ANÁLISE: MULHERES TRABALHAM MAIS EM CASA, E ISSO AFETA A ECONOMIA

Impressiona como a divisão dos afazeres domésticos não muda no Brasil. Os anos passam, as pesquisas mudam e ficam mais fidedignas em retratar a realidade dos brasileiros e os homens continuam a gastar as mesmas dez horas semanais ao trabalho doméstico. Essa carga de trabalho era a mesma em 2005, em 2006, em 2015 e 2016. Representa metade da carga da mulher no mesmo serviço, indicando que a sociedade brasileira considera que é obrigação da mulher dedicar 7,5 horas a mais do seu tempo na semana para os cuidados da casa, mesmo trabalhando fora.
Essa percepção distorcida joga contra a produtividade da economia brasileira. A mulher tem um nível de instrução superior, em média, ao do homem. Essa carga a mais de afazeres domésticos tira quase três horas por semana do trabalho remunerado da mulher e dificulta a entrada e manutenção das mulheres no mercado de trabalho. As relações de trabalho foram desenhadas, nos séculos passados, estabelecendo que a mulher cuidasse da casa para liberar o homem para o trabalho remunerado. Mas o mundo mudou e há muito tempo. Mais de 40% da mão de obra brasileira é feminina e esse arranjo social tem que se adaptar para que a sociedade poder avançar.
Por dentro dos números, é possível perceber que, quando o homem não trabalha, ele aumenta em duas horas sua dedicação à casa, enquanto a mulher, quando deixa de trabalhar fora, destina mais quatro horas da sua semana aos afazeres domésticos.
Para a mulher, não faz diferença se ela tem ensino superior ou é sem instrução, se é preta, branca ou parda, a única diferença na realização de cuidados e afazeres domésticos é o gênero. Em qualquer tipo de trabalho que o IBGE conseguiu desagregar, somente em pequenos reparos e na manutenção da casa há mais homens que mulheres exercendo essa atividade. Em todas as outras, de lavar louça a administrar as contas da casa, tem mais mulheres fazendo o trabalho. Nos cuidados com as pessoas da família, não há exceção para os homens. Sempre a mulher é mais presente. É cultural e desigual.
Fonte: O Globo
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