Segundo a Funai, entre 100 e 150 pessoas voltaram à fazenda, número que deve  aumentar com a chegada de outros índios presentes ainda no enterro de Oziel  Gabriel. Em outra demonstração de reação às decisões da Justiça, os  terenas também invadiram parte da Fazenda Esperança, no município de  Aquidauana (cerca de 140 km de Campo Grande).

O juiz Rodrigo Rigamonte, coordenador do Fórum de Assuntos Fundiários do  Conselho Nacional de Justiça (CNJ), vai ao Mato Grosso do Sul para acompanhar de  perto o conflito

O desembargador do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul Sérgio Fernandes  Martins, integrante do Fórum de Assuntos Fundiários do CNJ, acompanhou a  tentativa de conciliação. Ele lamentou o incidente.

— O CNJ, por ser órgão não jurisdicional, não poderia interferir. A função  foi acompanhar a mediação e apoiar a iniciativa — disse o desembargador.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) lamentou a morte do indígena Oziel  Gabriel, segundo nota divulgada na noite desta sexta-feira, e afirmou que está  acompanhando a defesa dos índios envolvidos no episódio. A Funai afirma que os  índios terenas vêm reivindicando a posse dessa área e desde 1993 são feitos  estudos analisam a demarcação do local. De acordo com a nota, a entidade havia  ingressado com recurso no Tribunal Regional Federal da 3ª Região para reverter a  ordem de reintegração de posse da Fazenda Buriti, que se encontrava suspensa  pela Justiça Federal de Campo Grande. O recurso ainda não foi julgado.

“A Funai considera lamentável o fato de ter sido determinado o cumprimento da  ordem de reintegração antes do julgamento desse recurso, sem que pudesse  informar e dialogar previamente com os indígenas, bem como acompanhar as medidas  voltadas à efetivação da decisão”, afirmou.

O cacique Argeu Reginaldo, que estava na fazenda Buriti na hora do confronto  disse em entrevista ao G1, que os índios não são cachorros.

— Não somos cachorros, não somos animais selvagens. Nós temos dignidade — afirmou ele, que depois mostra um ferimento nas costas provocado por uma bala de  borracha.

Os índios, da etnia terena, queimaram a sede da fazenda e chegaram a deixar o  local após o confronto. Ao todo, 17 indígenas foram presos e levados para a sede  da Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande. Segundo a PF, com eles  foram apreendidas três armas de fogo, vários arcos e flechas e o colete usado  por um dos policiais que foi atingido por tiros. A PF não informou o motivo das  prisões. Eles foram soltos na madrugada desta sexta-feira.

O corpo de Oziel Gabriel seria enterrado na manhã desta sexta-feira, na  aldeia Córrego do Meio, onde ele morava com a mulher e dois filhos adolescentes.  De acordo com a CBN, os familiares do índio se recusam a enterrá-lo e pedem um  nova necrópsia em Brasília.

Segundo dados do CNJ, o conflito de terras na região começou em 1928. Existe  uma área de pouco mais de dois mil hectares homologadas para os indígenas, mas  eles pleiteiam outros 17 mil hectares. Decisões judiciais recentes garantiram as  terras aos fazendeiros, o que provocou a invasão da Fazenda Buriti pelos  indígenas. O juiz federal já havia determinado a retirada dos invasores, mas  suspendeu a decisão temporariamente para evitar mais conflitos. Com a falta de  acordo, a liminar foi restabelecida em favor dos fazendeiros.

Ainda conforme o CNJ, a região da Grande Dourados, em Mato Grosso do Sul, é a  segunda maior população indígena do país, com 72 mil índios. Em abril deste ano,  o presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim  Barbosa, determinou a reativação do Fórum de Assuntos Fundiários e da Comissão  Especial sobre a situação Indígena de Mato Grosso do Sul. A comissão tem até 31  de julho para apresentar um relatório completo da situação no estado e propor  soluções. A próxima reunião do colegiado está marcada para o dia 24 de  junho.

Fonte: O Globo