Zippora Mbungo está passando fome, mas ainda consegue reunir um mínimo de forças para caminhar e trabalhar. Ela faz isso graças a uma corda amarrada no estômago, prática difundida entre mulheres há várias gerações para enganar a fraqueza e a desnutrição. “Só os ricos não usam a corda em tempos como esses,” diz.

Em seus 86 anos de vida, Zippora nunca viu uma seca atingir tão duramente Makami, vila onde mora com os netos no Quênia. Uma em cada cinco crianças no país está desnutrida.

“Estamos sobrevivendo à base de frutas silvestres,” explica Priscilla Eduru, 63 anos, moradora de uma vila próxima. “Temos que fervê-las por no mínimo 12 horas, porque elas são venenosas. As frutas servem só para que as crianças tenham a sensação de que comeram – para que elas sintam que seus estômagos estão cheios. Mas elas não têm nenhum nutriente.”

No Quênia e em toda a região conhecida como a África Oriental, que também inclui Etiópia, Somália, Uganda e Djibuti, cerca de 12,4 milhões de pessoas estão com fome e com sede, sobrevivendo como podem. Com o fracasso das colheitas e a morte dos animais, os pastores, agricultores e suas famílias fazem no máximo uma refeição por dia.

Carcaças são visão frequente no Quênia

“Antes da seca, tínhamos 300 cabras. Agora temos só 80. Nossa vaca morreu de fome, mas não pudemos comer a carne porque não havia quase nenhuma. Só deu para salvar a pele,” diz Mohamed Ahmed, pastor, 80 anos.

A água também é pouca e de difícil acesso. Os poços rasos cavados junto às residências secaram, e as pessoas têm de caminhar longas distâncias para conseguirem o mínimo necessário para sua sobrevivência.

Ralia Kamato, 16 anos, explica que teve que deixar de ir à escola porque não há comida nem água na casa da avó, onde ela precisa se hospedar para conseguir freqüentar as aulas. Ela já havia deixado de prestar os exames – seus pais perderam tudo com a seca e deixaram de pagar as mensalidades do colégio.

“Antes, a gente se divertia, dançava, ia à escola. À noite, quase sempre tinha carne para o jantar. A gente tinha tudo o que precisava, mas nos últimos anos, tudo foi tirado de nós,” lamenta.

Ralia Kamato: “Nos últimos anos, tudo foi tirado de nós.”

Em algumas áreas, a situação é agravada por conflitos políticos. Na Somália, a violência e a seca vêm provocando êxodo. O maior campo de refugiados do Quênia já abriga 380 mil pessoas — 4 vezes a sua capacidade máxima.

O que estamos fazendo

A ActionAid está trabalhando nas áreas mais severamente atingidas do Quênia e já ajudou, até agora, mais de 250 mil pessoas. Estamos levando alívio imediato às pessoas mais vulneráveis: mulheres, crianças, pessoas com deficiência, idosos e pessoas com HIV/AIDS.

Em Ijara, nós distribuímos alimentos para 26 mil famílias pobres chefiadas por mulheres. Lá, e também em Sericho, Isiolo, Narok, Malindi e Marafa, garantimos a permanência de quase 18 mil crianças nas escolas com a oferta de refeições nutritivas no intervalo das aulas. Estamos ampliando esse programa de merenda escolar para beneficiar um total de 13 mil crianças no país.

Projeto de irrigação financiado pela ActionAid

Em Isiolo, providenciamos combustível para duas bombas que são as únicas fontes de água disponíveis para as crianças das escolas e a comunidade do entorno – um total de mil pessoas. Em todo o Quênia, fornecemos água limpa para cerca de 50 mil pessoas.

A ActionAid está fazendo um esforço mundial para arrecadar cerca de R$ 3,5 milhões. Esses recursos vão viabilizar a distribuição de alimentos, evitando mortes e reduzindo o sofrimento. Financiarão, também, projetos de longo prazo que vão preparar as pessoas para lidar com as mudanças climáticas. Aprendendo a diversificar seus meios de subsistência e a criar fontes de água sustentáveis, elas ficarão menos vulneráveis a futuras secas.

Para doar recursos para esta causa, procure a Action Aid

 

Fonte: Action AId