Desmatamento na Amazônia cresceu 24% de 2014 para 2015

Dados do próximo relatório oficial do Inpe mostram que a devastação na região voltou a crescer. O Pará foi o estado campeão

Desmatamento  (Foto: Instituto Centro de Vida)

Dados do próximo relatório oficial do Instituto Nacional de Pesquisas mostram que o desmatamento na Amazônia cresceu 24% de 2014 para 2015. Os números são do Prodes, Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal.

Os dados devem ser divulgados oficialmente num seminário do Ministério do Meio Ambiente nos dias 5 e 6 de outubro. Eles revelam que no período de agosto de 2014 a julho de 2015, foram desmatados 6.207 quilômetros quadrados. O estado que mais desmatou foi o Pará. Seguido de Mato Grosso e Rondônia.

O total de desmatamento no período está 6,45% acima do estimado pelo Inpe no fim de novembro. Ou seja, o quadro é pior do que se imaginava.

As políticas que levaram à queda podem já ter perdido sua eficácia. Agora, parece que estamos passando por uma nova fase de aceleração do desmatamento.

Numa comparação com o mesmo período do ano anterior, nem todos os estados da Amazônia tiveram aumento do desmatamento. O quadro piorou mais em Rondônia, onde o desmatamento cresceu 51% de 2014 para 2015. Em Mato Grosso, o aumento foi de 49%. No Amazonas, 42%. O Pará, estado campeão em área total desmatada, cortou 14% a mais do que no período anterior.

O desmatamento caiu em Roraima, Amapá, Maranhão e Acre. Mas a queda nesses estados não compensou o aumento nos outros.

Tabela do relatório do Inpe mostra a variação no desmatamento por estado entre 2014 e 2015 (Foto: reprodução)

Cinco medidas para zerar o desmatamento no Brasil

O derrubada de florestas na Amazônia voltou a subir neste ano. Pesquisador apresenta algumas medidas simples que podem ser tomadas para chegar ao desmatamento zero

Floresta queimada na Amazônia (Foto: Erika Berenguer)
Na última década, uma série de medidas adotadas por governos federal e estaduais conseguiu um feito inédito: diminuir as altíssimas taxas de desmatamento na Amazônia. Os desmatadores se adaptaram, e a derrubada de florestas voltou a crescer neste ano.

lém de ameaçar espécies e não contribuir com o desenvolvimento da região, o desmatamento é também a principal causa de emissão de gases de efeito estufa do Brasil. Por isso, para cumprir as metas apresentadas no Acordo de Paris – que devem ser ratificadas pelo governo Michel Temer na próxima semana –, o Brasil precisa enfrentar o problema.

Na terça-feira (6), em São Paulo, pesquisadores apresentaram uma análise sobre a emissão de CO2 no Brasil. Paulo Barreto, do Imazon, analisou especificamente as emissões de desmatamento. Ele foi enfático. “A mensagem aqui é simples: tem de zerar o desmatamento”, disse, se referindo não só ao bioma Amazônia, mas a todos os biomas brasileiros, especialmente o Cerrado. Mas como fazer isso, se as políticas que tiveram sucesso na Amazônia não estão mais funcionando?

Barreto diz que as políticas de fiscalização e controle precisam continuar. Mas ele elencou outras cinco medidas que, se aplicadas, podem ajudar a zerar o  desmatamento em todos os biomas brasileiros.

1. Cobrar o imposto rural

Uma das razões para o desmate ilegal na Amazônia é a especulação fundiária. O posseiro derruba uma floresta de área pública para demarcar território, para demonstrar que usa as terras e, posteriormente, regularizá-las. Segundo Barreto, já existe uma ferramente para frear essa especulação: o Imposto Territórial Rural (ITR). Só que o ITR é amplamente sonegado. Um estudo do Imazon no Pará, extrapolado para a Amazônia, mostra que o governo poderia arrecadar R$ 1 bilhão cobrando efetivamente o imposto. Mais dinheiro em caixa e, de quebra, reduz a pressão pela especulação da terra, diminuindo o desmatamento.

2. Expandir a Moratória da Soja para o Cerrado

A Moratória da Soja é a mais bem-sucedida medida criada por empresas privadas para combater o desmatamento. Trata-se de um acordo setorial entre produtores e compradores de soja, mediado por ONGs e governo. Os compradores se comprometem a não comprar soja de nenhuma propriedade que foi desmatada. Desde que entrou em vigência, a área de soja no bioma amazônico triplicou – mas apenas 0,8% desse avanço ocorreu em áreas de desmatamento recente. Por isso, a moratória é considerada um sucesso. No entanto, ela só se aplica em propriedades que estão na Amazônia. Por que não expandir o compromisso para o Cerrado?

3. Fechar o mercado para a carne ilegal

O que acontece com as áreas desmatadas na Amazônia? A maior parte vira pasto para a pecuária de corte. Ou seja, muito da carne consumida em todo o país tem origem na destruição da floresta. Mas há também muitos pecuaristas corretos. Existe tecnologia para rastrear a carne, identificar frigoríficos e saber a origem de cada produto. Essa tecnologia precisa ser ampliada e chegar aos supermercados – para o consumidor ter a garantia de que está comprando uma carne que não participa da destruição da floresta.

Fazenda de gado na Amazônia (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)

4. Crédito só para quem cumpre a lei

Pode parecer óbvio, mas não é: até 2008, você poderia estar com sua propriedade na ilegalidade e, ainda assim, conseguir crédito subsidiado para agricultura. Uma resolução do Conselho Monetário Nacional naquele ano e posteriormente uma lei, o Código Florestal, determinaram que quem desmatou ilegalmente não pode ter acesso a crédito. Só que essa política ainda não é amplamente aplicada. “O governo tem de ser firme para fazer valer a lei”, diz Paulo Barreto. “O Brasil tem crédito rural bastante amplo. Mesmo em ano de crise, são mais de R$ 185 bilhões. Cada um de nós paga por isso, então tem de condicionar o crédito.”

5. Inovar nas táticas de combate ao desmatamento

O mundo não fica parado. Após o sucesso das operações de fiscalização e controle do desmatamento, os desmatadores mudaram sua forma de atuar. Atualmente, eles estão desmatando no período de chuvas, para que as nuvens atrapalhem a fiscalização por satélite, e em pequenas porções, para confundir as operações do Ibama. O setor público precisa inovar constantemente nas táticas e operações para realmente impedir o avanço do desmatamento

Fonte: Epoca