Ser o maior aliado das solteiras que querem casar não é garantia de ‘vida’ fácil para Santo Antônio. O mais judiado dos Santos da paróquia costuma ser afogado, vendado, colocado de cabeça para baixo e tudo mais o que possa se imaginar em nome de um bom casamento.
Quando Mônica Catto, relações públicas, ganhou uma imagem de Santo Antônio, em 2008, ainda era Mônica Alvarez, jovem solteira com o sonho do casamento. “Tudo começa quando a gente ganha um Santo Antônio. Todo mundo diz para botar debaixo da cama ou de cabeça para baixo, mas eu confesso que fiquei com pena e resolvi prendê-lo no meu armário e disse: ‘Só sai daí no dia do meu casamento’”, relata.
Foi a partir desse momento que as coincidências começaram a acontecer e Santo Antônio deu uma força para o pedido de Mônica. “Em um prédio chamado Antônio Barreto, conheci meu marido, que se chama Rafael Antônio, porque a minha sogra é devota do santo. Ficamos noivos no dia de Santo Antônio e casamos alguns meses depois na Capela do Pão de Santo Antônio”, conta. Hoje, casados há quatro anos, eles têm um filho de três anos chamado Heitor Antônio, uma homenagem que já está se perpetuando.
Foi só no dia 29 de novembro de 2009 que o Santo Antônio de Mônica foi libertado da prisão do armário. “Levei ele para a igreja comigo”. Em um ano, o santo casamenteiro mudou a vida da relações públicas e hoje ela quer que ele mude a vida de suas amigas. “Já presenteei algumas amigas com a imagem dele, ainda não casaram, mas a ajuda foi dada. Acredito, sim, que ele seja o responsável por tudo isso na minha vida e sempre peço a ele que proteja o nosso matrimônio”, completa.
COM CARINHO
Histórias de ‘maus-tratos’ não faltam, mas também há quem tenha dó. A veterinária Ada Corrêa, 39, sempre teve a vida ligada ao santo. Na juventude, foi catequista e não faltava às trezenas [treze dias de orações ao padroeiro] de Santo Antônio. Mãe de três filhos e com uma desilusão na bagagem, ela optou por não ‘malinar’ com o santinho e acabou se dando bem. “Nunca fiz nenhuma simpatia, mas, quando eu era menina e tava nas trezenas, o padre brincava chamando as solteiras para aquele momento de oração mais forte. Eu, só comigo, rezava baixinho, pedindo um bom marido, mas confesso que já estava duvidando que fosse conseguir. Até que ele entrou na minha vida. Quando anunciamos o casamento, os amigos até brincaram. ‘Só Santo Antônio mesmo para operar esse milagre’”, relembra a devota, apontando o também veterinário Helber Prado, 36.
Os dois se conheceram em uma clínica há treze anos. O amor pelos animais os aproximou e eles acabaram casando. A cerimônia foi no último sábado, 09, durante o casamento comunitário do Pão de Santo Antõnio. “Foi lindo. Tive vestido de noiva com véu enorme, como manda o figurino. Fiquei muito emocionada. Tenho certeza de que foi intercessão dele junto a Deus. Nada acontece antes da hora”, reflete Ada, ao lado do marido no consultório veterinário. “Não somos muito de simpatia, mas somos de muita oração. De uma forma ou de outra, Santo Antônio faz parte da nossa vida”, acredita Helber.
A corretora de imóveis Maria Ester Almeida Campos, 54, também jura que nunca aprisionou o santo, mas não abre mão de uma ‘conversinha particular’ com o bom casamenteiro. “Minhas amigas brincam, dizem que eu já tô no segundo casamento e foi Santo Antônio que conseguiu. Eu de fato tenho uma ligação muito forte com ele, mas não para marido, e sim pra tudo”, garante Ester, companheira do técnico de Telecomunicações Edson Campos, 51, há 22 anos.
Os dois se conheceram no Rio de Janeiro, terra natal de Edson, e não se largaram mais. Há 16 anos, quando Ester resolveu voltar a Belém, o técnico veio junto e Santo Antônio intercedeu. “No nosso caso, Santo Antônio significa a união da nossa família. Nosso filho mais velho é coroinha da paróquia até hoje, com 19 anos, e isso acabou nos levando mais para a igreja e unindo a família toda. Ele é muito importante para todos nós”, diz Edson ao lado da esposa.
EM PORTUGAL
A fama de casamenteiro começou por volta de 1790, em Portugal. Conta a história popular que, em um momento de nervosismo, uma moça atirou a imagem de Santo Antônio pela janela de casa. A imagem acertou a cabeça de um rapaz, que foi atendido pela família da moça. Os dois acabaram se conhecendo, se apaixonaram e casaram. Há outras versões, lembra o pároco da igreja de Santo Antônio de Lisboa, frei Edilson Rocha. “Uma das histórias atribuídas a Santo Antônio é a de uma jovem que não dispunha de dote [quantia em dinheiro oferecida ao noivo por ocasião do casamento]. Sem solução, a mãe aconselhara seguir a prostituição, mas a filha hesitou e procurou uma imagem de Santo Antônio, que lhe estendeu a mão e lhe ofertou um bilhete que deveria ser entregue a um determinado comerciante, que, ao ler o bilhete riu, mas obedeceu. Ele havia feito uma promessa a Santo Antônio. Então, colocou o bilhete de um lado da balança e foi completando com moedas do outro. O equilíbrio só veio quando foram completados 400 escudos [moeda da época], o valor correspondente ao dote da jovem que pode então se casar sem perder sua dignidade”.
Santo Antônio é também o santo do pão multiplicado e das coisas perdidas.
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Fonte: Youtube