A visão espiritual sobre o suicídio
Domério de Oliveira
de São Paulo, SP
“A vitória da vida não consiste tanto no ganhar suas batalhas, como em saber sofrer suas derrotas” ( P. C. Vasconcelos Jr. “In” – “Pensamentos”).
O suicídio é o resultado do nosso desequilíbrio espiritual. Quando o cidadão perde o controle das suas forças psíquicas, torna-se alvo das trevas, ( dos maus espíritos), e acaba caindo no tremendo calabouço do suicídio. Há pessoas que chegam às portas do suicídio levadas pela ignorância das leis naturais da causa e do efeito. Algumas pessoas cometem o suicídio, quando tangidas por doenças incuráveis ou quando atingem idade avançada. Não querem ser pesadas para as suas famílias e nem passarem por muitos sofrimentos. Essas pessoas não estão bem conscientes do aspecto espiritual de suas ações. Ignorando a Lei Maior da Vida Eterna, acham que podem estancar os achaques da velhice e que também podem interromper os seus sofrimentos, saindo desta existência, pelas portas trágicas do suicídio. Entretanto, meus amigos, ninguém pode exercer o papel de Deus. Ele nos dá a vida, aqui no planeta Terra e sabe, muito bem, o momento de nos transferir para o Plano Maior. Essas pessoas devem saber que o nosso Espírito ao ingressar no corpo mais denso, por si mesmo, escolheu as experiências cármicas para o seu burilamento íntimo. Nestas circunstâncias, durante nossas lutas, nossas provas e expiações, no planeta que nos acolheu, temos que batalhar até o fim, até à última gota de nossas forças. Temos que lutar até o fim, valendo-nos de todos os recursos para nossa sobrevivência. Só mesmo Deus, nosso Criador, pode fixar o momento da nossa partida. Sabemos que todas as vezes que ocorre o suicídio, o Espírito deverá retornar para reaprender aquela experiência interrompida, ou seja, precisará voltar em outra existência e passar de novo pela mesma provação ou algo similar. A provação pode não ser tão extremada como a que experimentou na existência anterior, porque parte dela já foi vivenciada, entretanto, o Espírito precisará resgatar, até o último ceitil, as provas que se lhe antolham e que foram ocasionadas pelo suicídio. As leis da ação e da reação funcionam como um sistema de pesos e medidas. A situação, assim, fica bem mais complicada, porque o suicídio nada resolve, pelo contrário, é circunstância tremendamente agravante. Meus amigos, a morte física não resolve os problemas que se ligam às nossas responsabilidades. Nossos problemas de ordem sentimental, de ordem social ou de quais quer naturezas, por certo, temos que resolvê-los e saná-los, aqui e agora, à luz da mais santa paciência e do trabalho incansável. Não tentemos fugir dos problemas porque eles nos seguem, como a sombra segue o nosso próprio corpo.
Sim, doe-nos o coração, quando, em trabalhos mediúnicos, temos a oportunidade de constatar a situação de penúria e de angústia dos irmãos que se suicidaram. Abre-se uma exceção para os irmãos que cometeram o suicídio tangidos por doenças mentais ou por desequilíbrios bioquímicos. Aludidas pessoas estariam com sua capacidade de decidir comprometida. Então, quando passam para o outro lado, acordam em uma espécie de abrigo onde recebem o auxílio de que precisam para o restabelecimento. Entretanto, não deixam de responder pela gravidade da falta cometida.
E podemos aduzir mais que a natureza de uma Alma a leva a crescer e a aprender. Por isso mesmo, trazemos, para a nossa existência terrena, determinadas situações que precisamos superar ou para as quais precisamos buscar o equilíbrio. Se nos déssemos conta de que, no plano terreno, é normal vivenciarmos algum tipo de sofrimento, seja físico, mental ou emocional e de que o suicídio não eliminaria essa condição, acreditamos que haveria menos casos de pessoas tirando suas próprias existências. Precisamos nos conscientizar sobre o erro do suicídio e sempre acentuar a responsabilidade que temos de viver plenamente, porque a Vida, em síntese, é uma só, e as existências, neste plano-terra, são os degraus que devemos escalar. Se quebrarmos algum degrau, por certo, teremos que descer de novo e reconstruí-lo. A queda, em qualquer circunstância, é sempre mais dolorosa.
Lembremo-nos sempre e procuremos vivenciar, “ab imo corde”, os valiosos ensinamentos do Eminente Guerreiro-Filósofo Napoleão Bonaparte, (1769 usque 1821):
“Tão valente é aquele que sofre corajosamente as dores da alma como o que se mantém firme diante da metralha de uma bateria. Entregar-se à dor, sem resistir, matar-se e eximir-se à mesma dor, é abandonar o campo de batalha antes de ter vencido”.
(Jornal Verdade e Luz Nº 165 Outubro de 1999)
“O suicida, é um homem sem esperança, porque perdeu a fé… ou a deixou sobrepujar pela ideia, terrivelmente enganadora, de que a morte era o fim libertador!”
O termo suicídio define um comportamento ou acto que visa a antecipação da própria morte. Essencialmente, ele resulta de um processo em que a dor psicológica intensa, consequência de acontecimentos que tornam a vida dolorosa e/ou insuportável, em que deixam de existir quaisquer soluções que permitam escapar a um processo de introspecção, que deixa como única solução a morte do próprio indivíduo. Este processo desenvolve-se, regra geral, gradualmente num sentido negativo provocando um estado dicotómico em que passam a existir apenas duas soluções possíveis para um problema ou situação: viver ou morrer.
Concorrem para este comportamento factores psicológicos diversos, entre os quais se destacam a depressão, o abuso de drogas ou álcool, doenças do foro psicológico, tais como esquizofrenia e distúrbio de stress pós-traumático, entre outros.
A Organização Mundial de Saúde estima em 150 milhões os deprimidos do mundo. É de notar que entre os mais acometidos, neste capítulo das depressões, se encontram os pastores evangélicos e os psiquiatras, entre os quais as taxas de suicídio são oito vezes maiores do que no resto da população. Estes números parecem indicar que, na realidade, ninguém salva ninguém e que as religiões ditas salvadoras nem a si mesmas se salvam.
Segundo a visão do sociólogo Émile Durkheim, podemos falar de três tipos de suicídio:
O egoísta –
é aquele que resultaria de uma individualização excessiva nas sociedades onde a moral se esforça para incutir no indivíduo a ideia do seu grande valor, fazendo com que a sua personalidade se sobreponha à colectiva. O egoísmo é tema estudado nas obras básicas da Doutrina Espírita em diversas oportunidades. Assim, no cap. XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Emmanuel ensina que o egoísmo é a chaga da Humanidade, o objectivo para o qual todos os verdadeiros crentes devem dirigir as suas armas, suas forças e sua coragem. Coragem porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer os outros. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, relaciona o egoísmo à perda de pessoas amadas, à vida de isolamento, às desigualdades sociais, às ingratidões, ao problema da fome e aos laços de família.
O altruísta –
é aquele praticado nos meios onde o indivíduo deve abrir mão da sua personalidade e ter espírito de abnegação e entrega de si às causas colectivas.
Por exemplo, o espírito militar, que exige que o indivíduo esteja desinteressado de si mesmo em função da defesa patriótica. Nesse particular a questão n.º 951 de O Livro dos Espíritos comenta que todo o sacrifício feito à custa da sua própria felicidade é um acto soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque é a prática da lei da caridade. Ora, a vida sendo o bem terrestre ao qual o homem atribui maior valor, aquele que a renuncia para o bem do seu semelhante não comete um atentado: ele faz um sacrifício. Mas, antes de o cumprir, ele deve reflectir se a sua vida não pode ser mais útil que a sua morte.
O anónimo –
é aquele que ocorre nos meios onde o progresso é e tem que ser rápido, levando a ambições e desejos ilimitados. O dever de progredir tira do homem a capacidade de viver dentro de situações limitadas, tira-lhe a capacidade de resignação e, consequentemente, tem-se o aumento dos descontentes e irrequietos. A doutrina espírita não poderia omitir-se face a este tema e são várias as obras básicas da Codificação que se debruçam sobre a resignação humana.
Factores Desencadeadores e Sinais de Alerta
A tentativa de suicídio ou o suicídio em si não têm uma causa específica, mas sim um conjunto de factores actuando sobre um indivíduo com transtornos emocionais graves. Na lista que se segue estão alguns dos factores que podem agir como desencadeadores:
Crise de identidade
Baixa auto-estima
Distúrbios psiquiátricos (depressão)
Crises familiares (separação dos pais, violência doméstica, alcoolismo de um dos pais, doença grave ou morte)
Falta de apoio no meio familiar
Perda de um familiar ou amigo querido
Crise disciplinar com os pais, na escola ou no trabalho
Situações de desapontamento, rejeição ou humilhação
Separação com o namorado ou cônjuge
Fracasso em alguma actividade valorizada
Exposição ao suicídio (meios de comunicação, família, comunidade…)
Falta de esperança
Abuso físico ou sexual
Abuso de drogas
Gravidez indesejada
Instrumentos disponíveis em casa (arma carregada, comprimidos para dormir…)
Sinais de alerta
A maioria das pessoas que tentam o suicídio ou o levam a termo, demonstram a sua intenção de alguma forma:
Sinais verbais:
Não quero viver mais.
A vida já não tem sentido.
Não vou criar mais problemas a ninguém.
Em breve o meu sofrimento vai acabar.
Gostaria de estar morto.
Ninguém se importa se estou vivo ou morto.
Planeamento:
Inventário dos bens.
Ritual de despedida ( cartas, e -mails, etc.)
Comportamentos na escola ou no trabalho:
Declínio na produção, absentismo, pouca concentração.
Comportamentos rebeldes repentinos.
Abordagem de temas sobre a morte.
Perda de interesse em actividades antes agradáveis.
Comportamento interpessoal:
Abandono das relações habituais.
Mudanças repentinas nas relações.
Evita envolvimento com amigos e encontros sociais.
As pessoas que apresentavam um quadro depressivo e repentinamente melhoram devem ser observadas com atenção, principalmente se demonstram algumas atitudes acima descritas, como o inventário dos bens. Esta súbita alegria pode ser devida ao facto de que concluíram que não têm outra saída e encontraram a solução para os seus problemas: o suicídio.
O SUICÍDIO e as CRIANÇAS
O Suicídio e as Crianças
Existem três etapas diferentes na infância para a interpretação da morte:
·Até aos 5 anos a criança não tem a noção da morte definitiva, não reconhece que a morte envolve a total cessação da vida e não compreende a não reversibilidade da morte.
·Entre os 5 e os 9 anos há uma forte tendência para personificar a morte. É compreendida como irreversível, porém não como inevitável.
·Só entre os 9 e os 10 anos a criança reconhece a morte como cessação das actividades do corpo e como inevitável. Somente na adolescência será capaz de apreender verdadeiramente o conceito de morte e o significado da vida.
Nos Estados Unidos da América (EUA) o suicídio é considerado como a 4ª causa mais frequente de óbitos em adolescentes. A taxa de suicídios entre adolescentes nos EUA aumentou mais de quatro vezes da década de 50 à de 90. Nos anos 50, em cada 100 mil pessoas entre os 15 e os 19 anos apenas 2,7 se matavam por ano. Agora, esse número é de 11,1. Os índices de suicídio em jovens adultos (dos 20 aos 24 anos) duplicaram no mesmo período.
Segundo uma pesquisa efectuada pelo governo dos EUA, o aumento dos índices de suicídio entre os jovens ocorreu em todos os segmentos da população, contudo é possível constatar picos quando algum personagem famoso se mata e o facto recebe grande cobertura dos meios de comunicação.
“Espera pelo amanhã, quando o teu dia se te apresente sombrio e apavorante. Se te parecem insuportáveis as dores, lembra-te de Jesus, ora, aguarda e confia”.
SUICÍDIO
O LIVRO DOS ESPÍRITOS
O Suicídio e o Espiritismo
944. Tem o homem o direito de dispor da sua vida?
“Não, só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário transforma-se numa transgressão desta lei.”
944 a) Não é sempre voluntário o suicídio?
“O louco que se mata não sabe o que faz.”
945. Que se deve pensar do suicídio que tem como causa o desgosto da vida?
Insensatos! Por que não se esforçavam? A existência não lhes teria sido tão pesada.”
946. E do suicídio cujo fim é fugir, aquele que o comete, às misérias e às decepções deste mundo?
“Pobres espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aos que sofrem e não aos que carecem de energia e de coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! Ai, porém daqueles que esperam a salvação do que, na sua impiedade, chamam acaso, ou fortuna! O acaso, ou a fortuna, para me servir da linguagem deles, podem, com efeito, favorecê-los por um momento, mas para lhes fazer sentir mais tarde, cruelmente, a vacuidade dessas palavras.”
957. Quais são, em geral, em relação ao estado do Espírito, as consequências do suicídio?
“Muito diversas são as consequências do suicídio. Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento. Mas, a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam”. (…)
A afinidade que permanece entre o Espírito e o corpo produz, nalguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo no Espírito, que, assim, a seu mau grado, sente os efeitos da decomposição, donde lhe resulta uma sensação cheia de angústias e de horror, estado esse que também pode durar pelo tempo que devia durar a vida que sofreu interrupção. Não é geral este efeito; mas, em caso algum, o suicida fica isento das consequências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia, de um modo ou de outro, a culpa em que incorreu.
Assim é que certos Espíritos, que foram muito desgraçados na Terra, disseram ter-se suicidado na existência precedente e submetido voluntariamente a novas provas para tentarem suportá-las com mais resignação. Em alguns verifica-se uma espécie de ligação à matéria, de que inutilmente procuram desembaraçar-se, a fim de voarem para mundos melhores, cujo acesso, porém, se lhes conserva interdito. A maior parte deles sofre o pesar de haver feito uma coisa inútil, pois que só decepções encontram.
A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram que o suicídio não é uma falta, somente por constituir infracção de uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas também um acto estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário se dá, como no-lo ensinam, não a teoria, porém os factos que ele nos revela.
Conclusão
Era de se esperar que, com o avanço da civilização, o homem tomasse consciência das verdades imutáveis e da razão por que estamos a viver, neste mundo, uma vida material. Isto não acontece no entanto, verificando-se a incidência de taxas de suicídio tanto mais elevadas, quanto mais evoluídas são as comunidades!
Este facto denuncia-nos que, na sua maioria, a causa está no afastamento de Deus da vida humana, na quebra do sentido e da necessidade de aperfeiçoamento e ainda no desconhecimento de que o sofrimento é o melhor meio que temos ao nosso alcance, para obtermos cada vez mais elevação espiritual, preferindo fazer com que o desânimo predomine, apoderando-se da vontade e conduzindo o homem à tresloucada resolução do suicídio, na esperança de que assim acabará tudo, deixando de sofrer, deleitando-se nesta enganosa libertação.
Como os homens estão enganados! E a surpresa não se fará esperar e será dolorosa, angustiante, porque em breve verificarão que a “morte” não é o fim absoluto, mas apenas o fim de uma etapa da vida… como se fosse o fim de um acto, da infinita cena da vida, que, para cada um, será uma comédia ou uma tragédia e esta o será sempre, para todos aqueles que recorram ao suicídio.
SUICÍDIO
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O Suicídio: Perguntas e Respostas
Quais as principais motivações que podem levar alguém ao suicídio nos dias de hoje?
A primeira delas é a falta da noção da Ideia de Deus. O restante é tudo consequência, como por exemplo uma noção deturpada da vida após a morte. Hoje, como consequência destas duas ideias citadas acima, vemos as pessoas a procurar necessidades que as fazem sofrer por não atingir o padrão que os meios de comunicação e a sociedade impõem; estes cobram das criaturas que elas tenham determinado padrão de beleza, determinado padrão social, determinado padrão de cultura determinado padrão de pensamentos e se as pessoas não alcançam este padrão, entram num desânimo, num sentimento de menos valia, na depressão e daí, como lhes faltam o conhecimento da Ideia de Deus e de Suas Leis, para o suicídio faltam poucos passos, pois a noção de mundo espiritual também é frágil.
Todo aquele que se suicida sofre muito ao chegar ao plano espiritual, ou existe alguma excepção a esta regra?
Cada caso é um caso. Não podemos esquecer que mesmo o suicídio sendo um crime, as Leis de Deus usarão todos os nossos créditos que tenhamos no sentido do socorro. Por exemplo, pode existir uma pessoa que se tenha suicidado por qualquer razão, mas que traga alguns méritos, de ser um indivíduo trabalhador, honesto, de ter sido bom pai, de ter auxiliado as pessoas, até aquela data. É claro que este será visto de maneira diferente daquele que não traz nenhuma qualidade, pois ele próprio dificultará o socorro.
Ao reencarnar, absorvemos uma quantidade de fluido vital. O suicida antecipa a sua morte. Como se extingue, então, este fluido?
Com o passar do tempo, este fluido vai se extinguindo neles. Muitas vezes pode levar até anos. No Livro “Memórias de Um Suicida” vemos que os suicidas que estão na região chamada Vale dos Suicidas, que já é uma região de socorro, pois os suicidas ali estão a ser monitorizados, quando estes fluidos começam a extinguir-se, eles tornam-se capazes de perceber o socorro junto deles, e é nestas horas que são levados para ambientes hospitalares no Plano Espiritual. No livro citado, o Hospital Maria de Nazaré.
No caso de uma criança, por volta dos 12/13 anos, que consequências terá para ela o suicídio?
O erro é sempre um erro, mas a percepção desse erro estará na medida do entendimento daquele que errou, pois muitas das vezes a criança que se mata fá-lo sem a devida noção dos seus actos, até mesmo as leis humanas as olham de maneira diferente quando apreciam os seus erros e crimes.
O suicida carrega para outra vida a recordação “inconsciente” deste acto? Esta recordação pode fazer surgir, em algum momento da sua vida, este desejo novamente?
O suicida em determinada época já reencarnado, se trazia no mundo espiritual plena consciência após ser socorrido, traz com ele não só o mapa das expiações, consequência directa do suicídio, como também a necessidade da prova, e é nessas horas que encontra situações semelhantes àquela que o fizeram desistir da luta, procurando o suicídio. Embora não exista uma regra, o facto se dá quase sempre numa idade próxima daquela em que ocorreu o suicídio.
No suicídio inconsciente (tabagismo, alcoolismo) o espírito terá de sofrer-lhe também as consequências, embora minoradas. Como entender as penas deste?
Sofrerá as consequências de ter lesado determinadas partes do seu corpo, como também sofrerá as consequências morais de ter cedido as paixões que o levou ao vício.
Como ajudar uma pessoa que diz que pretende se suicidar? É indicado um tratamento com psicólogo para estes casos?
Há necessidade de se usar todos os recursos de que se puder dispor para cada caso específico. A psicologia será de grande auxílio, alguns casos será necessário até o auxílio da psiquiatria (nos casos de depressão) mas não podemos esquecer que o conhecimento da Doutrina Espirita, fortalecendo em nós a ideia de Deus e mostrando-nos que não vale a pena o suicídio como porta de saída, será sempre o antídoto perfeito contra o suicídio, principalmente porque poderemos valer-nos não só dos conhecimentos, da fluidoterapia que nos recompõem corpo e mente, como também nos indicará o trabalho do bem como elemento sustentador da nossa harmonia íntima. Diz Kardec, no livro A Viagem Espírita de 1862 da editora “O Clarim” que muitos poderiam rir das nossas crenças na Doutrina Espírita, mas jamais poderiam rir quando vissem homens transformados. O Espírito Hilário Silva no livro O Espírito de Verdade (FEB), conta-nos uma história, que ocorreu na França no tempo de Kardec, de um livreiro que manda para Kardec um livro ricamente encadernado e narra na dedicatória que estava prestes a suicidar-se, atirando-se ao rio Sena, quando tocou em algo que caiu no chão. Era O Livro dos Espíritos e na contracapa estava escrito: “Este livro salvou a minha vida”. Curioso, ele leu o livro e quando o remeteu a Kardec acrescentou: “Também salvou a minha.”
DEPOIMENTOS de SUICIDAS
Camilo Castelo Branco, in Memórias de um Suicida (Ivone A. Pereira)
“(…) O vale dos leprosos, lugar repulsivo da antiga Jerusalém de tantas emocionantes tradições, e que no orbe terráqueo evoca o último grau da abjecção e do sofrimento humano, seria consolador estágio de repouso comparado ao local que tento descrever. Pelo menos, ali existiria solidariedade entre os renegados! Os de sexo diferente chegavam mesmo a amar-se! Adoptavam-se em boas amizades, irmanando-se no seio da dor para suavizá-la! Criavam a sua sociedade, divertiam-se, prestavam-se favores, dormiam e sonhavam que eram felizes!
Mas no presídio de que vos quero dar contas nada disso era possível, porque as lágrimas que se choravam ali eram ardentes demais para se permitirem outras atenções que não fossem as derivadas da sua própria intensidade!
No vale dos leprosos havia a magnitude compensadora do Sol para retemperar os corações! Existia o ar fresco das madrugadas com seus orvalhos regeneradores! Poderia o precito ali detido contemplar uma faixa do céu azul! … Seguir, com o olhar enternecido, bandos de andorinhas ou de pombos que passassem em revoada! (…)
Mas na caverna onde padeci o martírio que me surpreendeu além do túmulo, nada disso havia!
Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que ideia alguma tranquilizadora vem orvalhar de esperança! Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas!”
Antero de Quental
“Ah! Que se soubessem por que preço pagamos a libertação pelo suicídio, ninguém se suicidaria!
Os maiores martírios da Terra são doces consolações em comparação com os mais suaves sofrimentos de um suicida!
E é porque Deus castigue? Não, é porque tem de ser.
É da lei. É fatal como é da lei girar a Terra no seu eixo, e as estrelas na sua órbita.
Esse sofrimento não é cego e igual. É harmónico, equitativo, justo, como é justo, equitativo e harmónico tudo o que obedece à lei imutável do Universo, que Deus firmou com a sua vontade e perfeição.
E nós, aí na Terra, a querermos apreciar com a nossa inteligência microscópica a grandeza do infinito!
É querermos iluminar o mundo na treva de uma noite, com a luz de uma lamparina!
Avalias tu, ou alguém, o que é o infinito?
Se avaliares, terás apreciado Deus e a sua obra!”
Com agradecimento a Verdade, do Site Anjo de Luz