As dificuldades políticas na Venezuela depois da morte do presidente Hugo Chávez, principal parceiro de Cuba, incentivaram o presidente Raúl Castro a buscar um entendimento com seu arquirrival Estados Unidos depois de meio século, avaliam especialistas.
“Aos olhos do governo cubano, o acordo com os Estados Unidos oferece mais oportunidades do que problemas para Cuba. Há riscos, mas Cuba acredita que tem muito o que ganhar”, acrescentou.
Falecido em março de 2013, Chávez transformou a Venezuela no principal aliado político e parceiro comercial da ilha, ajudando Cuba a sair da crise econômica em que estava imersa desde o colapso da então União Soviética, em 1991.
Desde 1962, Cuba enfrenta o embargo econômico americano, que será flexibilizado mas não eliminado (o que requer aval do Congresso), como disse na quarta-feira o presidente Barack Obama, ao anunciar o histórico acordo para normalizar as relações com a ilha comunista.
“Havana tem muito a ganhar com o início do processo, especialmente nesse momento em que seu parceiro regional, a Venezuela, enfrenta uma grave instabilidade”, escreveu em um relatório a empresa americana de análise Stratfor Glogal Intelligence.
“Cuba teme que a contração da economia venezuelana limite uma das fontes de financiamento da ilha e os envios de petróleo a baixo custo, enquanto tenta uma transição para um novo modelo econômico”, acrescentou a Stratfor em seu boletim.
A Venezuela fornece petróleo a Cuba com facilidades de pagamento em 60% do que consome (US$ 2,759 bilhões, em 2011) e paga (US$ 5,4 bilhões, em 2011) pelos serviços de aproximadamente 40 mil profissionais, entre eles 30 mil médicos e paramédicos.
Quando a saúde de Chávez se deteriorou no final de 2012, muitos cubanos temeram o fantasma dos difíceis anos 1990, quando a economia da ilha ficou destroçada pelo fim da ajuda soviética. Teve início, então, o chamado “Período especial”, durante o qual a vida cotidiana se tornou tortuosa, com apagões de até 16 horas por dia, ausência quase total de transporte e severa escassez de alimentos, roupas, calçados e artigos de higiene.
Embora o “Período especial” oficialmente nunca tenha terminado, a economia cubana começou a se recuperar de maneira gradual depois que Chávez chegou ao poder em 1999 e se tornou o maior parceiro da ilha.
A Venezuela enfrenta um complicado panorama econômico por causa da queda dos preços do petróleo, que esta semana caiu ao nível mais baixo dos últimos quatro anos e se situou pela primeira vez abaixo dos US$ 60.
Caracas obtém 96% de suas receitas do petróleo e a queda no preço da commodity acontece no momento em que a Venezuela se vê atingida por uma inflação anual de 63,4%, assim como pela escassez de muitos alimentos e de outros produtos, além de uma aguda seca de divisas.
“A situação da Venezuela é importante para o governo de Cuba, mas não apareceu em nossas conversas para a retomada das relações diplomáticas”, disse nesta quinta-feira um funcionário de alto escalão do governo americano, em Washington.
Diversificação da economia
Normalizar os laços com Washington “é um esforço a mais do governo (cubano) para diversificar sua economia e reduzir a dependência da Venezuela”, disse à AFP o economista cubano Pavel Vidal, da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia.
Para Vidal, uma interrupção do comércio com Caracas provocaria uma “recessão” de quatro anos em Cuba.
“As instabilidades e tensões políticas do governo de Nicolás Maduro voltam a chamar atenção para a vulnerabilidade da economia cubana”, escreveu Vidal em um artigo publicado recentemente.
O economista ressalta que, apesar da importância da ajuda venezuelana para a economia da ilha, as relações entre Cuba e URSS eram ainda mais intensas. “Em 1990, as relações comerciais com a URSS representavam cerca de 28,2% do PIB, enquanto as relações com a Venezuela são de 18,3% do PIB”, afirmou.
Fonte: Diário de Pernambuco
A noite de autógrafos que a blogueira cubana Yoani Sanchéz faria no auditório da Livraria da Cultura no Conjunto Nacional, na região central de São Paulo, em 21/2/13, foi cancelada devido ao tumulto causado por manifestantes contrários a ela. A blogueira cubana tentou responder perguntas de um público de cerca de 300 pessoas no local por 30 minutos, mas sua fala foi interrompida diversas vezes por dezenas de pessoas que gritavam frases como “Sai fora blogueira imperialista, a América Latina vai ser toda comunista”, “Mercenária” e “Funcionária da CIA”.
A confusão começou antes mesmo do início do evento, nos corredores do prédio. Dezenas de manifestantes contrários à blogueira discutiram com pessoas que foram defendê-la com cartazes. Com cartazes com os dizeres “Viva Raul Castro” e “Cuba, 0% analfabetos’, os que foram protestar contra a blogueira pareciam estar em maior número e faziam mais barulho. Entre eles havia muitos jovens e alguns carregavam uma bandeira do PCB. Na internet, o Facebook do Movimento Paulista de Solidariedade à Cuba convocou para o protesto.
Em menor número, o grupo favorável a Yoani gritava “Fora Fidel” e chamava o líder cubano de carniceiro em cartazes. O policiamento foi reforçado no local.
Durante a palestra, a blogueira foi questionada pela organização sobre o que achava do protesto.
– Adoraria que quando Raúl Castro estivesse dando um discurso os cubanos pudessem se manifestar assim – disse. – As pessoas gritam quando não têm argumentos – complementou.
A dissidente disse que mesmo que acabe o bloqueio americano a Cuba isso não mudaria muita coisa no país. Para ela, os cubanos não vão às ruas protestar porque têm medo da violência da polícia e do sistema.
– Mudaria muito pouco. É difícil falar do futuro. Cuba é um país que tem poucos recursos para comprar fora. Não se muda o governo porque há o medo paralisante, de que um vizinho te delate. As pessoas pensam “não quero que aconteça comigo o mesmo que aconteceu com a Yoani”.
Ela criticou ainda a reforma migratória do governo cubano, dizendo que ela é insuficiente.
– Se você ler o decreto lei da reforma migratória verá que a entrada e a saída do país não é um direito e sim uma autorização que se dá.
A organização do evento pediu para que os interessados no autógrafo da cubana deixassem seus exemplares no local, para que ela assinasse posteriormente.
No Twitter, ela foi um dos assuntos mais comentados do dia. Entre as principais fotos, uma imagem da blogueira cubana Yoani Sanchéz no centro de uma nota de cem dólares com a inscrição: “Todo por dinero”. Mas o “ponto alto” da campanha orquestrada nas redes sociais contra a dissidente foi uma lista – amplamente compartilhada no Facebook – de 40 perguntas, divulgada inicialmente no site Pragmatismo Político, com uma mistura de indagações objetivas e questionamentos estapafúrdios.
Há perguntas sobre a atitude de Yoani a respeito das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos contra Cuba ou sobre o caso dos cinco presos políticos cubanos que vivem nos EUA. E proliferam questões como: “Quantas entradas de cinema, de teatro, quantos livros, meses de aluguel ou pizzas pode pagar em Cuba com sua renda mensal?”, dúvidas se ela ainda acredita que outros escritores mereciam mais o Nobel de Literatura do que Gabriel García Márquez e até mesmo acusações de bigamia – segundo o questionário, Yoani teria se casado com o alemão Karl G. antes de se mudar para a Suíça, país onde morou de 2002 a 2004, mesmo já estando casada com Reinaldo Escobar.
Sobre os “atos de repúdio” que viveu no Brasil, Yoani respondeu em seu blog Generación Y, que as manifestações foram causadas por “alguns adeptos incondicionais do governo cubano”, que exibiam uma lista de mentiras sobre a blogueira.
“O grupo de extremistas que impediu a projeção do filme de Dado Galvão em Feira de Santana era algo mais que alguns poucos adeptos incondicionais do governo cubano. Todos tinham, por exemplo, o mesmo documento, impresso e colorido, com lista de mentiras sobre mim, todas maniqueistas e fáceis de rebater em um simples conversa. Repetiam um roteiro idêntico e batido, sem ter a menor intenção de escutar a resposta que eu pudesse dar”, disse, em seu blog.
O blog, criado em 2007, também é bastante criticado nas redes sociais. Muitos questionam, por exemplo, a quantidade de prêmios – acompanhados de importantes quantias financeiras que chegariam ao valor de € 250 mil -, em apenas um ano de existência.
No Twitter, militantes da União da Juventude Socialista escolheram a hashtag #YoaniMercenaria para protestar contra a ativista. Orlando Silva, ex-ministro do Esporte e vereador de São Paulo do PCdoB, retuitou notícia sobre os protestos organizados pelo grupo, com a frase: “Essa é a sempre combativa UJS!”.
Alguns, no entanto, criticaram os protestos, acusando os estudantes e militantes de violarem o direito da blogueira de se manifestar livremente.
“Posso não concordar com o que alguém fala, mas defendo o direito desta pessoa se manifestar. Sem liberdade de imprensa todas as outras liberdades podem desaparecer”, disse Onyx Lorenzoni (@onyxlorenzoni).
Para Fabrício Zago (@fabriciozago), a resposta da blogueira cubana aos estudantes que protestaram contra sua chegada ao Brasil foi “brilhant
Depois de cancelar oficialmente alguns dos eventos programados e de afirmar em uma coletiva de imprensa que “passou por uma situação de risco”, a blogueira e dissidente cubana Yoani Sánchez respondeu aos “atos de repúdio” que viveu no Brasil em seu blog Generación Y. De acordo com ela, as manifestações foram causadas por “alguns adeptos incondicionais do governo cubano”, que exibiam uma lista de mentiras sobre ela.
“O grupo de extremistas que impediu a projeção do filme de Dado Galvão em Feira de Santana era algo mais que alguns poucos adeptos incondicionais do governo cubano. Todos tinham, por exemplo, o mesmo documento, impresso e colorido, com lista de mentiras sobre mim, todas maniqueistas e fáceis de rebater em um simples conversa. Repetiam um roteiro idêntico e batido, sem ter a menor intenção de escutar a resposta que eu pudesse dar”, disse, em seu blog.
De acordo com a dissidente, muitos deles gritavam e a interrompiam toda vez que ela tentava acalmar os ânimos. Em dado momento, chegaram a ser violentos.
“De vez em quando lançavam um coro de palavras de ordem que não são nem ouvidas mais em Cuba (…). Resumindo: só sabiam chiar e repetir as mesmas frases, como máquinas programadas. Eles tinham as veias do pescoço inchadas e eu esboçava um sorriso. Eles me faziam ataques pessoais, eu levava a discussão à questão de Cuba, que sempre será mais importante que esta humilde servidora. Eles queriam me linchar, eu conversar. Eles respondiam com ordens, eu sou uma alma livre”.
Após os protestos de segunda-feira – que impediram a exibição do documentário sobre ela – Yoani cancelou oficialmente visitas ao Museu do Sertão e ao Mercado da Arte argumentando falta de tempo. Mas, depois de despistar manifestantes, ficou por 20 minutos no Centro de Abastecimento da cidade, onde há uma feira de artesanato, sendo tietada por frequentadores que a reconheceram.
A preocupação com a segurança da ativista fez com que o prefeito de Feira de Santana solicitasse que a Polícia Militar a acompanhasse: na coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira, Yoani chegou com um grupamento especial da cidade, com ao menos 14 policiais militares.
Nesta terça-feira, o PCB divulgou nota na qual acusa a cubana de ser sustentada financeiramente por entidades, instituições e empresas internacionais para ser a mais influente opositora do regime socialista. Segundo o partido, a blogueira utiliza as redes sociais para “disseminar pelo mundo desinformação e mentiras a respeito da sociedade cubana”. Segundo o PCB, a atual viagem de Yoani tem “o propósito maior de atacar as conquistas da revolução cubana”, e critica a ativista de não se posicionar contra o embargo dos EUA ao país.
Já senador Aécio Neves saiu em defesa da jornalista, dizendo que as manifestações contra ela fogem ao direito de liberdade de expressão. Na segunda-feira, a Secretaria-Geral da Presidência confirmou que o coordenador de Novas Mídias recebeu na embaixada de Cuba um CD com informações sobre a blogueira, mas não teria feito uso do material. O CD foi entregue ao servidor durante uma reunião para tratar de política migratória de Cuba e da vinda de Yoani ao Brasil.
O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, visitou nesta quinta-feira o Congresso Nacional do Brasil, onde pediu apoio para conseguir a libertação dos cinco agentes cubanos presos nos Estados Unidos suspeitos de espionagem. Antes de se dirigir ao Parlamento, o chanceler teve um breve encontro com a presidente Dilma Rousseff, com quem analisou os planos de cooperação que existem entre os dois países.
Na reunião com Dilma, estiveram presentes o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, e o assessor presidencial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Em sua visita ao Congresso, Rodríguez colocou também o caso dos “cinco heróis”, como são considerados em Cuba os agentes, detidos em 2001 e condenados por um tribunal em Miami a penas que variam entre 15 anos a perpétua.
O chanceler expressou, em particular, a preocupação de seu país por René González, um dos detidos, que na próxima semana deixará a prisão sob um regime de liberdade condicional, que durará três anos e deverá ser cumprido em Miami.
Rodríguez afirmou que a decisão judicial representa um “castigo adicional” e uma “vingança política”. Ele também disse que os EUA serão responsáveis pelo que possa acontecer com González, pois “todo o mundo sabe que em Miami estão estabelecidos conhecidos grupos do terrorismo anticubano”.
Em todas as reuniões em que o chanceler participou em Brasília, também foi analisada a relação entre Cuba e Brasil, com ênfase no comércio e na cooperação. Na área, a intenção dos países é a de estudar alternativas que permitam potencializar a troca comercial bilateral, que em 2010 totalizou US$ 488,2 milhões e que, entre janeiro e agosto deste ano, já alcançou a soma de US$ 413 milhões.
Fonte: Terra