A crise volta ao Planalto

Depois de sitiar o governo de Dilma Rousseff e desmascarar os líderes do PT, a Lava Jato fecha o cerco à cúpula do PMDB e dispara a primeira acusação direta contra o presidente interino Michel Temer

Michel Temer, presidente interino da República, foi acusado pelo delator Sérgio Machado de ter pedido 1,5 milhão de reais para um candidato de seu partido, ciente da origem ilícita do dinheiro
Michel Temer, presidente interino da República, foi acusado pelo delator Sérgio Machado de ter pedido 1,5 milhão de reais para um candidato de seu partido, ciente da origem ilícita do dinheiro(Cristiano Mariz/VEJA)

O país começou a conviver com dois Michel Temer desde a semana passada. O primeiro está promovendo uma agenda positiva na economia, formou uma equipe de excelência comprovada e acaba de apresentar uma proposta de emenda cons­titucional para definir um teto para o crescimento do gasto público. O segundo está agora às voltas com uma acusação dura.

O delator Sérgio Machado, em depoimento aos investigadores da Lava-Jato, disse que o presidente interino lhe pediu 1,5 milhão de reais durante um encontro na Base Aérea de Brasília, em setembro de 2012, para a campanha de Gabriel Chalita, então no PMDB, à prefeitura de São Paulo. O dinheiro foi repassado pela Queiroz Galvão na forma de doação eleitoral, numa tentativa de dar à transação ares de legalidade. Às autoridades, Machado confessou que a verba não tinha origem lícita. Era propina. E Temer, que encomendara a mercadoria, tinha plena consciência disso. A acusação é forte, mas, do ponto de vista jurídico, tende a morrer na praia, já que Temer não pode ser investigado por atos estranhos ao mandato.

O presidente interino estava certo de que teria uma semana positiva. Com pompa e circunstância, apresentaria aos parlamentares, como de fato fez, a proposta do teto. Embalado pela repercussão da iniciativa, faria um pronunciamento em rede de rádio e televisão para exaltar seu governo, sua capacidade de dialogar com o Congresso e sua injeção de ânimo nos agentes econômicos. Um otimismo compartilhado por muitos. Sentindo-se fortalecido, o presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou que analisaria um pedido de impeachment contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que defendera as prisões preventivas dele, do ex-presidente José Sarney e do senador Romero Jucá, rechaçadas pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. O céu parecia clarear para o bom e velho PMDB, finalmente no exercício pleno do poder. Implacável, a Operação Lava-­Jato devolveu os peemedebistas à realidade dos desvios da Petrobras, a estatal que, na definição já nascida imortal de Sérgio Machado, é a “madame mais honesta dos cabarés do Brasil”.

Ex-tucano convertido em peemedebista, Sérgio Machado comandou a Transpetro, subsidiária da Petrobras, entre 2003 e 2014. Em sua delação, fez acusações a Temer, Renan, que o indicou ao cargo, e mais oito expoentes do partido de se beneficiarem do dinheiro desviado dos cofres da Petrobras.

A divulgação do depoimento pegou Temer de surpresa. Primeiro, o presidente interino soltou uma nota para dizer que sempre respeitou os limites legais ao buscar recursos para campanhas eleitorais. Soou protocolar. Como não conseguiu se afastar das cordas, fez uma declaração à imprensa, em que tachou de “levianas”, “mentirosas” e “criminosas” as afirmações do colega de partido. Não disse que vai processá-lo. “Alguém que teria cometido aquele delito irresponsável que o cidadão Machado apontou não teria condições de presidir o país”, afirmou, acrescentando que contestará cada menção a seu nome em defesa de sua honra e “da harmonia do país”. Machado não se intimidou. Em tréplica, reafirmou tudo o que declarara às autoridades. Diante da agenda negativa, Temer cancelou o pronunciamento em rádio e TV que faria na sexta-feira com receio de um panelaço.

A delação de Machado chama atenção pela riqueza de detalhes, como o uso de senhas para impedir que a empreiteira, no papel de corruptor, soubesse a identidade do destinatário final da propina, o corrompido. Ele contou que repassou pelo menos 115 milhões de reais a

23 políticos de oito partidos. O PMDB ficou com 100 milhões de reais, sendo as maiores partes destinadas a Renan (32 milhões), Edison Lobão (24 milhões), Romero Jucá (21 milhões) e José Sarney (18,5 milhões). A maioria dos valores era paga em dinheiro vivo. Na delação, Machado diz que teve atritos com Renan, que chegou a receber mesada de 300 000 reais, porque não conseguia saciar o apetite do padrinho político, que pedia mais do que o afilhado podia entregar. Afirma ainda que Lobão, então ministro de Minas e Energia, exigia uma bolada maior do que a de seus colegas de bancada. A disputa pelo dinheiro sujo era renhida. Foi ela, segundo o delator, que levou Temer a reassumir a presidência do PMDB em 2014, para arbitrar o rateio de 40 milhões de reais repassados ao partido, a pedido do PT, pela JBS. Temer e os deputados estariam se sentindo ludibriados pelos senadores, que na época comandavam a presidência e a tesouraria da legenda. Por muito pouco, a arenga não ultrapassou as fronteiras partidárias.

Criminosos ou não, os depoimentos de Machado provocaram uma nova baixa no governo. Apontado como beneficiário de 1,5 milhão de reais em propina levantada na Transpetro, Henrique Eduardo Alves pediu demissão do Ministério do Turismo. Com a decisão, disse que fazia um gesto de grandeza, para não constranger a Presidência interina de seu amigo. Balela. Henrique Alves já era investigado pela Procuradoria-Geral da República sob a suspeita de embolsar propina paga pela OAS. Também foi citado na delação premiada de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, que coletava propinas para o PMDB da Câmara, do qual Henrique Alves era expoente. Para completar, tramita na Justiça um processo de improbidade administrativa contra o ex-ministro no qual são citadas suas contas na Suíça. Os extratos foram entregues por sua ex-mulher. Temer cobrou explicações sobre essas contas no exterior supostamente abastecidas por meio de transações nebulosas. Recebeu, no dia seguinte, um pedido de demissão de Alves, que admitiu estar à espera de chumbo grosso.

Foi o terceiro ministro de Temer a cair em decorrência da Lava-Jato. Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência) foram exonerados depois de ser gravados pelo operante Sérgio Machado maquinando para “estancar a sangria” das investigações. O horizonte também é sombrio fora da Esplanada dos Ministérios. Hoje, a principal preocupação de Temer está na Câmara dos Deputados. O presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha, peça-chave no afastamento de Dilma Rousseff, sente-se credor do interino e cobra dele ajuda para se safar de um processo por quebra de decoro parlamentar. Na semana passada, o Conselho de Ética, depois de uma infindável sucessão de manobras protelatórias, finalmente aprovou parecer favorável à cassação de Cunha. Isso foi o suficiente para recrudescerem os boatos de que ele, caso perca o mandato, negociará um acordo de delação premiada por meio do qual entregará o mandarinato de Temer de bandeja ao Ministério Público. O Planalto sabe que Cunha levantou recursos para financiar a campanha eleitoral de Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, em 2014. Sabe também que ele intermediou o repasse de dinheiro para outras eminências peemedebistas. Numa delação, citaria de cabo a rabo sua clientela. Com isso, está posta a ameaça.

Os assessores de Temer dizem ter a informação de que Cunha será preso nos próximos dias, o que, se confirmado, pode acelerar eventual colaboração com as autoridades. Há um pedido de prisão preventiva contra ele sobre a mesa do ministro Teori Zavascki. As informações prestadas às autoridades por Fábio Cleto, afilhado político de Cunha na Caixa Econômica, também alimentam a expectativa de prisão do deputado. A VEJA, Cunha disse que não fechará delação premiada porque não tem o que delatar. Marcelo Odebrecht dizia a mesma coisa. Mudou de ideia depois de quase um ano preso. Deflagrada em março de 2014, a Lava-Jato teve peso decisivo na perda de apoio popular e no afastamento da presidente Dilma. Agora, ameaça o PMDB e, com a acusação a Temer, instala-se novamente no Palácio do Planalto.

No governo anterior, Lula, Dilma, um senador e dois ministros foram pilhados tentando sabotar as investigações da Lava-Jato.

A ascensão de Temer ao poder não diminuiu o ímpeto da operação. Todas as incursões contra as investigações até hoje foram malsucedidas. Diante do fracasso, políticos passaram a tentar reduzir o poder dos investigadores e constrangê-los. Alvo de oito inquéritos no petrolão, Renan quer aprovar um projeto para proibir presos de aderir à delação premiada. Suspeito de receber favores de empreiteiras e assustado com o garrote da prisão, Lula entrou com uma representação contra o juiz Sergio Moro na Procuradoria-Geral da República. Os criminosos ainda sonham com um golpe de última hora no Supremo Tribunal Federal. E olhe que nem vieram a público as delações dos empreiteiros Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro e do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto. A faxina ganhou tração e, ao que parece, não para mais.

Fonte: Veja

Sem entregar os pontos, Dilma monta resistência na internet

Presidente afastada agora recebe os políticos e participa de atos nas ruas

 

Quando o Senado sacramentou o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff, há um mês, a primeira reação do PT foi dizer que faria um “gabinete paralelo”. Mas, desde que ela foi afastada da Presidência, o que se viu foi a montagem de uma espécie de “governo virtual”.

Dilma transformou seu perfil no Facebook, repaginado, em sua principal arma de comunicação. Nela, critica o governo do presidente interino, Michel Temer, responde matérias jornalísticas, posta vídeos de ex-ministros defendendo a gestão petista e publica sua agenda.

Para aliados, a atuação de Dilma na internet aumentou ainda mais depois que um parecer da Casa Civil determinou que ela só pode viajar em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) de Brasília a Porto Alegre, onde tem família.

– O Facebook se tornou uma ferramenta importante para ela, devido às circunstâncias. Além do afastamento, a presidenta ainda foi surpreendida com esse constrangimento imposto pelo governo interino, que limitou ainda mais a atuação dela. É uma clara tentativa de cerceá-la – disse o advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo.

A rotina de Dilma começa cedo, por volta das 6h da manhã, com um passeio de bicicleta no entorno do Palácio da Alvorada. No café da manhã, lê todos os jornais e depois começa a receber os assessores que trabalham com ela e ex-ministros, que a visitam com frequência. Ela também tem recebido regularmente os parlamentares que a apoiam, algo que não gostava muito de fazer quando ocupava o terceiro andar do Planalto. Já se reuniu até com senadores que ainda não decidiram se votarão a favor ou contra o impeachment.

O ex-assessor especial Giles Azevedo foi levado por ela do Planalto para o Alvorada, assim como Jorge Messias, que era subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil. Além de Cardozo, Ricardo Berzoini (ex-ministro da Secretaria de Governo) e Carlos Gabas (ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil) também a visitam diariamente. Jaques Wagner, ex-chefe de gabinete, voltou para a Bahia mas volta a Brasília semanalmente para vê-la. Desde que deixou o Planalto, Dilma recebeu o ex-presidente Lula duas vezes.

Mais interessada nas ferramentas virtuais, Dilma tem comentado com petistas, em tom entusiasmado, sobre novas formas de usar o Facebook. Ela tem apostado no “face to face” – um formato de perguntas e respostas para interação com internautas – com o objetivo de se aproximar de eleitores. Essas conversas ao vivo foram usadas pela petista durante a campanha à reeleição, em 2014.

Aliados da presidente contaram que, diante da reação positiva dos internautas aos vídeos, Dilma resolveu tocar ela própria seu perfil na rede social. Hoje, sua equipe de comunicação se limita a três pessoas: um assessor de imprensa, um fotógrafo e uma profissional especializada em redes sociais. Quando era presidente efetiva, tinha uma equipe de mais de cem pessoas sob o guarda-chuva da Secretaria de Comunicação Social.

– Dilma está falando com todo mundo. Ela se abriu muito mais desde que foi afastada temporariamente. Está animada, mexe pessoalmente no Facebook. Outro dia veio nos contar sobre o face to face, que está adorando fazer – disse um senador petista.

Dilma é conhecida pelo trato difícil com deputados e senadores, mas parlamentares relatam que, no último mês, têm visto uma presidente diferente, mais aberta a conversas e mais leve. Isso tem permitido a ela se aproximar de petistas que sempre mantiveram vínculo maior com o ex-presidente Lula – caso, por exemplo, do senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Tarde demais, lamentam.

– Essa vitimização pegou nela, a sociedade está vendo e respondendo a isso. Ela vestiu tanto esse papel que até eu acreditei – brinca um político que mantém contato com Dilma.

Nas redes sociais, Dilma adotou a estratégia de se contrapor a Temer. Ela tem pedido a ex-ministros para desconstruir pontualmente anúncios feitos por Temer. Erros, gafes e tropeços da gestão Temer são ridicularizados em vídeos. O governo Temer é sempre classificado como “provisório e ilegítimo”.

O mesmo acontece nos textos publicados. Nota responsabilizando aliados de Temer pelo vazamento à imprensa de dados sobre os gastos com alimentação no Palácio da Alvorada afirma: “O comportamento sórdido do governo interino e ilegítimo contra a presidenta Dilma Rousseff não conseguirá intimidá-la. Em nenhum país do mundo a autoridade de um chefe de Estado e de governo é atacada de maneira tão vil e mesquinha”.

O primeiro vídeo foi feito por Berzoini no dia em que foi revelada a gravação do então ministro do Planejamento, Romero Jucá, sugerindo que era preciso dar um basta à operação Lava-Jato. O petista disse que Jucá tinha que ser demitido. De lá pra cá, doze ex-ministros ou secretários gravaram vídeos criticando a extinção do Ministério das Mulheres e do Ministério da Cultura (depois recriado por Temer), a política externa, o novo déficit público, a fusão do Ministério da Ciência e Tecnologia ao Ministério das Comunicações, o fim da Controladoria Geral da União, a reforma da Previdência e uma suposta ameaça aos direitos trabalhistas. Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda, escreveu texto crítico à nova meta fiscal assumida por Temer.

Dilma tem escolhido para as entrevistas órgãos de imprensa estrangeiros que, na visão de seu time de comunicação, assumiram postura mais crítica à ascensão de Temer ao poder.

Dilma compareceu ao lançamento do livro “A resistência ao golpe de 2016”, uma compilação de textos de 105 autores diferentes, na Universidade de Brasília e na Assembleia Legislativa de Porto Alegre; participou da marcha das mulheres contra o machismo, na Praça XV, no Rio; discursou na Esquina Democrática da capital gaúcha; e participou do encontro de blogueiros e ativistas digitais em Belo Horizonte.

Na quinta-feira, ela foi a Campinas para um encontro com cientistas e intelectuais, e visitou obras de um laboratório. Enfrentou protestos, mas também viu manifestações de apoio à sua causa. Quem trabalha com Dilma diz que ela anda muito ocupada e que não esmoreceu.

– Ela não está na pior. Trabalha de 8h da manhã às 10h da noite, não está abandonada. O dia a dia está muito movimentado, ela tem recebido muita gente – diz um auxiliar.

Para Cardozo, Dilma acha que pode reverter sua situação:

– Ela tem a convicção de que não fez nada errado e que não tem cabimento afastá-la por crime de responsabilidade. Ela acredita que é possível reverter a situação porque a verdade está com ela.

Fonte: ORM News

“Trapalhadas” de Temer ameaçam mudar o placar do impeachment em favor de Dilma

Pelo menos dois senadores estariam dispostos a rever seus votos no julgamento da cassação definitiva da petista. Se isso ocorrer, a presidente afastada volta ao cargo

Temer vem sendo cobrado por “agenda ética” após a demissão de dois ministros flagrados em gravações comprometedoras. | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Temer vem sendo cobrado por “agenda ética” após a demissão de dois ministros flagrados em gravações comprometedoras. Marcelo Camargo/Agência Brasil

A possibilidade levantada pelos senadores Romário (PSB-RJ) e Acir Gurgacz (PDT-RO) de rever suas posições em relação ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) acendeu o alerta vermelho do presidente interino Michel Temer (PMDB). A informação é do jornal O Globo. Caso confirmada a mudança de votos, a petista não seria mais cassada, já que são necessários 54 senadores para afastá-la e, na primeira votação, 55 foram favoráveis ao afastamento de Dilma.

A especulação sobre os votos dos senadores abre mais uma preocupação para Temer, que, em apenas 20 dias na Presidência, já viu a queda de dois dos seus ministros por influência da Operação Lava Jato. A condução do governo interino e as denúncias envolvendo o alto escalão do Palácio do Planalto podem ser fatores que levaram os senadores a cogitar troca de votos

Fatos novos

Em entrevista ao jornal O Globo, Romário citou “novos fatos políticos” como influentes na votação no Senado. “Assim como questões políticas influenciaram muitos votos na primeira votação, todos esses novos fatos políticos irão influenciar também. Meu voto final estará amparado em questões técnicas e no que for melhor para o país”, disse.

Já Gurgacz negou em nota que teria mudado o voto, mas afirmou que ainda está indeciso. Segundo noticiado, ele teria informado ao partido que irá se posicionar contra o impeachment. A sinalização do senador fez com que o Diretório Nacional do PDT adiasse a decisão sobre punição disciplinar aos que votaram contra a orientação do partido, que é favorável a Dilma.

O paranaense Alvaro Dias (PV), adepto do impeachment, afirma que o risco de mudança de quadro “é uma realidade”, mas que “a lógica favorece a manutenção da situação já colocada”. “O que há é uma flutuação permanente em função da temperatura do momento político. Há os que se aborrecem com revelações do atual governo, mas também refletem sobre o que ocorreria diante do retorno de Dilma”, diz. Para o senador, a indefinição deve permanecer até o momento da votação final, que deve ser apertada.

Já a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) aponta que alguns parlamentares já apontavam, quando da admissibilidade do processo de impeachment , que poderiam mudar de posição, conforme o entendimento individual sobre o cometimento de crime de responsabilidade da presidente afastada. “O clima parece estar mudando, tanto pela posição inicial dos senadores quanto pelo impacto das questões políticas do governo interino”, diz.

Trapalhadas

A cúpula do PT aproveitou a “trapalhada” peemedebista para afirmar, em nota, que a “agenda ética” do interino “se esfarela” após o vazamento de conversas entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e integrantes do PMDB. Para os dirigentes petistas, os áudios “confirmam o caráter golpista do impeachment” de Dilma. A liderança do PT na Câmara também denunciou outros ministros na Comissão de Ética da Presidência.

Do outro lado, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), recém-empossado líder do governo, divulgou um vídeo em que expõe argumentos pelo impeachment de Dilma e, com duras críticas, mostrou que esse será seu compromisso. “É para que eu possa contribuir com o bom desfecho desse processo. Eu não quero que a Dilma volte. Eu não quero que o PT volte. Isso seria uma tragédia para o país”, ressaltou.

Nomeação de ministros investigados pela Lava Jato foi um risco, diz especialista

O cientista político Leon Victor de Queiroz, da Universidade Federal de Campina Grande, aponta que o governo interino errou quando assumiu o risco de nomear ministros investigados na Lava Jato, já que não há controle sobre a operação. Assim, para ele, as articulações pela volta de Dilma podem ganhar força. “Pode ser improvável, mas não é impossível [o retorno dela]”, avalia.

Segundo Queiroz, além das “trapalhadas” do novo governo que pesam na opinião pública, como a queda dos ministros e dificuldade de “andamento” das diferentes áreas, alguns senadores já demonstravam dúvidas em relação ao julgamento final de Dilma na primeira votação do impeachment. “Aparentemente, eles queriam pagar para ver, admitindo o processo, mas deixando em aberto a possibilidade de reversão posterior”, afirma.

“Os parlamentares devem usar todo o tempo de afastamento da presidente [até 180 dias] para ver como é o novo governo. Se for tão desastroso, o quadro pode até se reverter”, aponta. Para o especialista, porém, o cenário de instabilidade seria imprevisível se confirmada a volta da petista, pois não é descartada a possibilidade de condenação das contas de campanha dela de 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Senador indeciso é paranaense, mas fez carreira em Rondônia

O senador Acir Gurgacz (PDT-RO, foto) é um dos que está em dúvida sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Ele foi reeleito senador pelo estado de Rondônia em 2014, e já foi prefeito de Ji-Paraná, em 2000. A origem dele, no entanto, é paranaense.

Nascido em Cascavel, no Oeste do estado, o senador é filho do empresário Assis Gurgacz, que possui uma rede de empreendimentos nos ramos de transporte rodoviário e urbano, comunicações, ensino, mineração e pecuária.

A União Cascavel (hoje denominada Eucatur), empresa do pai, iniciou as atividades no Paraná em 1964 e instalou uma filial em Ji-Paraná – onde Acir fez carreira política – em 1972, quando a família migrou para o estado do Norte do país.

A empresa foi a primeira a fazer a ligação Norte-Oeste-Sul do Brasil de ônibus e hoje está presente 23 estados do país, além de operar na Venezuela e Bolívia.

Uma das atuações mais importantes de Acir Gurgacz no Senado foi a relatoria, no ano passado, das contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff. Contrariando a orientação do Tribunal de Contas da União, que apontava a ocorrência das chamadas pedaladas fiscais, ele apresentou parecer pela aprovação das contas com ressalvas

Fonte: Gazeta do Povo

Dilma melhora seu ibope

Uma pesquisa inédita indica que, após o afastamento, a presidenta recupera parte do apoio perdido, embora mantenha um elevado índice de rejeição
Dilma RousseffDilma passou de 18% para 33% de confiança

A expectativa política no Brasil de hoje está ancorada na resposta para a seguinte pergunta: a Dilma voltará ao poder, ou não voltará, após sofrer um “golpe de Estado suave”, para usar a sublime avaliação sobre o tema feita recentemente pelo papa Francisco?

Não há milagre capaz de sustentar com segurança uma das duas respostas possíveis a essa indagação: não e sim. Nesta ordem. Em princípio, tudo parecia perdido para Dilma, assim como parecia certo para Temer, ganhar a oportunidade de completar o restante do mandato iniciado em 2015.

Antes mesmo dos tropeços da ineficiência administrativa do governo provisório e das revelações escandalosas saídas das entranhas do PMDB, surgiu uma mudança importante no comportamento do eleitor favorável à presidenta afastada.

Não é indício. É fato revelado por pesquisa inédita do Ibope, realizada após a consumação do golpe.

“Dilma passou de 18% para 33% de confiança”, diz Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, em econômica revelação dos resultados da pesquisa feita em meados de maio. Não foi feita avaliação do governo interino.

Dilma teve crescimento de 15% comparado com números de duas outras pesquisas anteriores. A primeira, já divulgada, realizada em março, entre os dias 17 e 20, e a segunda, em meados de abril, de 14 a 18 (tabela). Esta última inédita.

AvaliaçãoAs duas mostraram certa estabilidade no porcentual de confiança, mas ainda mantinham extremo o grau de desconfiança dos eleitores. Foram realizadas antes dos resultados da votação de admissibilidade do afastamento de Dilma na Câmara e no Senado.

Números da terceira pesquisa, de maio, indicam um impacto forte nos índices “confia”, para cima, e “não confia”, para baixo. A queda da desconfiança é expressiva. Caiu de 76% para 65%. Porcentuais ainda preocupantes. Projeta, porém, tendência de queda.

O resultado surpreende. Dilma, tudo indica, está em processo de recuperação política. A velocidade  do caminho será ditada pelo possível fracasso do governo provisório de Temer

Montenegro tem algumas explicações. Ele sabe, no entanto, que o Brasil não está diante de um fenômeno e alerta para um “erro” cometido pela mídia. Ela punha o foco na baixa avaliação do governo. Destacavam o “bom e ótimo” que desceu a 8%. Quase no fundo do poço. Deixava de lado, no entanto, o porcentual da resposta “Regular”.

“Existe o regular positivo. Não se deu atenção a isso. Muita gente veio do regular”, diz Montenegro. Um erro politicamente premeditado. Inserido perfeitamente no contexto do golpe.

Montenegro medita sobre a relação do grupo de eleitores “criados” pela solidariedade a Dilma. “Ainda não sei em que proporção”, admite.

Resta agora aguardar as próximas pesquisas. Elas podem inquietar alguns senadores.

Fonte: Carta Capital