangeiros diretos podem ajudar o Brasil a sair da crise

  • Um relatório entregue em 6/10/16 pela agência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Comércio (UNCTAD) estima um aumento nos níveis de investimento estrangeiro direto nos Brics – bloco de cinco países emergentes do qual o Brasil faz parte – de cerca de 10% em 2016. Isso corresponde a uma quantia entre US$ 270 bilhões (R$ 871 bilhões) e US$ 290 bilhões (R$ 936 bilhões).

Brics devem receber até US$ 290 bi neste ano, mas investimento pode salvar Brasil da crise?
Brics devem receber até US$ 290 bi neste ano, mas investimento pode salvar Brasil da crise?

Foto: Dian_S_Cahya / iStock

China e Índia devem atrair a maior parte disso, enquanto o Brasil disputa o interesse dos investidores com os outros dois integrantes do grupo, Rússia e África do Sul.

Os recursos que se enquadram nessa categoria são aqueles aplicados em atividades produtivas, criações, fusões e aquisições de empresas e empréstimos entre matrizes e filiais. E, segundo especialistas consultados pela BBC Brasil, podem ter um papel importante na tarefa de tirar o país da crise.

Por que?

Eles explicam que há diversas formas de se incentivar a retomada do crescimento, entre elas o avanço das exportações, do consumo interno, dos gastos públicos e, por fim, o investimento estrangeiro direto.

Essa última opção, avaliam, seria a mais promissora para o país diante do atual contexto econômico.

No caso das exportações, elas geram entrada de capital quando o saldo positivo na balança comercial é positivo – ou seja, quando há mais exportações que importações.

O problema é que o país é um grande vendedor de minérios e bens agrícolas (as chamadas commodities), que atualmente registram preços baixos. Além disso, como lembra o professor Eduardo Gomez, especialista em desenvolvimento internacional e economias emergentes do King’s College, de Londres, a economia da China, a principal compradora, passa por processo de desaceleração.

Outra possibilidade, a geração de empregos por meio do investimento público em grandes obras de infraestrutura, parece distante, uma vez que o governo Michel Temer já deu sinais de que se esforçará em frear o avanço das contas públicas.

Mas, para o diretor de América Latina da agência de classificação de risco Moody’s, Alfredo Coutino, a aposta da gestão faz sentido – e pode, no fim, ajudar o país a voltar a crescer.

“O governo prometeu e mostrou vontade de retornar à disciplina macroeconômica, que é um elemento chave para a retomada de confiança dos mercados. Se isso se materializar, não seria uma surpresa ver o Brasil retomar o crescimento positivo em 2017”, disse.

Um dos carros-chefes dos anos petistas, o incentivo ao consumo – sobretudo da classe média – gera demanda do setor produtivo, aquecendo a economia. Com o avanço dos índices de endividamento e desemprego, porém, não parece uma opção viável nos dias atuais.

Menos volátil

“No presente momento no Brasil, estão faltando praticamente todos os ingredientes para o desenvolvimento. Eu não vejo gastos do governo, eu não vejo exportações, eu não vejo consumo. Mas não acho que devemos ser predominantemente pessimistas”, avalia Gomez.

“Investidores são sábios e estão se dando conta de que talvez seja boa hora de investir, comprar barato, pois o Brasil passa por ciclos de altos e baixos”, avalia.

Investimentos estrangeiros diretos são importantes porque possibilitam o aumento da capacidade produtiva nacional. Isso, na maioria das vezes, pressupõe a montagem de fábricas e escritórios, o que gera ativos e empregos.

Queda no preço de commodities como a soja prejudica exportações brasileiras
Queda no preço de commodities como a soja prejudica exportações brasileiras

Foto: Getty Images / BBCBrasil.com

Ou seja, é diferente do capital especulativo, que entra por meio da bolsa de valores e é volátil. O investimento estrangeiro direto tampouco pode “fugir” rapidamente do país o que, segundo os especialistas, resulta em benefícios concretos para o desenvolvimento local a médio e longo prazo.

Aplicações nos Brics

Juntos, os cinco países Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) respondem por 41% da população mundial e por quase um quarto (23%) da riqueza mundial. Eles receberam 15% dos investimentos globais diretos em 2015.

O Brasil, porém, é visto como uma das economias aparentemente mais imprevisíveis do bloco.

Porém, Astrit Sulstarova, chefe do departamento de Tendências de Investimento e Dados da UNCTAD, destacou que, apesar das dificuldades, o país vem se mostrando resiliente e promissor.

O grupo ligado à ONU consultou executivos de empresas multinacionais para saber onde eles pretendem investir nos próximos dois anos, e o Brasil ficou em sétimo no ranking mundial, entre México e Japão. No topo da lista estão Estados Unidos, China e Índia.

“Veja, apesar da situação política, o Brasil está entre os 10 mais. Os investidores estão sedentos por barganhas de curto prazo nos países em desenvolvimento”, afirmou Sulstarova.

O economista sustenta que uma moeda menos valorizada contribuirá para atrair investimentos e que empresas internacionais estarão de olho nas oportunidades de fusões e aquisições no país.

Cita como exemplo de “pechincha” a compra pela British Tobacco, por US$ 2,45 bilhões (R$ 7,89 bilhões), da operação pertencente à Souza Cruz.

Coutino concorda. “Certamente uma moeda depreciada está deixando os ativos no Brasil mais atraentes para os investidores. Levará um pouco mais de tempo para eles retornarem, particularmente até que o clima social e político se estabilize, mas as privatizações e as desregulamentações deixarão o Brasil mais atraente.”

Em 2015, o Brasil recebeu US$ 65 bilhões em investimento estrangeiro direto. No ano anterior, o total registrado fora de US$ 73 bilhões, o que em um comparativo mundial deixava o país em oitavo lugar entre os destinos mais atraentes, segundo dados da UNCTAD divulgados em junho.

O último relatório da UNCTAD afirma que China e Índia estão na liderança do bloco e que a tendência macroeconômica do Brasil e da África do Sul é de queda no fluxo de entrada desses investimentos.

América Latina

No contexto da América Latina, o estudo ressalta ainda que o cancelamento de investimentos da Petrobras e de outras petroleiras, como Pemex (México) e Ecopetrol (Colômbia), levou a uma queda de 86% na entrada de capital no setor em 2015.

Por outro lado, os dados da equipe de Sulstarova apontam uma alta de 80% em fusões e aquisições no primeiro semestre desse ano, principalmente por operações no Brasil, Chile e Colômbia.

Setor de petróleo na América Latina teveresgistrou queda de 86% na entrada de capital em 2015, segundo UNCTAD
Setor de petróleo na América Latina teveresgistrou queda de 86% na entrada de capital em 2015, segundo UNCTAD

Foto: Getty Images / BBCBrasil.com

Em 2015, os investimentos na América Latina e no Caribe, excluindo transferências bancárias para offshores, totalizaram US$ 168 bilhões.

Na média, a região deverá seguir a mesma tendência mundial, e o IED deve recuar entre 10% e 15% neste ano, para algo entre US$ 140 bilhões e US$ 160 bilhões. Os maiores investimentos devem ser nas manufaturas de alimentos, bebida, informação e tecnologia.

Cenário mundial

As causas do cenário “um pouco pessimista”, segundo o relatório, são a redução do consumo nos países ricos, a ausência de políticas eficazes contra sonegação de impostos, a má performance de exportadores de commodities e a queda da rentabilidade das multinacionais.

Riscos geopolíticos e tensões regionais podem amplificar a retração, afirma o órgão. De acordo com o relatório, multinacionais estariam em busca de oportunidades de investimento na economia digital e em locais onde o processo de urbanização é observado, criando novos mercados consumidores.

“Nós prevemos que o IED (investimento estrangeiro direto) irá se recuperar em 2017, para então atingir US$ 1,8 trilhões em 2018, porém permanecerá mais baixo que o pico anterior à crise (de 2008)”, concluiu em um comunicado o secretário-geral da organização, Dr. Mukisha Kituyi.

Fonte: Terra

Para governo, queda da moeda americana pode ajudar a reduzir rombo fiscal

Impacto positivo sobre a inflação abriria espaço para redução dos juros e custos do BC

  – Akos Stiller / Bloomberg

 

A equipe econômica avalia que a forte queda do dólar nas duas últimas semanas — que foi influenciada pela perspectiva de impeachment da presidente Dilma Rousseff e levou a moeda americana a ser cotada abaixo de R$ 3,50 — pode indicar o início de um amplo ajuste cambial. E uma ajuda decisiva no combate à inflação e no campo fiscal.

Para a área econômica, a queda do dólar ajuda a desinflar os índices de preços, dando espaço a uma queda rápida da Taxa Selic, já no segundo semestre de 2016. A pressão sobre as contas públicas também diminuiria, pois tem no pagamento de juros um de seus grandes vilões.

 

Nos 12 meses fechados em fevereiro, o déficit nominal do setor público somou R$ 638,6 bilhões, ou 10,75% do PIB, sendo que a conta de juros foi de nada menos que 8,64% do PIB.

Dólar mais barato também favorece a redução da exposição cambial do Banco Central (BC). Os leilões de swaps cambiais realizados para segurar a cotação no passado geraram enorme prejuízo, que eleva a dívida pública. Desde março, porém, de carona na queda da moeda americana, o BC faz operações reversas, lucrando só em março R$ 42,69 bilhões.

Outro aspecto positivo do ajuste é que grandes empresas que têm exposição ao dólar terão ganhos patrimoniais significativos com o fortalecimento do real. Mas técnicos alertam que uma valorização excessiva e rápida do real embute riscos. Pode provocar uma bolha, a estourar em meados de 2017, e pressionar o BC a queimar reservas para tentar segurar as cotações.

Na crise do emprego, internet vira refúgio de  oportunidades

Setor de TI deve contratar 30% a mais este ano. Web  cresce como opção ao mercado formal

Negócio em casa. Juliana  Amorim já trabalhou com desenvolvimento de sites e hoje tem uma loja virtual de  roupas – Domingos Peixoto / O Globo

Na contramão de vários setores da economia que estão fechando  postos de trabalho, o mercado de Tecnologia da Informação (TI) continua  oferecendo oportunidades, com perspectivas de aumentar as contratações em 30%  neste ano. O setor emprega 1,3 milhão de trabalhadores, segundo dados da  Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom), mas há  carência de profissionais, com déficit estimado em 400 mil até 2022.

Segundo o professor Luiz Coelho, coordenador da Escola Superior de Redes  (ESR) — unidade de serviço da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, que forma  profissionais na área —, as empresas e instituições do setor público,  principalmente, precisam reduzir custos, melhorar processos e gerar novas  oportunidades de negócios.

— Há uma demanda cada vez maior por profissionais que consigam implantar  processos para atender a uma série de portarias e instruções técnicas demandadas  pelos órgãos de controle e do mercado nos últimos anos — explica ele.

ASSESSORIA REMOTA E MARKETING DIGITAL EM ALTA

Professora de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), Anna Cherubina Scofano  reforça que, enquanto o emprego tradicional com carteira assinada, chefe, local  e horário fixos está sumindo, a internet se tornou um refúgio de oportunidades.  Sites e blogs são meios de fazer negócios na web, que permitem a pessoas leigas  em Tecnologia da Informação (TI) criarem seu espaço sem custos iniciais.

Ela listou 15 áreas promissoras. São elas: web design, marketing digital,  organização de eventos, serviços de TI, assessoria remota (qualquer tipo), banho  e tosa de animais, passeadores de animais, personal trainer, personal organizer  (qualquer tipo de organização, armários, malas de viagem), personal stylist,  delivery, venda de produtos caseiros, motoboy, editoração, decoração e enfeites  para festas.

EM VEZ DO CHEFE, O CLIENTE

Para Anna Scofano, a nova era traz mudanças no comportamento dos  trabalhadores e no velho currículo de papel. As entrevistas passam a ser  realizadas também de forma virtual. Ela destaca que a tecnologia é um caminho  irreversível e uma ferramenta alternativa para quem quer ganhar dinheiro usando  o talento e explorando seus hobbies.

— Os profissionais que se arriscam nessa área por conta própria precisam  lembrar que não têm chefe, e sim um cliente. Por isso, terão que se dedicar,  porque a satisfação com o serviço prestado faz parte do portfólio — afirma  Anna.

Mãe de duas crianças pequenas, Juliana Amorim, de 36 anos, não pensa em  voltar a trabalhar com carteira assinada. Na segunda gravidez, decidiu montar  uma loja virtual com roupas exclusivas e diferenciadas para bebês. Formada em  desenho industrial e design gráfico, Juliana fez um curso de modelagem para  lançar a grife Boduchinhos, inspirada no apelido do filho. No começo, era só  enxoval para bebês, mas, em outubro do ano passado, ela começou a fazer roupas e  já tem pedidos para revenda. Juliana faz parte de um universo de pessoas que  buscam alternativas diante da crise no mercado formal de trabalho.

— A loja teve uma boa aceitação. As pessoas gostam da combinação de cores dos  vestidos das meninas e das estampas nas camisetas dos meninos, que eu desenho,  combinadas com listras também coloridas. Ainda estou na fase de investimento em  estoque, mas as expectativas de retorno são boas — diz ela.

Ela já é familiarizada com o mundo da web, ao qual se dedica há cerca de três  anos. Desenvolve sites para empresas, desenha a página inicial e conta com a  ajuda de parceiros quando o cliente deseja incluir uma quantidade maior de  informações, com grau maior de interação com os internautas. No começo da  carreira, distribuiu e-mails para agências de publicidade no Rio e hoje consegue  obter renda mensal que varia entre R$ 3,5 mil e R$ 12 mil como freelancer,  dependendo da quantidade de projetos e do grau de complexidade.

— Já tive empregos com carteira assinada. Mas hoje prefiro trabalhar em casa,  porque consigo controlar melhor os horários e ficar próxima dos meus filhos — diz Juliana.

Depois de ter trabalhado em grandes empresas fora do país na área de RH e  mídia digital, Flora Cosentino, de 32 anos, voltou ao Brasil, onde se prepara  para vender serviços na internet. Quer fazer consultorias para empresas e  profissionais de diversas áreas, interessados em entrar no mundo digital.  Segundo ela, que morou no exterior por oito anos, há muita chance no mercado  nacional. Ela cita como exemplo um restaurante de bairro que oferece um  excelente serviço, mas que não tem site nem página no Facebook, nem aparece em  uma busca no Google.

— Senti esse tipo de dificuldades quando cheguei ao Brasil. Nós estamos muito  atrasados em relação a outros países — destaca Flora.

Em meio à crise, registro de MEIs no Rio cresce 36% no  primeiro bimestre

Formalização do trabalho autônomo é recurso para  aprimorar negócios

André Martins, dono do  Mega Lanches, hoje com 12 funcionarios, começou o negócio próprio com as moedas  que juntou dentro de uma garrafa PET – Divulgação

— Estamos observando um aumento no empreendedorismo por necessidade. Por  causa da questão econômica, o MEI acaba sendo uma maneira de formalização para  uma pessoa que saiu de um trabalho tradicional, e a mortalidade desse tipo de  negócio é uma preocupação do Sebrae — explica Juliana Lohmann, analista de  políticas públicas do Sebrae/RJ.

O presidente do Sebrae nacional, Guilherme Afif Domingos, considera que o  aumento no número de pedidos judicais representa uma dificuldade daqueles que  estão sem condições de atender aos seus compromissos, mas é otimista em relação  ao cenário para os pequenos empresários:

— Tem gente que está crescendo na crise porque está enxergando oportunidades  onde os outros estão saindo.

Este é o caso de Gustavo Queiroz, 29 anos, que a partir de uma demanda  pessoal por serviços de empresas que ofereçam esportes radicais inovadores no  Rio de Janeiro, criou, em dezembro, sua própria empresa. Ele organiza trilhas,  aulas de yoga, aluga pranchas infláveis para a prática de stand up paddle e  equipamentos para o flyboard, uma espécie de jet ski que faz as pessoas  plainarem sobre a água, apostando no pioneirismo e na novidade desse tipo de  atividade no país.

— Está ocorrendo uma mudança nos hábitos da sociedade. Hoje em dia, as  pessoas estão muito mais preocupadas com a saúde, se alimentam melhor e praticam  mais esportes e exercícios físicos. Eu enxerguei isso como uma oportunidade — conta.

Gustavo já tinha uma empresa no setor esportivo com outros sócios, mas  decidiu criar a Green Sports Rio e partir para o empreendedorismo individual.  Antes, porém, precisou se preparar lendo livros da área e buscando a ajuda de  uma consultoria:

— Fazer algo novo é um grande desafio porque temos que aprender coisas novas  também. Eu não tinha experiência e precisei estudar e me preparar antes de  entrar nesse novo negócio.

ESTUDAR É ESSENCIAL

Buscar conhecimento é a base para quem deseja abrir uma empresa, segundo  Juliana Lohmann. Ela aconselha os candidatos a novos empresários fazerem um  planejamento montando um plano de negócios e identificando oportunidades para o  setor em que desejam trabalhar.

— O Sebrae oferece o apoio necessário para as pessoas que querem abrir um  negócio, como cursos, palestras, oficinas e atendimento na nossa central de  relacionamento. Há cursos pagos mas também tem muita coisa gratuita — conta.

Para o presidente da Jucerja, Luiz Paranhos Velloso, a pacificação das  favelas do Rio de Janeiro é um dos fatores que tem contribuído para que os  trabalhadores ilegais se registrem formalmente e até consigam crédito  facilitado.

— Virar um MEI é o primeiro passo para a pessoa que trabalhava ilegalmente ou  sem registro. Isso engloba comércio de acessórios, cabeleireiros, pequenos bares  e lanchonetes — conta.

Foi depois da pacificação da Rocinha, em 2011, por exemplo, que André Martins  criou o Mega Lanches, que cresceu e hoje emprega 12 funcionários, tornando sua  história reconhecida pelo mundo como um caso de inovação nos negócios e o  alçando também ao posto de palestrante. O início, entretanto, não foi nada  fácil. Uma semana depois da pacificação da maior favela da América Latina, André  viu sua barraca de cachorro quente — que foi por anos o sustento de sua família — ser levada por um caminhão da Comlurb porque estava na irregularidade.

Uma garrafa PET cheia de moedas de um real que juntou para gastar no fim do  ano foi o único investimento para André se legalizar e abrir a empresa de  lanches em frente ao mesmo ponto onde vendia cachorro quente. Mas a falta de  informação foi outro obstáculo para o início da nova empreitada:

— Foi muito complicado porque eu não tinha conhecimentos de gestão  empresarial. Era leigo e estava perdido no meu novo negócio.

Depois do incentivo de um amigo, André procurou o Sebrae e participou de  palestras e oficinas, aprendendo mais sobre estratégias e gestão  empresarial.

— As coisas mudaram muito. Eu passei a entender como se compra, como se  vende, o que é pró labore, e comecei a fazer planilhas para ter controle de  caixa.

Foi assim que, de MEI, ele virou dono de uma microempresa há pouco mais de um  ano. Mas uma coisa que André desenvolveu fora da sala de aula foi a criatividade  e o bom atendimento. O Mega Lanches foi pioneiro a usar o Facebook para receber  pedidos e entregá-los na casa dos clientes.

— Às vezes a pessoa é mandada embora, recebe um dinheiro e resolve virar  empresário porque acha que vai ganhar mais e trabalhar menos, mas depois  descobre que não é bem assim. É importante que as pessoas façam uma pesquisa de  mercado e procurem um ramo em que elas gostem de trabalhar e que também vai  gerar retorno — diz.

MAIOR FACILIDADE PARA VIRAR MEI

Como o nome já diz, o microempreendedor individual não pode ter sócios e nem  se associar à outra empresa. Deve ter faturamento máximo de R$ 60 mil por ano e  pode empregar um funcionário que ganhe um salário mínimo ou o piso da  categoria.

O MEI legalizado passa a ter CNPJ, o que facilitará a abertura de conta  bancária, o pedido de empréstimos e a emissão de notas fiscais. O  microempreendedor será enquadrado no Simples Nacional e ficará isento dos  tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL).

Ele terá como despesas apenas o pagamento mensal, que corresponde a R$ 45  (comércio ou indústria), R$ 49 (prestação de serviços) ou R$ 50 (comércio e  serviços). O cálculo corresponde a 5% do salário mínimo, a título da  Contribuição para a Seguridade Social, mais R$ 1 de Imposto sobre Circulação de  Mercadorias e Serviços (ICMS) e/ou R$ 5 de Imposto sobre Serviços (ISS). O  pagamento deve ser feito por meio do Documento de Arrecadação do Simples  Nacional (DAS), uma guia de recolhimento emitida através do Portal do  Empreendedor.

O MEI tem direito aos benefícios previdenciários, como auxílio-maternidade,  auxílio-doença, aposentadoria, entre outros.

— Ter um CNPJ e emitir notas fiscais vai possibilitar ao MEI ampliar o  mercado e comercializar com outras empresas, negociar pagamentos com  fornecedores, conseguir crédito mais barato e realizar serviços para a  administração pública, porque mesmo com a crise as prefeituras, por exemplo,  continuam demandando serviços — diz Juliana Lohmann.

(*Estagiário, sob supervisão de Ana Perrone)

Reformados e usados: o novo jeito de consumir dos  brasileiros

Com crise, aumenta procura por brechós e serviços de  conserto, customização e aluguel

Crise economica. Hospital  de bonecas e brinquedos em São Paulo vem registrando aumento da demanda – Marcos Alves / Agencia O Globo / Marcos Alves / Agencia O  Globo

A crise econômica está criando um novo jeito de consumir entre os  brasileiros. Customizar, consertar, alugar e compartilhar produtos estão tomando  o lugar do “comprar”. O objetivo: economizar. É o que mostra estudo da  consultoria Mintel Group, que traçou as tendências do consumo nacional e  classificou os brasileiros como os “heróis da pechincha”. E esse movimento se  reflete no crescimento de negócios alternativos ao consumo tradicional, que  amarga continuada queda nas vendas.

A rede de lojas Arranjos Express, que presta serviços de costura, por  exemplo, viu a demanda pela customização de roupas crescer 20% ao longo de 2015.  Outra, o brechó on-line Enjoei, dobrou o volume vendido e projeta alta de 150%  para este ano.

— É nos contextos de crise que possibilidades que eram consideradas  alternativas ganham popularidade e se tornam mais convencionais, conhecidas e  praticadas por muitas pessoas. E esses novos modelos, que ainda estão em fase  inicial, fornecem um melhor controle financeiro do consumidor — diz Graciana  Méndez, analista de Tendências da Mintel.

Valendo-se desse cenário de aperto no orçamento das famílias, o hospital de  bonecos e carrinhos Central Técnica de Brinquedos, um dos maiores do país, que  funciona em Porto Alegre há 40 anos, registrou aumento de 25% na procura por  conserto de brinquedos no ano passado. O mesmo movimento foi identificado por  Leandro Primo Capelo, dono do Hospital das Bonecas, que tem quatro unidades em  São Paulo.

— O mercado cresceu bastante no ano passado — diz Capelo, que tem consertos a  partir de R$ 25 e viu seus negócios se expandirem 30% em 2015.

O estudo da Mintel identificou que 40% dos brasileiros compraram menos roupas  e acessórios em 2015, na comparação com 2014, e que 42% mudaram seus hábitos de  compra por causa do aumento nas contas de casa.

— Com a alta da inflação em 2015, os consumidores brasileiros procuram  modelos alternativos de compra e de como usufruir de produtos — diz  Graciana.

Atuando em um segmento de negócios que também permite o reaproveitamento de  itens que já constam do guarda-roupas das pessoas, a Sapataria do Futuro elevou  a comercialização de seus serviços em 25% só no segundo semestre de 2015.

— O brasileiro está descobrindo que pode renovar os itens que já tem sem  gastar tanto — observa o português Paulo Alexandre, dono da Arranjos Express,  que funciona em Portugal desde 2003 e chegou ao Brasil em 2012.

A Arranjo Express, que já têm 44 lojas no país, sendo quatro em shoppings do  Rio, transforma, por exemplo, camisetas de manga longa em regata ou calças em  saias.

“Em 2016, essas alternativas aos modelos de compra tradicionais permitirão  que os consumidores continuem usufruindo de novos produtos e serviços sem a  necessidade de gastar muito dinheiro”, conclui o estudo da Mintel Group.

 

Economista dá dicas de como fazer seu dinheiro render no  supermercado

Aumento de preços faz consumidores pesquisarem e  substituírem marcas

Clientes de supermercados  escolhem produtos pelo preço, abrindo mão de suas marcas preferidas. Na foto, a  musicista Voila Marques – Leo Martins / Agência O  Globo
Com a confiança em baixa, os consumidores estão focando mais nos preços  das etiquetas do que na marca dos produtos e buscando alternativas para manter  todos os itens no carrinho de compras, segundo pesquisa divulgada pela  consultoria Nielsen. Como 62% dos brasileiros acreditam que o país ainda estará  em uma recessão pelo menos até o fim de 2016, de acordo com o levantamento, O  GLOBO pediu dicas a um especialista sobre como economizar na hora de fazer as  compras e não deixar a conta pesar demais no bolso.

A confiança do consumidor brasileiro caiu de 88 para 76 pontos em 2015,  ficando abaixo dos 83 pontos da América Latina e da média mundial, que foi de 97  pontos. Esse cenário faz o consumidor ficar mais cauteloso e evitar se  endividar, comportamento observado principalmente entre os consumidores da  classe C, que foram os que mais reduziram seus gastos em autosserviços, setor  que engloba o varejo.

— O consumidor brasileiro está optando por reduzir o volume de compras, ou  seja, cortar itens de sua lista — diz, em nota, Paula Valadão, analista de  mercado da Nielsen.

Quando o objetivo é economizar, muita gente fica na dúvida se vale a pena  fazer a compra para o mês ou se é melhor consumir aos poucos e aproveitar  promoções durante a semana. Roberto Kanter, economista e professor dos MBAs da  Fundação Getúlio Vargas (FGV), acha que a inflação ainda não é tão alta para que  os consumidores antecipem compras:

— Vale a pena fazer um pequeno estoque se o consumidor encontrar uma  promoção. Mas tem que ficar atento com os produtos perecíveis, porque, se eles  estragarem, a economia não faz sentido. Ovo, por exemplo, é um alimento que não  estraga muito rápido e pode ser interessante comprar o suficiente para um  consumo de duas semanas se estiver mais barato.

Kanter ressalta que as compras devem ser feitas de acordo com o fluxo de  recebimento do salário e que o consumidor deve tomar muito cuidado para não se  endividar, porque os juros são muito mais altos do que a inflação:

— É preciso ficar atento para não entrar no cheque especial ou pagar as  compras à vista e depois não ter dinheiro para pagar o cartão.

Quem recebe uma parte do salário no começo do mês e outra na segunda quinzena  também pode dividir as compras de acordo com essas datas. Já os que têm família  grande ou conseguem juntar mais pessoas devem procurar os “atacarejos”, que  oferecem, como o nome já diz, produtos em varejo que, se comprados em grande  quantidade, saem por preço de atacado. Assim, a economia é maior.

Para os que moram sozinhos, têm família pequena ou preferem ir ao  supermercado com mais frequência, um dica é ficar de olho nos feirões de  hortifruti que costumam acontecer às terças ou quartas-feiras e nas promoções de  início do mês que algumas redes de varejo fazem, ensina o professor.

 

Com a lista de compras na  mão, a empresária Cristiane Gelmini compara preços do óleo de cozinha. – Leo  Martins / Leo Martins

A empresária Cristiane Gelmini, de 41 anos, teve que ficar mais tempo em  frente à prateleira do óleo de cozinha comparando preços, porque a marca que  costuma comprar em outra loja estava mais cara. Como além da casa, onde mora com  o marido, Cristiane ainda cuida do abastecimento de seu bistrô, ela costuma ir  bastante ao supermercado e sentiu no bolso a variação de preços.

— Às vezes, levo uma quantidade de dinheiro achando que vai dar para comprar  o que eu preciso, mas acabo não conseguindo comprar tudo.

Quando compra os alimentos para o bistrô, ela diz que não pode abrir mão de  certas marcas para a qualidade dos produtos não cair, mas tenta economizar no  que pode, como a farinha de trigo.

— Os produtos de limpeza eu também não mudo porque acho que a qualidade cai  bastante conforme o preços — diz.

Segundo o professor da FGV, o consumidor que quiser gastar menos deve  comparar os preços entre as redes e anotar quanto pagou nos produtos essenciais  para ter uma base de comparação.

Quem já segue essa dica é a musicista Voila Marques, de 52 anos. Assim como  Cristiane, ela não varia muito as marcas de produtos de limpeza, mas o arroz e o  iogurte que vão para o carrinho são sempre os mais baratos.

— O preço do sabão em pó, por exemplo, eu faço na calculadora para saber o  que compensa mais, de acordo com a quantidade que vem na embalagem. Mas só faço  isso entre as marcas que são mais famosas — conta.

Em casa, Voila diminuiu a oferta de supérfluos para os filhos, como cereais,  geleias, achocolatados e sucos. Ela prefere fazer compra para o mês e, quando  vai ao supermercado, aproveita as promoções:

— Dependendo do produto, eu compro um pouco a mais quando está em promoção. O  azeite, por exemplo, estava com um preço mais convidativo e, em vez de um,  acabei comprando dois.

Algumas redes de supermercado também oferecem aos consumidores marcas  próprias que, na maioria dos casos, oferecem preços mais competitivos frente a  outras já consolidadas. Fabio Queiroz, presidente da Associação dos  Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), explica que uma das  estratégias do segmento para lidar com a queda no faturamento é diversificar os  produtos disponíveis nas gôndulas. A ideia é apresentar mais opções para os  consumidores, em vez de apostar apenas em marcas líderes, intermediárias e de  preço de entrada. O executivo destaca ainda o incentivo ao uso de produtos de  marca própria, que, segundo ele, são até 40% mais baratos.

— São ações para dar mais opção ao consumidor. E a recomendação é que o  consumidor pesquise bastante os preços, porque o número de promoções deve  aumentar — explica Queiroz.

(Colaborou Marcello Correa)

*Estagiário, sob a supervisão de Ana Perrone

Empresas lançam aluguel de automóvel compartilhado

Serviço chega ao Rio neste ano

Guilherme Pinheiro ganha mil reais por mês com o aluguel de seu automóvel e usa o dinheiro para reformar o apartamento – Pedro Kirilos
 

 

 

“O nome dela é Mellow. Ela é bruta, e muito amada, por amor trate com carinho.” O anúncio é de um Fiat Palio Weekend para alugar numa iniciativa que começa a ganhar espaço no Brasil: o compartilhamento de carros, seguindo os passos do aluguel de casas e apartamento diretamente com o proprietário. Ainda são poucos disponíveis, 2.100 no total. Veículos 1.0, utilitários, mais velhos ou quase zero quilômetro podem custar de R$ 5 a R$ 50 a hora. E eles podem estar perto de casa.

 

Ainda este ano, as duas empresas que criaram sites para permitir a transação direta vão chegar ao Rio. A primeira é a Fleety, que começou em 2014, a partir de Curitiba, a montar esse tipo de plataforma no Brasil. Ela chega ao Rio no mês que vem para oferecer o serviço que funciona assim: quem tem carro se cadastra no site, põe o seu preço para aluguel por hora, dia e semana e espera as solicitações, que podem ser aceitas ou não. Há um seguro custeado pelo site de compartilhamento e uma parcela do aluguel vai para os administradores da plataforma.

A franquia do seguro é informada juntamente com outros dados do carro. Os proprietários demonstram seu amor e bom humor ao tentar atrair o locatário. Desde simples descrições a apelos para conquistar o freguês e sensibilizá-los para zelar pelo bom trato dos carros que passarão para mãos alheias temporariamente, como o dono do Polo fala do seu automóvel:

“Polota, para os íntimos, este carro é o suprassumo da beleza e funcionalidade. É bom para viajar, andar na cidade, ir pro rolê, estacionar, transportar algo grande ou pesado, fazer compras, tudo, tudo, tudo. O carro em si está tinindo trincando. Tem um som maneiro. Pra você que quer acumular histórias, esta é a opção ideal.” Nos sites, é flagrante que se está alugando um carro com uma história. Ele é de alguém. Nas avaliações, é possível ver que até amizades se formam com os aluguéis repetidos. Como os sistemas são georreferenciados, pode-se tentar encontrar um perto de casa ou do trabalho.

E vale quase tudo para atrair interessados. Um anúncio de Nissan Tiida tentava cativar o internauta pela seleção musical: “carro não apresenta falhas e tem vários CDs nostálgicos que você pode ouvir”.

Para quem quer impressionar, o aluguel de um carro chique por duas ou quatro horas é acessível, segundo André Marin, presidente da Fleety:

— Numa locadora normal, não se conseguiria alugar uma BMW. Um utilitário pode custar a metade do preço, a R$ 150 por dia.

 

Mas a oferta desses objetos de desejo é limitada na Pegcar:

— Nosso seguro só cobre carros até R$ 70 mil. Mas pode-se encontrar alguma Mercedes 2007, 2008 — diz Conrado Ramires, um dos sócios da Pegcar.

Ramires e Bruno Hacad, o outro sócio, lançaram a plataforma recentemente em São Paulo, em outubro do ano passado. Tem cem veículos para alugar. Começaram com os próprios carros e R$ 20 mil de cada um.

— Meu carro, de longe, é o mais compartilhado do site. Os familiares também emprestaram seus carros.

O advogado Guilherme Sanchez Pinheiro, de 28 anos, diz que chega a ganhar mil reais com a renda extra, usada para reformar o apartamento. O carro está sempre disponível, e o advogado vai para trabalho de ônibus em São Paulo. Nunca teve problemas, mas o conforto do carro traz saudades:

— Quando terminar de pagar a reforma do apartamento, vou deixar de alugar. Levo o dobro do tempo para chegar ao trabalho, suado.

Segundo Hélio Mattar, do Instituto Akatu, apesar de não tirar os automóveis da rua, a iniciativa do carro compartilhado diminui o impacto das emissões da produção de veículos. Segundo ele, em média, o carro é usado apenas 5% do dia pelo proprietário. O ideal, segundo ele, é associar o veículo compartilhado à carona solidária, citando outra estatística: em média, a ocupação nos automóveis é de 1,2 pessoa:

— Os carros ficam parados nas garagens do trabalho ou das casas.

Marin destaca como vantagens do serviço a liberdade de escolher o tipo do carro, por qualquer período e o preço, que pode chegar à metade do valor cobrado pelas locadoras tradicionais.

 

A dificuldade de Ramires e Hacad para lançar a empresa foi achar uma seguradora. O compartilhamento de carros alugados exigia um serviço novo: o seguro por poucas horas e de diferentes tipos de carro e valor.

— Procuramos dez seguradoras até encontrar a Mapfre, que aceitou fazer o seguro — diz Sanches.

Marin, da Fleety, diz que as locadoras tradicionais já começam a ficar de olho no novo serviço. Ele já foi procurado por algumas delas para entender como funciona o compartilhamento de carros alugados. Certamente, nas locadoras tradicionais, não há o “veículo maneiro”, que tem vários CDs interessantes, de Spice Girls a Carlinhos Brown, que é um “bicho na lama”, como define o dono de um utilitário.

Fonte: O Globo

Salmão vira sardinha na nova lista de compras

Disparada de preços de alguns alimentos motiva mudanças nas idas ao mercado

Preços de alimentos subiram 14,2% em 12 meses

Tubérculos, como batata e inhame, tiveram alta de 42,71% nos preços – Agência O Globo

 

No prato do brasileiro, a carne foi substituída pelo ovo. O salmão virou sardinha. Frutas, verduras e legumes, que encarecem de uma semana para a outra, também perdem vez no carrinho. Com a disparada nos preços de alguns alimentos, criatividade e jogo de cintura são alguns dos ingredientes básicos para ajustar a cesta de compras na feira ou no mercado a um orçamento apertado.

Nos últimos 12 meses até janeiro, o custo da alimentação em casa acumulou alta de 14,2%. Dos 146 alimentos consumidos em casa pesquisados pelo IBGE em janeiro, 95% ou 137 ficaram mais caros no acumulado em 12 meses. Destes, 90 subiram acima da inflação média geral, de 10,71%.

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‘AZEITE, SÓ NACIONAL’

Comer fora também ficou mais caro, mas o avanço foi menor, de 10,5%. Mesmo assim, fazer refeição em restaurante ainda tem um custo maior. Mas driblar a inflação comendo em casa se tornou uma tarefa mais complexa.

— Minha mãe mora comigo, e sempre cozinho. Vegetais e carnes estão insuportáveis. Tudo aumentou demais e mensalmente. Eu me sinto roubado. Sou obrigado a substituir. O salmão virou sardinha, que também tem ômega 3. O ovo é fonte de proteína, assim como a carne. Faço feijão, arroz, ovo e complemento com batata. Azeite de oliva espanhol também não entra mais. Só nacional — conta o ator Fernando Reski, de 66 anos.

A dona de casa Nelma Lúcia Wajsenson, de 73 anos, eliminou alguns alimentos da lista de compras e passou a cozinhar legumes com casca para diminuir a perda ao descascá-los:

— O brócolis, que custava R$ 3 há menos de um mês, agora está R$ 6. O chuchu também dobrou de preço. Não dá mais para sair da feira com o carrinho cheio. Agora, levo um ou outro. O quilo do peixe panga já está em R$ 28. Daí, quando você limpa, perde uns 30%. Não dá mais para comprar. Passei a cozinhar batata, cenoura e outros legumes com casca, porque depois de cozidos ela sai mais fácil e o desperdício é menor.

Na feira, as queixas são frequentes. Tubérculos, como batata e inhame, acumulam alta de 42,71% em 12 meses. Hortaliças e verduras ficaram 22,91% mais caros no período, e as frutas tiveram alta de 18,15%, segundo o IBGE. As carnes, que têm peso maior no orçamento, subiram 11,93%, um resultado acima da média geral da inflação. Para a nutricionista Gabriela Maia, ainda existem alternativas para driblar a escalada de preços:

— Mesmo com a inflação alta, é possível ter uma alimentação balanceada economizando. Basta substituir o mais caro pelo mais em conta, desde que tenha os mesmos valores nutricionais.

Preço do salmão subiu 24,82%, enquanto da sardinha teve alta de 3,98% – Agência O Globo

A nutricionista recomenda a troca do salmão — que subiu 24,82% — pela sardinha. Além do preço mais convidativo, a sardinha, que subiu 3,98%, é rica em ômega 3, gordura anti-inflamatória que ajuda a prevenir a diabetes e o câncer.

— Só não vale fritar. Pode ser feita assada ou na panela de pressão — alerta Gabriela.

Outros vilões da cesta de compras, como o repolho, com alta de 43,26%, e a couve (17,23%), podem ser substituídos por agrião, que subiu 8,67%. No açougue, o filé mignon (que teve alta de 14,4%) pode ser trocado pelo lagarto redondo, que teve alta de 4,58%, ou pelo lombinho de porco (que ficou 1,17% mais caro), explica Gabriela.

A explosão no preço dos alimentos, principalmente dos in natura, é fruto de alterações no clima, que prejudicaram as lavouras ao longo de 2015, e da alta do dólar, que encareceu os custos da produção, dos insumos, como o trigo, e levou produtores a aumentar exportações, reduzindo a oferta no mercado doméstico, explica Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Em 2016, eles seguem nessa trajetória de alta porque, historicamente, os três primeiros meses do ano são ruins para a agricultura, em razão das chuvas em excesso em algumas regiões e da seca, em outras, complementa Maria Andreia Lampreia, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas, a partir do segundo trimestre, a alta deve desacelerar, explica:

— Essa sazonalidade deve se dissipar ao longo dos próximos meses e as projeções de safra e de preços de commodities agrícolas no mercado internacional não indicam nenhuma possível pressão nos preços. O que pode impactar é o câmbio. Temos de ver como ele vai se comportar. Mas é preciso ocorrer algo muito fora do normal para afetar consideravelmente esses preços em 2016.

Se as previsões se confirmarem, as chuvas também darão uma trégua, principalmente no Sul, que foi castigado pelo fenômeno El Niño em 2015.

— Em 2016, ainda teremos impacto no El Niño, com maior volume de chuvas no Sul e menor no Nordeste e em parte do Norte. Mas ele está perdendo intensidade gradualmente. Tudo indica que até o meio do ano volte à normalidade. Para o Centro-Oeste e Sudeste, responsáveis por boa parte da produção agrícola, não é possível fazer previsões para além de duas semanas, pois são regiões onde o clima não depende dos oceanos — explica o climatologista Gilvan Sampaio, estudioso do fenômeno El Niño pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

SEM ALÍVIO NO FRANGO E NA CARNE

O gerente de Modernização do Mercado Hortigranjeiro da Conab, Erick de Brito Farias, prevê desaceleração dos preços:

— Esse primeiro trimestre vai ser crítico, por causa do clima, mas a partir do segundo trimestre os preços terão leve queda, pois a alta do câmbio já foi repassada e o dólar já se estabilizou.

Já a pressão no preço das carnes bovina e de frango deve continuar, explica Sergio de Zen, responsável pelas pesquisas de Pecuária no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea):

— Há uma pressão de alta que surge na base, que são os insumos importados e, em algum momento, deve ser transferida ao consumidor. Apesar do câmbio estar estabilizado, ficou num patamar bem mais alto que no início de 2015.

Trocas do dia a dia

EC Rio de Janeiro (RJ) 02/03/2016 – Inflavßv£o dos alimentos – Por que a inflavßv£o dos alimentos nv£o cede? Mostramos como v© possv?vel substituir os que tiveram aumentos maiores pelos de inflavßv£o menor. Foto: Hermes de Paula / Agencia O Globo. – Agência O Globo

RIO – Confira algumas sugestões de trocas de alimentos para driblar a escalada de preços e não perder valores nutricionais pela nutricionista Gabriela Maia

Frango inteiro por frango aos pedaços: O preço do frango inteiro subiu 14,25% em 12 meses até janeiro. O produto em pedaços teve alta de 3,80%. Ao optar pelo frango em pedaços, há perda menor na preparação porque vem com menos ossos e peles. O ideal é comprar peito, coxa ou sobrecoxa sem pele, que fornecem uma proteína de ótima qualidade com pouca gordura

Ovo de galinha pelo de codorna: Um ovo de galinha equivale a cinco ovos de codorna. O ovo de galinha teve alta de 20,39%

Batata inglesa, inhame ou aipim por abóbora: Enquanto a abóbora subiu 3,17%, os demais acumularam aumentos entre 11,53% e 80,25%. Além disso, ela é rica em betacaroteno (pro-vitamina A), ferro, vitamina C, fósforo e fibras

Repolho e couve por agrião: O agrião é rico em magnésio, cálcio e vitamina K. Em 12 meses subiu 8,67%. O repolho acumulou alta de 43,26% e a couve, de 17,23%. Uma forma diferente é usar o agrião em sopas ou caldos

Fubá, amido e flocos de milho por arroz e macarrão: Enquanto os preços dos três primeiros variaram entre 14% e 21%, o macarrão e o arroz tiveram altas perto de 11%. Todos são fontes de carboidrato

Filé mignon por lagarto ou lombinho de porco: O preço do filé teve alta de 14,4%, o do lagarto redondo subiu 4,58% e o da carne de porco, 1,17%. Essa troca é uma forma de economizar sem perder benefícios do ferro e da vitamina B12

 Fonte: O Globo

O quadro de Tombini

POR MÍRIAM LEITÃO

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que não há espaço para queda de juros. Apesar da forte contração da economia, registrada no IBC-Br negativo em 4,1% divulgado ontem, ele disse que com a inflação no nível em que está não há como falar em “distensão monetária”. Tombini afirma que a inflação anual deve cair dois pontos percentuais no primeiro semestre.

Eu o entrevistei em seu gabinete em Brasília, em meu programa na GloboNews. Quando perguntei se havia espaço para a queda de juros, que começa a frequentar alguns cenários, ele foi taxativo:

— Hoje estamos com inflação de 11% e com expectativa do mercado, grosso modo, de 8% este ano e de 6% no ano que vem, no limite superior da banda. Nestas circunstâncias, não há que se falar em distensão monetária. A cada seis semanas vamos fazendo as reuniões, avaliando o cenário, vamos ver se é preciso fazer mais em termos de política monetária. Esse é um processo no qual vamos pensar, mas esse quadro atual não permite pensar em distensão monetária.

Quis saber se houve interferência política na última reunião do Copom em que os sinais foram contraditórios e depois o BC não subiu juros:

— Zero de interferência política. Os jornais mesmo retrataram várias opiniões de economistas, alguns dizendo que estávamos em dominância fiscal e que não adiantava subir juros, outros que diziam que era um absurdo não elevar. Cada um dizendo uma coisa. A decisão foi a mesma que havia sido tomada em novembro. Pensamos no estado da economia e as questões internacionais. Houve uma mudança recente de vários bancos centrais em relação à avaliação da situação econômica. Talvez tenhamos sido os primeiros a fazer este movimento.

Perguntei qual era a sua principal preocupação, recessão ou inflação, e ele disse que a missão do Banco Central é a estabilidade monetária. Mas falou também de recessão, até pelo número divulgado ontem:

— De fato, o que os dados mostram é que a economia brasileira está em forte contração em 2015 e 2016. Teremos algum crescimento mais para o fim do ano, entrando em 2017 com crescimento econômico no Brasil. Ninguém gosta de contração econômica e vários fatores estão provocando isso e alguns são não econômicos, como a crise política. Mas essa contração tem uma força deflacionária forte que vai começar a ser sentida em fevereiro. Os preços administrados quando comparados com os preços livres já estão em níveis de 2010. O custo unitário do trabalho caiu 40% em dólar em relação a 2014. A inflação de aluguéis em São Paulo caiu 3%. A economia está se ajustando.

Tombini disse que espera que até o fim do semestre a inflação em 12 meses caia dois pontos percentuais. Disse que seus cenários são mais otimistas do que os do mercado, mas, se ficar apenas com o que o mercado projeta, o país terá três pontos de “desinflação” este ano e mais dois no ano que vem. Apesar dessa tendência, Tombini disse que a economia sofreu vários choques nos últimos tempos, como a desvalorização e a alta das tarifas, por isso a política monetária tem que evitar a propagação desses choques.

Para Tombini, o rebaixamento é mais um alerta da necessidade de se avançar na área fiscal. Falou das reformas que o governo já teria colocado em debate, e da introdução dos limites de gastos que está sendo formulada pelo Ministério da Fazenda. Defendeu a CPMF como uma ponte. Mas garantiu que há movimento para inverter a curva de dívida e de déficit:

— A questão fiscal vai ser atacada, está na preocupação dos atuais governantes. Não é uma questão em aberto, desatendida, que vai piorando sem limites.

Argumentei que os números mostram um país que está indo para o terceiro ano de déficit primário e no qual a dívida pública está em 66% com projeção de 80% em 2018. Números de um país piorando.

— O mais importante é colocar a trajetória da dívida/PIB em perspectiva de estabilidade para posterior declínio — respondeu.

Tombini avalia que a situação internacional está menos favorável, mas não é véspera de uma crise financeira como a de 2008, porque os bancos estão menos alavancados e as economias se ajustaram. O que há agora é uma crise de crescimento, que leva a uma revisão das perspectivas em todas as economias.

Governo acerta com estados alongamento das dívidas por 20 anos

Em contrapartida, Fazenda quer redução de gastos e apoio à CPMF

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (esq.) e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa – André Coelho / Agência O Globo / 26/01/2016

 

— A União está fazendo uma proposta de alongamento da dívida dos estados para com a União e uma possibilidade de alongar as dívidas de contratos com o BNDES, com prazo menor. Esse benefício está condicionado a adoção, pelos estados, de medidas rigorosas de ajuste ficais, principalmente em relação a expansão de gasto com pessoal e com costeio. É um programa de mão-dupla: tem o benefício do alongamento da dívida (20 anos) condicionado a adoção de medidas de ajuste fiscal. É uma proposta importante e razoável — disse o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), no fim da reunião.

Além do alongamento da dívida, a União anunciou um limite para operações de crédito de R$ 20 bilhões para esse ano. O valor é global e deverá ser dividido proporcionalmente ao tamanho da economia de cada estado.

— O alongamento da dívida foi uma reivindicação dos governadores, uma medida importante — afirmou o governador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

O tucano Geraldo Alckmin (SP) chegou à reunião pessimista, dizendo que se o governo não aceitasse negociar seria “usura” (querer lucrar mais que o normal). Saiu, no entanto, elogiando as decisões.

— A reunião foi bastante proveitosa, importante. O alongamento da dívida é necessário. Em São Paulo, a dívida renegociada foi de 46,5 bilhões, nós já pagamos R$125 bilhões e devemos R$ 220 bilhões. É altíssimo — disse o governador de São Paulo.

RECRIAÇÃO DA CPMF

Antes da reunião, o governador Luiz Fernando Pezão disse que, se não houvesse um acordo, os estados ficariam inviabilizados.

— Fomos muito penalizados com a correção das nossas dívidas e isso foi um absurdo que aconteceu com os estados. O Rio renegociou, em 2007, R$ 22 bilhões. Pagou R$ 45 bilhões e deve R$ 66 bilhões. É inviável, ainda mais num momento de crise como este não mudar e não alongar (a dívida) — afirmou.

Durante o encontro com o ministro Nelson Barbosa (Fazenda), que reuniu os governadores do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB); Renan Filho (PMDB); do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB); entre outros, houve debate sobre a recriação da CPMF e a retenção, por parte da União, do IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras). Governadores criticaram a medida e pediram ao ministro que reveja essa posição, sob pena de os estados ficarem com uma parcela muito pequena da contribuição, se ela, de fato, for recriada.

Em nota explicativa divulgada após o encontro, o Ministério da Fazenda detalha os critérios definidos pela União para que os estados possam aderir ao alongamento da dívida: não poderão aumentar salários dos servidores; deverão limitar o crescimento das despesas correntes à variação da inflação, restringir o empenho e contratação de despesa com publicidade e propaganda às de caráter institucional, voltadas para saúde e segurança, não conceder renúncia de receita ou qualquer tipo de benefício fiscal, não nomear novos servidores, e extinguir 10% dos cargos de livre provimento e nomeação.

 

(*estagiário sob a supervisão de Paulo Celso)

Governo está disposto a congelar salário mínimo para conter gastos

Ministro da Fazenda indicou medida como alternativa possível para limitar despesas

Notas de cem e cinquenta reais – Agência O Globo

 

O governo está disposto até a congelar o salário mínimo na tentativa de controlar o gasto público. Essa é uma das alternativas apontadas pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, na proposta de reforma fiscal lançada em 19/2/16, que estipula um teto para as despesas. A ideia é, gradualmente, ir acionando gatilhos, como o controle do crescimento nominal das despesas e a suspensão de reajustes a salários de servidores, à medida que o governo perceber que não será possível obedecer o teto estipulado para as despesas pública

A suspensão do reajuste ao salário mínimo é o último estágio de uma série de contenções que o governo terá que fazer se o projeto apresentado por Barbosa for aprovado no Congresso. Segundo a proposta, à medida que o governo perceber que não tem meios para cumprir com o teto de despesas estipulado para o ano, terá que tomar medidas de contingenciamento separadas em três estágios. No primeiro, os aumentos reais das despesas discricionárias e de custeio, além da realização de concursos e contratações e aumentos reais de salários de servidores ficam suspensos.

No segundo estágio, suspende-se a ampliação de subsídios e altas nominais de despesas e remunerações. No último gatilho, há a previsão de redução das despesas com funcionários públicos não estáveis (temporários) e de benefícios a servidores (como auxílio-moradia), além da suspensão do aumento real do salário mínimo. Hoje, a política de valorização do salário mínimo é definida por lei e vale até 2019. A norma prevê que o mínimo é fixado com base na variação da inflação (INPC – o índice usado para mínimo e benefícios previdenciários) mais a variação do PIB de dois anos anteriores

— O Orçamento tem que respeitar o limite para o gasto. Se ao longo do ano observar-se que isso pode ficar além do limite, contingencia-se. Sea previsão para o ano seguinte indicar que pode superar o limite, aciona as cláusulas automáticas para o ajuste.

A proposta anunciada por Barbosa estabelece que o plano plurianual (que contém a programação fiscal dos quatro anos seguintes) estabeleça o limite das despesas discricionárias do governo proporcionalmente ao PIB para os próximos anos. Nos últimos anos, por exemplo, o gasto primário se manteve em um patamar entre 18% e 19% do PIB. A cada exercício, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) traria, em valores nominais, quanto isso representaria para cada ano.

Caso o governo perceba que não tem condições de cumprir com o teto no ano corrente, terá que fazer um contingenciamento. O limite deverá ser cumprido mesmo que a meta fiscal para o ano esteja garantida.

Economistas continuam a prever um corte de juros no fim do ano

Declarações de Tombini foram consideradas corretas por analistas de mercado

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central. ‘Não há que se falar em distensão monetária’ – Ailton de Freitas / Agência O Globo

A declaração do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, à colunista Míriam Leitão, do GLOBO, de que não há espaço para queda de juros a curto prazo foi considerada correta pelo mercado financeiro. A avaliação de economistas é que ele tinha o dever de passar a mensagem de que está vigilante no combate à inflação. Mas, devido ao fato de a recessão estar mais acentuada do que o anteriormente previsto, eles esperam um corte de juros este ano, possivelmente em outubro, quando a inflação acumulada nos últimos 12 meses — que está em 10,71% — deve dar um refresco.

‘hedge’ de orientação ao mercado

 

Enquanto os países ricos adotam taxas negativas de juros para driblar a crise global, os juros básicos brasileiros estão em 14,25% ao ano. Esse patamar é mantido, principalmente, para tentar convencer os agentes econômicos de que a inflação pode ser debelada.

O foco do BC é a formação de expectativas, porque sua atuação tem pouco efeito sobre a inflação atual, que explodiu em 2015 por causa do reajuste de tarifas de serviços públicos. Os chamados preços administrados subiram de uma só vez, para compensar a política de represamento de reajustes do passado. Nesse tipo de inflação, como a da conta de luz, a alta de juros não é eficaz.

Onde a política monetária poderia atuar — na contenção do consumo — não é necessário um arrocho maior, porque a atividade econômica encolhe a uma velocidade cada vez maior, e o desemprego deve conter a alta de preços. Por isso, a ideia do mercado é que, enquanto a inflação não ceder, o discurso de manutenção da taxa básica deve ser mantido.

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve, então, esperar o momento de se manifestar sobre a inflação no ano que vem e os efeitos da crise para afrouxar a política de combate à alta dos preços no Brasil. Em suas declarações, Tombini teria feito o que os economistas chamam de hedge, ou seja, uma proteção em sua orientação para o mercado financeiro.

O economista do Banco Espírito Santo Flávio Serrano diz ter mantido a projeção de queda da taxa básica (Selic) em outubro, apesar de Tombini falar que não há espaço para cortar os juros. Ele aposta que haverá uma queda de 0,5 ponto percentual naquele mês e outra, na mesma proporção, na reunião seguinte do Copom. Esses dois cortes seriam apenas o início de um processo de queda que continuaria, segundo o analista, em 2017.

— A gente mantém nosso cenário de cortes de juros a partir de outubro. Por que mudaria? — disse Serrano.

Inflação: outro compromisso

Inflação é outro compromisso do Banco Central a cumprir – Domingos Peixoto / Agência O Globo

Serrano concorda que o discurso de Tombini não poderia ser outro, porque há uma grande desconfiança em relação ao comportamento de curto prazo da inflação. A previsão do mercado para o IPCA é de 7,61% neste ano. A meta é de 4,5% com margem de tolerância de 2 pontos percentuais. A promessa do BC é manter a inflação abaixo do teto de 6,5%.

Conseguir atingir o centro do objetivo no ano que vem é outro compromisso assumido pela autoridade monetária. No entanto, o BC ainda não convenceu o mercado financeiro de que isso é possível. Segundo a estimativa dos economistas ouvidos pela autarquia na pesquisa semanal Focus, a inflação oficial deverá ficar em 6% em 2017. Esse é o limite máximo permitido, já que o próprio governo — tentando recuperar a credibilidade — diminuiu a margem de tolerância para o ano que vem.

— Hoje, estamos com inflação de 11% e com expectativa do mercado, grosso modo, de 8% este ano e 6% no ano que vem, no limite superior da banda. Nestas circunstâncias, não há que se falar em distensão monetária. A cada seis semanas vamos fazendo as reuniões, avaliando o cenário, vamos ver se é preciso fazer mais em termos de política monetária. Esse é um processo no qual vamos pensar, mas esse quadro atual não permite pensar em distensão monetária — disse o presidente do BC, na quinta-feira, em entrevista ao programa de Míriam Leitão na Globonews.

Esse discurso deverá ser alterado quando o BC tiver de se manifestar sobre o estouro da meta, pelo segundo ano consecutivo, e sobre a expectativa para a inflação em 2017, que deve começar a melhorar por causa da recessão. O BC estima retração de 4,1% em 2015 e, internamente, já trabalha com queda de 3% neste ano. Isso é levado em consideração ao calcular as projeções de inflação.

Em março, o BC divulgará suas estimativas para a atividade econômica e a inflação.

— Até lá, vamos continuar perdidos entre ruídos de comunicação — reclama Serrano, lembrando que discursos de auxiliares de Tombini destoam da fala do chefe.

Em defesa da autonomia

‘Não fico nem um minuto nessa cadeira se não tiver autonomia de fato”, afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na saída da entrevista que me concedeu. A gravação havia terminado, mas a conversa continuou. Ele falou com segurança sobre o tema, que tem sido debatido a cada campanha eleitoral.

Tombini garantiu que nunca sofreu interferência do governo nas decisões tomadas em sua gestão. Sobre a proposta de dar um passo adiante e estabelecer a autonomia que tem tido com uma mudança do marco legal, Tombini se diz a favor, mas acrescenta:

— O ex-presidente Fernando Henrique teve oito anos para fazer e não fez. Depois disso também não tomaram essa iniciativa nem o ex-presidente Lula nem a presidente Dilma. Mas eu sou a favor. Isso já deveria ter sido resolvido há muito tempo. O país está maduro institucionalmente para essa decisão.

Na opinião de Tombini, os dirigentes do Banco Central têm que ter mandato, e a instituição precisa de autonomia, porque assim poderá exercer melhor o seu papel. Ele não concorda que isso possa dar ao BC poder demais em uma democracia.

— Nós respondemos a inúmeros órgãos de controle, e é dessa forma que tem que ser mesmo. É autonomia com prestação de contas. O Banco Central tem que ir ao Congresso e se explicar, tem que responder a todos os órgãos da democracia — afirmou o presidente da autoridade monetária.

Fonte: O Globo

Reforma da Previdência respeitará direitos adquiridos, afirma Barbosa

A reforma da Previdência não afetará os trabalhadores que conquistarem o direito à aposentadoria pela regra atual, afirmou, há pouco, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Em entrevista após o encerramento da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado Conselhão, Barbosa destacou que a reforma respeitará os direitos adquiridos.

O ministro descartou surpresas e assegurou que a discussão será feita com transparência. “Qualquer questão nessa área [previdenciária] respeitará direitos adquiridos. Haverá regras de transição para que as mudanças sejam feitas gradualmente. A reforma será discutida no Congresso e feita sem sobressaltos e surpresas.”

Barbosa reiterou o compromisso de enviar uma proposta ao Congresso Nacional ainda no primeiro semestre. Ele ressaltou que a proposta está sendo discutida no Fórum de Previdência Social, coordenado pelo ministro do Trabalho e da Previdência, Miguel Rossetto.

De acordo com o ministro da Fazenda, a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e a Desvinculação das Receitas da União (DRU) são essenciais para impulsionar a arrecadação enquanto o governo discute reformas de longo prazo, como a da Previdência. A DRU permitirá ao governo remanejar até 30% do Orçamento para fazer superávit primário – economia para pagar os juros da dívida pública – até 2023.

Entre as reformas de longo prazo, Barbosa explicou que o governo pretende enviar, além da reforma da Previdência, propostas que limitem o crescimento do gasto público e criem uma margem para as metas de superávit primário para que o governo não tenha de alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias para reduzir o esforço fiscal quando a arrecadação não corresponde ao previsto. Essas propostas, no entanto, estão em fase inicial de discussão e serão debatidas com especialistas e os membros do Conselhão.

Após a reunião, o ministro da Fazenda disse concordar com a presidenta sobre alternativas à CPMF, mas frisou que o governo avaliou “todas as alternativas”. Segundo Barbosa, o tributo foi escolhido por ser o que tem o menor impacto sobre a economia, por ser mais distribuído e ter base ampla de arrecadação. “Obviamente, se alguém tiver alguma proposta equivalente, que proporcione mesmo volume de receita, com menor impacto, nós estamos dispostos a discutir”, afirmou.

Na opinião do ministro, a volta do imposto poderá servir como uma “poupança” de curto prazo enquanto as reformas de longo prazo, como a da Previdência, são discutidas e não produzem impacto. “É por isso que a CPMF é uma receita temporária, mas necessária, enquanto nós promovemos mudanças mais permanentes e duradouras no nosso gasto obrigatório.”

Fonte: EBC

Governo estuda reforma da Previdência, mas proposta divide senadores

A reforma da Previdência Social é a principal iniciativa do governo para reduzir gastos com aposentadorias

O Executivo pretende enviar este ano ao Congresso uma proposta de reforma no sistema de Previdência Social em que um dos principais objetivos é a redução dos gastos com aposentadorias. O anúncio foi feito pela presidente Dilma Rousseff no início do mês e tem dividido opiniões no Senado.

No Brasil, há três regimes diferentes para aposentadoria: o dos servidores militares, dos servidores públicos e o Regime Geral, que engloba a maior parte dos trabalhadores. O gasto estimado do governo com o regime geral em 2015 foi de R$ 440 bilhões (o valor real deve ser divulgado em maio). Até outubro do ano passado, o déficit passava de R$ 82 bilhões. Uma conta que fica cada vez mais difícil de fechar diante de um perfil demográfico que vem mudando. De acordo com o IBGE, a média de filhos por família tem caído. Já a expectativa de vida é cada vez maior. Fatores que impactam diretamente a Previdência.

O consultor do Senado Gilberto Guerzoni explica que, pelas regras atuais, uma mulher pode se aposentar aos 44 anos de idade — caso tenha começado a trabalhar aos 14, por exemplo. Com isso, ela vai ter trabalhado durante 30 anos, mas ficar aposentada durante outros 30 anos ou mais. Ou seja, pode ficar mais tempo aposentada do que ficou trabalhando, o que é insustentável do ponto de vista do equilíbrio do regime previdenciário.

Limite de idade

Fixar um limite mínimo de idade para aposentadoria é uma das medidas que devem ser propostas pelo governo na reforma que pretende encaminhar ao Congresso, como sinalizou a presidente Dilma. Atualmente, enquanto os servidores públicos tem idade mínima de 55 anos (mulheres) e 60 anos (homens) para se aposentar, os servidores do regime geral têm como única exigência o tempo de contribuição.

— O Brasil vai ter de encarar a questão da Previdência. Nós estamos envelhecendo mais e morrendo menos. Nossa expectativa de vida nos últimos anos aumentou talvez de forma bastante significativa, em torno de 4,6 anos. Isso implica que é muito difícil você equacionar um problema. Não é possível que a idade média de aposentadoria no Brasil seja de 55 anos. Para as mulheres, um pouco menos — argumentou a presidente.

Para Guerzoni, a medida é necessária.

— Existem poucas experiências internacionais em que você não tem limite de idade para aposentadoria, porque previdência não é um é prêmio. Previdência é uma forma de substituir a renda quando a pessoa perde a capacidade de trabalhar, seja por doença ou por idade avançada. Permitir que as pessoas se aposentem muito cedo, do  ponto de vista da lógica previdenciária, é um problema — ponderou o consultor.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) concorda que a reforma é necessária.

— Criamos um sistema que vai quebrar. Foi resultado da pressão democrática das corporações, interessadas na aposentadoria. E não tivemos ninguém que desse a perspectiva da solidez financeira do sistema. Temos que fazer uma reforma para proteger os aposentados de hoje e os aposentados do futuro — afirmou.

Audiência pública

Já o senador Paulo Paim (PT-RS) está preocupado com a reforma anunciada pela presidente e avisou que a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) deve promover audiência pública sobre o tema, tão logo os trabalhos sejam retomados na Casa. Em nota, o senador criticou propostas como a idade mínima de 65 anos para efeito de aposentadoria para homens e mulheres e a desvinculação do salário mínimo dos benefícios previdenciários.

— Na primeira semana de fevereiro, com o fim do recesso, a Comissão de Direitos Humanos chamará uma audiência pública para que a sociedade civil se mobilize contra esta barbárie — afirmou no comunicado.

Paim também afirmou que não permitirá que a Previdência seja a “tábua de salvação” da economia. E lembrou que o governo retomou o fator previdenciário, cálculo que reduz o benefício de quem se aposentar mais cedo. Para não perder com o fator previdenciário, o trabalhador poderá optar pela fórmula 85/95, que consiste na soma do tempo de contribuição com a idade para o pagamento integral do teto da Previdência.

Ano eleitoral

Ex-ministro da Previdência, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), considera a reforma essencial, mas disse que duvida da aprovação de mudanças na concessão da aposentadoria em um ano de eleições municipais, como 2016.

— Em um ano eleitoral, e a reforma da Previdência, claro, exige da parte do parlamentar um certo espírito de renúncia em relação às pessoas que se aposentaram e estão para se aposentar e cria um certo temor que determinadas garantias serão abolidas — reconheceu.

Em seu Twitter, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) também questionou mudanças nas regras da Previdência. Para ele, “mexer no teto de aposentadoria prejudica os que mais cedo começaram a trabalhar”.

Fonte: Senado

Liberação de R$ 21,7 bi para compra de casas não anima setor

Incerteza com o cenário econômico pode segurar um possível respiro para a habitação

Crédito imobiliário caiu de quase R$ 113 bilhões em 2014 para R$ 75 bilhões em 2015 e deve ficar em R$ 50 bilhões este ano – Márcia Foletto / Agência O Globo

Pela medida, serão liberados R$ 21,7 bilhões para novos contratos. Destes, R$ 10 bilhões vão ser distribuídos para os bancos que têm maior participação no financiamento imobiliário, na linha chamada Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRIs), com taxa de 7,5% ao ano. Outros R$ 8,2 bilhões vão exclusivamente para pessoas físicas que recolhem o FGTS, a chamada Pró-cotista.

A taxa de juros é de 8,66% ao ano. A maior parte deste dinheiro vai para imóveis até R$ 225 mil: serão R$ 4,5 bilhões. Logo depois, R$ 3,5 bilhões para imóveis até R$ 500 mil; e R$ 700 milhões para imóveis até 750 mil.

Segundo estimativas do setor, o crédito imobiliário caiu de quase R$ 113 bilhões em 2014 para R$ 75 bilhões em 2015 e deve ficar em R$ 50 bilhões este ano.

Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio), considera positiva a preocupação do governo em proporcionar atrativos para movimentar o setor de habitação. No entanto, o medo do desemprego pode fazer com que o consumidor não se arrisque.

— Não me parece que o mercado vá usufruir desta liberação de financiamento. Os lançamentos estão recuados e as vendas demoram mais a acontecer, mesmo com os descontos maiores das construtoras. Para o trabalhador, sempre vale a pena usar o FGTS, mas é preciso ter cautela — salienta.

Assim, fará o consultor de tecnologia Rafael Granha, de 33 anos. De mudança para São Paulo, ele tentou comprar um apartamento na capital paulista, mas encontrou dificuldades para conseguir financiamento. Acabou optando pelo aluguel.

— Mesmo com esta liberação de crédito, agora vou esperar até ano que vem — explica ele, que queria financiar 80% do imóvel.

No setor de imóveis usados, a restrição ao financiamento impacta fortemente. De acordo com Gustavo Araújo, coordenador de Compra e Venda da Apsa, especializada neste tipo de propriedade, 70% de suas operações dependem de crédito.

Como a iniciativa da comissão do FGTS foi divulgada no final da semana passada, os efeitos da injeção de R$ 21 bilhões não foram sentidos na conclusão de fechamento de negócios.

— É muito recente. Só conseguiremos avaliar como está se comportando no decorrer dos próximos meses. O setor não está parado nem congelado. Atualmente, o processo de venda está bem mais lento: se antes era de um mês, agora são dois ou três meses para conclusão do processo de compra. Mas dificilmente voltaremos ao patamar de venda dos anos anteriores — avalia Gustavo.

Na opinião de Mariliza Fontes Pereira, diretora da MD.oito Arquitetura e Consultoria, com os recursos extras para o Programa Pró-Cotista haverá fôlego para a construção civil.

 

— O Programa Minha Casa Minha Vida continuará aquecido em 2016, mas o mercado de imóveis acima do limite de R$ 225 mil praticamente estacionou, pois os bancos pararam de financiar — comenta Mariliza.

MINHA CASA MINHA VIDA

Com 90% dos empreendimentos destinados ao programa Minha Casa Minha Vida, a construtora MRV não viu sinais de desaquecimento. A empreendedora fechou 2015 com 250 condomínios.

— Esta liberação não terá impacto para nós, porém para o setor é extremamente importante para volta do crescimento — considera o diretor executivo de finanças da empresa, Leonardo Corrêa.

Fonte: O Globo