O Conselho de Segurança da ONU decidiu, por unanimidade, impor sanções a Muammar Kadafi na Líbia, no Norte da África, como o bloqueio de seus bens, a proibição de viagens do ditador ao exterior e o embargo à compra de armas. Em resposta, Kadafi repudiou as medidas e insiste em não deixar o poder.
Também ficou decidido que o Governo Kadafi será julgado pelo Tribunal Penal Internacional, sediado em Haia, pela violação de direitos humanos, devido à repressão violenta contra os protestos que começaram em 17 de Fevereiro, em Trípoli e outras cidades, envolvendo cidadãos e o Exército, da qual resultou a morte de centenas de pessoas. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), cerca de cem mil pessoas já deixaram a Líbia, indo para o Egito ou Tunísia, em cujas fronteiras vem sendo instalados acampamentos de emergência.
Vale lembrar que as manifestações na Líbia tiveram início após os movimentos populares na Tunísia e no Egito, que depuseram seus presidentes.
O ditador Kadafi estava no poder desde 1969 e parecia querer continuar lá, pois vinha declarando que lutará até à morte para defender sua posição, além de até já ter ameaçado de morte, pela televisão, quem se opuser a ele. Na contramão dessa postura, porém, alguns membros do Governo já entregaram seus cargos. O maior crime atribuído ao Ditador é haver provocado a queda de um avião na Escócia, acarretando a morte de 270 pessoas.
Os opositores de Kadafi assumiram o controle da Cidade de Zawiya, e, em Benghazi, os rebeldes já haviam formado um governo de transição, liderado por Mustafá Abdel Jalil. Também tentam controlar Sirte, terra natal e fortaleza de Kadafi. Além disso, a força rebelde, estimada em mil homens, já tomou o poder em Trípoli, a Capital. Entretanto, há poucas informações sobre a situação em Zawiya, pois as comunicações telefônicas estão cortadas, e os jornalistas estão sendo impedidos de naquela entrarem, sob pena de detenção, tendo já havido, inclusive, morte. Sabe-se, porém, que os rebeldes estão convocando a população masculina desta Cidade para ajudar no movimento e que os combatentes de Kadafi já destruíram diversos edifícios e outras construções
Kadafi, porém, mantinha o controle sobre Trípoli, a Capital, onde vivem dois dos sete milhões de habitantes do País, contando com mercenários arregimentados na Etiópia, Sudão, Chade, Nigéria e Libéria, que, inclusive, bombardearam poços de petróleo da Sirt Company, controlada pelos rebeldes. Para isto, utiliza armamento pesado.
Os Estados Unidos vinham declarando abertamente que o Ditador deveria deixar o Governo, e o Pentágono já deslocou à costa líbia arsenal militar. Entretanto, fracassou a missão diplomática secreta britânica à Líbia, que tentou estabelecer contato com os rebeldes em Benghazi, mas, tendo sido detida, acabou deixando o País. De qualquer forma, ao menos por enquanto, está descartado o envio de tropas americanas terrestres à Líbia, mas a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) criou uma zona de exclusão aérea, que impeça bombardeios aos rebeldes, além de fornecer-lhes armas.
Em 8 de Março, os rebeldes deram um ultimato a kadafi, para que deixasse o Governo em 72h, prometendo não o perseguirem pelos crimes que cometeu, mas não adiantou.
Já em Abril, mesmo sendo divulgadas declarações de autoridades internacionais não reconhecendo mais a legitimidade do Governo Kadafi, este, com o apoio de civis armados e de milicianos, vem conseguindo reconquistar trechos de territórios até então dominados pelos insurgentes, como na própria Capital.
De qualquer modo, ainda que Kadafi conseguisse manter-se no poder, se não houvesse a geração de empregos, com a injeção de investimentos na economia, o clima de instabilidade seguirá, pois os jovens, certamente, não se calarão, sendo possível, inclusive, a aproximação com grupos radicais, como Al Qaeda.
A população civil da Líbia vem recebendo ajuda humanitária modesta, como da França, pois os ataques das tropas de Kadafi vêm dificultando-a. Com isto, em Maio, chega a 750 000 líbios o número de pessoas que deixaram o País após o início do conflito.
Segundo o Pentágono, em 19 de Março, já dentro da zona de exlusão aérea citada, 112 mísseis atingiram 20 alvos na Líbia, arremessados por navios e submarinos americanos e britânicos. Em visita ao Brasil, o Presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, confirmou que autorizou suas Forças Armadas a atacarem os sistemas antimísseis da Líbia, sendo, porém, criticado pelo Congresso Americano. A partir daí, aviões e submarinos passaram a atacar a força aérea de Kadafi, dominando-a, além de, com isso, protegerem a população civil, que vinha sendo atacada com violência pelas milícias do Ditador, a quem também se impingiu embargo econômico.
Em 25 de Março, houve reunião em Adis-Abeba, Capital da Etiópia, entre representantes de Kadafi, Rússia, Estados Unidos, China e França e a União Africana (UA), em que o Ditador enviou a mensagem de que aceitava negociar com os rebeldes líbios e promover reformas democráticas no País, mas os rebeldes naquela não foram representados, pois não concordam que Kadafi não seja deposto.
Já, em 1 de Abril, os rebeldes demonstraram-se propensos a um cessar-fogo, e houve enviados do Governo Kadafi à ONU para estudo das circunstâncias em que ele ocorreria, incluindo a atuação livre dos entes de ajuda humanitária e a proteção aos civis.
Na ONU (Organização das Nações Unidas), porém, os países que compõem a BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), abstiveram-se de votar na intervenção militar na Líbia, à exceção da última. Esse grupo também vem fazendo pressão pela reforma do Conselho de Segurança da ONU, onde só Rússia e China são membros permanentes, sendo os outros três temporários, do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional). Os países em questão querem menor volatilidade dos preços das commodities e menor dependência do dólar, haja vista à crise mundial em 2009 e à fragilidade atual dos Estados Unidos, defendendo que haja fortes reservas internacionais dando segurança à economia global. Assim, já estão oferecendo empréstimos entre si, em suas moedas locais.
Houve notícias de que a Líbia assistia a um verdadeiro “derramamento” de sangue, levando até militares fiéis a Kadafi a desertarem. Além disso, a CIA (Companhia de Inteligência Americana) começou a treinar os rebeldes, a fim de organizar-lhes a revolução.
O fato é que, por bastante tempo, não estava decidido se Kadafi ou os rebeldes estavam vencendo o movimento, pois há baixas de ambos os lados. É que a OTAN reluta em atingir alvos civis, enquanto as tropas de Kadafi usam-nos como escudo humano.
Os interesses do Ocidente na Líbia suplantam o lado político. Economicamente, em 2009, por exemplo, o comércio entre aquela e a União Europeia abarcou 37 bilhões de dólares, sendo os principais parceiros a Itália, Alemanha, Espanha e França, inclusive, na venda de armamentos. De fato, a Itália colonizou a Líbia durante 30 anos, e 1/3 do petróleo que consome vem deste país.
Uma pergunta que paira no ar é: afinal, quem são os rebeldes líbios? Há suspeitas de que sejam membros da Al Qaeda, do grupo libanês Hezbollah, do Grupo Islâmico de Combate Líbio, que já lutaram contra os Estados Unidos, no Afeganistão e Iraque, e da Irmandade Muçulmana, do Egito. Se assim for, a OTAN estará dando apoio a inimigos do Ocidente.
Um dos últimos incidentes ocorridos na Líbia foi a morte de 23 rebeldes em Misrata. Mesmo assim, estes seguem recebendo apoio internacional, como do Kuwait, que lhes enviou cerca de 177 milhões de dólares.
No mundo árabe, um país que já reconhece o conselho nacional de rebeldes na Líbia é o Qatar, e eles almejam que outros países também o façam, como os próprios Estados Unidos.
Enquanto o conflito não se resolvia, os rebeldes comprometeram-se a não empregarem minas terrestres, em que pese o fato de a Líbia não ser um dos 156 signatários do tratado que as veda.
Em 15 de Maio, o Governo de Kadafi dispôs-se à trégua com os rebeldes se se suspendessem os ataques áreos comandados pela OTAN, mas aquela não prosperou, tanto que esta vem procedendo a ataques à Capital e à residência de Kadafi, atingindo-se navios de guerra.
Em 3 de Junho, a OTAN iniciou ataques por helicóptero, visando alvos militares.
Conforme a Resolução 1973 da ONU, não se podia enviar tropas de ocupação à Líbia, salvo proteção de alvos civis.
O Congresso Americano, mesmo proibindo a intervenção militar na Líbia, manteve o financiamento das ações americanas nesta, avaliado em 700 bilhões de dólares até agora.
Em 10 de Julho, Kadafi impingiu novos bombardeios em face dos rebeldes, próximo à Capital.
Em 15 de Julho, os Estados Unidos e mais 30 países reconheceram oficialmente o governo dos rebeldes na Líbia, depois de o mundo assistir a um espécie de impasse no conlito, já que os rebeldes dominavam o leste, e Kadafi, o oeste do País, além de este estar entrincheirado na Capital
Estima-se que 10000 pessoas tenham morrido nos conflitos da Líbia.
Em 19 de Agosto, houve incidente na Embaixada da Líbia em Brasília, já que, mesmo no Ramadã, houve discussão entre funcionários fiéis a Kadafi e outros ligados aos rebeldes, já que estes tentaram impor a bandeira do movimento sobre a bandeira oficial do País.
Desde 21 de Agosto, a Líbia viveu momentos decisivos do conflito de vários meses, com a chegada dos rebeldes à Capital, onde, mesmo havendo confrontos com os grupos fiéis a Kadafi, os rebeldes declararam o fim da ditadura na Líbia, oferecendo recompensa pela captura do Ditador. Entretanto, Kadafi segue resistindo a entregar-se; ao contrário, convocou os rebeldes a formarem governo de transição, o que aqueles não aceitaram
Enquanto a França estava organizando reunião com vários países, visando à formação de aliança “pró Líbia”, a Argélia ofereceu asilo a Kadafi, tendo lá chegado sua segunda mulher e três filhos.
O País, sem Kadafi, vem tentando reorganizar-se. Assim, por exemplo, economicamente, procura-se retomar a produção de pretróleo, que, antes era de 1,6 milhão de barris por dia, prevista para 2013.
Desde Setembro, mesmo Kadafi estando fora do poder, seus seguidores vêm sofrendo na Capital e Cidades como Sirte, sem acesso a água, alimentos e medicamentos.
Em 19 de Outubro, Kadafi foi encurralado, morto e exibido como troféu em sua cidade natal, Sirte. Kadafi deixou outra mulher e filhos, mas também morreram os Filhos Mutassim, Saif Al-Arab e Hanna, apesar de haver dúvida se esta não continua viva. Seus filhos mais ligados politicamente ao pai, porém, são Mohammed e Saif Al-Islam.
A ONU pediu ao novo Governo da Líbia, dos rebeldes, que elucidem as circunstâncias da morte de Kadafi.
Mesmo morto, a figura de Kadafi segue misteriosa. Excêntrico, estima-se que haja abocanhado um patrimônio de 80 bilhões de dólares, incluindo mansões antes ocupadas por seus familiares e barras de ouro
A exemplo da Tunísia, que se prepara para as primeiras eleições democráticas pós-ditadura, espera-se que a Líbia adote essa faceta doravante.
Enquanto Obama comemorou a morte de Kadafi, Hugo Chávez declarou que este foi assassinado, e Dilma preferiu focar seu comentário na redemocratização do País.
Fonte: Al Jazeera
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