Um trabalhador americano produz como quatro brasileiros

​Quatro trabalhadores brasileiros são necessários para atingir a mesma produtividade de um norte-americano.

A distância, que vem se acentuando e está próxima da do nível dos anos 1950, reflete o baixo nível educacional no Brasil, a falta de qualificação da mão de obra, os gargalos na infraestrutura e os poucos investimentos em inovação e tecnologia no país. Fatores apontados por empresários e por quem estuda o assunto como os principais entraves para a produtividade crescer no país –e que também ajudam a explicar o desempenho fraco do PIB brasileiro nos últimos anos. A comparação entre Brasil e EUA considera como indicador a produtividade do trabalho, uma medida de eficiência que significa quanto cada trabalhador contribui para o PIB de seu país. O dado é do Conference Board, organização americana que reúne cerca de 1.200 empresas públicas e privadas de 60 países e pesquisadores. Ele é importante porque mostra a força de fatores como educação e investimento em setores de ponta, que tornam mais eficiente o uso de recursos.

A produtividade costuma ser menor nas empresas de trabalho intensivo.

O baixo nível educacional no Brasil é destacado pelo pesquisador Fernando Veloso, da FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), como um dos mais graves problemas para uma economia que precisa crescer e aumentar o padrão de vida da população.

“O brasileiro estuda em média sete anos, nem completa o ensino fundamental. Nos EUA, são de 12 a 13 anos, o que inclui uma etapa do ensino superior, sem mencionar a qualidade do ensino.”

A média de treinamento (qualificação) que um americano recebe varia de 120 a 140 horas ao ano. No Brasil, são 30 horas por ano, destaca Hugo Braga Tadeu, professor da Fundação Dom Cabral.

A produtividade brasileira deve cair neste ano ao menor nível desde 2006 na comparação com a do americano e se aproxima do nível da década de 1950, quando o estudo se iniciou. Em 1980, um brasileiro tinha produtividade equivalente a 40% da de um americano. Hoje, ela está em 24%.

“Voltamos ao patamar dos anos 1950, mesmo com os avanços tecnológicos que ocorreram em 65 anos”, afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento de competitividade da Fiesp.

A dificuldade de competir se acentua com a carga tributária maior, o juro alto para empréstimos, os riscos cambiais, os custos trabalhistas e os gargalos que encarecem a produção, diz o empresário.

A queda na produtividade é consequência do PIB fraco e de condições desfavoráveis, como maior inflação, que levam o setor produtivo a cancelar ou adiar investimentos.

A retração generalizada no consumo das famílias e na demanda de empresas e governos, além da piora na situação da indústria e dos serviços, foi mostrada na queda de 0,2% no PIB de janeiro a março, e a previsão é que o segundo trimestre seja pior.

MAIS DISTANTE

“O país vive uma crise de isolamento que só o distancia dos países e só se acentua”, afirma o economista Cláudio Frischtak, estudioso do tema produtividade.

O isolamento se traduz não só pelo ritmo lento de avanços dentro das fábricas, como processos de inovação, diz o economista, mas também no número baixo de acordos de livre-comércio com outros países (o que dificulta o acesso a bens e serviços, inclusive os de maior tecnologia).

Outro indicador desse distanciamento é a participação de estrangeiros no mercado de trabalho. “São professores, pesquisadores, técnicos e cientistas que enfrentam dificuldades burocráticas para exercer suas atividades no país. Com isso, o conhecimento deixa de circular.”

Fonte: Folha

O domínio de um segundo idioma e de amplo conhecimento técnico são dois tipos de habilidades profissionais cada vez mais raras no mercado de trabalho.

Segundo um levantamento realizado pela empresas de recrutamento Page Personnel, encontrar profissionais com esse tipo de qualificação tem se tornado um desafio permanente para as empresas.

Para o gerente executivo da Page Personnel, Ricardo Ribas, profissionais que aliem amplo conhecimento técnico e bom nível comportamental são mais difíceis de serem encontrados no mercado. “É comum termos candidatos com bom domínio técnico ou de características comportamentais adequadas, mas com esse perfil completo já é um pouco mais raro”.

“Quem hoje domina um segundo idioma, preferencialmente o inglês, e ainda tem algumas competências que o mercado exige, como pro atividade, ambição na carreira, comprometimento e entender do negócio que atua, larga na frente por uma vaga.  São pessoas com essas qualidades que as empresas sempre estão de olho”, explica.

Veja os nove cargos com mais dificuldade de contratação:

Cargo Área Função Salário médio Dificuldade de contratação
Fonte: Page Personnel
Gerente comercial Vendas Venda
Relacionamento com as grandes redes supermercadistas
R$ 8 mil Domínio no segundo idioma
Analista sênior/ Coordenador de departamento pessoal RH Condução de projetos de RH De R$ 5 mil a R$ 7 mil Domínio de softwares de folhas de pagamento
Analista de produto júnior/pleno Marketing Criação de novos produtos De R$ 3,5 mil a R$ 4,5 mil Domínio de conhecimento técnico do setor em que atua
Vendedor Técnico/Engenheiro de Vendas Comercial Auxilia o cliente nas especificações técnicas do produto R$ 7 mil Domínio no segundo idioma
Analista de Desenvolvimento Mobile IT/Desenvolvimento Desenvolvimento de aplicações para mobile IOS e Android De R$ 6 mil a R$ 7 mil Profissionais com sólidos conhecimentos na área
Analista Fiscal Fiscal/Tributário Responsável pelas rotinas fiscais da empresa R$ 5,5 mil Domínio no segundo idioma
Analista Contábil Contabilidade Responsável por rotinas contábeis da empresa R$ 6 mil Domínio no segundo idioma
Técnico de Campo Geral Manutenção e instalação em equipamentos em geral R$ 4,5 mil Domínio no segundo idioma e formação acadêmica
Consultor de Projeto Logístico Administração Análise de malha logística
Foco em melhoria de processos e otimização de custos
R$ 7,5 mil Profissionais com sólidos conhecimentos na área