Código Florestal: os principais pontos do texto aprovado

MARGEM DE RIOS: As margens de cursos d’água são consideradas áreas de preservação permanente (APPs). No caso dos rios de até dez metros de largura, será preciso recompor com vegetação nativa uma faixa de quinze metros a partir da margem. Nos rios com mais de dez metros de largura, a exigência de reflorestar foi derrubada ontem.

PRESERVAÇÃO PERMANENTE: É permitida a continuidade de atividades agropecuárias e de turismo rural em áreas áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.

CADASTRO AMBIENTAL RURAL: Toda propriedade rural terá que se inscrever do CAR, e será necessário informar a localização da vegetação nativa remanescente, das APPs, das áreas de uso restrito, das áreas consolidadas e, se for o caso, da localização da reserva legal. A exigência de tornar esses dados públicos na internet foi derrubada.

APICUNS E SALGADOS: Áreas de solo salino e adjacentes aos manguezais, apicuns e salgados não são considerados áreas de preservação permanente. Isso libera a carcinicultura, ou seja, a criação de camarões nessas áreas.

ENCOSTAS: Permite o manejo florestal sustentável e atividades agropecuárias, além da manutenção de infraestrutura física, nas áreas com inclinação entre 25 graus e 45 graus. Mas veta a conversão de novas áreas, com exceção das que forem consideradas de utilidade pública e interesse social.

FINANCIAMENTO BANCÁRIO: A Câmara derrubou a proibição de, após cinco anos a partir da publicação da lei, as instituições financeiras concederem crédito agrícola aos donos de propriedades rurais que não estejam inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

PRESERVAÇÃO NAS CIDADES: Os conselhos estaduais e municipais ambientais terão liberdade para definir a extensão das áreas de preservação permanente na zona urbana, sem considerar a metragem estipulada na lei.

RESERVA LEGAL: O produtor poderá incluir no cálculo da reserva legal que deve ser preservada as áreas de APP em sua propriedade. Na maior parte do país, a reserva é de 20% da extensão da propriedade, subindo para 80% na floresta Amazônica e para 35% nos cerrados localizados na Amazônia Legal.

COMÉRCIO DE PLANTAS: A venda de plantas vivas e produtos da flora nativa vai depender de licença ambiental de órgão estadual. A exceção é no caso da exportação, quando será exigido licença de órgão federal. Esse trecho chegou a ser suprimido pelo relator, mas ele recuou após o temor do governo de que sua ausência estimularia a biopirataria.

 

A aprovação da lei que reduz áreas protegidas e anistia os desmatadores de grandes superfícies na Amazônia brasileira, a poucas semanas da cúpula Rio+20, representou uma vitória do setor agropecuário e uma derrota para os ecologistas, que pedem o veto da presidente Dilma Rousseff.

“A reforma aprovada é o maior retrocesso ambiental no Brasil em décadas” porque “promove uma anistia para quem desmatou ilegalmente na última década, deixa grandes áreas que não serão reflorestadas e reduz o que os produtores devem proteger”, denunciou à AFP o coordenador do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) no Brasil, Carlos Rittl.

“Aprovaram um texto que apresenta incentivos reais a novos desmatamentos”, denunciou o Comitê em Defesa das Florestas, que reúne 163 ONGs brasileiras.

O Congresso brasileiro aprovou na quarta-feira a reforma da lei que estabelece o percentual de florestas que os produtores rurais devem preservar em suas terras, uma proporção que chega a 80% na Amazônia, e muitos analistas já antecipam as críticas na cúpula da ONU Rio+20, em que mais de 100 chefes de Estado e de governo discutirão em junho, no Rio de Janeiro, o desenvolvimento sustentável do planeta.

“O Brasil não tem a condição moral de receber chefes de Estado de todo o mundo para discutir a sustentabilidade se aprovar, semanas antes, uma lei que praticamente destrói a conservação da vegetação nativa”, afirmou à imprensa o ex-vice-ministro de Meio Ambiente e diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade, João Paulo Capobianco.

O texto, aprovado por um poderoso lobby agropecuário ávido por ampliar as terras culivadas e que tem folgada maioria no Congresso, não é o que o governo esperava, que estuda seu complicado alcance.

Um estudo divulgado pela Universidade de Brasília estimou que a nova legislação poderá aumentar em 47% o desmatamento no país até 2020.

“A presidente analisará com muita serenidade, sem animosidade” a possibilidade de vetar o texto ou partes do mesmo, declarou nesta quinta-feira o ministro da Secretaria da Presidência, Gilberto Carvalho. “Temos muita responsabilidade com o país”, disse.

“Qualquer questão que na prática signifique anistia (para quem desmatou ilegalmente), acho que tem chances de sofrer veto” presidencial, disse à imprensa a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvati.

A coalizão de governo se dividiu na votação e agora alguns defendem a reforma e outros, o veto presidencial.

A ex-candidata à Presidência e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva convocou a população a apoiar a campanha #VetaDilma!, que circula na internet, apelando à promessa eleitoral da presidente de vetar qualquer reforma que estimule o desmatamento ou anistie aqueles que desmataram ilegalmente.

A reforma exibe duas faces do Brasil: a do gigante agropecuário com exportações recorde e cujos campos cultivados ocupam 27,7% do território e a do país com cinco milhões de quilômetros quadrados de florestas, que cobrem mais de 60% do território nacional e que conseguiu reduzir o desmatamento amazônico de 27.000 km2 em 2004 a pouco mais de 6.000 km2 em 2011.

“Se não houver um veto da presidente, o Brasil perderá a credibilidade e as conquistas que levaram o país a reduzir o desmatamento”, disse à AFP Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM).

O desmatamento, que as autoridades prometeram reduzir em 80% até 2020, faz do País um dos maiores emissores de gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global.

Os agricultores garantem que a nova lei não incentivará o desmatamento e defendem a reforma porque a legislação anterior “era incompatível com o grau de evolução do agronegócio brasileiro”, disse Assuero Doca Veronez, alto dirigente da Conferderação Nacional da Agricultura.

Agricultores e ecologistas concordavam em reformar a lei e o governo estava disposto a flexibilizar algumas exigências para que os produtores rurais pudessem replantar boa parte do território desmatado, mas com a reforma atual, a recuperação das florestas se reduz ao mínimo e as áreas de proteção diminuem.

A importância desta lei, que define o que os proprietários rurais devem proteger, se deve a que os 5,3 milhões de quilômetros quadrados de selva e florestas que o Brasil tem, apenas 1,7 milhão está sob proteção do Estado e o restante se encontra em terras privadas de produtores rurais ou sem propriedade defininida

Divulgue o Movimento “Veta, Dilma”!

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Fonte: Greenpeace