A balsa seguia na véspera para a turística ilha de Jeju, com 475 pessoas a bordo, incluindo 325 estudantes, quando inclinou mais de 45 graus e, em seguida, virou quase por completo. Apenas uma pequena parte ficou de fora da água. A temperatura da água era de 12°C.
Os socorristas trabalharam durante toda a noite de quarta-feira – sob a luz de holofotes -, mas a forte correnteza e a visibilidade reduzida na água impediram a entrada dos mergulhadores no casco submerso.
A chance de se localizar sobreviventes sob o casco do ferry – em bolsões de ar – é cada vez menor 24 horas após o acidente. São utilizadas três gruas para tentar virar a embarcação.
A catástrofe chocou a Coreia do Sul, país rico e moderno, que acreditava ter se previnido contra esse tipo de acidente. O acidente foi ainda mais doloroso porque muitas vítimas são adolescentes.
A presidente Park Geun-Hye seguiu para o local da tragédia e pediu aos mergulhadores que prossigam com os trabalhos.
Fonte: Yahoo
Visivelmente emocionada, a chefe de Estado iniciou uma longa seção de perguntas e respostas com interlocutores desesperados por notícias sobre seus filhos.
“O tempo está acabando. Por favor, tenham pressa. Se existem sobreviventes, cada minuto e cada segundo é crítico”, disse a presidente.
A balsa, uma embarcação de 6.825 toneladas, zarpou do porto de Incheon na terça-feira à noite, mas começou a registrar problemas depois de percorrer 13 milhas (20 km), diante da ilha de Byungpoong.
As causas do acidente são desconhecidas, mas alguns sobreviventes afirmaram que o ferry parou de repente, como se tivesse encalhado, apesar das condições meteorológicas favoráveis.
Vários sobreviventes indicaram ainda que a tripulação ordenou a todos que ficassem em seus lugares após o acidente.
“Esperamos de 30 a 40 minutos”, contou um estudante. “Depois o ferry adernou e todo mundo começou a gritar e a tentar sair, desesperadamente”.
“A mensagem era repetida em intervalos regulares: ‘não se movam”, indicou outro sobrevivente, Huh Young-Ki, à televisão coreana News Y.
“Nós nos perguntávamos ‘será que devemos mesmo ficar parados? Será que não deveríamos tentar sair?’ Mas o aviso sonoro dizia que a ajuda iria chegar”, acrescentou.
A disciplina é estrita no sistema escolar sul-coreano e a autoridade respeitada, o que leva a imprensa a concluir que os estudantes com certeza obedeceram as ordens sem protestar.
“Se tivessem nos dito para sair mais cedo, teríamos sido muitos mais a pular na água”, onde barcos de pesca resgatavam os passageiros, considerou um estudante à MBC. “Mas a maioria das pessoas não se mexeu, como pediram”.
Imagens registradas a bordo por um sobrevivente mostram uma mulher gritando “a água está subindo! A água está subindo!”.
Para Bae Min-Hoon, diretor da associação para a segurança marítima, a evacuação foi mal gerida. “Parece que esta primeira hora, tão preciosa, foi desperdiçada porque pediram aos passageiros que permanecessem em sua cabine”, declarou.
Uma mulher de 61 anos não obedeceu ao aviso sonoro, que continuava a soar quando a água começou a entrar em sua cabine. Ela nadou pelos corredores e conseguiu sair do barco por uma janela quebrada por um socorrista.
O capitão do ferry, que também sobreviveu, estava sendo interrogado pela guarda costeira.
Chung Yong-Hyun, diretor do Instituto coreano de Mergulho, considera “quase impossível” para os passageiros se mover dentro do barco quando ele toca o fundo.
“O piso se torna a parede e a parede o chão. Não há mais luz, tudo é escuro, é impossível saber qual direção seguir”, disse ele ao jornal Chosun Ilbo.
Um vídeo registrado do mar mostra passageiros aterrorizados em coletes salva-vidas, subindo em botes ou pulando na água, enquanto o ferry desliza suavemente para o fundo.
Centenas de barcos oferecem conexões entre a costa sul-coreana e as ilhas a cada dia, e os acidentes são raros. Mas 300 pessoas morreram em outubro de 1993, quando uma balsa naufragou na costa oeste.
A polícia prendeu nesta segunda-feira mais quatro tripulantes da balsa que naufragou na semana passada na Coreia do Sul, depois que a presidente do país criticou com veemência a atitude do capitão e de seus oficiais que abandonaram a embarcação com centenas de passageiros.
O número confirmado de mortos subiu para 87, mas 215 pessoas ainda são consideradas desaparecidas.
“Os atos do capitão e de certos membros da tripulação são totalmente incompreensíveis, inaceitáveis e equivalem a um homicídio”, declarou a presidente Park Geun-hye.
“Não apenas eu, todos os sul-coreanos estão com o coração partido, chocados e revoltados”, completou.
As operações de resgate de corpos prosseguiam nesta segunda-feira na balsa.
Nesta segunda-feira, a polícia prendeu três oficiais e um mecânico, que serão interrogados sobre as circunstâncias da tragédia.
No sábado, a polícia prendeu o capitão Lee Joon-seok e dois membros da tripulação, um deles um oficial subalterno com pouca experiência e que estava no timão no momento do acidente.
Os três são acusados de negligência, falhas na segurança dos passageiros e violação do código marítimo.
A transcrição, publicada no domingo, da comunicação com as autoridades marítimas mostra uma tripulação aterrorizada, incapaz de tomar uma decisão quando a balsa “Sewol”, imobilizada após um choque, afundava.
As autoridades ordenaram à tripulação que garantisse que todos usavam coletes salva-vidas, enquanto a bordo a tripulação perguntava com angústia crescente quando chegariam os barcos de resgate.
“Que coloquem pelo menos um colete salva-vidas para que possam flutuar. Imediatamente!”, gritou um coordenador em terra.
Cada vez fica mais evidente que o capitão do barco, Lee Joon-seok, de 59 anos e muito experiente, atrasou de maneira demasiada o processo de evacuação da balsa e depois abandonou à própria sorte os passageiros.
Ele abandonou a balsa quando centenas de pessoas permaneciam presas, segundo a presidente do país.
“Isto supera completamente a imaginação, do ponto de vista legal e moral”, declarou Park.
A investigação examinará todas as partes envolvidas, dos inspetores de segurança até a tripulação, passando pelos donos da balsa.
Com a embarcação imobilizada, os passageiros receberam ordem de permanecer parados por mais de 40 minutos, segundo os relatos de sobreviventes.
Quando a balsa começou a naufragar era muito tarde para deixar a embarcação. Os passageiros não conseguiam caminhar pelos corredores deslizantes, inclinados, enquanto a água dominava tudo.
“Minutos preciosos perdidos de maneira absurda”, afirma o jornal Dong-A Ilbo.
Para reconstituir os acontecimentos, os investigadores recuperam centenas de mensagens enviadas pelos passageiros, em sua maioria adolescentes.
Uma mensagem divulgada pouco depois da catástrofe foi enviada por uma jovem ao pai, identificado com o nome de Shin.
“Papai, não se preocupe. Estou com o colete salva-vidas e estou com outras garotas. Estamos no barco, no corredor”, afirma a mensagem.
Depois que o pai ordenou que ela saísse de qualquer jeito, era muito tarde.
“Papai, não posso. O barco está muito inclinado. O corredor está lotado”, escreveu na última mensagem.
As famílias dos mortos e desaparecidos criticam muito a reação do governo após o naufrágio, pois consideram que as equipes de resgate demoraram muito a entrar na balsa, totalmente submersa.
Fonte: Terra