“Ô Malafaia, vai procurar rola”, afirma Boechat ao vivo na BandNews FM

 

Reprodução/BandReprodução/Band

O episódio da pedrada que uma menina de 11 anos, praticante do candomblé, está rendendo discussões bastante acaloradas. Nesta sexta-feira (19), por exemplo, uma envolvendo o jornalista Ricardo Boechat, da Band, e o pastor Silas Malafaia.

Durante seu programa matinal na rádio BandNews FM, Boechat afirmou que as igrejas evangélicas estavam incentivando a violência e o ódio. No mesmo momento, Malafaia usou o Twitter para afirmar que o jornalista estava “falando asneira” e o desafiou para um debate ao vivo.

Assim que soube das manifestações no Twitter, Boechat respondeu ao vivo (ouça o áudio no vídeo abaixo), afirmando que ele “rouba dinheiro dos fiéis”. Por duas vezes, o jornalista mandou Malafaia “procurar rola”.

Imediatamente o pastor começou a reagir em seu Twitter e, mais tarde, afirmou em vídeo divulgado em sua rede social (assista abaixo) que iria se encontrar com Boechat na Justiça.

 

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 Fonte: Youtube

 

Nestes dias, nas redes sociais, principalmente no Facebook, a polêmica em torno da encenação da crucificação de Jesus durante a parada do orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), em São Paulo, no dia 7 do corrente mês, chamou a atenção de todos. De modo geral, cristãos de inúmeras Igrejas publicaram seu repúdio sobre o uso indevido da cruz de Cristo no evento.

Rep/Brasil 247

As opiniões são diversas a respeito do fato. No mundo religioso, entre os mais conservadores, as condenações são veementes. Há o que podemos chamar de demonizaçãoda população LGBT. Entre os neopentecostais, tanto católicos quanto evangélicos, opiniões extremistas são de causar vergonha: julga-se e condena-se em nome de Jesus. É possível analisar o fato à luz do evangelho, utilizando-nos do remédio da misericórdia e não de condenações desnecessárias? Sim, é o que faremos no breve espaço deste artigo.

Inicialmente, é preciso dizer que não se trata de apoiar a religião e condenar pessoas homoafetivas, nem de absolvê-las em detrimento da religião. Os vocábulos juízo e condenação são inadequados ao diálogo entre o mundo religioso e o mundo homoafetivo. Dois motivos inicialmente podem ser considerados: primeiro, porque Jesus proibiu, severamente, o julgamento e condenação das pessoas; segundo, porque não há uma separação entre os dois mundos. Não é nenhuma novidade o fato de que no mundo religioso encontramos inúmeras pessoas homoafetivas. Este segundo motivo já coloca as Igrejas em uma profunda contradição. A história desautoriza as Igrejas para emitirem qualquer condenação a pessoas homoafetivas.

Olhando para o evangelho, encontramos Jesus no meio dos pecadores públicos, sendo acusado decomilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e pecadores. Isto foi um escândalo para a época. Além disso, Jesus tinha a fama de ser um violador das leis judaicas. Estas e outras coisas lhe renderam perseguições e o levaram à morte de cruz. Viver livremente entre os pecadores: eis a opção de Jesus.

Aliás, Jesus inaugurou o Reino de seu Pai a partir da realidade dos pecadores. Teologicamente falando, Deus se manifestou na humanidade, na pessoa de Jesus, entre os pecadores, para a salvação destes. Quem nega esta verdade, nega o próprio Cristo e com ele não tem nenhum vínculo. Ele revelou que com o Pai e o Espírito, a salvação acontece a partir das vítimas das opressões de todos os tempos e lugares. Jesus não era filho de sacerdote, nem foi criado na “pureza” do Templo, mas nasceu em Nazaré, cidade mal afamada do Império Romano. Questionava-se se poderia sair algo bom de Nazaré!

Este é o Cristo da genuína fé cristã. Não há outro. É ele que se encontra no evangelho, e não há outro evangelho senão o dele. Seu mandato missionário é claro: Ide e anunciai a Boa Notícia para toda a humanidade!

Os cristãos, chamados a segui-lo, têm esta missão a cumprir: anunciar a Boa Notícia. Nesta não há julgamento e condenação de pessoas. A ninguém Jesus conferiu o poder de julgar e condenar. Quem se intitular juiz de seu próximo em nome de Jesus está se condenando. Não há meio termo: Quem condenar será condenado! Este é um princípio evangélico que encontra seu fundamento em um outro: Todos somos irmãos.

Diante de Deus todos somos pecadores. Somente Deus é Santo. Um pecador não tem autoridade para julgar e condenar outro pecador, pois um cego não guia outro cego. Portanto, peca gravemente quem julgar e condenar pessoas homoafetivas. Deus não condenou estas pessoas, nem nas Escrituras nem na pessoa de Jesus.

O que na Bíblia está escrito como possibilidade de condenação de homoafetivos é algo que precisa ser lido à luz do contexto epocal (Quem, onde, quando, para quem e com que finalidade escreveu). Por isso, extrair versículos bíblicos, descontextualizando-os, para julgar e condenar pessoas é um pecado grave que se comete contra o Deus que inspirou o texto sagrado.

O princípio que rege a genuína hermenêutica bíblica é: A Bíblia não foi escrita para condenar as pessoas, em hipótese alguma. Em nenhuma passagem bíblia Deus condena o ser humano à perdição eterna. A vingança, o preconceito, a discriminação, a acepção de pessoas e toda espécie de comportamento desumanizador não tem nenhuma legitimidade nas Escrituras Sagradas. Estas foram escritas para transmitir a mensagem de salvação e não de condenação da humanidade. Quem julga e condena em nome de Deus e com pseudofundamento na Bíblia irá responder diante de Deus por tão grave pecado.

Todas as vítimas das inúmeras injustiças que se cometem neste mundo podem entrar em plena comunhão com a cruz de Cristo. Na cruz, Jesus se uniu a todas aquelas pessoas feridas em sua dignidade, perseguidas e assassinadas. Em Jesus, as pessoas homoafetivas são nossas irmãs. Também elas foram remidas no sangue de Jesus.

E para o escândalo dos cristãos, juntamente com os ladrões e prostitutas, elas entrarão no Reino de Deus primeiro do que os líderes religiosos. O próprio Jesus fez tal afirmação, dirigindo-se às autoridades religiosas de seu tempo.

Quando julgam e condenam os pecadores, os cristãos se esquecem dessa parte do evangelho, fazendo o que Jesus reprova. Todo sofredor, independentemente de sua situação sexual, encontra acolhida no coração amoroso da Comunidade Trinitária. Esta é Amor e neste não há julgamento e condenação de quem quer que seja.

Deus é incapaz de condenar porque Ele é amor. Ele somente cura, restaura, concede a vida e salva. Por isso, é pura misericórdia infinita. Os cristãos precisam aprender com Jesus, seu Senhor e Mestre, a serem misericordiosos e amorosos, sendo, somente desse modo, fieis ao evangelho.

A atriz Viviany Beleboni, transexual de 26 anos, que apareceu na parada da comunidade LGBT, utilizando-se do símbolo da cruz, como “crucificada”, está em plena sintonia com o sentido teológico da cruz de Cristo. Na cruz se encontram os crucificados da história: as vítimas das inúmeras formas de violência que se cometem neste mundo, contra as “minorias abraâmicas” (expressão do santo bispo dom Helder Câmara).

A cruz de Jesus está em todos os lugares nos quais as pessoas estão sendo massacradas. Jesus não se encontra nas imagens foleadas a ouro e prata de nossas Igrejas, mas se encontra sofrendo na carne das vítimas do ódio, do preconceito, da discriminação, do racismo e toda forma de ostracismo social.

O sentido da cruz está no Crucificado. É ele o centro da fé cristã. Jesus não foi levado ao madeiro da cruz para transformá-la num símbolo religioso. Ele não pensava em símbolo, mas nas pessoas massacradas pelo Império e pelos fardos pesados impostos pelos religiosos de sua época.

Na ótica do Reino, Deus não está preocupado se uma pessoa é lésbica, gay, travesti, transexual ou heterossexual. Todos são irmãos e seus filhos amados. Este julgamento e acepção que se faz não é coisa de Deus, mas problema humano. Trata-se da dificuldade que se tem em aceitar o outro como ele é. Trata-se, ainda, da dificuldade que se tem em aceitar a diversidade de todas as realidades.

O mundo nunca foi nem jamais vai ser uniforme. As Igrejas precisam aprender a pedagogia de Jesus, presente em seu agir missionário: Aproximar-se das pessoas, escutá-las com a devida atenção e respeito, buscar compreendê-las em seus contextos e histórias, amá-las para que se sintam acolhidas, redimidas e salvas. Este é o remédio da misericórdia.

É preciso também compreender que os símbolos apontam para a realidade, e que esta é mais importante que aqueles. Não são os símbolos que salvam, e não foi Deus quem o criou. A cruz simboliza salvação, não condenação. Jamais se pode condenar uma pessoa por ela ter se identificado com a cruz de Jesus. Isto é ignorância, covardia, desumanidade, farisaísmo, pecado grave.

Por fim, queremos concluir nossa reflexão, dando ênfase a algumas afirmações necessárias para uma fé esclarecida, sadia e restauradora: 1) Deus é Amor e quem Nele crê só está na verdade se amar o próximo sem cair na tentação de mudá-lo; 2) Deus é Misericórdia e quem Nele crê só está na verdade se aprender a perdoar o próximo, sem guardar ressentimentos; 3) Deus é Comunhão e quem Nele crê só está na verdade se encontrá-lo no rosto sofrido do outro, na acolhida deste rosto revelador do amor divino; 4) Deus é Paz e quem Nele crê só está na verdade quem aprendeu a ser pacífico, não compactuando com a cultura da eliminação do outro, por causa de suas diferenças e 5) Deus é Liberdade e quem Nele crê só está na verdade quando se coloca a serviço da libertação integral do outro.

Quem reforça a opressão do outro é inimigo de Deus. Religião sem amor é hipocrisia, e somente o amor liberta as pessoas de seus males.

Fonte: Yahoo

Centenas de pessoas participam de ato contra a intolerância religiosa na Zona Norte do Rio

Manifestação contou com a presença da menina Kayllane Campos, de 11 anos, atingida há uma semana por uma pedrada enquanto saía de uma festa de candomblé


A manifestação acontece uma semana depois de a menina Kayllane Campos, de 11 anos, ter sido atingida na cabeça por uma pedrada quando deixava uma festa de candomblé no bairro – O Globo/Thiago Jansen

RIO – Por volta das 10h do dia 21/6/15, centenas de fiéis e representantes de diferentes credos se reuniram na praça do Largo do Bicão, na Vila da Penha, Zona Norte do Rio, para um ato contra a intolerância religiosa no país. A manifestação acontece uma semana depois de a menina Kayllane Campos, de 11 anos, ter sido atingida na cabeça por uma pedrada quando deixava uma festa de candomblé no bairro.

 Estiveram presentes no ato líderes das igrejas Católica, Evangélica e Batista, entre outras, além de representantes das religiões africanas. Os deputados federais Chico Alencar (PSOL-RJ) e pastor Ezequiel Teixeira (Solidariedade-RJ), e a secretária do Estado, Assistência Social e Direitos Humanos, Teresa Cristina Cosentino, também participaram da manifestação, que contou com a realização de orações e cantos de diversas religiões.

Acompanhada da avó Kátia Marinho, e da mãe, Karina Coelho, Kayllane chegou ao ato pouco após o seu início, e disse perdoar o seu agressor, ressaltando que a violência não perturbou o amor à sua religião.

— Esse susto não abala a minha fé, ela vai sempre continuar — afirmou a jovem

Para a avó de Kayllane, a violência contra a neta, e a comoção causada por ela, serviu para reforçar que “somos todos iguais”:

— Isso foi para provar que somos todos iguais, cada um com a sua religião. Claro que as religiões africanas costumam ser o alvo principal da intolerância, mas é algo que afeta a todos. O que queremos é respeito para todos, independentemente da sua religião — disse ela, cuja filha, Karina, é evangélica.

Interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, o babalaô Ivanir dos Santos disse que a agressão contra Kayllane é corriqueira em diversos locais do Brasil, reforçou a importância da punição dos responsáveis e clamou por uma postura do governo federal a respeito desse tipo de violência:

— Isso é algo que ocorre todos os dias nesse país com membros das religiões africanas. A diferença no caso dela é que a agressão aconteceu em uma via pública. Mas casos semelhantes, que considero um tipo de fascismo, são frequentes em escolas, centros religiosos e outros lugares, e não vêm a público. É preciso encontrar os culpados da agressão e, mais do que isso, descobrir a qual igreja pertencem, porque este tipo de ódio costuma ser incutido nas pessoas — afirmou o babalaô. — Por isso, também é preciso que o governo federal estabeleça um plano nacional de combate à intolerância religiosa, algo que é nossa bandeira há anos.

O babalaô informou que o ministro dos Direitos Humanos, Pepe Vargas, virá ao Rio de Janeiro para participar de uma audiência pública sobre o tema, e criticou algumas lideranças evangélicas que se recusam em dialogar sobre a questão.

— Na reunião com o ministro nesta semana pediremos novamente por um plano nacional de combate à intolerância religiosa ao governo federal. Agora, tão importante quanto isso, é que algumas lideranças evangélicas também aceitem o diálogo sobre o assunto, o que não tem acontecido. Já tentamos dialogar com o pastor Silas Malafaia sobre o tema e não tivemos sucesso, por exemplo — afirmou Ivanir dos Santos.

Fonte: O Globo