A ceia na casa do agente de turismo Gilson Fumaça, de 38 anos, no Morro Santa Marta, esta noite, terá chester, peru, bacalhau e “thieboudienne”, um prato especial africano. O tempero dessa iguaria será a solidariedade. Virá das mãos do refugiado Abdou Secka, de 23 anos.

Jogador de futebol em Gâmbia, um pequeno país da África Ocidental, Abdou faz parte do Projeto “Meu Amigo Refugiado”. Criada pela ONG Migraflix em parceria com a agência NBS, a campanha atraiu duas mil famílias brasileiras interessadas em convidar refugiados para passar o Natal em suas casas. Através do site, é possível ler histórias de pessoas de diversos lugares do mundo. E enviar um convite para ato  ceia.

Todos os 30 refugiados que participaram do projeto serão recebidos por famílias do Rio, São Paulo e Brasília. O sucesso foi tão grande que, ao longo do ano, outros encontros, como almoços de domingo, serão realizados.

— É preciso enxergar que existem pessoas em situação difícil, que estão longe de suas famílias, com saudade — defende Gilson.

Criado no Santa Marta, o agente de turismo acredita que a generosidade esteja no DNA dos seus vizinhos na favela. E que a presença de Abdou fará seu Natal ainda mais especial.

— Quando tem chuva forte, as pessoas se unem para tirar os moradores de lugares de risco. Se acaba a luz, você pede um gelo no vizinho. Se está sem gás, faz uma panela de arroz na casa dele — enumera Fumaça, dono do famoso Hostel Favela Scene Casa dos Relógios.

Será essa experiência que terá Abdou ao subir o plano inclinado da comunidade de Botafogo. Após uma perseguição política — seu pai pertence a um partido contrário ao ditador de seu país —, a família precisou ir para o Senegal.

Com a situação financeira difícil, Abdou, que estudava Matemática e jogava futebol num clube da terceira divisão em Gâmbia, decidiu tentar a sorte no Brasil. Hoje, mora na Paróquia de São João Batista da Lagoa, em Botafogo, e mata saudades da família por Whatsapp.

— Vendo comida árabe feita por um refugiado. Estou há oito meses no Brasil. Fui muito bem recebido — elogia.

O sucesso da campanha emocionou até os idealizadores, como Milena Zindeluk, da NBS.

— O importante desse projeto é mostrar a história dessas pessoas, quebrar preconceitos e gerar integração. Esperávamos sim ter mais famílias do que refugiados, mas os dois mil convites superaram as expectativas. Agora, a ideia é seguir gerando encontros.

E esperança.

Gilson Fumaça que mora na comunidaded do Dona Marta , recebe pra noite de Natal o refugiado Abdou

 

Gilson Fumaça que mora na comunidaded do Dona Marta , recebe pra noite de Natal o refugiado Abdou Foto: Urbano Erbiste / Agência O Globo
 

Depoimentos:

“Eu não queria ter saído, estava estudando e tentando seguir meu sonho de jogar futebol. No Brasil, quero continuar os estudos e, quem sabe, virar um jogador profissional. Fui muito bem recebido aqui.” (Abdou Secka)

“O ser humano tenta ser durão, mas ele tem um sentimento de solidariedade. Nem sempre está aflorado. É preciso olhar para o lado e ver pessoas em situações difíceis. Com saudade da família” (Gilson Fumaça)

Fonte: Jornal Extra

Refugiados buscam emprego no Brasil para mudar de vida

País abriga 8,8 mil refugiados. Em 2015, foram registrados 28.670 pedidos de refúgio, segundo o Ministério da Justiça

 

Melania Ngongue Weka, de 40 anos, é natural da Angola, mas deixou sua terra natal há 1 ano e 8 meses. Ela saiu de lá com os seus cincos filhos e está tentado reconstruir sua vida aqui no Brasil.

Ela conheceu o Brasil em 2013 depois de passar um mês aqui com um sobrinho que jogava futebol e tentava uma vaga em alguns clubes do país. Quando precisou deixar a Angola, Melania pensou em Portugal, mas os trâmites burocráticos dificultaram a ida e as boas lembranças do país fizeram ela buscar refúgio no Brasil.

Melania Ngongue Weka conseguiu um trabalho no Brasil há 4 meses (Foto: Flavio Moares/G1)Melania Ngongue Weka conseguiu um trabalho no Brasil há 4 meses (Foto: Flavio Moares/G1)

Melania Ngongue Weka conseguiu um trabalho no Brasil há 4 meses

“Eu achei o Brasil legal. O Brasil e a Angola são países irmãos. A gente entende as coisas daqui, assiste as novelas”, conta Melania. Ela deixou o seu país por causa de problemas no seu casamento, que quase resultaram na sua prisão.

No seu pais de origem, ela era dona de um mercadinho e uma lan house. Ao deixar tudo e vir para o Brasil, ela teve que se manter com suas economias até conseguir um emprego. Sem uma oportunidade em vista, Melania abriu um mercadinho perto da sua casa em março deste ano. “Eu fui atrás de emprego, mas não conseguia. Todo mundo falava que meu currículo era bom, mas não conseguia nada”, lembra.

Mas, a história de Melania mudou quando ela participou do projeto “Empoderando Refugiadas”, que busca ajudar as mulheres refugiadas a conhecer seus direitos, se inserir no mercado de trabalho ou a empreender no Brasil. A iniciativa é do Grupo de Direitos Humanos e Trabalho da Rede Brasil do Pacto Global, com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a ONU Mulheres, a Caritas São Paulo, a empresa de recursos humanos Fox Time e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR).

Há quatro meses ela conseguiu um emprego como auxiliar de serviços gerais na cozinha da Sodexo em um hospital em Santo André, na Grande São Paulo. Com o mercadinho, ela se divide entre as duas atividades e conta com a ajuda dos seus filhos mais velhos, que cuidam do negócio quando ela não está.

 

“Quem está procurando não pode desistir. Se fosse para desistir eu não estaria aqui”, afirma Melania.

 

Refugiados no Brasil
Melania faz parte do grupo de 8.863 refugiados que estão no Brasil, segundo o último relatório do Ministério da Justiça, de abril deste ano. Eles são de 79 nacionalidades diferentes, sendo as principais: sírios, angolanos, colombianos, congoleses e palestinos. Desse total, 3.557 têm entre 18 e 59 anos, idade em que a população está inserida no mercado de trabalho.

Houve um aumento de 127% no número total de refugiados reconhecidos no Brasil entre 2010 e 2016. Em 2010, eram 3.904 refugiados.

A lei brasileira entende que o abrigo só pode ser concedido para quem provar sofrer perseguição por motivo de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas em seu país.

São realizadas entrevistas pessoais com o solicitantes, além de consultas a bases de dados dos demais órgãos membros do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), incluindo consultas ao Ministério das Relações Exteriores e à Polícia Federal, no intuito de definir o “fundado temor de perseguição” ou a situação de “grave e generalizada violação de direitos humanos”.

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em junho, o número de pessoas deslocadas por motivos de conflitos e perseguições em todo o mundo chegou a 65,3 milhões em 2015. O número é quase 10% maior em relação ao registrado em 2014, que foi de 59,5 milhões.

Refugiados no Brasil (Foto: Arte/G1)Refugiados no Brasil (Foto: Arte/G1)

Refugiados no Brasil (Foto: Arte/G1)

Para Luiz Fernando Godinho, porta-voz da Acnur no Brasil, o país tem uma lei bastante avançada, que mantém as fronteiras abertas e inclui a sociedade civil na discussão sobre os refúgios. “No que diz respeito ao trabalho, mesmo os solicitantes têm uma carteira de trabalho provisória para que eles possam integrar o mercado formal”, afirma.

Ele ressalta que existem alguns desafios enfrentados pelos refugiados como dificuldade no idioma, revalidação de diplomas e o atual cenário da economia brasileira, que obrigou as empresas a enxugar seus quadrados de funcionários.

“O trabalho é fundamental para qualquer pessoa. A assistência humanitária é apenas parte do processo. O objetivo final é promover mecanismos para que a pessoa se vire com as próprias pernas”, afirma Godinho.

Para Marcelo Vitoriano, gerente de diversidade e inclusão da Sodexo, o resultado do trabalho dos refugiados na empresa foi muito positivo. “Isso faz bem para o negócio. Quanto mais diverso o público interno, melhor ele vai atender o público para quem presta serviço. A diversidade e a inclusão fazem bem para as pessoas e para os negócios. Acaba sendo um potencial competitivo”, diz.

Pedidos de refúgio
Em 2015, o Brasil teve 28.670 pedidos de refúgio, um pouco a mais do que em 2014, quando o país recebeu 28.385 solicitações. Em 2010, o número era de 966, segundo relatório do Ministério da Justiça. O Haiti lidera entre os países com mais pedidos de refúgio com 48.371 solicitações já feitas na história. Em seguida estão: Senegal (7.206), Síria (3.460) e Bangladesh (3.287).

Solicitações de refúgio no Brasil (Foto: Arte/G1)Solicitações de refúgio no Brasil (Foto: Arte/G1)

Solicitações de refúgio no Brasil (Foto: Arte/G1)

Muitos haitianos conseguem agilizar seus pedidos de documento no Brasil, como a carteira de trabalho, ao procurar a Polícia Federal e solicitar refúgio. Segundo o Ministério da Justiça, os haitianos são migrantes que buscam oportunidades de emprego e renda inexistentes em seu país.

Buscando oportunidades
Alcius Elmira, de 27 anos, é haitiano e está no Brasil em julho de 2014. Ele é casado e tem dois filhos que ficaram no Haiti. Formado em farmácia e com cursos técnicos em enfermagem e produtos químicos, ele veio para cá em busca de oportunidades para melhorar a vida da sua família. “O país está sempre em crise e o governo não ajuda. Eu estudei tanto e poderia ajudar o país. A maioria viajou para outros países para ter uma vida melhor”, conta.

Alcius Elmira conseguiu emprego logo quando chegou no Brasil (Foto: Flavio Moraes/G1)Alcius Elmira conseguiu emprego logo quando chegou no Brasil (Foto: Flavio Moraes/G1)

Alcius Elmira conseguiu emprego logo quando chegou no Brasil

Ele trabalha no setor de montagem e expedição de exames da Papaiz Associados. Ele entrou na empresa em agosto de 2014, ficou por 9 meses e saiu para tentar uma vaga melhor para juntar mais dinheiro para mandar para a família. Conseguiu um outro emprego como zelador de uma igreja à noite e acabou voltando para o antigo emprego. Agora, ele concilia as duas atividades.

Seu projeto, além de continuar ajudando a família, é trazer a esposa e os filhos para o Brasil em 2017. “Primeiro queria tentar visitar, porque ainda não fui desde quando cheguei, e depois trazer eles para cá para a minha esposa trabalhar também”, afirma.

Para Luiz Roberto Capella, gestor administrativo ainanceiro da Papaiz Associados, o retorno com a contratação foi grande. Além de Elmira, outros quatro haitianos foram contratados. “Eles são integrados, participativos e trazem uma grande colaboração devido suas experiências vividas. Mostram na prática aos demais colaboradores que dificuldades podem ser superadas, se existe vontade”.

Refugiadas buscam capacitação para encontrar emprego no Brasil

Projeto ‘Empoderando Refugiadas’ atendeu 33 mulheres em São Paulo.
Iniciativa começou em 2015 e 8 estão empregadas e 2 abriram um negócio.

Therese Guegne, de 32 anos, é natural de Camarões, mas deixou o seu país há um ano e quatro meses para morar no Brasil. Com problemas com o ex-marido, ela tinha medo da violência e de não sobreviver se continuasse na sua terra natal. “Uma amiga foi testemunha de tudo e disse que ele iria me matar e que eu deveria ir embora”, conta.

Com a ajuda financeira dessa amiga e de um amigo de seu pai, que conseguiu um visto para que ela viesse ao Brasil, Therese deixou tudo para trás para construir uma nova vida em terras brasileiras. Ao chegar no país ela teve dificuldades com a língua e fez um curso de português. “Foi muito difícil e ainda é muito difícil, mas não vou desistir”, afirma.

Com formação superior incompleta e inglês e francês fluentes, Therese trabalhava como coordenadora de marketing em Camarões, mas encontrou oportunidades muito diferentes no Brasil e conseguiu um emprego como auxiliar de limpeza

Agora, ela está desempregada desde maio, já que um problema de saúde, na coluna, a impediu de continuar suas atividades na empresa. Therese queria continuar a estudar na área de marketing, mas como ela ainda não tem o RNE (registro nacional de estrangeiro), somente o protocolo da requisição, ela começou a fazer um curso técnico de enfermagem para aumentar suas chances. Ela já fez entrevistas, mas ainda não conseguiu um emprego.

Therese participou do projeto “Empoderando Refugiadas”, em São Paulo, que busca ajudar as mulheres refugiadas a conhecer seus direitos, se inserir no mercado de trabalho ou a empreender no Brasil. O projeto também pretende sensibilizar as empresas sobre o tema dos refugiados, e acha que a aproximação entre empresas e refugiados é fundamental para a recolocação profissional de quem chega ao Brasil.

“Existem muitas barreiras, mas não podemos desistir. Temos que seguir em frente. É preciso acreditar e ter paciência”, afirma a camaronesa.

Therese Guegne é de Camarões e está no Brasil há um ano e quatro meses (Foto: Pâmela Kometani/G1)Therese Guegne é de Camarões e está no Brasil
há umano e quatro meses
(Foto: Pâmela Kometani/G1)

Empoderando refugiadas
O projeto é uma iniciativa do Grupo de Direitos Humanos e Trabalho da Rede Brasil do Pacto Global, com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a ONU Mulheres, a Caritas São Paulo, a empresa de recursos humanos Fox Time e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). Conta ainda com o apoio das Lojas Renner, Itaipu Binacional, Sodexo e Consulado da Mulher.

Cerca de 33 mulheres foram acompanhadas pelo projeto e receberam orientações de planejamento financeiro e profissional, direitos como refugiadas, mulheres trabalhadoras e habilidades práticas para melhorar o português. Desse total, 8 estão empregadas e 2 abriram o próprio negócio.

“O projeto busca informar as empresas desse potencial que existe no mercado brasileiro hoje, que o status legal dos refugiados permite que eles trabalhem e mostrar que eles são qualificados e têm uma bagagem cultural, trazendo diversidade para o negócio. Muitas empresas desconhecem esse status legal e não abrem oportunidades para os refugiados”, afirma Beatriz Martins Carneiro, secretária-executiva da Rede Brasil do Pacto Global.

Somente no Brasil, são 8.863 refugiados de 79 nacionalidades diferentes, segundo a Acnur. Entre as principais nacionalidades estão: sírios, angolanos, colombianos, congoleses e palestinos.

Existem muitas barreiras, mas não podemos desistir. Temos que seguir em frente. É preciso acreditar e ter paciência”
Therese Guegne, refugiada camaronesa

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em junho, o número de pessoas deslocadas por motivos de conflitos e perseguições em todo o mundo chegou a 65,3 milhões em 2015. O número é quase 10% maior em relação ao registrado em 2014, que foi de 59,5 milhões.

Segundo Danielle Peroni, gerente de desenvolvimento organizacional da Fox Time, os principais entraves para os refugiados que chegam ao Brasil são idioma, empresas não conhecem o conceito de refugiado, obtenção do RNE e validação do diploma.

“Tentamos prepará-las para estarem minimamente capacitadas a disputar uma vaga igualmente. Algumas não sabiam o que era CEP, por exemplo, e isso pode atrapalhar na hora da entrevista”, ressalta.

Danielle ressalta que a iniciativa não busca uma “cota” para refugiados e sim que eles tenham condições de disputar uma vaga de emprego no mercado brasileiro. “Todos devem ser avaliados pelas competências técnicas e não por cor, nacionalidade ou opção sexual. Existe lugar ao sol para todo mundo”.

Esperance Nshimirimana está refugiada no Brasil há quase dois anos (Foto: Pâmela Kometani/G1)Esperance Nshimirimana está refugiada no Brasil
há quase dois anos (Foto: Pâmela Kometani/G1)

De Burundi para São Paulo
Esperance Nshimirimana, de 37 anos, completa 2 anos no Brasil em dezembro. Ela deixou o Burundi por causa das tensões políticas causadas pela guerra civil. O país vive uma crise política desde que o presidente Pierre Nkurunziza se candidatou para um terceiro mandato. “O Brasil tinha uma boa fama, de ajudar as pessoas, de receber bem, e foi por isso que vim”, conta Esperance.

Com nível superior completo em gestão e finanças públicas, ela não conseguiu validar seu diploma e por isso não consegue atuar na sua área de formação. Ela também tentou fazer um mestrado aqui, mas não conseguiu por falta de documentos.

Atualmente, ela trabalha como promotora em uma empresa fabricante de bebidas, na Zona Leste. “Agradeço muito por ter conseguido esse trabalho porque posso pagar o aluguel e buscar uma oportunidade melhor. Sei que lá na frente tudo vai melhorar”, diz.

Agora, Esperance quer trazer seus dois filhos para o Brasil. “Não poderia me planejar não tendo nada. O projeto me mostrou como planejar e economizar dinheiro para conseguir isso”, afirma.

Refugiadas e apoiadores do projeto Empoderando Refugiadas durante a cerimônia de encerramento do curso, em São Paulo (Foto: Pâmela Kometani/G1)Refugiadas e apoiadores do projeto Empoderando Refugiadas durante a cerimônia de encerramento do curso, em São Paulo (Foto: Pâmela Kometani/G1)

REFUGIADOS NO BRASIL

Mapa mostra de onde são os estrangeiros com o status no país

8.731

é o número total de refugiados no Brasil

Concessões de refúgio, por ano

  • PAÍS DE ORIGEMNÚMERO TOTAL DE REFUGIADOS
  • Síria2252
  • Angola1408
  • Colômbia1100
  • Rep. Democrática do Congo1063
  • Palestina367
  • Líbano359
  • Iraque272
  • Libéria224
  • Paquistão163
  • Serra Leoa143
  • Bolívia137
  • Mali128
  • Cuba125
  • Nigéria91
  • Afeganistão86
  • Sudão58
  • Iugoslávia57
  • Irã56
  • Guiné-Conacri55
  • Costa do Marfim44
  • Peru42
  • Somália40
  • Equador38
  • Burundi37
  • Camarões34
  • Butão27
  • Eritréia23
  • Etiópia20
  • Sri Lanka18
  • Togo18
  • Gana17
  • Ruanda15
  • Venezuela14
  • Rep. Do Congo Brazzaville14
  • Guiné-Bissau13
  • Argentina12
  • Egito12
  • Apátrida10
  • Rep. Da Geórgia10
  • Senegal9
  • Sérvia e Montenegro8
  • El Salvador8
  • Argélia7
  • Gâmbia6
  • Bangladesh5
  • Macedônia5
  • Nepal5
  • México5
  • Croácia5
  • Tanzânia5
  • Rep. Centro Africana4
  • Ucrânia4
  • Rep. Dominicana3
  • Burkina Faso3
  • Uganda3
  • Zimbabue3
  • Vietnã3
  • Marrocos3
  • África do Sul3
  • Armênia3
  • Jordânia2
  • Kosovo2
  • Mauritânia2
  • Líbia2
  • Guatemala2
  • Chade2
  • Chile2
  • Haiti2
  • Guiana2
  • Índia1
  • China1
  • Turquia1
  • Filipinas1
  • Costa Rica1
  • Cabo Verde1
  • Romênia1
  • Rússia1
  • Bósnia Herzegovina1
  • Moçambique1
  • Nicarágua1

Fonte: Ministério da Justiça

Edição: Thiago Reis (Conteúdo) e Leo Aragão (Infografia)
Reportagem: Thiago Reis
Infografia: Karina Almeida, Juliane Monteiro e Roberta Jaworski
Desenvolvedores: Fabio Rosa e Rogério Banquieri

Refugiados sírios se formam em curso de português em São Paulo

Alunos não sabiam nada da língua e tinham dificuldades para obter trabalho.
Engenheiro conseguiu validar diploma após não faltar nenhuma aula.

Sírios refugiados no Brasil concluíram em São Paulo a primeira turma de um curso de português realizado em uma mesquita da capital. Em uma noite de gala, a  turma se formou sob a supervisão da Missão Paz, encarregada do projeto em parceria com o Consulado dos Estados Unidos. Para os sírios, o diploma é só um detalhe. Aprender o português é o primeiro passo para acabar com a exclusão social.

Segundo o coordenador, Paolo Parise, “surgiu essa ideia de montar um curso adaptado pra árabes, e aí surgiu o curso de português pra eles (os sírios refugiados no Brasil)”. Os alunos dizem que não sabiam falar nada de português quando chegaram ao país e que, inicialmente, falavam inglês, até conseguirem aprender a língua portuguesa na mesquita.

“Isso é muito importante pra eles, essa aula de português para eles aprenderem de fato a nossa língua, porque eles saíram dos países de origem sem mala, com a roupa do corpo, ou seja, advogados, juízes, pessoal da agricultura, de tudo nós temos aqui. É difícil para eles largar tudo e começar uma vida nova”, afirma o presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana, Nasser Fares.

Segundo o professor de português Feres Fares, “a primeira coisa que eles se preocupam é arrumar emprego”. “Todo mundo quer trabalhar, ninguém quer ficar em casa, parado. E a maior dificuldade é a língua portuguesa, é falar o português. Todos eles falam árabe, e o português para o árabe tem uma diferença grande”, explica.

Engenheiro validou diploma

Kamal Daqa, refugiado sírio (Foto: TV Globo/Reprodução)

O curso afetou a vida do engenheiro de computação Kamal Daqa, que veio ao Brasil fugido da guerra na Síria. Ele só conseguiu validar o diploma no Brasil porque não faltou às aulas para aprender o português.

“Fiquei sem trabalhar mais de sete meses porque não tenho língua, nada, só eu falo inglês e árabe, inglês e árabe não ajuda aqui no Brasil”, afirma ele, comemorando o diploma.

O fotógrafo da festa, Tony Boueri, também é refugiado. Ele veio para o Brasil em 1979, durante a guerra do Líbano, e na época não teve quem o ajudasse. Para ele, é emocionante ver a recepção de refugiados no Brasil.

“Está tá tendo bastante ajuda, está tendo língua, está tendo escola para aprender a língua . Porque é muito importante, quando a pessoa sabe falar, consegue fazer, trabalhar, ganhar dinheiro, se virar na vida. Sem isso, não consegue fazer nada, a língua em primeiro lugar”, afirma Boueri.

Hanan Dacka, de 11 anos, refugiada síria se forma em português (Foto: TV Globo/Reprodução)

Hanan Dacka, de 11 anos, aprendeu a falar português fluentemente em um ano de ensino e não sabia nada até então.

“Graças a Deus que eu aprendi mais rápido, porque quando a gente veio para cá, foi um problema grande, porque a gente não falava português. A gente vai para o médico, a gente não sabe conversar, e a gente não sabe nem quem é quem”, explica. “A gente acha agora que aqui é o nosso país. Eu falo pra minha mãe: eu não quero voltar para a Síria. Se acabar a guerra eu só vou visitar”, disse.

Refugiados sírios terminaram curso de português em São Paulo (Foto: TV Globo/Reprodução)Refugiados sírios terminaram curso de português em São Paulo (Foto: TV Globo/Reprodução)
 

Fonte: G1