VIOLÊNCIA MUDA COMPORTAMENTO DE QUEM VIVE NO RIO

Medo provoca cada vez mais transtornos psiquiátricos

Forças Armadas patrulham o Rio após escalada da violência – Márcio Alves / Agência O Globo

Com medo de se identificar, um bancário sequestrado por bandidos sabe que algo mudou dentro dele. Os hábitos de antes, mais leves, bem ao estilo carioca, perderam a naturalidade e a apreensão tomou conta de sua rotina. Ele próprio diz que ficou com uma cicatriz psicológica.

— É uma cicatriz que se reflete em todos pormenores, da hora em que acordo até a hora de dormir. Interfere no que eu faço ou deixo de fazer. Você aprende a olhar para essa marca no espelho e a lidar com ela. Mas não esquece.

Sentimento que abala a cidade

Mariana Luz, coordenadora do ambulatório de transtorno de estresse pós traumático do Ipub – Márcia Foletto / Agência O Globo

 

A falta de paz tem levado cada vez mais cariocas e pessoas que escolheram viver na cidade para os consultórios de psicanálise e psiquiatria. Médicos do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ constatam que as pessoas, submetidas à pressão das ruas, estão adoecendo. A pesquisadora do Ipub Herika Cristina da Silva afirma que, além de sobressaltadas, hipervigilantes e ansiosas, as vítimas ou testemunhas da violência podem desenvolver depressões e crises de pânico. Ou ainda ter sequelas mais graves, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), com sintomas como pesadelos, lembranças perturbadoras, insônia, distanciamento ou perda de interesse por atividades.

— Um estudo da nossa equipe constatou que 86% dos moradores do Rio e de São Paulo já tinham sido expostos a pelo menos a um evento traumático ao longo da vida. No Rio, a prevalência de TEPT chegaria a 8,7% da população (o que equivaleria a cerca de 500 mil pessoas) — afirma.

Aprovado num teste para um musical no Rio, o ator Júlio Ferreira, do Amazonas, desembarcou no Rio cheio de esperança porque realizaria um sonho. A euforia nem tinha passado quando a cidade lhe deu as “boas-vindas”. Ele teve o dinheiro roubado num táxi, ao sair do aeroporto, e, mal deixou as malas na casa de um amigo, no Engenho Novo, teve que correr de um tiroteio entre policiais e traficantes. Abruptamente, foi apresentado à violência cotidiana.

— A cidade perdeu o brilho. Não tenho coragem de sair à noite, nem de ir à peça de teatro. É de casa para o trabalho. E só — diz o ator recém-chegado.

Os temores se espalham e tornam ruas e bairros inteiros proibitivos. O resultado é que muitos optam por ficar dentro de casa, esvaziando a cena boêmia que era uma característica tão nossa. Presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes (SindRio), Pedro de Lamare diz que, conjugada à crise, a violência reduziu em 25% a 30%, em média, o movimento dos restaurantes. Alguns têm fechado mais cedo. Pela primeira vez, afirma ele, a queda é maior nos estabelecimentos de rua do que nos shoppings. E afetou em cheio redutos da noite, como Lapa e Santa Teresa:

— Os clientes optam por ficar mais perto de casa. Quem mora no Jardim Botânico repensa se vai a um bar na Zona Norte, mas também a Ipanema ou ao Leblon. O Rio está retroagindo à velha cidade partida. As pessoas têm se isolado, no máximo, em ilhas mais movimentadas, onde se sentem um pouco mais seguras, como o polo gastronômico de Botafogo ou a Avenida Olegário Maciel, na Barra.

Especialista nas causas do transtorno, a psiquiatra Mariana Luz, também do Ipub, não tem dúvidas: a violência interpessoal urbana é o trauma com maior potencial de gerar a doença.

— Um ato de violência contamina muitas pessoas, não apenas quem o sofreu. Os traumas que chegam até nós estão ligados a atos cada vez mais violentos, cruéis e que estão disseminados por toda a sociedade.

Cariocas decidem ir embora

Boemia abalada. Rua Almirante Alexandrino às 20h30m de quinta-feira passada: bares e restaurantes vazios – Pablo Jacob / Agência O Globo

O silêncio em Santa Teresa, com bares e restaurantes vazios às 20h30m da última quinta-feira, sintetizava as inquietações que assombram o Rio. A violência, associada à crise, tem tirado o carioca de circulação, quando não contribui para fazê-los desistir da cidade. Este domingo será o último dia da publicitária Isadora Prado em Botafogo. Amanhã, ela se muda para São Paulo, seguindo o caminho já trilhado por seu namorado e por amigos.

— Recentemente, estava numa farmácia de Botafogo quando adolescentes entraram quebrando tudo. Antes, tinha sido assaltada duas vezes, na Barra e em Jacarepaguá. E essa última vez me deixou muito traumatizada. Passei a olhar para trás e para os lados, com medo de ser atacada de novo. Nunca imaginei que pudesse ter uma sensação de mais segurança em São Paulo. Mas, aqui, chegamos ao absurdo. Esse foi um dos fatores que pesaram na minha decisão — diz Isadora.

Já Leonardo Moraes, estudante de gastronomia, resolveu ir mais longe. Tios e primos dele trocaram o Rio pelos Estados Unidos e Portugal. Ele deixará Padre Miguel para tentar a sorte na Europa.

‘Sempre defendi meu país, minha cidade. Mas, agora, tenho mais motivos para ir embora, e a violência é um deles’

– LEONARDO MORAESEstudante de gastronomia

— Sempre defendi meu país, minha cidade. Mas, agora, tenho mais motivos para ir embora, e a violência é um deles. Um monte de amigos está fazendo o mesmo — afirma. — Fui roubado duas vezes em menos de um mês. Em um dos assaltos, levaram até meus chocolates.

Os relatos se multiplicam: pânico de motos e bicicletas, muito usadas por assaltantes; receio de abrir o portão de casa ou do prédio; pavor dos túneis e vias expressas. Medo que acompanha a oficial de justiça Gyzele Tuber, moradora do Itanhangá e que trabalha em Duque de Caxias:

— Preciso passar pelas linhas Vermelha e Amarela e me sinto encurralada. Se o trânsito está engarrafado, acho que está acontecendo algo. Se está livre demais, também. Esse temor já chegou à minha vida pessoal. Restringi minhas saídas de casa. Depois das 20h, só se for algo muito especial. Vivemos como reféns.

Nas favelas, nervos à flor da pele

Jovens de comunidades de Acari colecionam histórias em que ficaram de frente para a barbárie – Domingos Peixoto / Agência O Globo

K. tinha 13 anos quando a polícia invadiu sua casa e apontou um fuzil contra seu peito. V., de 17, perdeu o avô baleado numa operação na favela. M., aos 19, tem sua laje usada como rota de fuga de bandidos. E C., de 17, cai no choro toda vez que lembra da amiga que encontrou morta, vítima de um estupro. Para esses jovens moradores de Acari, a violência é devastadora. Eles ficam no meio do fogo cruzado, acuados por confrontos do tráfico, desmandos da polícia e ataques de criminosos que os perseguem até dentro da escola. As marcas dessa rotina, eles carregam aonde vão.

— O barulho de helicóptero é assustador. Parece o começo da guerra. O chão perto da minha casa é todo furado pelos disparos feitos das aeronaves — diz V., que precisou fazer terapia após a morte do avô. — Desenvolvi pressão alta e comecei a engordar. Meu grande receio é sair de casa e não voltar mais. Tenho medo de ir para a escola. Afeta até a minha procura por um emprego.

‘O barulho de helicóptero é assustador para mim. Parece o começo de uma guerra. O chão perto da minha casa é todo furado pelos disparos’

– V., DE 17 ANOSMorador de Acari

Esconder-se de tiroteios não é para eles algo excepcional. E as histórias para contar são assim mesmo, no plural. Outro adolescente, de 16 anos, diz que tenta aparentar calma sempre que se depara com um confronto. Mas, no fundo, fica aterrorizado:

— Uma vez me rastejei pelo chão para escapar. Pensaram que eu estava morto. Ando sempre alerta. De um segundo para outro, tudo pode mudar brutalmente.

E a polícia, que deveria defendê-los, também amedronta.

— Já presenciei um policial matando uma pessoa. Era bandido, sim. Mas não deveria ser morto — indigna-se C.

— Tenho trauma de polícia desde pequena. Quando os vejo, não consigo nem falar, só chorar. Fico paralisada — relata K.

Todos participam de um programa para jovens da Secretaria municipal de Assistência Social. Ao fim de cada encontro, independentemente das crenças de cada um, rezam pela paz.

Mulheres de PMs relatam pânico

Indignação. Enterro de 91º PM morto no Rio este ano: marido de Mara Gomes estava com policial assassinado – Domingos Peixoto / Agência O Globo

Terça-feira passada. Às 4h, o marido de Mara Gomes sai para o trabalho, e ela não dorme mais. Chora, entra em pânico, porque dois dias antes ele era um dos policiais militares encurralados por bandidos no Vidigal, onde um colega dele, o terceiro-sargento Hudson Silva de Araujo, tornou-se o 91º PM morto no Rio este ano.

— Tem sido apavorante. Nós, parentes de policiais, não conseguimos mais ter orgulho da profissão deles. Temos medo. Não sabemos quem será a próxima viúva — dizia Mara, que horas depois prestaria condolências à mulher de Hudson no enterro do PM, em Sulacap.

Tomada pelos mesmos temores de Mara, Carine Diniz precisou de antidepressivos. Escutava o interfone de casa tocar o tempo inteiro, sem que houvesse ninguém na porta. Era a apreensão de que chegasse alguma notícia ruim do marido.

‘Tem sido apavorante. Temos medo. Não sabemos quem será a próxima viúva’

– MARA GOMESMulher de PM

— Telefonar para ele, e a ligação cair na caixa postal é desesperador. Estamos vivendo pela fé, literalmente — diz.

Sair para se divertir, sobra etudo à noite, virou um martírio. No caso de Claudenice dos Santos, algo impensável por quase seis meses, depois de o marido ter sido executado na frente de um dos filhos do casal:

— É devastador. Por meses, não colocava o pé fora de casa, a não ser que um amigo me pusesse dentro de um carro e me levasse. Estou tentando retomar minha vida. Mas ainda não vou nem ao mercadinho da esquina sozinha.

E quando essas famílias encaram as ruas, levam o medo de carona. A filha adolescente de um policial conta que entra em restaurantes procurando onde se esconder. Sobressalto sem fim também vivido por Darla Nascimento:

— Meu marido está dando aulas de táticas de fuga, a mim e à minha filha. É como se vivêssemos uma guerra.

Palavra de especialista: Herika Cristina da Silva

De forma geral, como as vítimas ou testemunhas são afetadas pela violência? O TEPT é o transtorno mais agudo que essas situações podem provocar?

As vítimas ou testemunhas de eventos violentos/traumáticos podem sofrer diversas sequelas/consequências psicológicas. Podem desenvolver transtornos psiquiátricos como o TEPT, Depressão, Transtorno de ansiedade… Mas, de forma geral, podem ficar hipervigilantes, sobressaltadas, mais ansiosas, preocupadas e com medo exacerbado de possíveis novos eventos. Podem evitar sair de casa, frequentar lugares e situações que lembrem o trauma ou julgue ser perigoso. Podem ainda se isolar, ficar mais irritadas e apresentar humor mais deprimido, entre outras consequências.

O TEPT pode sim ser considerado a sequela mais grave desenvolvida a partir de um evento traumático. E na maioria dos casos ele se apresenta em comorbidade com depressão e em muitos casos com abuso de álcool e substâncias.

Quais as dificuldades para diagnosticar o TEPT?

O TEPT por si só é um transtorno difícil de ser diagnosticado. Além disso, ele é frequentemente comórbido a outros transtornos mentais, como depressão, transtornos de ansiedade e abuso de álcool e substâncias, o que pode mascarar os sintomas desse transtorno e fazer com que o TEPT não seja detectado. Outro fator importante é que falar ou lembrar do trauma causa muito sofrimento as pessoas que sofrem de TEPT. Elas podem se sentir envergonhadas, humilhadas e até culpadas. Com isso, há uma evitação muito grande por parte dessas pessoas de falar sobre o assunto. Portanto, se o histórico de traumas não é diretamente investigado pelos médicos, a maioria das pessoas não os relata voluntariamente. E ainda pode haver um déficit no conhecimento a respeito do impacto desses eventos traumáticos na saúde mental das pessoas, o que faz com que não se investigue diretamente a existência de traumas prévios nas consultas médicas de rotina. E com isso, o TEPT não é identificado.

Qual é a estimativa a que a pesquisa chegou de pessoas no Rio de Janeiro que sofrem do TEPT?

A nossa pesquisa investigou a prevalência de trauma apenas entre os pacientes do ambulatório geral de saúde mental do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Ipub). Encontramos uma prevalência de 20,5% de paciente com TEPT. Porém, esse número pode chegar a 31% se incluirmos os pacientes que apresentam muitos sintomas de TEPT (TEPT subclínico) e também apresentam grande sofrimento

em decorrência de traumas, porém não preenchem todos os critérios para o diagnóstico do transtorno.

Há um outro estudo da nossa equipe, realizado em parceria entre universidades de São Paulo e a UFRJ, que investigou a prevalência de TEPT na população geral do Rio e de São Paulo. Foi encontrado que 86% da população já tinha sido exposta a pelo menos um evento traumático ao longo da vida e foi encontrada prevalência de TEPT de 8,7% na população do Rio e 10,2% na população de São Paulo.

Com esse recrudescimento da violência, é possível que transtornos como o TEPT, a depressão, a síndrome do pânico ou a ansiedade aumentem na cidade? Como lidar com essa situação?

Sim, é bem provável que o número de pessoas que sofrem desses transtornos aumente consideravelmente. O ideal é ficarmos atentos ao aparecimento de sintomas, mudanças no humor e no comportamento após a ocorrência de eventos traumáticos e que seja dado a devida importância a isso. Pois não se trata de besteira ou fraqueza. Permanecendo os sintomas, deve-se buscar ajuda profissional especializada, como psicólogos e psiquiatras.

Quais são os principais sintomas do TEPT?

Os principais sintomas do TEPT são lembranças intrusivas, flashbacks e pesadelos sobre o trauma, que fazem com que o indivíduo se sinta revivendo o trauma. Esforços para evitar qualquer coisa que lembre o trauma (incluindo situações, locais, pessoas, pensamentos, sentimentos), redução do interesse por atividades, sensação de distanciamento em relação as pessoas e entorpecimento emocional, sentimento de futuro abreviado, respostas de sobressalto exageradas, hipervigilância, irrritabilidade aumentada, dificuldade para se concentrar e distúrbios no sono, como insônia.

 Fonte: O Globo

Alta da contribuição entrará em vigor quando salários estiverem em dia, o que deve ocorrer em setembro

Se a expectativa do estado se confirmar e os salários atrasados forem quitados até setembro, tudo indica que a contribuição previdenciária de 14% começará a ser cobrada em outubro. O funcionalismo do Rio já teme a nova alíquota, que só poderá ser aplicada quando as folhas estiverem em dia. Sindicalistas alertam que os servidores já estão pagando juros de contas pendentes e que com o aumento do desconto mal verão a ‘cor’ do dinheiro.

Os ativos, inativos e pensionistas têm desconto de 11% sobre salários para a contribuição previdenciária. O aumento da alíquota só poderá entrar em vigor quando os vencimentos estiverem em dia. Isso porque, quando o projeto de lei foi aprovado na Alerj, uma emenda do PDT que colocou essa condição foi acrescentada ao texto.

Servidores protestaram contra votação dos 14% na Alerj, em maioTomaz Silva /Agência Brasil

Hoje, o estado deve o salário de abril a 97 mil ativos, inativos e pensionistas; os vencimentos de maio a 207 mil pessoas, que tinham que ter recebido em 14 de junho; e o décimo terceiro de 2016 a 227 mil.

“Se o estado quitar tudo até setembro, acreditamos que a cobrança dos 14% virá na folha de setembro, que é paga em outubro”, opinou João Rodrigues, presidente do SindDegase e integrante do Movimento Unificado dos Servidores Públicos.

Rodrigues ressalta que há pessoas acumulando débitos e o salário que entrar será engolido: “Não dá nem tempo de o servidor restabelecer as contas. Ele está pagando juros, e quando o salário acertar, vai ter um desconto maior”.

AÇÕES CONTRA OS 14%
Algumas ações foram propostas para barrar o aumento da alíquota de 11% para 14%. O deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC) entrou com ação direta de inconstitucionalidade no Tribunal de Justiça do Rio, assim como a Federação das Associações e Sindicatos dos Servidores Públicos.

Mas um processo que está no Supremo Tribunal Federal é a aposta do funcionalismo do Rio para derrubar o desconto previdenciário de 14%. Trata-se da ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Associação de Magistrados de Goiás, contra o aumento da alíquota naquele estado, em 2012.

A entidade alegou que o governo goiano aumentou a alíquota sem apresentar justificativa, como estudo contábil. Os magistrados classificam como aumento abusivo. Como o caso é de repercussão geral (vai afetar todas as ações sobre o tema), o coordenador-geral do Sindicato de Profissionais da Faetec, Marcos Freitas, é categórico: “Estamos com um fio de esperança de que a medida seja revertida no Rio a partir de uma decisão do STF. Aqui, também não vimos justificativa técnica para o aumento”.

O Rioprevidência reafirmou que, para iniciar a cobrança dos 14%, o pagamento deve estar em dia. “Se no dia 1º de outubro regularizarmos todos os pagamentos faltantes poderemos cobrar a nova alíquota no pagamento que será efetuado em outubro”, disse em nota.

A autarquia afirmou ainda que estudos de impacto financeiro basearam a decisão de aumentar a alíquota, além da crise econômica vivida pelo estado, que “agravou essa necessidade”.

Fonte: O Dia

Efeito Lava-Jato esvazia mercado de luxo no Rio

 

Nos bastidores dos mais finos restaurantes, salões e lojas da cidade, o assunto do momento é o sumiço de parte da clientela. Está todo mundo sofrendo com a crise financeira e a falta de segurança no Rio, mas, nesses estabelecimentos considerados top (e caros), há mais um vilão: os escândalos políticos. Citados ou não pela Lava-Jato, engravatados de Brasília e do Rio que circulavam com desenvoltura por casas como Antiquarius, Laguiole, Gero e Satyricon desapareceram quase que por completo. Reuniões, conspirações e papos ao pé do ouvido, vistos em mesas de endereços nobres, foram virando cenas cada vez mais raras, até que a prisão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) afastou quase todos.

As denúncias envolvendo o presidente Michel Temer foram a pá de cal. No Antiquarius, a queda no movimento é de mais de 20%. Um funcionário conta que as pessoas estão com medo de sair à noite no Rio, e que isso influencia, mas lamenta também a ausência dos políticos. Vizinho da casa de Cabral no Leblon, o restaurante sofreu um baque com a prisão de seu cliente habitué. O prato preferido de Cabral é arroz de pato (R$ 115, que serve mais de um), coincidentemente o mesmo do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, tucano hoje na mira do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

— Os políticos que frequentavam estão presos ou recuados. Tudo piorou quando levaram o Cabral. O Pezão (Luiz Fernando Pezão, governador) mesmo, que vinha sempre, não aparece mais — conta um funcionário.

Valores não importavam

Aécio, mesmo antes de cair no grampo da Polícia Federal, já não era visto no Rio com tanta frequência.

— Aécio era figurinha fácil. Este ano, nas três vezes em que fui ao Gero, eu o vi lá. Mas já tem um tempinho que anda sumido — conta um renomado chef da cidade, entregando um detalhe: — Em comum, os políticos não se importam com valores de contas e pagam em dinheiro.

No Laguiole, no Museu de Arte Moderna, pessoas que trabalham ou já passaram por lá relatam contas astronômicas, pagas em dinheiro vivo. O ex-deputado do PMDB e ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aparentemente nunca ficou melindrado em ser visto: até ser preso, circulava pelos melhores restaurantes da cidade, como o Satyricon. No Laguiole, chegou a dividir mesa com um ministro atual, na semana do impeachment de Dilma Rousseff. Lá, dependendo do vinho, a conta pode chegar a R$ 2 mil por pessoa. Perto do Aeroporto Santos Dumont, tem forte clientela de políticos e do mundo corporativo.

O Eça, restaurante da H.Stern na Avenida Rio Branco, também tem esse perfil. Era lá que costumava almoçar com amigas a ex-primeira-dama do estado Adriana Ancelmo, que tem escritório no mesmo prédio.

Um dos sócios do italiano Antica Osteria Dell’Angolo, prestes a fechar as portas, em Ipanema, o milanês Luciano Pessina reconhece que o movimento caiu muito nos últimos meses. Entre os clientes mais assíduos, a “turma da Lava-Jato”:

— Não eram a parte mais importante (do total da clientela), mas eram fiéis.

Na lista de razões que levaram o Atrium, no Paço, a encerrar sua cozinha também estão os políticos presos, como já disse ao GLOBO a proprietária, Vera Helena Carneiro. O D’Amici, no Leme, também teve perdas:

— Aqui somos cegos, surdos e mudos — disse um maître, encerrando o papo.

As lojas mais caras da cidade tentam superar a fase. Adriana Ancelmo e Cláudia Cruz, mulher de Cunha, já não vão mais às compras na Garcia D’Ávila:

— Adriana Ancelmo vinha à Louis Vuitton, mas era discreta. Comprava uma sapatilha (de R$ 1.800), um presente. Cláudia Cruz gastava mais, mas não vinha tanto. Compra muito no exterior — diz uma vendedora da marca de luxo francesa.

A gerência das lojas Ermenegildo Zegna, que fornecia ternos a Cabral, que os pagava com depósitos fracionados em dinheiro para impedir o controle de autoridades financeiras, segundo investigação, afirma apenas que a frequência de seus clientes caiu nos últimos meses de um modo geral. No Village Mall, na Barra, uma gerente diz que, nos três primeiros meses deste ano, a queda nas vendas, em boa parte das lojas, chegou a quase 20%. A Zegna e as joalherias H.Stern e Antonio Bernardo — citadas no esquema do ex-governador — seriam as mais afetadas. Nenhuma das joalherias comentou o assunto.

Na grife Ricardo Almeida, que fornece ternos sob encomenda a muitos políticos, como o ex-presidente Lula e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), a filosofia atual é afastar a imagem da marca da classe.

— Alguns políticos encomendaram ternos e não vieram buscar após serem envolvidos em escândalos. O dono de uma empresa denunciado no esquema de corrupção do Maracanã fez uma compra rápida com a gente, de mais de R$ 25 mil, e seguiu para Portugal — afirma uma funcionária da grife. — O crème de la crème, que pagava em dinheiro, sumiu. Por isso, focamos agora em clientes de outros estados.

Em salões de beleza, não é muito diferente. O Crystal, em Ipanema, é frequentado por Moreira Franco, ministro da Secretaria-geral da Presidência. Geralmente, quem corta também faz hidratação, o que dá entre R$ 500 e R$ 800. Os pagamentos em cash são comuns, dizem os funcionários. Os clientes nem sempre gostam de deixar registro de sua passagem por lá, por exemplo, marcando a hora do atendimento.

— Eles não passam por constrangimento aqui, porque já vêm para serem atendidos pelas pessoas certas — diz Dea Arbex, gerente de marketing de relacionamento do Crystal.

Alvo de depilação

Outro dia, Cláudia Cruz se desesperou: esqueceu o laptop na sala da depiladora do Esmell, no Leblon. Pediu que a profissional levasse o note para casa, no subúrbio, e um motorista foi lá buscar, como contou o jornalista Ancelmo Gois. A mulher do empresário Eike Batista, Flávia Sampaio, hoje vai ao salão Care Body & Soul, em Ipanema, em horários de menor movimento. Outro cliente de lá é o conselheiro do TCE Aloysio Neves Guedes, em prisão domiciliar. Vizinho de frente, ele já atravessou até o salão para fazer depilação na orelha e na sobrancelha, sendo assunto também de nota de Ancelmo.

Fonte: Extra

Crise chega a restaurantes tradicionais da cidade do Rio

Estabelecimentos enfrentam prejuízos e são obrigados a encerrar atividades

Osteria dell'Angolo, em Ipanema, está à venda. Sócio diz que violência tem afastado clientesFoto: Guito Moreto / Agência O Globo
Osteria dell’Angolo, em Ipanema, está à venda. Sócio diz que violência tem afastado clientes – Guito Moreto / Agência O Globo

Do bife do Lamas ao biscoito Globo com mate na praia, passando pelas trufas negras do Fasano al Mare, a gastronomia carioca é de dar água na boca. A diversidade é outra marca: há restaurantes para todos os bolsos, e a boa comida pode ser servida num quiosque à beira-mar. Mas um fenômeno está esvaziando o prato de cariocas: a combinação da crise econômica com o aumento da violência na cidade. O Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes estima que a queda no movimento nos estabelecimentos chega a 40%.

Mesmo sem números exatos, o revés à mesa fica cada vez mais evidente, todos os dias, com casas tradicionais, algumas com quase 50 anos de existência, fechando as portas. As que resistem buscam ingredientes fora do cardápio básico para sobreviver, inclusive apelando para serviço delivery. A última má notícia veio da Antica Osteria Dell’Angolo, reduto de artistas e intelectuais em Ipanema, que está à venda.

O anúncio de que o casarão de dois andares será vendido foi feito pela jornalista Luciana Fróes, em seu blog “Anotações Gastronômicas”, e ainda está sendo digerido pelos fãs da comida italiana. Um clássico tão inegável, a despeito dos preços salgados dos pratos, que Chico Buarque tem uma mesa cativa no restaurante.

Quem pode se dar o luxo está correndo para, ao menos, desfrutar de um jantar de despedida. Localizada na esquina das ruas Paul Redfern e Prudente de Moraes, a Osteria foi fundada em 1995 e carrega histórias memoráveis. Foi lá que, dois dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva bebeu um Romanée-Conti 1997, um dos vinhos mais caros do mundo, levado pelo publicitário Duda Mendonça. Em 2014, o restaurante anexou uma pizzaria vizinha, dobrando de tamanho. Desde então, a Osteria, que tinha filas na porta, vem ficando mais vazia.

Um dos sócios da casa, o milanês Luciano Pessina reconhece que o movimento caiu muito nos últimos meses, mas, segundo ele, problemas particulares precipitaram a decisão de vender o imóvel.

‘As pessoas perderam o poder de compra. O movimento caiu, enquanto os custos aumentaram. Depois, vimos que não tinha mais jeito’

– RENATO CAUMO Sócio da Estrela do Sul

— A venda do imóvel não é consequência só da crise. Estamos aguentando. É uma situação de instabilidade. Ninguém sabe o que vai acontecer. Os clientes ficam com medo de sair de casa. Aumentou a violência. Chega 23h, e as ruas ficam vazias. Está difícil — diz Pessina.

Outras boas mesas estão à míngua. Aberto em novembro de 2010 e premiado três vezes pelo Guia Michelin na categoria Bib Gourmand (por ser um lugar onde se come bem a bom preço), o espanhol Entretapas, em Botafogo, sai de cena no próximo sábado. Os sócios Jean Santos e Antonio Alcaraz não quiseram comentar o assunto, mas, numa postagem no Facebook, escreveram que “a marca Entretapas continua com o objetivo de retomar novas atividades em um futuro próximo”. Perto dali, no Humaitá, a loja Mutações e o Café do Largo, um bistrô orgânico que fica no fundo do estabelecimento, fecham as portas hoje.

 

VIOLÊNCIA PESA NA CONTA

Dono da rede Gula Gula e presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes, Pedro de Lamare explica que a crise, que reduziu a clientela em até 40%, tem uma forte contribuição dos indicadores de criminalidade. O aumento dos roubos de carga, inclusive de gêneros alimentícios que abastecem restaurantes, também está na raiz do problema.

— Estamos com muito medo da forma como a segurança está andando. Podemos assistir a uma grande tragédia no Rio. A falta de segurança também afeta o abastecimento diretamente. O preço do filé mignon subiu 20% em função dos roubos de carga. As seguradoras não estão cobrindo as viagens noturnas porque esse tipo de crime tomou grande dimensão. De janeiro de 2016 até agora, subiu o ICMS para quem estava no regime especial, aumentando os custos. A conta não fecha. Além disso, o estado também não paga seu funcionalismo, que são nossos clientes, como todo mundo — comentou.

Durou pouco também a experiência do Ró, no Jardim Botânico, o primeiro restaurante do Rio especializado em raw food (comida crua, em inglês). Sócio da empreitada, que durou seis meses, de junho a dezembro do ano passado, o crítico de vinhos Alexandre Lalas reconhece que pode ter subestimado a crise e superestimado o mercado.

— Quando acabou a Olimpíada, parece que o Rio acabou. Fora a crise, temos uma legislação trabalhista e fiscal muito complicada. Isso sufoca o empregador e o empregado. Só quem ganha é o governo — disse.

Na esteira da crise, só nos seis primeiros meses deste ano, foram fechados a unidade de Botafogo da churrascaria Estrela do Sul, como noticiou o colunista Ancelmo Gois na última quinta-feira, a livraria-restaurante Al-Farabi, no Centro, o Atrium, no Paço Imperial, a hamburgueria americana PJ Clarke’s, no BarraShopping, o italiano Benedictine, no Village Mall, e o Petisco da Vila, em Vila Isabel. O empresário Renato Caumo, um dos sócios da churrascaria Estrela do Sul, desabou em lágrimas ao falar sobre o fechamento da casa, inaugurada em 1972 no Mourisco, em Botafogo, e transferida 23 anos depois para espaço próximo ao shopping Casa & Gourmet:

— Imagina dedicar uma vida inteira a uma atividade, sempre procurando fazer o melhor, com muito carinho, com três gerações envolvidas. Tudo o que tenho na vida consegui graças a essa atividade, e agora preciso me desfazer (do restaurante), acabar com uma história dessa. Não é fácil não.

Segundo ele, tudo foi tentado: até mesmo venda de patrimônio e empréstimos bancários. Mas não houve jeito. A crise bateu forte no grupo, com 45 anos de fundação e que agora mantém com dificuldades as unidades no Maracanã, no Norte Shopping e no Recreio.

— As pessoas perderam o poder de compra. O movimento caiu, enquanto os custos aumentaram. Vendemos patrimônio e tudo. Depois, vimos que não tinha mais jeito. A crise econômica, a violência, juros extorsivos, tudo somado… — afirmou Caumo, acrescentando que as outras três filiais também “respiram com ajuda de aparelhos”. — Não sei quanto vamos aguentar.

DELIVERY PARA RESISTIR À CRISE

Criadora do bolinho de feijoada, um dos petiscos mais famosos da cidade, a chef Kátia Barbosa, do Aconchego Carioca, cuja primeira unidade foi aberta na Praça da Bandeira, vem refazendo as contas e apostado em promoções para superar a crise. Já demitiu oito funcionários no restaurante da Praça da Bandeira e quatro no do Leblon. Ela também negocia a redução do preço do aluguel das duas filiais. Há dois meses, começou a trabalhar com o serviço de delivery e diz que a “nova receita” tem dado certo.

— O Aconchego tem 15 anos, e nunca passamos por uma crise. Então, estamos tendo que rebolar. Nessa situação, aprende-se a valorizar pequenos hábitos, pequenos cuidados com os clientes, por exemplo. Quando eu sair dessa crise, vou ser uma administradora melhor. Tudo tem um lado positivo — disse a chef.

Fonte: O Globo

Contribuição de 14% vai atingir mais de 281 mil servidores; entenda os detalhes da lei

CI Rio de Janeiro (RJ 0 24/05/2017 - Manifestação na ALERJ , contra o aumento da contribuição à Previdência dos servidores estaduais do Rio.Foto Marcelo Theobald / Agência O Globo.
CI Rio de Janeiro (RJ 0 24/05/2017 – Manifestação na ALERJ , contra o aumento da contribuição à Previdência dos servidores estaduais do Rio.Foto Marcelo Theobald / Agência O Globo. Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

Ontem, em clima de tensão no entorno e no plenário da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), os deputados estaduais aprovaram a proposta do governo de elevar, de 11% para 14%, a contribuição ao Rioprevidência dos servidores estaduais. Foram 39 votos favoráveis, contra 26 contrários ao aumento.

Segundo números do governo do Rio, o desconto vai afetar cerca de 213 mil funcionários ativos, 53 mil aposentados e 15 mil pensionistas. Ao todo, 281 mil sofrerão o novo desconto. A taxação, vale lembrar, é feita sobre os salários de todos os servidores ativos, e limitada aos aposentados e pensionistas que recebem acima R$ 5.531,31.

— O que estão fazendo é punir o servidor público por erros que não foi ele que cometeu. Vamos pagar até o fim da vida pelo equívoco deste governo — disse João Luiz Rodrigues, um dos líderes do Movimento Unificado dos Servidores (Muspe).

A nova taxa só terá validade quando o Estado colocar os salários mensais em dia, e pagar o que deve do 13º a todos os funcionários públicos. Caso isso não aconteça após o período de 90 dias, contados a partir da sanção do governador Luiz Fernando Pezão, a nova taxa não será aplicada.

Segundo o governador Luiz Fernando Pezão, a aprovação de uma nova taxa previdenciária encaminhou o acordo de Recuperação Fiscal. A partir de agora, o Rio precisa aprovar medidas mais brandas, como a própria autorização, por parte da Alerj, do aval ao Termo que será assinado com a União. Com essas aprovações em mãos, o Rio vai negociar com a Secretaria de Fazenda para validar os benefícios do novo regime, como a suspensão do pagamento da dívida e a possibilidade de empréstimos. O passo animou Pezão.

— Espero quitar (os salários) em 30 a 45 dias — disse Pezão.

Para deputados governistas, o prazo pode ser um pouco mais amplo: de 60 a 90 dias.

Sobre os protestos de servidores, Pezão comentou brevemente a postura dos manifestantes:

— Quem vai ganhar no final será o servidor. Eles terão a Previdência mais sólida. Melhora muito quando aprovarmos todas as medidas — disse.

EXTRA faz cálculo sobre impacto da nova contribuição

Numa simulação básica feita pelo tributarista Bruno Drude, a pedido do EXTRA, tendo como base um salário bruto de R$ 3.500, o novo percentual terá um peso no bolso de R$ 1.200 por ano.

A diferença do desconto, por mês, será inferior a R$ 100. O impacto maior será ao ano, com o acúmulo dos descontos.

Veja o cálculo. Caso tenha curiosidade sobre como ficará o seu desconto, envie os detalhes do seu pagamento para o e-mail nelson.neto@extra.inf.br.

 

 

 

 

 

 

 

 

Defensoria Pública do estado proíbe Governo de suspender passe livre

Liminar obtida neste domingo revoga decisão do Governo de suspender a gratuidade. Medida entraria em vigor nesta segunda

 A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro obteve, no plantão judiciário deste domingo, uma liminar que proíbe o governo estadual de suspender a gratuidade nas passagens de ônibus para estudantes das redes públicas de ensino municipal e federal. Motivada pela crise financeira do Estado, que não quer mais arcar com o custo das passagens, a suspensão, que valeria a partir desta segunda-feira, prejudicaria mais de 26,5 mil alunos que utilizam diariamente os ônibus intermunicipais, barcas, trens e metrô para ir à escola. Os mais pobres cogitavam abandonar os estudos.

A ação, assinada pelas Coordenadorias de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, de Saúde e Tutela Coletiva, e pelos Núcleos de Fazenda Pública e de Defesa do Consumidor da Defensoria, foi contra o Estado, a Federação de Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) e a Riocard.

Liminar obtida por Defensoria Pública do Rio neste domingo, proíbe a suspensão do passe livre escolarLuiz Ackermann / Agência O Dia

O texto destacou que “a Constituição estabelece como um dever do Estado assegurar a todas as crianças e adolescentes diversos direitos, dentre os quais o direito à educação – e que o transporte gratuito aos alunos visa à efetivação desta obrigação”, diz nota da Defensoria.

A juíza Angélica dos Santos Costa considerou que não seria razoável “a abrupta supressão” do passe livre escolar, pago pelo Estado desde 2005. Caso haja o corte, os réus terão de pagar multa diária de R$ 5 mil, como requerido pela Defensoria.

“Note-se que desde 2005 vem o primeiro réu (Estado) arcando com o benefício em questão, não sendo plausível que, subitamente, queira isentar-se de sua responsabilidade sem comunicação prévia aos usuários, aos demais entes federativos, bem como, sem apresentar qualquer plano de transição e/ou cronograma de utilização de gratuidade. Agindo dessa forma, atinge normas garantidoras de direitos fundamentais e fere o princípio da dignidade da pessoa humana”, afirmou a juíza na liminar.

Sem aviso prévio

Na última quinta-feira, o Governo do Estado pediu à RioCard para suspender, a partir de segunda-feira, o Passe Livre dos estudantes das redes municipais e federal que utilizam ônibus intermunicipais, barca, trem e metrô. Motivada pela crise financeira estadual, a medida prejudicararia cerca de 27 mil alunos dos ensinos Fundamental e Médio. O benefício seria suspenso sem aviso prévio de 30 dias.

Em documento enviado à Fetranspor (Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado) em abril, o secretário estadual de Transportes, Rodrigo Vieira, comunicou que a Secretaria de Estado de Educação não atestará ou ressarcirá valores relativos a gratuidades de estudantes que não pertencerem à rede estadual de ensino, a partir do ano letivo de 2017, independente se eles utilizarem transportes intermunicipais em seus trajetos entre casa e escola.

Ciente do comunicado, a Fetranspor requereu então que, antes que a suspensão do benefício fosse divulgada ao público e implementada, a Secretaria de Transportes (Setrans) analisasse o artigo 3º da Lei Estadual 4.510/2005. A lei estabelece que o governo do estado regulamentará a forma de beneficiar os estudantes das redes municipais e federal que utilizarem linhas de ônibus intermunicipais. E lembrou que a gratuidade já vinha sendo oferecida há anos aos referidos estudantes.

Em resposta, a Setrans havia ressaltado que a preocupação da Fetranspor é louvável, mas reiterou a decisão da Secretaria de Educação de suspender os subsídios.

 Fonte: O Dia

 

Os R$ 400 diários que Wellington Fernandes lucrava com a venda de sacolés e salgadinhos a trabalhadores que construíam o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj) pareciam um tesouro trazido pelo megaempreendimento, erguido ao lado da fazenda na qual seu pai trabalhava como caseiro, em Itaboraí. Para o jovem, com 19 anos na época, eram tempos maravilhosos. Ele comprou uma motocicleta, e, sonhando com uma carreira na indústria, juntava dinheiro para pagar um curso técnico. Mas, como num piscar de olhos, foi tudo embora. Os operários — seus fregueses — foram demitidos em massa. As obras pararam, deram lugar à ferrugem e viraram o futuro do pretérito de uma região inteira. Hoje, aos 22 anos, Wellington não vende nada a ninguém, está desempregado e teve a moto roubada. Engolido pelas causas e consequências da crise que assola o estado, tornou-se um dos órfãos de um ex-eldorado fluminense. Segue sua vida sem perspectivas em um dos municípios do Rio que, antes banhados por prosperidade e promessas, hoje afundam em decadência.

Cidades visitadas

SÃO JOÃO

DA BARRA

PORTO

REAL

CAMPOS DOS

GOYTACAZES

RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro

MACAÉ

ITABORAÍ

1

GRANDES PRÉDIOS VAZIOS EM ITABORAÍ

Alexandra Felício e a neta na casa sem água e esgoto: obras de saneamento pararam a menos de cem metros da residência – Pablo Jacob / Agência O Globo

Além da capital, também tomada pela crise, a Região Metropolitana e o interior do Rio viram acabar os empregos, a segurança e os investimentos em infraestrutura, educação e saúde. A desejada qualidade de vida voltou a ser quimera distante. Segundo o Boletim de Mercado de Trabalho da Firjan, só no primeiro trimestre deste ano, foram fechadas 52,2 mil vagas em todo o estado (17,9 mil em março), o pior resultado do país. Em cada dez postos extintos no Brasil no período, oito estavam em municípios fluminenses. Nesse cenário, prefeituras decretaram calamidade financeira, e, para cidades que flutuavam em rios de recursos, o naufrágio vem sendo mais trágico.

Na Itaboraí do Comperj, atingida em cheio pelos escândalos da Petrobras e pelas denúncias da Lava-Jato, o economista Mauro Osorio, da UFRJ, calcula que os dentes da crise deixaram uma conta de 18.553 empregos a menos (36,9%), entre 2013 e 2015. Em termos relativos, foi uma perda menor apenas que a redução de 6.008 vagas em Porto Real (41,2%) — que, impulsionada pela indústria automotiva, colecionava títulos de cidade com melhores níveis de renda e índices de desenvolvimento humano.

Diante disso, como era de se esperar, Porto Real, município da Região do Médio Paraíba cujo slogan da prefeitura é “a todos de luz irradia”, já não brilha tanto. O setor automotivo chegou a empregar 6 mil trabalhadores na cidade em 2012. Hoje, afirma William Figueiredo, coordenador de Estudos Econômicos de Rio de Janeiro da Firjan, são cerca de 40% de vagas a menos ou 3.500. No conjunto de suas atividades, o município tinha 14 mil empregos. Hoje, diz o pesquisador, são 8.200:

— As demissões fazem as pessoas consumirem menos. Com um grande volume de renda retirado das ruas, todas as áreas são afetadas: comércio, serviços e até a administração pública, com queda na receita. Acontece um efeito dominó.

É um apagão econômico que, no caso de Itaboraí, já virou escuridão permanente. O município começou 2017 com R$ 400 milhões em dívidas para um orçamento anual de aproximadamente R$ 350 milhões. Obras como a de melhorias na Avenida Vinte e Dois de Maio, a principal da cidade, viraram poeira. Prédios fantasmas se multiplicam. Edifícios comerciais modernos, que ficaram prontos na expectativa do Comperj, estão desertos. Em um dos maiores deles, pouco mais de dez das 220 salas estão ocupadas. Um outro, com heliponto e elevador panorâmico, só tem atividades em 38 de suas 168 unidades. Placas nas fachadas dos empreendimentos mostram que é uma cidade à venda ou para alugar. Até um hotel de uma grande rede internacional fechou as portas. E o rolo compressor da derrocada vai fazendo mais vítimas.

OS EX-ELDORADOS FLUMINENSES

  • Além da capital, também tomada pela crise, a Região Metropolitana e o interior do Rio viram acabar os empregos, a segurança e os investimentos em infraestrutura, educação e saúde. Na foto Joel Ferreira, que depois de perder o seu emprego teve que virar vendedor ambulanteFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • Segundo o Boletim de Mercado de Trabalho da Firjan, só no primeiro trimestre deste ano foram fechadas 52,2 mil vagas em todo o estado (17,9 mil em março), o pior resultado do paísFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • Em cada dez postos de trabalho extintos no Brasil no período, oito estavam em municípios fluminensesFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • Nesse cenário, prefeituras decretaram calamidade financeira, e, para cidades que flutuavam em rios de recursos, o naufrágio vem sendo mais trágicoFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • Na Itaboraí do Comperj, atingida em cheio pelos escândalos da Petrobras e pelas denúncias da Lava-Jato, calcula-se que os dentes da crise deixaram uma conta de 36,9% (ou 18.553) empregos a menos entre 2013 e 2015Foto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • Em Porto Real, município da Região do Médio Paraíba cujo slogan da prefeitura é “a todos de luz irradia”, já não brilha tanto. O setor automotivo teve uma diminuição de 40% das vagasFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • Na foto, a cidade de São João da Barra, na região do Porto do Açu, que teve terras agrícolas desapropriadas e os seus propietários ainda não receberam por elasFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • Macaé, conhecida como a capital nacional do petróleo, também não pulsa mais como antesFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • A crise tem acentuado problemas que chegaram junto com o crescimento. A favelização não dá trégua. Perto do aeroporto da cidade, barracos de madeira recém-construídos vão dando lugar a outros de alvenariaFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • Campos dos Goytacazes, há anos o município é o que mais recebe royalties do petróleo no país, sofre com a violência e já entrou no ranking das 50 cidades mais violentas do mundoFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

  • A arrecadação de royalties despencou de R$ 631,8 milhões em 2012 para R$ 299,8 milhões em 2016. O município chegou a decretar emergência econômicaFoto: PABLO JACOB / Agência O Globo

— A maioria das dezenas de cursos que abriram com o objetivo de preparar mão de obra para o complexo petroquímico abandonou os alunos. Quem pôde foi embora de Itaboraí — diz Vicente de Paula, encarregado de uma dessas unidades profissionalizantes. — O nosso só sobrevive porque oferece aulas a distância, para outros estados.

Ao lado do estabelecimento, uma pichação diz muito sobre a situação de quem ficou. “Falta emprego! Cidade no desespero” está escrito na parede da antiga sede do Sistema Nacional de Emprego (Sine) do município. Recentemente, o órgão se mudou: agora está num prédio maior, para onde centenas de pessoas peregrinam diariamente.

Ao 62 anos, Joel Faial desistiu de procurar trabalho. Virou ambulante e montou sua banca em frente às obras paradas do camelódromo da cidade. Já Alexandra Graciano Felício, de 45 anos, segue tentando. Sem dinheiro para o ônibus, ela anda mais de 40 minutos a pé para enfrentar a fila do Sine. Na casa dela, o filho, de 24 anos, e a nora, de 23, também estão desempregados. A única renda fixa para sustentar os três e uma neta de 3 anos são R$ 84 do Bolsa Família. E tudo se torna mais dramático com um problema que o município não conseguiu resolver na época das vacas gordas: no bairro em que ela mora, o Caluje, não há água encanada nem esgoto.

— As tubulações chegaram a menos de cem metros da minha casa. Já procurei Cedae, prefeitura… Ninguém resolveu. Minha mãe morreu sem água. Será que vou deixar de herança para minha neta a mesma situação? — lamenta Alexandra.

Em Itaboraí, perspectivas de retomada das obras do Comperj em 2018 até reacendem esperanças. Mas, por enquanto, tudo não passa de miragem.

2

CAMPOS, ONDE MATAR É COMUM

Barricada do tráfico em rua de Guarus: facções criminosas controlam bairros da região – Pablo Jacob / Agência O Globo

 

O pai foi morto na porta de casa. A mãe, baleada enquanto se escondia debaixo da cama. O filho, assassinado a golpes de marreta. Dias antes, um adolescente havia sido executado com um tiro na cabeça. Dias depois, a vítima seria um jovem, encurralado na rua, atingido à queima-roupa. Além da crueldade, todos esses homicídios têm em comum um fato: ocorreram mês passado no subdistrito de Guarus, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. O município é o que mais recebe royalties do petróleo no país. Mas, agravada pela crise, a rotina de crimes o põe, pelo segundo ano consecutivo, numa incômoda posição de um outro ranking: o das 50 cidades mais violentas do mundo.

De acordo com um levantamento da ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal — que reúne taxas de homicídios por cem mil pessoas em cidades com mais de 300 mil moradores —, Campos foi a 19ª mais violenta do mundo, a sexta do Brasil e a primeira do Estado do Rio em 2016. Houve 275 homicídios no município, que, no ano passado, tinha 487.186 habitantes. Ou seja, foram 56,45 assassinatos por cem mil moradores, taxa ainda maior que a de 2015 (de 36,16, com 175 casos), que já tinha feito a cidade estrear na lista das mais perigosas, na 39ª posição.

Em Campos, a arrecadação de royalties despencou de R$ 631,8 milhões, em 2012, para R$ 299,8 milhões, em 2016. O município chegou a decretar emergência econômica. Só no ano passado, a cidade perdeu 6.520 empregos. A Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) não escapou dos atrasos nos pagamentos do Palácio Guanabara. Nem as polícias Civil e Militar se livraram.

GUERRAS EM PLENO ASFALTO

Em março, quando chegou ao fim um contrato com a empresa que fazia a manutenção dos veículos do 8º BPM (Campos), patrulhas precisaram de uma doação da associação comercial da cidade para trocar os pneus carecas. No último dia 26, na porta de uma das duas delegacias de Campos, a 146ª DP, justamente em Guarus, havia quatro viaturas. Três delas estavam sem rodas. Perto dali, um morador avisava:

— Aqui tem morte quase todo dia. Não aconselho circular pelo interior dos bairros que beiram a BR-101, não. Nem de dia. O tráfico fica na pista mesmo, não dentro de favela.

É fácil compreender o medo. Pelos bairros da região, pichações a cada esquina demarcam os territórios de grupos rivais. Numa rua aparentemente pacata, há uma barricada do tráfico. Os números do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio tampouco deixam dúvidas. De acordo com as estatísticas, foram 272 homicídios dolosos no município ano passado, 152 registrados na 146ª DP (Guarus) e 120 na 134ª DP (Campos).

Segundo o delegado Luís Maurício Armond Campos, titular da 146ª DP, em Guarus, duas facções estão em guerra. As execuções e acertos de contas entre elas representam quase a totalidade dos homicídios, afirma o policial. Ele conta que, nas últimas décadas, com a construção de vários conjuntos habitacionais, as disputas eram para dominá-los. Hoje, a briga é pelo comando dos bairros. E, ironicamente, um dos mais perigosos se chama Parque Eldorado.

— Outro fator, com certeza, é a crise. A polícia sofreu com isso, perdeu condições de reprimir o crime. Se me dão mais recursos, eu dou mais resultados. Mas a polícia não vai resolver todos os problemas. Aqui é carente de tudo. A população tem pouco acesso a escolas, esporte, lazer, hospitais… Sem falar que a atual situação econômica atingiu também os empregos da população — diz ele, criticando a divisão socioeconômica existente na cidade. — Campos cresceu sob uma cultura escravagista. Essa mentalidade persiste até hoje. Existe um preconceito muito grande com Guarus. Aqui é tratado como se fosse a senzala, a periferia, dos mais pobres. Isso precisa mudar.

3

PORTO DO AÇU SAIU DO PAPEL. SÓ ELE

Produtores rurais em São João da Barra: grupos tomaram áreas desapropriadas – Pablo Jacob / Agência O Globo

A poucos metros da obra de uma ponte sobre o Rio Paraíba do Sul parada há meses, a propaganda no outdoor soa auspiciosa: “Atenção, trecho com alto índice de oportunidades”. É uma espécie de boas-vindas a São João da Barra, no Norte Fluminense, terra do Superporto do Açu e de um megadistrito industrial com mais de 70 quilômetros quadrados. Tudo superlativo, como também eram as previsões de que os empreendimentos provocariam uma revolução na região. Oito anos depois do decreto que daria, de fato, o pontapé ao projeto, colossal é o vazio criado pela desapropriação de terras agrícolas para instalação do hipernegócio, iniciado pelas mãos do empresário Eike Batista.

O porto funciona desde 2014, com terminais de petróleo e combustíveis marítimos em operação, que receberam 966 embarcações comerciais no ano passado. No entanto, não decolou como o esperado. O outdoor na estrada já está desbotado. Já os campos que seriam transformados em distrito industrial continuam ermos. Há mais casas de agricultores demolidas do que empresas instaladas, o que levou um grupo de produtores rurais a reocupar as terras, no último dia 19. O acampamento foi montado a poucos quilômetros da entrada do porto, onde antes ficavam as propriedades da família de Vitor Almeida.

— Os restos da minha casa ainda estão aqui, no meio do mato. Há sete anos que essas terras estão abandonadas — afirma Vitor.

FAVELIZAÇÃO EM MACAÉ

Presidente da Associação de Pequenos Produtores e Agricultores (Asprim), Rodrigo Santos estima que somente 10% das terras desapropriadas pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio (Codin) estão em uso pelo empreendimento. Segundo ele, são mais de 400 propriedades vazias. E muitos agricultores, diz Rodrigo, não conseguiram receber as indenizações pelas terras.

Mas não é só ali que as negociações relativas ao Açu causam apreensão. Macaé, conhecida como a capital nacional do petróleo, também não pulsa mais como antes. A crise tem acentuado problemas que chegaram com o crescimento. A favelização não dá trégua. Perto do aeroporto da cidade, barracos de madeira vão dando lugar a outros, de alvenaria. No Centro, na orla próxima à prefeitura, a sequência de lojas fechadas dá uma dimensão do problema. Para piorar, o assunto na cidade é a perspectiva de transferência de grande parte de sua atividade portuária para uma base de apoio offshore em São João da Barra.

— Seria o golpe de misericórdia — diz o técnico de planejamento Robson Pinto, demitido da indústria do petróleo que, agora, trabalha como taxista.

Assim como ele, são muitos os que perderam empregos e tentam sobreviver com negócios próprios na cidade. Profissionais como o técnico de segurança José Neto. Em junho do ano passado, ele foi demitido de uma empresa offshore. Por meses, ouviu que era qualificado demais para as vagas que apareciam. Resolveu, então, usar o dinheiro de sua indenização para abrir um café numa galeria do Centro, inaugurada mês passado.

— A maioria das lojas da galeria está fechada. Sei que estou nadando contra a corrente. Mas ainda confio no trabalho — afirma José.

Fonte: O Globo

Coluna do Servidor: Incerteza atormenta a vida de 208 mil

Sem perspectivas de receber março e abril, funcionalismo sofre com a crise financeira que assola o estado

 Enquanto a crise do Estado do Rio se agrava a cada dia e a União assiste a tudo inerte, os servidores acumulam dívidas e amargam a incerteza do futuro. O funcionalismo estadual tem enfrentado atrasos salariais desde o fim de 2015 e, este ano, a espera pelo pagamento tem sido ainda mais longa.
O auxiliar de enfermagem José Brizo vive hoje da ajuda de duas sobrinhas que dão cestas básicas para eleRoberta Roly / Divulgação

Hoje, 208 mil ativos e inativos do Executivo, além de pensionistas de todos os Poderes, aguardam os rendimentos de março que deveriam ter sido pagos em 17 de abril, e que seguem sem previsão de data, e nem mesmo se vão ser parcelados. O salário de abril, então, é mais duvidoso. Para quitar os débitos com esse grupo, são necessários R$581 milhões líquidos.

Esse cenário mostra que no fundo do poço o estado já chegou. E que, assim como a população — que sofre com as falhas do serviço público e a violência —, o funcionalismo também é a verdadeira vítima do colapso das contas públicas. Há quem já seja idoso e tenha desistido de se aposentar, levando à prática o ditado ‘Não há nada tão ruim que não possa piorar’.

É o caso de José Brizo, de 66 anos, auxiliar de enfermagem que trabalha há 38 anos no Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio (Iaserj). “Minha remuneração é muito baixa, e se eu me aposentar perderei as poucas gratificações que melhoram o salário”, conta José, que fazia ‘bicos’ para complementar renda.

Agora, por conta de problemas de saúde teve que abdicar dos trabalhos. “Vivo de cesta básica que duas sobrinhas me dão, sem dinheiro, sem 13º, e sem previsão de nada. Devo ao banco e só consigo ir ao trabalho porque tenho gratuidade de passagem”, lamenta.

Ele critica os arrestos nas contas do Rio para pagar outros Poderes e órgãos: “A Defensoria deveria propor ação para que a gente recebesse igual. Não é justo deixar quem ganha menos para o final. Deveriam dividir tudo para todos e ninguém seria mais afetado que o outro”.

Professora aposentada, Dulcimar aumentou a carga horária na escola particular para sustentar os filhosNívea Leite / Divulgação

A professora de Português Dulcimar Domingues, 54, trabalhou por 32 anos na rede estadual, por onde se aposentou. Divorciada e com nove filhos — três biológicos e seis adotivos —, e a maioria menor de 21 anos, aumentou sua carga horária em escola particular para sustentar a família.

“Mais de 30 anos no estado e, hoje, tenho que voltar a trabalhar muito para garantir a minha sobrevivência e de meus filhos. Não imaginava isso”, disse. “Nossa categoria nunca foi bem paga, mas a garantia era o pagamento. Agora nem isso”, acrescentou.

Governo federal desrespeitou Rio e STF, dizem fontes

A Secretaria de Fazenda informou que está elaborando o calendário de março. Enquanto isso, a data do crédito do salário abril se aproxima (dia 15) e os cofres continuam às mínguas.

Para piorar, a União publicou decreto alterando a fórmula de cálculo dos royalties, de forma contrária ao que o estado vem pleiteando no STF. “A ação da União foi um desrespeito ao STF que havia proposto decisões de conciliação entre as partes e não um ato unilateral do governo federal”, disse um integrante do Executivo do Rio. Outros membros do estado fazem a mesma crítica.

O deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ) quer suspender a medida e apresentou ontem Projeto de Decreto Legislativo para isso. “Vou propor que a bancada do Rio reivindique audiência com o presidente Temer para que seja corrigida essa injustiça com o Rio”, afirmou.

Fonte: O Dia

Caminhoneiros cobram até 50% mais caro para trazer cargas de fora para o Rio

Caminhão foi atingido por 40 tiros de fuzil
Caminhão foi atingido por 40 tiros de fuzil Foto: Reprodução

Estacionado diante do depósito de uma grande rede de supermercados do Rio, em Realengo, João (nome fictício) aguarda o caminhão ser descarregado — nele, estão R$ 32 mil em pacotes de macarrão. De repente, dois homens armados rendem o motorista e o obrigam a seguir para o Chapadão, um trajeto que, no trânsito congestionado de início da noite, pode levar mais de meia hora. No caminho, ao passar próximo a uma comunidade dominada por uma facção rival à dos assaltantes, o veículo é “alvo de centenas de disparos de arma de fogo”, como consta no registro de ocorrência feito na 39ª DP (Pavuna). Mais de 40 tiros de fuzil atingem o caminhão, que consegue seguir adiante mesmo com os pneus furados.

— Achei que fosse morrer. Transporto cargas há nove anos e nunca tinha me acontecido nada parecido. Já avisei que não volto ao Rio tão cedo — desabafa João, morador do interior de São

Ficar sob a mira de uma arma em solo fluminense tornou-se tão comum que caminhoneiros de outros estados passaram a cobrar mais para vir ao Rio. Segundo a Federação dos Motoristas de Transportes Autônomos de Carga do Estado de São Paulo, o valor pago por serviços semelhantes chega a ficar 50% mais caro.

— Além disso, no caso do Rio os caminhoneiros exigem o pagamento de 70% do valor do frete já na saída da mercadoria, e o restante no ato da entrega. A praxe é que isso seja feito meio a meio — acrescenta Haroldo Araújo Christensen, diretor da entidade

A explosão nos roubos levou a outras mudanças na logística de transporte. Como em alguns casos os assaltantes levavam até mesmo o dinheiro recebido a cada entrega, já há quem trabalhe exclusivamente com boletos bancários.

— Tenho um botão aqui na minha sala e posso travar o caminhão a qualquer momento, mas é a vida do motorista que está em jogo — revela um empresário, pedindo para não ser identificado.

Caminhão foi fuzilado por bandidos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caminhão foi fuzilado por bandidos Foto: Reprodução
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 90 minutos, macarrão já era revendido

João foi rendido em 6 de abril, por volta das 18h. Após descarregarem a carga, dentro do Chapadão, em Costa Barros, os bandidos liberaram o motorista. Uma hora e meia depois, enquanto ele ainda registrava ocorrência na delegacia, pacotes do macarrão já eram vendidos no ramal Belford Roxo da SuperVia — como o EXTRA revelou no primeiro dia da série, a linha virou um feirão de produtos roubados.

Às 19h35, logo após embarcar na estação Agostinho Porto, um camelô do crime oferecia três embalagens de 500 gramas por R$ 5. O desconto em relação ao preço habitual (cerca de R$ 2,75 à unidade) era de 40%. Nos dias seguintes, no mesmo ramal, itens da carga tomada de João seguiam sendo redistribuídos nos vagões.

Uma hora e meia depois do roubo, carga já era vendida no trem

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma hora e meia depois do roubo, carga já era vendida no trem Foto: Luã Marinatto
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Remédios, insônia e terapia

A insegurança ao transportar cargas pelas ruas do Rio transformou-se em risco de vida quando o motorista Jair (nome fictício), de 43 anos, foi perseguido por bandidos, de madrugada, ao passar pela Avenida Brasil. Naquela ocasião, no início do ano passado, o frete dos eletroeletrônicos estava sendo feito sem escolta, ao contrário do que ocorre normalmente.

Primeiro, homens numa moto o abordaram na altura da Penha, e ordenaram que ele os seguisse. Quando os assaltantes emparelharam, Jair contrariou os protocolos de segurança e disse que a carga era de verduras. Não adiantou. Já próximo ao Complexo do Alemão, com medo da reação dos criminosos ao descobrirem a mentira, o motorista tentou fugir do bando, que abriu fogo de imediato. Durante a perseguição, ao avistar uma viatura da PM, o caminhoneiro enfim pôde pedir socorro. Os ladrões seguiram adiante, mas não sem antes lhe apontarem as armas e vociferarem ameaças.

Desde então, Jair usa medicamentos controlados, tem ataques de pânico, sofre de insônia e faz acompanhamento psicológico. O trauma, contudo, parece longe de ser superado.

— Pedi demissão, mas o que sei fazer é dirigir caminhão. Não levo mais eletrônico, agora só alimentos, mas está ficando tão perigoso quanto — lamenta.

Caminhoneiros sofrem ameaças constantes nas estradas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caminhoneiros sofrem ameaças constantes nas estradas Foto: Reprodução
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

‘Sofri 18 assaltos em dois anos’

Depoimento do caminhoneiro José (nome fictício), de 49 anos

“Trabalho com isso há 16 anos e sofri 18 assaltos só nos últimos dois. Sinto medo quando pedem para trocar de roupa comigo e com o ajudante, como se eles fossem os trabalhadores e nós os bandidos. Se houver uma abordagem policial, serem

Fonte: Jornal Extra

De cada 100 brasileiros que perderam o emprego este ano, 81 são do Rio

 

O Rio no fundo do poço

Acredite. De cada 100 brasileiros que perderam o emprego de carteira assinada no primeiro trimestre deste ano, 81 são do Estado do Rio. A conta é do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho.

Vai piorar…

O economista Mauro Osório lembra que a crise se aprofunda: “Este mês, pela primeira vez, desde o início da crise, o salário de policiais também ficará atrasado”. Segundo ele, “sem a efetiva participação da União, a situação continuará a se agravar e a sair progressivamente de controle”.

Aliás…

O governo Temer, ainda bem, prometeu rever este número, ontem. Mas a ideia de mandar só 100 soldados da Força Nacional ao Rio, para ajudar na segurança de quase 17 milhões de pessoas, só podia ser uma piada — de mau gosto.

 Fonte: O Globo

Deputados erguem réplicas da carteira de trabalho na Câmara

Salário de março só depois de 11 de maio

Estado do Rio ainda está repassando duodécimo aos Poderes e órgãos e só terminará este prazo

Os servidores estaduais do Executivo só devem receber o salário de março a partir de 11 de maio. Isso porque a Secretaria de Fazenda terminará de quitar os duodécimos aos Poderes e órgãos nessa data. E a prioridade do estado, agora, é o repasse dos recursos orçamentários do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ, Ministério Público, Defensoria Pública e Alerj).

Os vencimentos de março do funcionalismo estadual do Executivo deveriam ter sido quitados em 17 de abril, que foi o 10º dia útil do mês, mas nesta data receberam apenas os ativos da Educação (com verbas do Fundeb) e todo o pessoal (ativos, inativos e pensionistas) da Segurança. Depois, tiveram os salário de março pagos os procuradores ativos e inativos da Procuradoria Geral do Estado (PGE), com recursos do fundo do órgão, e ativos da Fazenda.

Servidores do Executivo do Rio vivem angústia de imprevisibilidade do pagamento de salário desde 2016Onofre Veras / Agência O Dia
Já os duodécimos — recursos de Poderes e órgãos previstos no orçamento do estado — têm que ser repassados até o dia 20, de acordo com a Constituição. Mas desde fevereiro há atrasado e parcelado do crédito. No caso de descumprimento de data de repasse ao Judiciário do Rio, o estado corre risco de ter valores confiscados de suas contas.

O TJ-RJ conseguiu, em dezembro, decisão no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o governo cumpra a Constituição e faça a transferência dos recursos no dia 20. O ministro Dias Toffoli, do STF, deu a decisão após audiência de conciliação entre Executivo do Rio e TJ-RJ. O magistrado também impediu o Tribunal do Rio de conceder arrestos das contas estaduais a pedido de entidades que representem servidores de qualquer Poder.

Toffoli, no entanto, pode decidir sobre pedido de arresto feito pelo TJ-RJ em caso de descumprimento de sua ordem para o repasse no dia 20.

Por isso, o TJ-RJ entrou com pedido de confisco das contas, na última quinta-feira. Até o fechamento desta edição, não houve decisão. Procurados, o MPRJ e Defensoria não informaram se vão manter a data do crédito de abril na sexta-feira. A Alerj também não informou se pagará seus servidores no 10º dia útil de maio, que é seu prazo de crédito.

Previ-Rio pode quebrar até o fim de 2018

O presidente do Previ-Rio, Alfredo Salomão, vem afirmando ser “caótica” a situação do fundo e, por isso, defende colocar em prática normas constitucionais que o Município do Rio não implementou. Entre as ações, está a de taxar inativos que ganham acima do teto do INSS, R$ 5.531,31.

Ontem, Salomão disse em entrevista ao RJTV que, até o fim do ano de 2018, o Previ-Rio “estará quebrado contabilmente”. O presidente do instituto diz que esse é destino do fundo caso ações não sejam tomadas ainda este ano.

Cobrança de inativos e fim da integralidade

Salomão defende cobrar 11% de contribuição previdenciária de aposentados e pensionistas que ganham acima do teto do INSS e dar fim à integralidade de aposentadorias. O déficit do fundo previsto para este ano é de R$ 2,6 bilhões.

A taxação de inativos foi recomendada pelo TCM. Mas a medida é polêmica: o Rio é o único município que não faz a cobrança por decisão do ex-prefeito César Maia (mantida por Eduardo Paes), e servidores apontam isso como uma conquista.

Debate na Câmara discute Previdência

Audiência pública ontem na Câmara dos Vereadores debateu o futuro da previdência do município. Paulo Pinheiro (Psol) presidiu o debate e criticou a ausência do presidente do Previ-Rio: “Mais uma vez ele não veio. Não sei por que não vem discutir com os servidores”. Pinheiro disse que a situação é alarmante: “O fundo não quebrou sozinho. A situação seria outra se os royalties fossem transferidos e se não houvesse calote do Tesouro lá atras”, afirmou ele, que promoverá novo debate sobre o tema.

Fonte: O Dia

Nove verdades e uma mentira”. Provavelmente, você já se deparou com essa frase nas suas redes sociais. Trata-se de um desafio que consiste em enumerar nove situações verdadeiras, mas aparentemente improváveis, e uma que jamais aconteceu com a pessoa que participa da brincadeira na internet. E no Rio de Janeiro não falta situação, que de tão surreal, é difícil de convencer a população, principalmente em relação à questão financeira do estado nos últimos anos. Com isso, resolvemos quebrar a corrente e fazer diferente. Listamos as nove verdades sobre a crise no Rio que parecem mentira. Confira:

1 – Pernil congelado do Natal foi almoço de domingo de Páscoa

A servidora estadual Ana Pereira, de 54 anos, guardou metade do pernil do Natal para garantir a ceia da Páscoa. Parece surreal, mas foi verdade. E a Semana Santa sem fartura na mesa da técnica de enfermagem foi um retrato da míngua no feriado de milhares de funcionários públicos do Rio.

Ana guardou metade do pernil do fim do ano para celebrar a Semana Santa – Antonio Scorza / Agência O Globo

2 – Na Uerj, elevador só sobe no grito

“Ooooonze!” O grito vem em coro, logo após batidas na porta de ferro. Na Uerj, é preciso realmente “chamar o elevador”, aos berros. O problema é que não há botão para fazer com que os elevadores sigam até o andar onde o passageiro espera — um detalhe, entre as tantas precariedades que atualmente impedem, na avaliação dos professores da instituição, o retorno às aulas em 2017, auge da mais grave crise da história da universidade.

Na Uerj, as pessoas precisam chamar os elevadores no grito porque os botões não funcionam – Bruno Alfano / Agência O Globo

3 – Servidora percorre 120 km de estrada para ganhar cesta básica

Às vésperas do Natal passado, a servidora Arlete Maria da Rosa teve que acordar cedo e percorrer, de carona, 120 km – de Cabo Frio (Região do Lagos) até o Centro do Rio – para pegar um saco com arroz, feijão, biscoito, macarrão, óleo, farinha, açúcar, café e leite. Seria sua ceia de Natal. A cesta básica foi distribuídas pelo Movimento Unificado dos Servidores Públicos (Muspe), que fazia uma campanha de arrecadação de alimentos e produtos de higiene para ajudar o funcionalismo do estado.

Arlete lamentou situação dos atrasos nos pagamentos dos salários: “De coração, nunca pensei que fosse passar por isso”. – Márca Foletto / Agência O Globo

4 – Uezo ainda ‘sem teto’

Na última agenda pública do ex-governador Sérgio Cabral no cargo, em abril de 2014, ele não compareceu à inauguração das obras que dariam uma “casa própria” ao Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), às margens da Avenida Brasil. A obra, porém, nunca saiu do papel, e a instituição funciona até hoje dentro de um colégio de ensino médio em Campo Grande. As dívidas do estado com a universidade giram em torno de R$ 2,5 milhões, incluindo salários.

A fachada do Cerdej de Campo Grande, onde foi instalada a Uezo – Reprodução / Street View

5 – Semestre demora oito meses para começar na Uerj

Devido ao estado de paralisação de professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o segundo semestre de graduação da instituição, referente a 2016, só foi retomando em abril de 2017 – oito meses depois. Foram pelo menos cinco adiamentos, antes de se decidirem pela volta das atividades. No mesmo dia em que as aulas foram retomadas, houve uma assembleia dos docentes para decidir sobre uma greve. E enquanto a universidade parava as suas atividades, muitos outros episódios aconteciam no Rio, no país e no mundo.

Uerj entrou em estado de greve em agosto de 2016 e só retomou as atividades em abril deste ano – Domingos Peixoto – 29/08/2016 / Agência O Globo

6 – Prédios públicos às escuras

Em mais um capítulo da crise financeira do governo estadual do Rio, alguns prédios públicos tiveram a luz cortada por falta de pagamento. No dia 30 de março, técnicos da Light cortaram a energia de parte do Teatro Municipal. Segundo o colunista Lauro Jardim, a conta em atraso era de R$ 719 mil, relativo à contas não pagas entre junho e dezembro. No mesmo dia, a assessoria do espaço informou que pagou a conta e que o local estava funcionando normalmente.

Dois antes, no dia 28 de março, a Light também havia cortado o fornecimento de energia elétrica no prédio, que foi alugado pela Secretaria estadual de Ciência e Tecnologia, na Rua da Glória, Zona Sul do Rio. Em novembro de 2016, o prédio da reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ havia passado pelo mesmo problema.

O Teatro Municipal – Rafael Andrade

7 – Palácio Guanabara ficou sem telefone

Já o Palácio Guanabara, sede do governo estadual, em Laranjeiras, teve os telefones cortados no início de Abril. A Light confirmou que “suspendeu o fornecimento de parte das linhas telefônicas e links de dados do governo do Estado do Rio de Janeiro, incluindo linhas telefônicas do Palácio Guanabara, devido à falta de resultado de negociações a respeito de dívida acumulada com a companhia. Também há dois meses o ar-condicionado só funcionava em um andar do prédio anexo ao palácio.

Na ocasião, a assessoria de imprensa do governo estadual confirmou o corte no serviço de telefonia, mas afirmou que a internet no sede do Poder Executivo estadual estava “funcionando normalmente”.

A fachada do Palacio Guanabara, em Laranjeiras – Ana Branco / Agência O Globo

8 – Polícia para de fazer registro, e criminalidade ‘cai’

A greve da Polícia Civl derrubou a incidência de crimes registrados no estado. No entanto, entre janeiro e fevereiro de 2017, o Rio só teve indicadores criminais europeus no papel, mas não na prática, o que atrapalha a análise da violência no estado. Segundo um levantamento inédito feito pelo jornal Extra, a comparação com o mesmo período do ano passado mostra que os registros de roubo a pedestre caíram 78%; os de roubo de celular, 73%.

Nas delegacias que aderiram à greve, um aviso deixava claro: só são registrados casos de homicídios, sequestros, estupros e roubos de carros. Do início da paralisação, em 17 de janeiro, até o último dia 12, foram registrados 1.470 roubos a pedestres em todo o estado — quantidade quase cinco vezes menor do que a registrada no mesmo período de 2016 e 2015.

Sindicato decidiu paralisação para protestar contra salários atrasados – Fabiano Rocha / Agência O Globo

9 – Pedaços de caixões foram parar nas ruas de Cabo Frio

Em setembro do ano passado, funcionários dos cemitérios Santa Izabel e Jardim dos Eucaliptos, em Cabo Frio, entraram em greve. Isso provocou um caos na cidade da Região dos Lagos. Na ocasião, os 13 coveiros concursados dos dois cemitérios estavam se receber desde janeiro de 2016. Devido à paralisação, enterrar um ente querido virou um problema sério no balneário. Com a demora, a família de pelo menos um dos mortos fechou uma das principais vias da cidade com lixo e pedaços de caixões quebrados, que ficaram amontoados.

Coveiros no Cemitério Santa Izabel: servidores têm feito greve para pressionar a prefeitura a pagar salários – Antônio Scorza / Antonio Scorza

Fonte: O Globo

‘Quinto de ouro’: Prisão de conselheiros do TCE-RJ deixa sem comando tribunal que julgará contas de Pezão

Com a prisão de 5 dos 7 conselheiros, tribunal vive situação inédita e inusitada para seguir os trabalhos de fiscalizar a administração pública

A Operação “O Quinto do Ouro” que levou à prisão os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) criou uma situação inusitada e inédita na história do órgão, composto por sete integrantes. Apenas um deles, a corregedora Marianna Montebello, não foi atingida pela ação. Sendo assim, a sessão prevista para esta quinta-feira não será aberta e, até o momento, não se sabe como serão conduzidos os trabalhos daqui para frente. E justo num momento crucial para as análises de contas do governo, prevista para a semana que vem.

Embora exista o quadro de auditores substitutos para o lugar de uma vacância no quadro de conselheiros, a legislação estadual só permite em caso de vacância no cargo de conselheiro do tribunal a substituição de um único suplente, que é pertence ao quadro de auditores substitutos empossados em abril.

A alternativa seria uma decisão liminar tomada pelo relator do caso no Superior Tribunal Justiça (STJ), ministro Félix Fischer, no sentido de afastar a exigência legal para não parar os trabalhos do órgão que fiscaliza as ações dos órgãos da administração estadual, e das 91 prefeituras e câmaras municipais da unidade federativa.

Para a Associação Nacional dos Auditores dos Tribunais de Contas do Brasil (Audicon), a vaga no TCE deveria ser preenchida por um conselheiro selecionado em concurso e, por isso, a entidade já acionou a Justiça nesse sentido, ainda que não prevessem tamanho desfalque no quadro de conselheiros.

No site do TCE, há três auditores substitutos de conselheiros para o caso de vacância. Porém, como não há previsão de os três assumirem ao mesmo tempo pela legislação estadual, uma vez que os presos hoje ainda não foram oficialmente afastados, o impasse deverá persistir.

COMO FUNCIONAVA UM DOS ESQUEMAS

Aloysio Neves, Marco Antônio Alencar, José Gomes Graciosa, Domingos Brazão, José Maurício Nolasco – Reprodução / Internet
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A operação de hoje tem como principal suporte as delações do ex-presidente do TCE Jonas Lopes de Carvalho Filho e seu filho, o advogado Jonas Lopes de Carvalho Neto, homologadas recentemente por Fischer.

Apontado como o coordenador da caixinha das empreiteiras, Jonas decidiu colaborar com as autoridades após ser levado, sob condução coercitiva, para depor em dezembro do ano passado na Polícia Federal do Rio. A mesma operação, batizada de Descontrole, também conduziu o filho de Jonas e o operador de mercado financeiro Jorge Luiz Mendes Pereira da Silva, o Doda, suspeito de ser o coletor da propina. A delação de Jonas compromete cinco conselheiros: Aloysio Neves (atual presidente); Domingos Brazão, José Gomes Graciosa, Marco Antônio Alencar e José Maurício Nolasco.

A primeira notícia de que o TCE estava envolvido no esquema de pagamento de propina comandado por Cabral foi publicada pelo GLOBO em 22 de junho do ano passado. Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, ex-dirigente da Andrade Gutierrez e colaborador da Justiça, revelou ao Ministério Público Federal (MPF) que, além da propina de 5% do valor dos contratos pagos a Cabral, havia também uma caixinha do TCE, no valor de 1% dos contratos, acertada com o então secretário estadual de Governo, Wilson Carlos.

Clóvis Numa era colaborador da operação Radioatividade, que investigava corrupção nas obras da usina nuclear de Angra 3. No primeiro depoimento, ele citou que a caixinha começou na gestão do então presidente José Maurício Nolasco. Depois, em novo depoimento, disse que não tinha certeza de quem presidia o tribunal quando o esquema teve início.

O esquema de corrupção no TCE começou entre 2009 e 2010, segundo a delação de executivos, quando o governo Cabral transformou o Rio em canteiro de obras com vistas à Copa do Mundo (2014) e aos Jogos Olímpicos do ano passado. Além dos 5% para Cabral e 1% para o TCE, delatores da Andrade Gutierrez e, posteriormente, da Carioca Engenharia mencionaram mais 1% para o então secretário estadual de Obras, Hudson Braga, a título de “taxa de oxigênio”. Desde novembro do ano passado, Cabral, Wilson e Hudson estão presos.

A colaboração de outro executivo da Andrade, Alberto Quintaes, e mais as investigações da Operação Calicute, responsável pela prisão dos três, reforçaram as acusações contra os envolvidos no esquema.

Apontado como o coordenador da caixinha das empreiteiras, Jonas decidiu colaborar com as autoridades após ser levado, sob condução coercitiva, para depor em dezembro do ano passado na Polícia Federal do Rio. A mesma operação, batizada de Descontrole, também conduziu o filho de Jonas e o operador de mercado financeiro Jorge Luiz Mendes Pereira da Silva, o Doda, suspeito de ser o coletor da propina. A delação de Jonas compromete cinco conselheiros: Aloysio Neves (atual presidente); Domingos Brazão, José Gomes Graciosa, Marco Antônio Alencar e José Maurício Nolasco.

A primeira notícia de que o TCE estava envolvido no esquema de pagamento de propina comandado por Cabral foi publicada pelo GLOBO em 22 de junho do ano passado. Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, ex-dirigente da Andrade Gutierrez e colaborador da Justiça, revelou ao Ministério Público Federal (MPF) que, além da propina de 5% do valor dos contratos pagos a Cabral, havia também uma caixinha do TCE, no valor de 1% dos contratos, acertada com o então secretário estadual de Governo, Wilson Carlos.

Clóvis Numa era colaborador da operação Radioatividade, que investigava corrupção nas obras da usina nuclear de Angra 3. No primeiro depoimento, ele citou que a caixinha começou na gestão do então presidente José Maurício Nolasco. Depois, em novo depoimento, disse que não tinha certeza de quem presidia o tribunal quando o esquema teve início.

O esquema de corrupção no TCE começou entre 2009 e 2010, segundo a delação de executivos, quando o governo Cabral transformou o Rio em canteiro de obras com vistas à Copa do Mundo (2014) e aos Jogos Olímpicos do ano passado. Além dos 5% para Cabral e 1% para o TCE, delatores da Andrade Gutierrez e, posteriormente, da Carioca Engenharia mencionaram mais 1% para o então secretário estadual de Obras, Hudson Braga, a título de “taxa de oxigênio”. Desde novembro do ano passado, Cabral, Wilson e Hudson estão presos.

A colaboração de outro executivo da Andrade, Alberto Quintaes, e mais as investigações da Operação Calicute, responsável pela prisão dos três, reforçaram as acusações contra os envolvidos no esquema.

‘TRIBUNAL DA PROPINA’

O ex-presidente do TCE do Rio, Jonas Lopes de Carvalho – Domingos Peixoto / Agência O Globo / 13-12-2016
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Indicado como o homem responsável pelo pagamento da propina da empreiteira, que entregava em espécie na mão de emissários, ele forneceu detalhes sobre a participação do TCE no esquema. Esta delação foi reforçada pelos depoimentos de Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, sócios da Carioca, em delações recentemente homologadas pelo ministro Félix Fischer.

Ricardo Pernambuco Júnior citou nominalmente o presidente do TCE como negociador direto do pagamento da propina. Jonas Lopes teria cobrado cinco parcelas de R$ 200 mil da empreiteira. Reportagem publicada no GLOBO em junho do ano passado mostrou que 21 dos 22 processos relativos à reforma do Maracanã para a Copa estavam parados no gabinete da Presidência do TCE e que somente naquele momento, seis anos depois de alguns deles terem sido instaurados, o TCE se movimentou para desengavetá-los.

As auditorias, por exemplo, pediam o estorno de repasses indevidos ao consórcio da obra, no valor total de R$ 93 milhões. Nolasco era relator de 11 desses 21 processos paralisados — um era sobre o contrato, dois sobre auditoria e oito sobre termos aditivos de contrato. A reforma do Maracanã deveria ter custado ao governo fluminense R$ 705 milhões, mas, depois de 16 termos aditivos, o valor subiu para R$ 1,2 bilhão. Levando-se em conta esses valores, a propina poderia girar entre R$ 7 milhões e R$ 12 milhões.

DESCONTROLADOS

José Gomes Graciosa, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) – O GLOBO/Arquivo
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Antes da ‘caixinha’, eventuais pagamentos de propina no TCE seriam feitos de maneira desorganizada. Cada empresa procurava o conselheiro relator do seu processo e se acertava com ele. O esquema ficava muito exposto, sujeito a repetir o que havia acontecido no caso do Grupo SIM, uma empresa de consultoria investigava pela PF em Minas.

Na busca a apreensão na empresa, os policiais encontraram emails que complicavam três conselheiros. Mas o caso não evoluiu no STJ. Na época, Jonas Lopes e José Gomes Graciosa chegaram a ser acusados de receber dinheiro, entre 2002 e 2003, para aprovar um contrato do Grupo SIM com a prefeitura de Carapebus, no Norte Fluminense, sem licitação. Os conselheiros também teriam facilitado a aprovação das contas da prefeitura. Devido à inconsistência das provas, ambos acabaram absolvidos pelo STJ. Desde o dia 28 de dezembro, Jonas não aparece no TCE. O GLOBO mostrou que ele havia pedido licença de três meses.

As investigações envolvendo o TCE estão sendo conduzidas pelo subprocurador geral da República, José Bonifácio Borges de Andrada, com a colaboração da força-tarefa da Operação Calicute no Rio. O nome de Jonas também apareceria na delação de Leandro Azevedo, ex-diretor da Odebrecht no Rio, de acordo com reportagem do “Jornal Nacional”, da TV Globo, veiculada em dezembro do ano passado. Segundo Leandro, Jonas pediu dinheiro para aprovar contratos do Maracanã e da Linha 4 do Metrô.

O delator disse que, em 2013 Wilson Carlos, então secretário de Governo de Sérgio Cabral, mandou um recado à empreiteira: que o edital de concessão do Maracanã já tinha sido enviado ao TCE e que a empresa deveria procurar o presidente Jonas. Leandro disse que acertou com Jonas o pagamento de R$ 4 milhões em quatro parcelas de R$ 1 milhão, quitadas de seis em seis meses. Ele disse que quando esteve com Jonas Lopes, o presidente do TCE já sabia qual era o valor que tinha sido acertado.

A primeira parcela, segundo o executivo da Odebrecht, foi paga em 10 de fevereiro de 2014. Mas, segundo ele, os outros pagamentos não foram feitos em razão da Operação Lava Jato, deflagrada em março daquele ano. Leandro afirmou que o valor de R$ 1 milhão foi entregue ao filho de Jonas Lopes, Jonas Lopes de Carvalho Neto, no escritório de advocacia dele, no Centro do Rio. Ele diz que em dezembro de 2014 foi chamado ao gabinete do presidente do TCE e que Jonas Lopes cobrou o atraso no pagamento.

CONSELHEIROS NA MIRA DA JUSTIÇA

Aloysio Neves chega na Polícia Federal – Fabiano Rocha / O Globo
 

 

 

 

 

 

 

 

 

ALOYSIO NEVES

Foi eleito presidente do TCE em dezembro de 2016, para ocupar o cargo no biênio 2017/2018. O conselheiro trabalhou como assessor técnico de Sérgio Cabral no início dos anos 90.

Após a eleição do ex-chefe para a presidência da Alerj, ele assumiu a chefia de gabinete do então deputado estadual Sérgio Cabral entre 1995 e 2002. Com a eleição de Jorge Picciani para a presidência da Assembleia, Neves foi reconduzido ao cargo onde ficou até 2010.

Na Alerj, simultaneamente às suas funções, foi gerente e responsável pela propaganda institucional de 2001 a 2010, tendo coordenado a área cultural e colaborado na administração da casa.

Em 2010, Picciani mobilizou a base do PMDB na Alerj e conseguiu eleger por 54 votos o ex-funcionário para o cargo de conselheiro do TCE. Aloysio Neves foi vice-presidente do TCE no biênio 2015/2016, na gestão de Jonas Lopes.

Aloysio é advogado e funcionário público de carreira. Foi preso em 1983, acusado de tráfico de drogas. Segundo reportagens da época, policiais teriam encontrado 200 gramas de cocaína no apartamento dele. Neves e três amigos foram presos em flagrante. Ele alega ter sido vítima de um flagrante forjado, foi condenado na primeira instância, mas acabou absolvido pela 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.

O conselheiro do TCE Domingos Brazão, no cargo há cerca de três semanas: ‘Que conflito ético existe nisso’ – Antonio Scorza / Agência o Globo (30/04/2015)
 

 

 

 

 

 

 

 

DOMINGOS BRAZÃO

Foi deputado estadual entre 1999 e 2015. Antes, foi vereador da cidade do Rio de Janeiro, entre 1997 e 1999. Sua base eleitoral é a região de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, com destaque para os bairros de Rio das Pedras e Gardênia Azul, tradicionalmente dominados por milicianos. O conselheiro chegou a ser citado no relatório final da CPI das Milícias, realizada pela Alerj, em 2008.

A candidatura de Brazão ao TCE teve como padrinho o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, deputado Jorge Picciani. Ele recebeu apoio de 61 dos 66 deputados na eleição.

Na época, a nomeação de Brazão foi contestada na Justiça pela Associação Nacional dos Auditores dos Tribunais de Contas do Brasil, que considerava que a vaga no TCE deveria ser preenchida por um conselheiro selecionado em concurso.

Em outubro 2011, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio decidiu cassar o mandato do então deputado estadual Domingos Brazão, sob a acusação de ter utilizado um centro de ação social para distribuir serviços e bens, com finalidade eleitoreira. Em julho, o TRE já tinha decidido cassar o mandato do parlamentar por abuso de poder econômico, captação ilícita de voto e conduta vedada a agente público. Brazão recorreu das decisões e permaneceu no cargo até ser nomeado para o TCE.

Em 2006, o Ministério Público estadual abriu uma investigação criminal para apurar se o crescimento patrimonial do deputado estadual Domingos Brazão teria relação com o suposto envolvimento com a chamada máfia dos combustíveis. Brazão também foi alvo de um inquérito na Polícia Federal, por suspeita de crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro. A instauração do inquérito na PF foi feita a pedido de Celso de Albuquerque Silva, procurador-chefe da Procuradoria Regional da República da Segunda Região. A suposta ligação de Brazão com a máfia dos combustíveis consta ainda de um relatório da Procuradoria, que instaurou procedimento de investigação criminal contra Brazão. A investigação criminal começou depois da série de reportagens “Homens de bens da Alerj”, publicada pelo GLOBO a partir do dia 20 de junho de 2004.

 

José Gomes Graciosa, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) – O GLOBO/Arquivo
 

 

 

 

 

 

 

 

JOSÉ GOMES GRACIOSA

Foi presidente do TCE de 2001 a 2006. Graciosa foi eleito para a corte em 1997, no governo Marcello Alencar (PSDB). Na ocasião, a costura política da indicação foi feita pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), que era presidente da Alerj. Na época, Graciosa era o primeiro secretário da Mesa Diretora da assembleia. Foi deputado estadual eleito em 1990 e reeleito em 1994.

Foi denunciado pelo Ministério Público Federal, em 2011, a partir das investigações da operação Pasárgada, da Polícia Federal, por suposto recebimento ilícito de dinheiro em troca de votos para beneficiar uma empresa, entre 2002 e 2003. Graciosa e outros dois conselheiros foram acusados de receber propina de R$ 130 mil para garantir a aprovação de contratos entre o grupo Sim e a Prefeitura de Carapebus, cidade do norte fluminense. O caso chegou ao Superior Tribunal de Justiça em 2013. Durante o julgamento, a vice-procuradora-geral da República, Ella Wiecko, pediu a condenação por corrupção passiva com pena acima do mínimo estabelecido no Código Penal, que é de dois anos, e perda do cargo. Graciosa acabou sendo absolvido pela Corte Especial do STJ.

 

Marco Antonio Alencar, filho do ex-governador Marcello Alencar – Fabio Rossi / Agência O Globo
 

 

 

 

 

 

 

 

MARCO ANTÔNIO ALENCAR

É filho do ex-governador do Rio Marcello Alencar. Foi nomeado conselheiro do TCE, na vaga ocupada por indicação da Alerj, em 1997. Naquele ano houve um debate sobre o conflito ético envolvendo a indicação de Alencar, já que ele teria de julgar as contas do próprio pai, que ainda era o governador do estado.

Foi eleito deputado estadual em 1990 e reeleito em 1994. No TCE, ocupou a vice-presidência entre 2001 e 2006.

Um ex-funcionário do tribunal, indicado por Marco Antonio Alencar, foi apontado como operador do esquema de pagamento de propinas por empreiteiras. Jorge Luiz Mendes Pereira da Silva, o Doda, atuou no mercado financeiro e trabalhou no governo Marcello Alencar. Delações de executivos da Andrade Gutierrez, no âmbito da operação Calicute, apontam que Doda teria a função de fazer a ligação do TCE com empreiteiras, para o pagamento de propina.

Menção. José Maurício Nolasco (foto) foi presidente do TCE-RJ entre 2007 e 2010 – Cléber Júnior/29-05-2008
 

 

 

 

 

 

 

JOSÉ MAURÍCIO NOLASCO

Foi eleito para o TCE em 1998. Ocupou a presidência do tribunal entre 2007 e 2010.

Nolasco foi citado na delação premiada de Clóvis Renato Primo, ex-executivo da construtora Andrade Gutierrez. Ele declarou que o TCE está envolvido no esquema de propinas pagas pelo consórcio que executou a reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, e que, pelo que se recorda, a propina seria destinada ao então presidente do TCE, o conselheiro José Maurício Nolasco.

Dos 22 processos que tratam da reforma do Maracanã, 21 ficaram parados no TCE e José Maurício Nolasco era relator de 11 deles.

Fonte: O Globo

Após ameaça de Pezão, professores da Uerj podem iniciar paralisação

Governador quer cortar 30% do salário de quem não está dando aulas

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão – Pablo Jacob / Agência O Globo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A assembleia desta segunda-feira está marcada para as 14h, no campus do Maracanã. Para quarta-feira está previsto um encontro do Fórum dos Diretores da Uerj, que avaliará a situação da universidade. As duas reuniões acontecem depois de, na semana passada, o governador Luiz Fernando Pezão ter anunciado que pretende cortar 30% dos salários dos professores e funcionários que não estão trabalhando. A greve entrou em pauta após a reitoria sinalizar a possibilidade de retorno às aulas.

A reitoria da Uerj informou, na semana passada, que renegocia os contratos com empresas terceirizadas de limpeza, segurança e manutenção para que elas voltem ao trabalho e as aulas sejam retomadas.

O início do ano letivo na Uerj continua em compasso de espera, sendo adiado desde o dia 16 de janeiro.

Fonte: O Globo

TJ-RJ é informado pelo Estado que não há dinheiro para repasse, e salário pode atrasar

Desembargador Milton Fernandes está insatisfeito com a situação

Desembargador Milton Fernandes está insatisfeito com a situação Foto: Felipe Cardoso / Tribunal de Justiça do Rio
 

 

 

 

 

 

 

Em reunião na manhã desta segunda-feira com magistrados, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), Milton Fernandes de Souza, comunicou a colegas desembargadores que o governo do Rio não irá cumprir o compromisso firmado no Supremo Tribunal Federal (STF) de passar, até o penúltimo dia útil do mês, a parcela mensal do Orçamento devida ao tribunal.

O presidente enviou comunicado interno aos servidores do TJ-RJ nesta segunda-feira. No texto, o desembargador explica que apenas R$ 38 milhões foram repassados à Corte até o momento. A previsão de repasse total está prevista apenas para o dia 10 de abril, enquanto a folha de pagamento precisa ser quitada no dia 31 de março. A transferência mensal ao TJ-RJ gira em torno de R$ 250 milhões.

O Tribunal já recorreu ao STF para fazer valer um acordo firmado com o Estado do Rio, no fim de novembro de 2016, em que o governador Luiz Fernando Pezão garantiu o cumprimento do repasse em tempo do pagamento da folha mensal do Judiciário estadual. No termo firmado, o TJ-RJ aceitou quitar o 13º salário dos seus servidores, além de parte da folha de novembro, com recursos próprios.

Veja o comunicado na íntegra aos servidores:

Prezado(a) Servidor(a),

Venho pela presente informar que diante do repasse de apenas R$ 38.000.000,00, para pagamento da folha de pessoal, foi realizado contato com o Governo do Estado, ocasião em que foi informado que a previsão do repasse integral da folha líquida de pessoal estava estimada para o dia 10/04/2017, o que implica no desrespeito por parte do Poder Executivo do acordo firmado junto ao Supremo Tribunal Federal no Mandado de Segurança nº. 34.483/RJ.

Esta Presidência, não concordando com a posição do Poder Executivo, já está adotando as providências administrativas e judiciais cabíveis para que seja respeitada a autonomia do Poder Judiciário.

Ante o exposto existe incerteza, neste momento, quanto ao efetivo pagamento integral dos vencimentos no dia 31/03/2017. Reitero o compromisso de manter a classe informada acerca do desenrolar dos fatos.

Na oportunidade, colho o ensejo para reiterar votos de estima e consideração.

Rio de Janeiro, 27 de março de 2017

Desembargador Milton Fernandes de Souza

Presidente do Tribunal de Justiça

Fonte: Extra

Visitas a Picciani unem fiscais e empresário envolvido em fraude

Inspetores de ICMS e dono do Grupo Petrópolis se reúnem na firma do presidente da Alerj

Político. Jorge Picciani, que nega ligação com fiscais – Fernando Lemos / Fernando Lemos/15-2-2016

O relógio da recepção marcava 8h01m naquela sexta-feira, 2 de junho de 2014, quando três homens subiram juntos à sala 305 do bloco 4 do condomínio O2 Corporate & Offices, na Barra da Tijuca. Um quarto visitante seguiu dois minutos depois. O destino do grupo era a Agrobilara, empresa de pecuária da família do presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB). A recepção os identificou como Carlos Sérgio Silva Janiques, Cláudio Portugal Gonçalves, Allan Dimitri Chaves Peterlongo (o que subiu depois) e Arnaldo Kardec da Costa. Os três primeiros, fiscais de ICMS no Rio, chefiavam as inspetorias de fiscalização de Supermercados, Bebidas e Substituição Tributária. O quarto, Kardec, é contador e braço direito do empresário Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, cuja trajetória é marcada por suspeitas de envolvimento em casos de fraudes tributárias.

As três inspetorias compõem um grupo de unidades especializadas da Secretaria estadual de Fazenda do Rio, que responde por 80% da arrecadação do ICMS fluminense e só atua com grandes contribuintes.

Embora a Agrobilara seja do ramo de gado de corte, de janeiro de 2014 a julho de 2015 foi frequentada regularmente por fiscais que não a fiscalizam, como registra a lista de visitantes do prédio, obtida pelo GLOBO. Carlos Sérgio, da Inspetoria de Supermercados, foi 15 vezes ao local. Dimitri, que comandou de 2006 a janeiro deste ano a Inspetoria de Substituição Tributária, esteve ali oito vezes. Portugal, inspetor de Bebidas, cinco.

 

Das 15 visitas de Carlos Sérgio, três coincidem com as do contador da cervejaria: nos dias 8 de dezembro de 2014, às 8h24m, e 6 de fevereiro de 2015, às 10h21m. Em 5 de janeiro de 2015, o fiscal entrou às 8h08m, e Kardec chegou sete minutos depois.

Empresas devem R$1 bilhão

Picciani e Walter Faria, para quem Kardec trabalha, são amigos e parceiros de negócios. As fazendas do deputado, a maioria em Minas Gerais, não são fiscalizadas pelas três inspetorias, ao contrário da fabricante da cerveja Itaipava, cuja dívida no Estado do Rio, contraída somente pelas distribuidoras do grupo, superava R$ 1 bilhão no ano passado.

De 2 de janeiro de 2014 a 7 de julho de 2015, foram registradas 7.854 visitas ao local. Ao subir à Agrobilara com o contador da cervejeira, os três inspetores ignoraram, no mínimo, a posição da Corregedoria da Receita Estadual, contrária a encontros de auditores com fiscalizados fora de repartição fiscal. Pelo menos um deles, Carlos Sérgio Janiques, foi além: comprou, em dezembro de 2014, um imóvel de Antônio Carlos Pestana, também visitante da Agrobilara e dono de uma rede de supermercados. A transação ocorreu no mesmo mês em que a empresa de Pestana foi incluída na lista de firmas fiscalizadas pela Inspetoria de Supermercados, chefiada por Carlos Sérgio.

Levantamento feito pelo GLOBO nos cartórios do Rio revela que Carlos Sérgio e Portugal negociaram, usando seus nomes, 59 imóveis no Rio. Na lista de bens, há apartamentos à beira-mar, casas em condomínios e salas comerciais na Barra e no Centro do Rio. O salário líquido de um fiscal no topo da carreira vai de R$ 17 mil a R$ 20 mil, por causa do teto legal.

Carlos Sérgio fez 25 transações imobiliárias desde que se tornou fiscal da Fazenda, em 1996. Do total negociado, 11 propriedades continuam em suas mãos. Ele é dono, por exemplo, de dois apartamentos no condomínio Península, na Barra. Aquele em que o fiscal reside, no prédio Saint Barth, custou R$ 2,3 milhões, de acordo com a escritura. O outro fica no edifício Aquarela, onde o preço de cada unidade varia entre R$ 1,5 milhão e R$ 2,5 milhões.

Na lista de bens de Carlos Sérgio, aparece ainda um imóvel no condomínio de alto padrão Fazenda Passaredo, na Taquara (Jacarepaguá). Lá, o preço das casas chega a R$ 4 milhões, segundo corretores. Carlos Sérgio consta como dono de outros seis bens em endereços no Recreio e em Jacarepaguá.

A Janiques Assessoria e Empreendimentos Imobiliários, do mesmo inspetor, é dona de um imóvel na Rua Marcos de Macedo 314, em Guadalupe, comprado de Antônio Carlos Pestana em 16 de dezembro de 2014. Na lista de visitantes da Agrobilara, estão registradas três visitas de Pestana. Ele é um dos sócios de uma rede de supermercados liderada pelo Valqueire Hortifrutigranjeiros, em Vila Valqueire.

Pestana já foi denunciado pela Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal do Ministério Público do Rio por R$ 14 milhões em fraudes tributárias com outra empresa do grupo, a Orti A.C.T.R., ocorridas de 2008 a 2011.

Desde 2 de dezembro de 2014, a rede de Pestana é fiscalizada pela inspetoria de Carlos Sérgio. O processo de transferência do Valqueire Hortifrutigranjeiros da fiscalização regular para a Inspetoria de Supermercados (nº E-04/040/1230/2014) começou por iniciativa da própria especializada, sob a alegação de que a empresa apresentava valores de receitas superiores a R$ 30 milhões.

Já Cláudio Portugal, o inspetor de Bebidas, fez 34 transações imobiliárias. Entre 2010 e 2013, negociou nove apartamentos de classe média em Curicica e uma sala comercial num prédio em Jacarepaguá. No mesmo bairro, o fiscal tem ainda um imóvel no condomínio Fazenda Passaredo e é dono de pelo menos mais três casas.

Portugal chefia Bebidas desde outubro de 2013. Antes, trabalhava na Inspetoria de Substituição Tributária. É o mesmo caso de Carlos Sérgio, nomeado para a Inspetoria de Supermercados na mesma data. Ambos foram comandados por Allan Dimitri, que chefiou a Substituição Tributária até janeiro deste ano, quando se exonerou no mesmo dia em que o site do GLOBO divulgou as visitas que fazia à Agrobilara.

Arnaldo Kardec, o contador da Itaipava que subiu no prédio junto com os três fiscais, esteve outras 18 vezes na empresa dos Picciani. Walter Faria, o proprietário da cervejaria, visitou-a 27 vezes. Em 2008, Kardec, contador de Faria, foi denunciado pelo Ministério Público de Mato Grosso na Operação Vulcano, por corrupção ativa, omissão de informação, declaração falsa às autoridades fazendárias, falsa identidade para realização de operação de câmbio e formação de quadrilha.

Picciani diz desconhecer visitas

O deputado Jorge Picciani disse que desconhece o que os três fiscais e Kardec foram fazer na Agrobilara:

—Se é fato que lá estiveram, o que pode nem ser verdade, eles é que devem responder o porquê. A propósito, lembro que em 2014 eu não tinha mandato.

Ele questionou a lista de visitantes de sua empresa, obtida pelo GLOBO:

— Independentemente da forma como O GLOBO obteve a lista de visitantes registrados na portaria — decerto de modo ilegal, posto tratar-se de local privado —, não se pode atestar a veracidade da mesma. Quem garante que sua fonte não a adulterou por alguma razão desconhecida? Não sou o único dono da Agrobilara.

Picciani lembrou ainda que a empresa, sediada em Uberaba, “capital da pecuária nacional”, tem outros quatro sócios (seus três filhos mais velhos e sua ex-mulher) e também funcionários trabalhando em seu escritório do Rio, cidade onde residem os acionistas.

Portugal disse que não sabe quantas vezes foi à Agrobilara, sempre a pedido do sindicato dos fiscais “para pedir apoio para a aprovação de um projeto de interesse da classe dos auditores”. Ele nega ter encontrado Picciani no local.

Carlos Sérgio também alegou motivação sindical para a visita à Agrobilara. Admitiu ter visto Kardec na empresa, mas disse que não se reuniu com ele, e afirmou ainda que acumulou imóveis com ajuda de financiamentos da Caixa Econômica.

Ricardo Brant, que era presidente do Sindicato dos Fiscais do Rio na época das visitas, disse que não pediu aos fiscais que fossem ao escritório de Picciani. Ele informou que a entidade fez um apelo genérico para que todos os filiados pressionassem os políticos que conhecessem, a fim de aprovar na Alerj projetos de interesse da categoria.

Os demais citados não responderam ao jornal ou não foram localizados.

Medidas internas encolheram tributos pagos por cervejaria

Ações fiscais que se arrastam sem conclusão e impedem a inscrição em dívida ativa; concessão de benefícios contrariando parecer interno; medidas que fazem o tributo encolher. O Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, encontra sempre as portas abertas na Secretaria estadual de Fazenda (Sefaz). E algumas das medidas que favorecem a empresa transitaram pela Subsecretaria de Receita da Sefaz, onde estão as inspetorias especializadas chefiadas por Cláudio Portugal (Bebidas), Carlos Sérgio Janiques (Supermercados) e Allan Peterlongo (Substituição Tributária até janeiro deste ano).

Parceria. A Tamoio Mineração, pedreira que tem como sócios um dos filhos de Jorge Picciani e Walter Faria, dono da cervejaria Itaipava: fornecimento de brita para obras olímpicas – Antonio Scorza / Antonio Scorza
 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foi pela Subsecretaria de Receita, por exemplo, que passou, no segundo semestre de 2015, a mais recente vitória tributária do grupo. Enquanto as contas do governo estadual iniciavam uma queda rumo ao fundo do poço, uma decisão administrativa, tomada pela Fazenda, derrubou em novembro um mecanismo que permitia ao estado arbitrar o preço da cerveja no varejo, para fins de tributação. Desde então, as próprias empresas apresentam a “pauta” com os valores de referência para cálculo do ICMS.

O mecanismo derrubado, no jargão dos fiscais, chama-se “gatilho”. Ao contrário de outros estados do Sudeste, como Minas Gerais e São Paulo, no Rio, quem estabelece a pauta com o preços da bebidas a ser tributado são os institutos contratados pelos fabricantes de cerveja e chope. Caso haja defasagem pela alta da inflação ou por efeitos de sazonalidade, a Fazenda não tem mais um sistema de controle que possa impor a atualização dos valores no varejo.

Mudança no texto da lei

Em novembro, resolução do titular da pasta, Julio Bueno, extinguiu o gatilho, instituído em dezembro de 2014 pelo ex-secretário Sergio Ruy Barbosa, para evitar fraudes como a cobrança do ICMS sobre a venda da cerveja no verão com base em valores do inverno, quando o preço do produto é menor. Na prática, a secretaria perdeu o poder de estimar os preços nas gôndulas para efeito de Substituição Tributária (ST), cujo modelo de cobrança transfere o recolhimento de ICMS para o início da cadeia produtiva.

O mecanismo do gatilho, que também vigora no Rio Grande do Sul, em Tocantins e no Ceará, é acionado toda vez que a pauta fornecida pelas empresas fica desatualizada. Nesse caso, o cálculo passa a ser feito tomando como base a chamada Margem de Valor Agregado (MVA), que fixa um valor sobre a operação e faz o imposto subir. Com o gatilho, as próprias empresas se interessariam em manter a pauta atualizada.

O processo de extinção do gatilho, concluído em quatro meses (de julho a novembro), não foi a única boa notícia para o Grupo Petrópolis no período. Um contencioso de mais de R$ 1 bilhão em créditos irregulares, acumulados por três distribuidoras de bebidas ligadas ao grupo (Leyroz, Praiamar e Imapi), cujos processos estão parados no Conselho de Contribuintes da Sefaz, não impediu que o governo, em novembro do ano passado, concedesse um benefício fiscal de R$ 687 milhões à fabricante da Itaipava. Ao dar o incentivo, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) ignorou um parecer jurídico da Secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, que desaconselhava a medida.

O documento listava uma série de riscos e incoerências na operação. Uma das ressalvas lembra que, pelas normas estabelecidas no contrato, a cervejaria poderia quitar o financiamento após dez anos, pagando antecipadamente 33% do valor do saldo devedor. Ou seja, a Itaipava pagaria R$ 226 milhões e estaria livre do problema. O restante, R$ 461 milhões (67% do investimento) ficaria na conta do estado.

Outro ponto levantado é que 87% (R$ 587,8 milhões) do incentivo dado à Itaipava correspondem a um ressarcimento por investimentos já feitos entre 2008 e 2014. Nessa época, porém, ainda estava vigente um outro benefício fiscal que a cervejaria havia recebido do governo Rosinha, em 2005.

Por último, o parecer lembra ainda que não estão claras quais serão as contrapartidas da empresa, como a geração de novos postos de trabalho, em troca do pacote de bondades. O estado argumenta que o benefício dado teve o objetivo de manter 1.400 empregos em tempos de crise nas fábricas da cervejaria.

O decreto de Pezão incluiu a Itaipava no programa Rioinvest, que prevê incentivos a projetos de grande porte com recursos do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social (Fundes). A data da publicação do benefício foi 11 de novembro. Pouco antes, em 20 de outubro, um outro decreto alterou a redação da lei do Fundes, que vigorava desde sua criação pelo então governador Marcello Alencar, em 1997. A mudança no texto autorizou a utilização dos recursos para ressarcimento de investimentos já realizados por empresas que tenham sido contempladas no Rioinvest, como era o caso da cervejaria. Com isso, as linhas de crédito do Fundes, que só financiavam investimentos novos no estado, passaram a viabilizar também projetos de expansão e modernização.

As mudanças na lei do Fundes caíram como uma luva para a Itaipava, que de fato deverá investir mais R$ 100 milhões (além dos R$ 587 milhões já aportados de 2008 a 2014) para expandir suas fábricas em Petrópolis e Teresópolis.

Um levantamento dos processos da Itaipava no Conselho de Contribuintes, que tem a competência para julgar multas contra os grandes devedores de ICMS do estado, mostra que a Itaipava esteve invicta nesse quesito entre 2010 e 2015. No período, cem recursos do grupo Petrópolis contra multas impostas em barreiras fiscais foram apreciados, sendo todos vencidos pela cervejaria.

Diferentemente de sua maior concorrente, a Ambev, que é líder do mercado cervejeiro no país e está na lista dos maiores devedores do estado, com débito de R$ 525 milhões, o grupo Petrópolis não consta da relação. A inscrição na dívida ativa só ocorre após a empresa perder todos os recursos administrativos na Sefaz.

Também no segundo semestre do ano passado, a secretaria cortou o acesso da Coordenação de Combate à Sonegação Fiscal do Ministério Público à base de dados fiscais, medida que prejudicou as investigações sobre grandes sonegadores.

Em nota, a Secretaria de Fazenda sustenta que a decisão do fim do gatilho foi tomada devido à avaliação, feita pelo órgão, de que o mecanismo tornava a Margem de Valor Agregado muito elevada, chegando a 140%. “A Secretaria de Fazenda considera o fim do mecanismo uma iniciativa pioneira e de avanço em relação a outros estados que ainda mantêm essa margem elevada, definida por mecanismo que servia a uma época de altas taxas inflacionárias. Anulamos uma margem que deixou de ter sentido em uma economia estabilizada”, diz a nota.

Grupo nega regalias

O Grupo Petrópolis, procurado pelo GLOBO, afirma que “preencheu todos os requisitos técnicos e legais previstos na legislação para o enquadramento e a obtenção dos benefícios, desde o ano de 2004 até agora”. Em nota, sustenta que os financiamentos foram concedidos após aprovação e comprovação de investimentos realizados, como exigido nesta modalidade. “Esse projeto beneficia dezenas de outras empresas de setores como siderurgia, bebidas e automóveis estabelecidas no Estado do Rio de Janeiro, conforme decretos publicados recentemente”, diz o texto. O Grupo Petrópolis ressalta que não recebeu qualquer “benefício que não tivesse sido concedido aos demais”.

Enquanto a cervejaria recorre a benefícios do governo, não lhe falta dinheiro para ajudar políticos. Nas eleições de 2014, segundo dados que constam no site do Tribunal Superior Eleitoral, as doações do Grupo Petrópolis somaram R$ 101,1 milhões. Nos estados, o PMDB-RJ, presidido por Jorge Picciani, foi o partido campeão na lista de contribuições da cervejaria. O Grupo Petrópolis repassou R$ 10,8 milhões ao PMDB fluminense, o equivalente a 33% do total (R$ 32,5 milhões) de doações feitas a comitês, diretórios estaduais e direções nacionais dos partidos.

Picciani coordenou, na última eleição, a campanha do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que recebeu R$ 1 milhão em doações do Grupo Petrópolis, de acordo com dados do TSE. No ranking das doações da cervejaria aos estados, depois do PMDB-RJ, aparece o diretório estadual do PSB de Pernambuco, com R$ 3 milhões.

Números

R$ 687 milhões: Valor do benefício fiscal concedido pelo estado à Itaipava no ano passado.

R$ 101,1 milhões: Total das doações feitas pelo Grupo Petrópolis nas eleições de 2014.

Negócios que também envolvem os herdeiros

Em 2011, o filho do inspetor de ICMS Carlos Sérgio Janiques, Lucas Cardoso Janiques, com 19 anos, comprou em leilão, por R$ 102 mil, a vaca Annabela do Tarim, de Paulo Roberto Trindade Júnior. O vendedor é filho de Paulo Afonso Trindade, parceiro de Picciani em negócios pecuários e dono da Investplan, uma das principais prestadoras de serviços de informática ao governo estadual. Ao arrematar a vaca, Lucas tornou-se sócio da fazenda Nova Trindade, da família Trindade, em Uberaba (MG). Segundo Carlos Sérgio, seu filho não é pecuarista e a vaca custou um quarto desse valor .

Em seu perfil no Instagram, Lucas mostra imagens de uma casa em Búzios; de uma viagem com o pai para o torneio de tênis US Open, em Nova York; e do camarote de uma grande rede de supermercados na Sapucaí, onde aparece usando a camisa da empresa, no desfile do Grupo Especial em 2015.

Já Felipe Picciani, filho de Jorge Picciani, é sócio de Walter Faria, o proprietário da Itaipava, na Tamoio Mineração, a principal fornecedora de brita para as obras olímpicas do Rio. Felipe, ao contrário dos irmãos Leonardo (deputado federal) e Rafael (deputado estadual), não ingressou na carreira política. Na família, sua função é administrar as fazendas do Grupo Monte Verde. Ele divide o tempo entre a sede da Agrobilara, na Barra, e as fazendas da família.

Além de ser sócio de Felipe na mineradora, Walter Faria comprou gado diretamente da família Picciani (em 2011, pagou quase R$ 3,45 milhões por 150 cabeças, quitados em parcelas) e em leilão (em 2009, desembolsou para o amigo R$ 440 mil por metade dos direitos comerciais sobre a vaca Florença).

Roberto, o “laranja” que é dono de cem distribuidoras de bebida

Um par de olhos espia pela fresta o portão entreaberto na Rua Silva Fernandes 184, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O prédio abriga quatro distribuidoras de bebidas ligadas ao Grupo Petrópolis, sendo três delas — Imapi, Praiamar e Leyroz — devedoras de mais de R$ 1 bilhão ao fisco estadual. O dono dessas empresas está por trás de outras 97 distribuidoras da cerveja Itaipava. É o empresário Roberto Luís Ramos Fontes Lopes. A funcionária que olha pelo portão alega que o “doutor Roberto” não costuma aparecer porque mora em São Paulo, de onde comandaria o grupo.

Na firma, não há sinal da Itaipava. Pelo menos uma das distribuidoras ali instaladas já complicou “doutor Roberto”. Ele responde a um processo por fraude tributária contra a Receita Federal e foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por formação de quadrilha, falsidade ideológica e corrupção ativa, todos os crimes relacionados à Praiamar. Uma placa na entrada do escritório informa os CNPJs das distribuidoras. Não são os mesmos do passado. Nomes e CNPJs de empresas de Roberto Luís vivem mudando. A Leyroz, cujo contencioso com o governo do Rio é de R$ 326 milhões, recebeu baixa e agora se chama E-Ouro Gestão e Participação.

Roberto. Para MP, um testa de ferro – Divulgação / Divulgação
 

 

 

 

 

 

 

 

 

A estratégia de mudar a razão social das empresas de Roberto e/ou de dar baixa nelas é recorrente. Foram identificados mais de 20 casos em consulta ao site da Receita Federal. De acordo com documentos do MP paulista aos quais O GLOBO teve acesso, investigações mostram que a prática pretende esconder cobranças tributárias espalhadas pelo país e evitar o redirecionamento do passivo para a personalidade jurídica da Petrópolis, protegendo-a da tributação.

Para o Ministério Público, Roberto, com suas cem distribuidoras, atua como testa de ferro do Grupo Petrópolis. De acordo com o MP, um dos esquemas de fraude envolvendo a cervejaria é concentrar nas distribuidoras o pagamento dos impostos cobrados pelo modelo de substituição tributária, o ICMS-ST (um ente da cadeia produtiva paga pelo outro e repassa esse custo para o ente seguinte).

Os promotores paulistas afirmam que a Petrópolis estaria fazendo operações simuladas de transferências de bebidas entre a fábrica de Boituva, cidade paulista a 122 quilômetros da capital, e uma de suas filiais no Rio para sonegar o ICMS-ST. Sendo fabricante de um produto sujeito à substituição tributária, a empresa deveria recolher tanto o ICMS próprio, devido por suas operações, como o incidente nas demais etapas da circulação da mercadoria (atacado e varejo). Ocorre que o ICMS-ST não se aplica em operações de transferência entre unidades da mesma empresa. Nesse caso, o tributo cabe ao estabelecimento destinatário, no caso as distribuidora vinculadas a Roberto.

 

Segundo a promotoria de Sorocaba, as investigações revelaram que as distribuidoras só existiam para burlar o fisco, já que as empresas não têm patrimônio para honrar as dívidas. Dados da Operação Czar, do fisco paulista, estimam que, com o esquema, o Grupo Petrópolis teria deixado de recolher cerca de R$ 600 milhões ao estado de São Paulo de 2006 a 2011.

Por intermédio do advogado, Ricardo Pieri, o empresário alega que o Ministério Público de São Paulo pediu o arquivamento da investigação, “tornando a suspeita manifestamente improcedente”. Quanto ao número de distribuidoras, explicou que se deve à dimensão da operação à época, quando suas empresas contavam com mais de dez mil funcionários em diversos estados.

As planilhas apreendidas pela Operação Lava-Jato na casa de um dirigente Odebrecht e divulgadas na semana passada indicam que a cervejaria pode ter usado as distribuidoras de Roberto Luís para mascarar doações eleitorais a políticos.

 

Rio: 137 mil inativos ficarão sem benefício

Discriminação quebra a promessa feita pelo governador em exercício

Aposentados e pensionistas do Estado que recebem benefício líquido superior a R$ 2 mil não serão pagos amanhã. Foi essa a decisão do governo do estado. Ao todo, 137 mil servidores não terão nada para pagar suas contas do mês ou dívidas passadas. A projeção do estado é de quitar essa pendência até o dia 12 de maio, mas a projeção é que o atraso dure até a data limite. Os 111 mil inativos que recebem menos de R$ 2 mil líquidos terão o valor depositado em suas contas.

Aposentado lembra que governo preteriu inativos porque estes não podem ameaçar com greve:

aposentadosrio

O martelo foi batido em reunião na manhã de ontem, onde foi estabelecida a prioridade aos ativos. Os quase 217 mil servidores receberão seus salários integralmente amanhã. O desembolso total do Estado para o pagamento de 328.202 pessoas será de R$ 819 milhões.

A decisão quebra a promessa feita pelo governador em exercício, Francisco Dornelles em entrevista na última semana. No encontro, Dornelles garantiu que todos os servidores teriam direito a alguma parcela dos seus salários amanhã, 10º dia útil do mês.

A outra alternativa articulada pelo governo era a de priorizar categorias. Servidores ativos vinculados à Educação, à Segurança Pública e à Saúde teriam salários inteiros. Enquanto o restante que recebesse mais de R$ 1,5 mil, teria seus salários parcelados.

Reunião com servidores para se explicar

Hoje, uma reunião, na parte da tarde, entre secretários de governo e membros do Movimento Unificado dos Servidores Públicos do Estado (Muspe) servirá para que o Executivo apresente suas justificativas para deixar 137 mil ex-funcionários sem benefícios.

Os servidores esperam a presença do secretário de Fazenda, Julio Bueno, da secretária de Planejamento, Cláudia Uchôa, do secretário da Casa Civil, Leonardo Espíndola e, principalmente, do governador em exercício, Francisco Dornelles. A decisão de não pagar parte do funcionalismo não caiu bem entre membros do movimento. Líderes de categoria, por exemplo, lembraram que serão cobrados pelos inativos em função da decisão do governo.

O Muspe fará ato, na parte da tarde, em frente à Alerj. A manifestação ainda prevê uma caminhada em direção a Secretaria de Fazenda, na Rua Buenos Aires, no Centro.

Fonte:Extra