A população, por exemplo, dobrou na última década, chegando a 56 mil pessoas. Segundo um relatório da Alliance for Downtown New York, uma organização que reúne dados sobre Lower Manhattan, essas pessoas foram atraídas pela qualidade de vida. A região é habitada basicamente por casais. Vinte e cinco por cento deles têm ao menos uma criança, enquanto 40% dos que ainda não têm filhos pretendem ter nos próximos três anos. O resultado disso é o aumento do número de escolas (são seis novas só nos últimos dois anos), carrinhos de bebê a perder de vista nas ruas e muitas crianças correndo pelos parques.
Catherine Hughes não é uma das que se mudou recentemente – ela mora em Downtown Manhattan há 23 anos -, mas comemora o florescimento da região. “O que vimos aqui nos últimos dez anos foi o renascimento de Downtown. Houve um comprometimento das pessoas em fazer o bairro melhor e mais forte do que era antes dos atentados de 11 de setembro”, diz ela, que tem dois filhos e é vice-presidente do Community Board 1, umas das 59 organizações que buscam o desenvolvimento de diferentes regiões da cidade. A CB1, como também é chamada, reúne cerca de 50 pessoas preocupadas com Downtown Manhattan.
Catherine também é responsável por uma comissão ligada diretamente ao pós-11/9, fiscalizando o trabalho das autoridades envolvidas e ajudando a tomar decisões que dizem respeito à comunidade. Naquela terça-feira, ela saiu de casa apenas com as chaves e a carteira e teve de ficar quase 30 dias longe do seu apartamento, localizado a um quarteirão do World Trade Center. “Antes de voltar, foi necessário que nosso prédio fosse avaliado, para saber se não havia danos estruturais. Foi como se um terremoto tivesse afetado a região. Depois, levou muito tempo para limpar toda a sujeira”, lembra Catherine.
Naquele dia, mais de 20 mil pessoas deixaram suas casas. “Na volta, sabíamos que tínhamos de nos esforçar para deixar o bairro ainda melhor”. Para isso, os moradores de Lower Manhattan receberam ajuda. As principais foram um programa denominado Liberty Bond, que liberou, entre 2001 e 2005, US$ 1,6 bilhão para o incremento do mercado imobiliário, e a iniciativa 421g, que permitiu que mais de 1,39 milhão de m³ fossem convertidos de espaço comercial para residencial. Hoje, há 28.121 unidades residenciais distribuídas em 312 edifícios.
Economia
A economia de Lower Manhattan também dá sinais de recuperação. A mais notável é o turismo. É difícil de saber se há mais turistas ou moradores nas ruas, diariamente. O local do World Trade Center, é claro, atrai muita gente. Mas a vizinhança também tem locais bastante procurados, como Wall Street, o Battery Park, a ponte do Brooklin, a Governor’s Island e a Liberty Island, onde fica a Estátua da Liberdade. “Entre 2003 e 2011, Lower Manhattan viu um acréscimo de 157% no número de visitantes a atrações e eventos turísticos”, diz Nicole Kolinsky, diretora de Relações Públicas da Alliance for Downtown New York.
Outro número que demonstra o renascimento da região é a volta das empresas. Nos primeiros dois anos após o 11 de setembro, Downtown Manhattan viu 754 empresas deixarem a região. A partir de 2004, a situação começou a mudar. Naquele ano, 200 empresas se instalaram no espaço localizado abaixo da rua Chambers . Hoje, 8.428 companhias estão baseadas lá, 130 a mais do que em setembro de 2001. Catherine Hughes atribui essa recuperação ao mesmo espírito que levou os moradores a contribuírem com a região. “Empresas como a American Express, por exemplo, se envolveram diretamente na reconstrução”.
Ainda há o grande espaço a ser ocupado quando os novos prédios do World Trade Center ficarem prontos. Em entrevista ao canal local NY1, o investidor Larry Silverstein, da Silverstein Properties, dona do WTC, disse não ter dúvidas sobre a total ocupação dos prédios que estão sendo erguidos no lugar das torres gêmeas. Silverstein também pareceu ter o mesmo espírito que fez Lower Manhattan renascer. “Naquele momento (após o 11/9), houve um grande êxodo de Lower Manhattan. Eu vi aquilo acontecer e disse para mim mesmo: ‘Nós temos que parar isso, e o único modo é começar a reconstrução'”, disse Siverstein à NY1.
O único número que ainda não voltou aos níveis de 2001 é o de empregos. Naquele ano, a região contava com 325.352 vagas. Hoje, são 309.500. No entanto, segundo a Alliance Downtown, o 11 de setembro não é o único responsável por essa queda, já que muitas dessas vagas foram fechadas durante a crise de 2008 e 2009. Por outro lado, nos últimos 12 meses, a região gerou 4 mil empregos, número que deve crescer ainda mais assim que os novos prédios do World Trade Center forem entregues. Com a inauguração, consequentemente deve aumentar o número de turistas, e, por sua vez, o número de hotéis. Espera-se que Lower Manhattan ganhe 4.948 quartos em 25 novos hotéis nos próximos anos. Hoje são 18.
Por outro lado, a crise americana tem feito os brasileiros que vivem nos Estados Unidos voltarem ao Brasil
Depois de 11 anos vivendo nos Estados Unidos, o trabalhador da construção civil Jovino Caldeira Coutinho, de 45 anos, por exemplo, resolveu fazer as malas e voltar ao Brasil em 2009. Em meio à estagnação do mercado imobiliário norte-americano, os serviços de reforma, construção e demolição ficaram escassos.
Em compensação, no Guarujá (SP), onde participa das obras de um condomínio, Coutinho disse que “não está dando conta” de tanto trabalho.”Lá [nos Estados Unidos] estava muito ′ruinzinho` mesmo. Tenho amigos que estão lá, sem dinheiro para voltar, trabalhando sem receber. Falei para um deles abrir mão [do dinheiro que lhe é devido], que aqui ele vai ter trabalho”, acrescentou.
A norte-americana Donna Roberts, de 48 anos, que saiu da Flórida para o Brasil em fevereiro, relatou contraste semelhante. “Lá, víamos muitos restaurantes e negócios fechando, nossos amigos perdendo suas casas”, diz a documentarista e educadora ambiental. “Aqui, parece que nada está reduzindo o ritmo [da economia]”, contou.
Como maior economia do mundo, os Estados Unidos têm um Produto Interno Bruto (PIB) quase sete vezes maior que o do Brasil, e PIB per capita de US$ 47,2 mil – quatro vezes superior ao brasileiro.
Mesmo após o 11 de setembro, a economia americana manteve taxas de crescimento entre 2% e 3,5% até 2007, e o país continua sendo um dos mais procurados por estrangeiros em busca de oportunidades.
Em contrapartida, os Estados Unidos mergulharam em duas guerras na última década, sofreram com o estouro de uma bolha imobiliária e chegaram a um endividamento de US$ 14,3 trilhões, teto que foi elevado após uma desgastante votação no Congresso.
Um mercado deprimido e o índice de desemprego de cerca de 9% desafiam o governo do presidente Barack Obama. O Brasil veio de anos de baixo crescimento econômico, mas domou a inflação e o desemprego, estabilizou sua dívida e criou um mercado de consumo interno forte nos últimos dez anos, decorrente da entrada de milhões de pessoas na classe C.
Em 2008, a Standard & Poor`s, mesma agência que neste ano rebaixou a nota da dívida norte-americana, deu ao Brasil o título de grau de investimento, o que fez com que o país fosse considerado de baixo risco para aplicações estrangeiras.
O cenário se tornou mais atraente para estrangeiros. No primeiro semestre de 2011, 4.312 americanos receberam vistos do Ministério do Trabalho brasileiro, em comparação com 3.622 no mesmo período de 2010.
O professor de macroeconomia da Fundação da Getulio Vargas (FGV) em São Paulo Rogério Mori disse que enquanto os Estados Unidos tiveram um grande crescimento amparado pela expansão do crédito até 2007, no Brasil a lógica foi outra: um crescimento mais moderado, derivado do fortalecimento do mercado interno e dos altos preços das commodities. “A diferença é que, de 2008 para cá, o motor do crescimento americano se esgotou. No caso brasileiro, as bases foram preservadas”, avaliou.
Fonte: Diário de Pernambuco