A greve da Polícia Militar na Bahia provoca prejuízos ao estado, com perda de turistas e suspensão do funcionamento de vários órgãos da Justiça. De acordo com estimativa da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens) da Bahia, 10% dos turistas que pretendiam visitar Salvador no verão já desistiram da viagem. Além disso, a embaixada dos Estados Unidos aconselhou, em nota, que os cidadãos americanos em visita ao Brasil adiem qualquer “viagem não essencial” a Salvador.

Os três níveis de Justiça na Bahia (Estadual, Federal e Trabalhista) não funcionaram ou encerraram o expediente mais cedo. Os prazos processuais também foram suspensos e os tribunais passaram para regime de plantão apenas para os casos urgentes. O mesmo ocorreu com as três vertentes do Ministério Público.

Na Defensoria Pública do estado, o expediente terminou às 17h, e na Defensoria Pública da União, foram atendidos apenas os cidadãos que já estavam na sede do órgão até as 14h, assim como os casos urgentes envolvendo questões criminais, de saúde e questões decorrentes do movimento grevista.

Confrontos
Em 6 de Fevereiro, ocorreram dois tumultos em frente à Assembleia Legislativa da Bahia, quando os parentes dos grevistas amotinados reagiram contra a colocação de tapumes em torno do prédio. Isso fez com que os militares não prosseguissem com o isolamento do local. Houve também o disparo acidental de uma bomba de gás lacrimogênio, segundo o Exército.

Em várias regiões de Salvador, a greve dos PMs e a presença de tropas das Forças Armadas e da Guarda Nacional mudaram a rotina dos moradores e comerciantes. Na comunidade de Pau Lima, na periferia da cidade, uma moradora, que não quis se identificar por questões de segurança, disse à Agência Brasil que muita gente do local prefere ficar em casa até que a situação se normalize.

No bairro da Pituba, na região praiana, grande parte do comércio manteve as portas fechadas e as lojas que abriram só funcionaram até as 16 horas, permitindo que os empregados saíssem mais cedo. Os comerciantes também temem que seus estabelecimentos sejam saqueados.

Também nesta segunda, a Avenida Paralela, uma das principais vias da cidade, foi bloqueada por ônibus atravessados na pista por desconhecidos que renderam os motoristas, obrigando-os a abandonarem os veículos no local. A ação tumultuou o trânsito na capital baiana. Esses bloqueios têm ocorridos em outras vias de Salvador e duram em média uma hora.

 Para combater o problema, o governo federal tem planos de contingência, com mais de 20 mil homens de prontidão, para mandar ajuda a qualquer estado que recorra à União para garantir a lei e a ordem pública devido à onda de greves de policiais militares que ameaça se expandir pelo País. A cargo dos Ministérios da Defesa e da Justiça, os planos incluem efetivos das Forças Armadas, Polícia Federal e Força Nacional de Segurança Pública, que tem uma reserva 10 mil policiais de elite recrutados nos estados para pronto emprego.

“Se necessário, temos condições de mandar tropas não só ao Rio – onde as polícias militar e civil entraram em greve hoje – mas para qualquer Estado que necessite de reforço”, informou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Cerca de 4 mil homens estão na Bahia, primeiro Estado atingido pela onda de greves planejada por policiais de vários estados para forçar o Congresso a aprovar a PEC 300, proposta de emenda constitucional que cria o piso nacional da categoria.

 

Cardozo disse que, por enquanto, não há necessidade de mandar reforços ao Rio, onde a situação seu ver “é muito tranquila” e o governador Sérgio Cabral não viu necessidade de pedir ajuda por enquanto. Ele garantiu que todas as medidas foram adotadas para assegurar a tranquilidade de foliões e turistas durante o período carnavalesco. “Não tenho a menor dúvida de que o carnaval transcorrerá em absoluta normalidade na Bahia, no Rio e em todos os Estados”.

 

O palácio do Planalto avalia que o tratamento de choque dado aos grevistas na Bahia, numa articulação federal com o governo Jaques Wagner (PT), serviu de alerta aos demais Estados onde associações de cabos e praças militares armara uma onda de paralisações e motins. “Estamos acompanhando com evidente preocupação a movimentação em todo o país, mas acreditamos que a reação firme do governo contra atos criminosos e de vandalismo ocorridos na Bahia, fez reduzir o ímpeto nos demais Estados”, disse Cardozo.

 

Além de endurecer na negociação salarial, o governo pediu a prisão dos cabeças do movimento e fechou questão em não conceder anistia aos que cometeram excessos. “A posição do governo é clara: somos contrários à qualquer forma de anistia, não é possível que pessoas que tenham praticado crimes, situações de vandalismo, sejam simplesmente ignoradas”, observou Cardozo. A seu ver, no Rio, “é visível o enfraquecimento do movimento e também o amadurecimento dos policiais, que optaram por ações não violentas”.

 

Os serviços de inteligência do governo, que incluem a Abin e a PF, monitoram há meses a movimentação dos policiais em todos os Estados e detectaram que, além da Bahia e Rio, havia mobilização forte em outros dez. Em seis, o quadro é mais preocupante (Espírito Santo, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas e Goiás). Nos outros quatro, o risco de motim é menor, mas não totalmente descartado (Mato Grosso, Roraima, Tocantins e Distrito Federal).

 

Em todos esses Estados, haverá assembleias de associações de cabos e praças, ou reuniões de articulação ao longo da próxima semana, nos dias que antecedem o carnaval. A maior parte das deliberações será tomada no dia 15. Mas os governos estaduais, que têm a responsabilidade federativa pela segurança pública de seu território, precisam pedir formalmente a ajuda federal, como prevê a Constituição. O Planalto os está orientando a se anteciparem aos fatos e abrirem negociação com entidades representativas das polícias.

 

 

Fonte: Agência Brasil