Em 25 de Março, o Brasil obteve vitória na OMC (Organização Mundial do Comércio), contra os Estados Unidos, em relação ao suco de laranja, pois se considerou que aqueles oferecem produtos a preços muito baixos no mercado, para eliminarem a concorrência dos outros países, prática chamada de “dumping”. Em sua visita recente ao Brasil, Obama, aliás, ouviu esse questionamento da Presidente Dilma.

Além do Brasil, a União Europeia, Japão, México, Coreia do Sul, Tailândia, Canadá e Equador já propuseram processos na OMS, contra os Estados Unidos, pelo mesmo motivo.

A China é outro parceiro importante do Brasil no comércio internacional, mas também é acusada de praticar dumping,  para ganhar espaço da concorrência. Assim, alguns setores brasileiros saíram devastados pela entrada de produtos chineses, como a indústria de brinquedos, em que 536 fábricas fecharam, junto com 40 000 postos de trabalho, além de a Estrela, líder do setor, ter-se abalado consideravelmente, e a de roupas e calçados, em que a Azaleia, por exemplo, também demitiu funcionários. Por outro lado, a Vale, já em 2010, exportava 140 milhões de toneladas de minério de ferro para a China, isto é, 57% de sua produção total. Além disso, também, no ano passado, o Brasil faturou cerca de US$ 7,1 bilhões com a exportação de 19 milhões de toneladas de soja para a China. Então, hoje, a China é o principal destino das exportações brasileiras, sendo o saldo da Balança Comercial, entre ambos, favorável ao Brasil em  US$ 5 bilhões. Todavia, há que se ver com cautela esse resultado, pois, na verdade, poder-se-ia afirmar que a China está colonizando o Brasil, na medida em que importa suas commodities, transformando-as em produtos que se revendem de volta aqui. Portanto, para reverter esse quadro, seria necessário adotar-se medidas amplas, como a redução do prazo para abertura de uma empresa no Brasil (120 dias, contra 38, na China) e do custo de exportação (US$ 1750 por contâiner, no Brasil, contra US$500, na China), sem, porém, mexer-se no regime democrático aqui vigente, já que lá  não são tão ativos órgãos como o Ministério Público e o Tribunal de Contas, nem se respeitam tanto o meio ambiente e os direitos trabalhistas.

Além do comércio exterior, a China também é importante para o Brasil sob o aspecto político, pois, declaradamente, apóia que o Brasil consiga um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), como, agora, em que a Presidente Dilma acaba de concluir sua visita àquela, da qual adveio a celebração de acordos, como o em que a fabricante de componentes eletrônicos Foxconn investirá 12 bilhões de dólares aqui, nos próximos cinco anos, para produzir telas de cristal líquido, capazes de gerarem 100 000 empregos. Com isso, poderíamos passar a comprar tablets mais baratos do que hoje, já que o preço médio daqueles é de R$ 1400,00. Os entraves a esse projeto são os incentivos fiscais que os Estados teriam de oferecer à Empresa e os encargos trabalhistas, já que a mão-de-obra chinesa é cinco vezes mais barata do que a brasileira. Outros acordos já fechados entre ambos são a venda de 35 aeronaves da Embraer, pelo valor de 1,5 bilhão de dólares, além da fabricação do jato Legacy daquela em sua fábrica na China, e a abertura do mercado desta para a carne de porco brasileira, estimado em 200 000 toneladas em cinco anos

Outro aspecto relevante do Brasil como país desenvolvido é a emergência de sua classe média. Nos últimos seis anos, 29 milhões de pessoas ascenderam das classes D e E  para a C, cuja renda mensal é de R$ 2000,00, elevando para 94 milhões de pessoas, ou seja, 51% da população, o tamanho daquela, que abarca uma faixa de renda maior, até R$ 4800,00.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              Um

Um dos determinantes dessa ascensão social foi a tomada de crédito, tornando essas pessoas microempresárias, além de consumidores mais ativos, mesmo possuindo uma rotina pesada, com jornadas de trabalho de 10 a 14h por dia, estudo à noite e bicos  nos finais de semana.  Mesmo assim, ainda persistem os desafios, como a falta de instrução do brasileiro em geral, que tem levado a muitas vagas de emprego qualificado não serem preenchidas, apesar de alguns avanços, como, por exemplo, o fato de 68% dos membros da classe C terem mais anos de estudo do que seus pais, graças, por exemplo, a programas de financiamento, como o Pro Uni e o Fies, programas de renda mínima e a expansão do ensino técnico.  Outro setor bastante criticado, neste início de mandato de Dilma, é a saúde pública, em que faltam vagas para internação, consultas e exames. Diante disso, a corrupção é apontada como grande fonte de desvio de recursos públicos, que se poderiam empregar nos dois setores citados.

Outra faceta da economia brasileira atual que merece destaque, segundo pesquisa da Fundação Dom Cabral, é que 92% das empresas que geram 22% do PIB (Produto Interno Bruto) enfrentam dificuldades para contratarem mão-de-obra, levando-as, inclusive, a recrutarem-na no exterior. Portanto, as exigências de muita experiência, idiomas e cursos de pós-graduação vêm sendo flexibilizadas, optando-se por contratar o funcionário e treiná-lo na empresa. Uma das causas dessa realidade é a baixa qualificação do brasileiro e da falta de investimento no ensino técnico, e a tendência é que o gargalo aumente com a demanda gerada pela Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Entre as funções em que há maior dificuldade de contratação, destacam-se as de engenheiro, profissionais de Tecnologia da Informação (TI), técnicos e administrativos em geral. Diante disso, é comum que profissionais empregados sejam assediados para trocarem de empresa, o que os empregadores tentam combater com a oferta de benefícios, como alimentação diferenciada, bônus, cursos, horários flexíveis, atividades de lazer, moradia, planos de saúde extensivo à família

Portanto, pode-se concluir que nem tudo são rosas no Brasil desenvolvido. Outro aspecto que merece preocupação é a dívida pública interna dos Estados e Municípios com a União. Já em 1997 o montante da dívida suplantava o da arrecadação, levando os bancos oficiais dos Estados a jogarem no mercado títulos da dívida pública. Então, a União assumiu toda a dívida, no valor de 100 bilhões de Reais, fazendo o mesmo com a dívida das Capitais em 2000. Depois, para a situação não se repetir, vieram o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e as privatizações. Ainda assim, entre 2007 e 2010, no Governo Serra, a dívida de São Paulo com a União subiu de 120 para 153 bilhões de Reais, mesmo aquele tendo pago em dia 9 bilhões por ano em juros. Só a Capital paulista deve 44 bilhões de Reais. De fato, hoje, estima-se que o montante da dívida pública seja de 600 bilhões de Reais, e, se nada for feito, em 2016, os Estados que deverem mais de 120%  de sua receita líquida deixarão de receber verbas federais, à exceção da saúde, educação e segurança, e, em 2027, todos os Estados poderão estar insolventes, alguns dos quais, inclusive, tendo de pagar mais de 50% do que arrecadam à União.

Em 2011, vem caindo o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), devido ao alto endividamento. Segundo a Fecomercio-SP, seis de cada dez famílias estão endividadas, com endividamento médio de R$ 850,00 ou 30% da renda.

Fonte: Veja