Mongólia tem crescimento recorde seguido de crise econômica

Quedas no consumo da China e nos preços das commodities afetaram combate à pobreza

    A crise econômica fez do combate à pobreza um dos principais desafios da Mongólia. A bonança do mercado internacional e os altos preços das commodities nos anos 2000 permitiram um alívio das desigualdades, enquanto o país registrava a maior taxa de crescimento do planeta: 17,5% em 2011 — percentual de fazer inveja à China. Mas se o índice de pobreza caiu de 38,8% da população em 2010 para 21,6% em 2014, cerca de 20% dos mongóis ainda vivem com menos de US$ 1,25 por dia.

    O problema é que os preços das matérias-primas despencaram, a demanda da China, seu maior comprador, caiu, o país continua dependente de energia da Rússia e não consegue destravar as negociações sobre os contratos de exploração da mineração — atividade que, sozinha, carrega 20% da economia nas costas. Este ano, o comparecimento às urnas foi recorde (72%). O voto de protesto levou o Partido do Povo da Mongólia (PMM), o mais antigo do país, de volta ao poder depois de quatro anos na oposição. E pela primeira vez desde 2000 com maioria absoluta, sem a necessidade formar coalizões.

    Entre Rússia e China, a Mongólia usa a conhecida política do “terceiro vizinho” para contrabalançar o peso das fronteiras. Aproximou-se dos EUA, com quem tem uma aliança militar. Os americanos têm sido um importante aliado, mas a eleição de Donald Trump pode afetar a estratégia mongol. Professora da Escola de Relações Internacionais da Universidade Nacional da Mongólia, Oyunsuren Damdinsuren afirmou que existe uma grande preocupação sobre como o presidente eleito conduzirá a política externa.

    — Temos um bom relacionamento, embora os EUA não tenham investimentos significativos na Mongólia e o comércio exterior seja mínimo.

    Para o especialista da King’s College Kerry Brown, não restam alternativas. O país depende da Rússia e da China para ter liberdade de acesso, ambos mais importantes para o país do que vice-versa. Já foi um aliado importante da Rússia e uma espécie de para-choque contra a China.

    — Não estão entre as prioridades dos EUA. A China tem hoje mais interesses na Ásia Central e na Ásia do Pacífico, onde há disputas sobre o Mar do Sul da China.

    O professor explica que todos os países da Ásia fazem o mesmo jogo do “terceiro vizinho”. O problema é que a Mongólia acaba com os vizinhos de sempre. (V.O.)

    Fonte: O Globo