Número recorde de judeus deixa a França diante de antissemitismo
Mais de 8 mil pessoas deixaram o país rumo a Israel em 2015
Os judeus estão deixando a França em ritmo sem precedente diante da escalada do antissemitismo e do medo de outros ataques terroristas em massa inspirados no Estado Islâmico. Mais de 8 mil judeus deixaram o país rumo a Israel em 2015 — uma taxa bem maior que outros lugares europeus, embora consistente com o que se tornou, nos últimos anos, o maior movimento em massa de judeus desde a formação de Israel em 1948.
A razão primordial para o êxodo é o aumento contínuo da intolerância antissemita nos últimos 15 anos. Uma pesquisa da União Europeia, em 2013, revelou que 74% dos judeus franceses têm tanto medo de serem atacados devido à sua religião que tomam medidas para evitar serem reconhecidos como judeus. O crescimento da imigração muçulmana para a França e os chamados do Estado Islâmico para mais ataques de lobos solitários — a cidadãos judeus, em particular — contribuíram para o temor.
Como resultado, o número de judeus que se mudaram da França para Israel dobrou, e depois dobrou de novo desde 2010. Ano passado, migraram 8 mil pessoas, enquanto 1,9 mil partiram em 2011. Só na cidade de Marselha, no Sul da França, houve três ataques a faca contra cidadãos judeus desde outubro passado. O mais recente vitimou o professor Benjamin Amsellem, de 35 anos, cuja vida só foi salva porque ele usou um exemplar da Torah — o livro sagrado judaico — para se proteger da investida do agressor adolescente, simpatizante do Estado Islâmico.
Quatro judeus foram mortos quando um extremista do Estado Islâmico atacou um supermercado kosher de Paris, em janeiro de 2015, dias depois do massacre no escritório do semanário satírico “Charlie Hebdo”.
A Agência Judaica, que controla a aliyah — nome formal para a migração de judeus para Israel —sempre insistiu que qualquer judeu seria bem-vindo em solo israelense. A oferta atraiu milhares de judeus europeus todos os anos por décadas, e a taxa de recepção no país tem crescido drasticamente. Os cidadãos franceses são, de longe, a maior parte dos requerentes.
Na prática, o número é tão alto que, em Ashdod — cidade no sul de Israel mais procurada entre os recém-chegados — a língua francesa é tão ouvida nas ruas quanto a hebraica. Dezenas de cafés ao estilo francês dão à localidade um ar parisiense, de acordo com a CNN.
Em comparação, o Reino Unido tem o segundo maior número de cidadãos migrando para Israel, com apenas 774 partidas ano passado.
A combinação de forças de extrema-direita, segurança deteriorada e recepção alemã de refugiados cuja cultura é “impreganada de ódio aos judeus” estaria resultando em antissemitismo também na Alemanha. “Nós não nos sentimos mais seguros aqui”, disse ao “Jerusalem Post” o líder da comunidade judaica de Hamburgo, Daniel Killy.
Fonte: O Globo
Um ministro israelense os judeus da França a voltarem para Israel, após um ataque jihadista perto de Lyon.
“Exorto os judeus da França – voltam para casa! O semitismo aumenta, o terrorismo está crescendo!”, declarou o ministro da Imigração israelense, Zeev Elkin, membro do Partido Likud (direita) do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
“Esta é uma missão nacional da mais alta prioridade”, acrescentou em um comunicado.
O primeiro-ministro israelense apela regularmente os judeus da Europa a ir em “massa” para Israel. A França é o lar da maior comunidade judaica da Europa, com 550.000 pessoas.
O diretor de uma empresa foi decapitado nesta sexta-feira em um ataque jihadista contra uma usina de gás perto de Lyon (centro-leste da França). Não foram fornecidas informações sobre a religião da vítima.
O suposto autor do ataque, conhecido por suas “ligações com o movimento salafista”, foi preso, segundo as autoridades.
“O ataque é tratado como sendo de natureza terrorista, desde que foi encontrado um corpo decapitado com inscrições”, indicou o presidente francês, François Hollande.
Desde os ataques realizados em janeiro em Paris por três jihadistas contra a revista Charlie Hebdo, um supermercado kosher e a polícia, o governo implementou um plano de vigilância antiterrorista em lugares públicos.
“Judeus voltaram a ser assassinados em solo europeu apenas por serem judeus e essa onda de ataques terroristas, que inclui ataques assassinos antissemitas, deve continuar.”
Foi assim que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, explicou os motivos que levaram seu governo a lançar um plano de imigração em massa para atrair judeus que vivem na França, na Ucrânia e na Bélgica. O anúncio do primeiro ministro gerou questionamentos dentro e fora de Israel.
A declaração de Netanyahu veio após a recente série de ataques extremistas que aconteceram na França e na Dinamarca, que comoveram o mundo.
Críticas ao projeto
Ainda assim, muitos acreditam que um êxodo em massa de judeus da Europa significaria fazer o jogo do extremismo. O principal rabino da Dinamarca, Jair Melchior, afirmou que “o terrorismo não é motivo para emigrar para Israel. Os judeus da Dinamarca vão a Israel porque amam Israel, e não porque houve um atentado terrorista. Fugir seria uma vitória do terror”, comentou.
Há também quem suspeite que o anúncio é uma jogada política de Netanyahu de olho nas próximas eleições de 17 de março no país.
“Estar em campanha eleitoral não justifica qualquer declaração”, disse o primeiro ministro francês, Manuel Valls, cuja esposa é judia. “O lugar dos franceses judeus é na França. Minha mensagem é a seguinte: a França está ferida, assim como vocês, e não quer que ninguém fuja.”
A primeira ministra da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt, disse que seu país “não seria o mesmo sem a comunidade judia”.
O plano, aprovado no último domingo com um orçamento de US$ 46 milhões (R$ 131,8 milhões), atuaria em diferentes frentes.
A primeira seria o estímulo de migrações a partir da França, Ucrânia e Bélgica; isto seria feito através de feiras de divulgação nesses países sobre as oportunidades que Israel oferece.
Além disso, o plano buscaria criar um sistema para acolher esses imigrantes, em especial aqueles provenientes de áres consideradas de emergência.
De sua parte, o governo israelense propõe subsidiar aulas de hebraico; aumentar a folha de pagamento dos departamentos oficiais de imigração para acelerar os procedimentos e conselhos para cada caso; e fortalecer os serviços sociais do país e para a geração de emprego, especialmente voltado para a criação de empresas.
“Israel é a sua casa e está preparado para acolher uma grande imigração da Europa”, disse Netanyahu aos judeus europeus ao apresentar seu plano.
De acordo com a chamada Lei de Retorno, os judeus que decidirem ir a Israel têm direito a receber um pacote de benefícios, além de obter a cidadania do país.
Para o governo de Israel, o plano de imigração – que tem a intenção de fazer com que mais europeus aproveitem essas vantagens – é uma resposta ao que considera uma escalada nas solicitações recebidas de judeus para mudar de país
A emigração de judeus provenientes de países europeus para Israel já vem aumentando.
Na Ucrânia, ela tem acontecido por causa do conflito com os russos no leste do país; na França e na Bélgica, o motivo seria um crescente sentimento de antissemitismo, ainda que alguns especialistas também indiquem o fator econômico – e a crise nesses países – como uma grande influência para esse processo.
Segundo as estatísticas, mais de 11 mil judeus franceses se interessaram em emigrar para Israel em janeiro passado.
Em 2014, o número de judeus que emigrou da França para Israel foi 6.658, segundo os dados do Ministério de Imigração israelense. O número representa o dobro do registrado em 2013. Só no mês de janeiro, Israel deu procedimento a 1.835 solicitações.
No caso da Ucrânia, em 2014, 5.921 pedidos foram registrados, mais do que o triplo do número de imigrantes de 2013. Em janeiro, foram contabilizadas 1.300.
O número da Bélgica é bem menor – 233 em 2014 -, mas em Israel, estima-se que ele deve aumentar drasticamente com o novo plano.
Porém, para o diretor da Agência Judia – instituição encarregada de levar judeus a Israel -, Natan Sharansky, os fundos do plano não são suficientes para amortizar os efeitos, sobre a economia e a sociedade, da onda migratória prevista.
“Sem soluções a longo prazo para esses problemas, Israel viverá tempos difíceis para atrair judeus que busquem um novo futuro”, advertiu.
Para o ex-presidente israelense Simón Peres, o plano é um apelo político de Netanyahu – o qual critica.
“Não venham a Israel por uma posição política, mas porque querem viver aqui”, disse Peres a judeus europeus. “Israel deve continuar sendo uma terra para a esperança e não para o medo.”
No fim de semana, dois homens morreram em dois atentados extremistas na Dinamarca. Um deles era judeu. No início do ano, quatro judeus morreram em um ataque a um supermercado kosher em Paris – o incidente aconteceu logo depois do massacre que ocorreu na sede da revista satírica Charlie Hebdo, quando 17 pessoas morreram
‘Inseguros’, cada vez mais judeus franceses emigram para Israel
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13 janeiro 2015
O final sombrio e violento da crise dos reféns em Paris na semana passada foi acompanhado em vários cantos do mundo. A comunidade israelense de judeus de língua francesa seguiu o drama com particular tristeza – mas sem surpresa.
Este clima ficou evidente quando o canal Channel 10 de Israel entrevistou um dos sobreviventes do cerco ao supermercado kosher que tinha se escondido numa câmara fria no porão enquanto o atirador matava suas vítimas na loja.
Yohan Dumas descreveu como o assustado pequeno grupo tinha lutado para manter-se aquecido – mas interrompeu a entrevista para anunciar que havia decidido se mudar para Israel na semana seguinte.
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Para explicar sua decisão, disse: “Não estamos aqui esperando para morrer.”
Tendência significativa
Não são muitos os judeus franceses que tomaram a decisão de emigrar em tais circunstâncias dolorosas – mas o número dos que decidiram mudar de país tem aumentado nos últimos anos.
É uma tendência que toca num dos argumentos fundamentais por trás da criação de Israel – a ideia de que uma história de perseguição e falta de nacionalidade deu ao povo judeu o direito a um lugar seguro.
Foi uma ideia cujo apoio renovou-se após o Holocausto – a votação da ONU que levou à criação do Estado judeu foi realizada apenas dois anos e meio após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em hebraico, o fenômeno é conhecido como “aliyah” e descreve o processo em que judeus nascidos em qualquer lugar do mundo exercem o direito à cidadania israelense – é um valor fundamental do sionismo e um direito garantido por lei em Israel.
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Cerca de 7 mil judeus chegaram a Israel da França em 2014. Isso é quase o dobro daqueles que migraram no ano anterior e significa que, pela primeira vez na história, mais judeus chegaram a Israel da França do que de qualquer outro país.
Pode ser apenas uma pequena proporção entre os mais de 500 mil judeus que vivem na França, mas é uma tendência significativa.
‘Sentimentos ruins’
Claramente, há diversos fatores por trás de cada uma dessas decisões individuais. Mas, em Israel, o aumento do número de imigrantes franceses será visto por muitos como uma medição aproximada do nível de antissemitismo na sociedade francesa.
O empresário aposentado Albert Levy nasceu no Marrocos há pouco mais de 60 anos em uma família judaica de língua francesa. No momento de entrar no ensino superior, foi um movimento natural se mudar para Paris e ele fez isso sem temer por sua segurança.
Há alguns anos, ele, sua esposa Yveline e três filhos vieram para Israel. A época dos judeus na Europa acabou, diz ele.
“Olha, nós [a geração dele] fizemos o que fizemos mas temos este forte sentimento de que, para os nossos filhos, a situação vai ficar pior e pior e pior. Todo mundo tem um instinto sobre isso”.
“Ou você se sente confortável ou você se sente mal, você acorda pensando ‘O que vai acontecer hoje?’ Hoje posso dizer que todo judeu na França tem esses sentimentos ruins”.
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É justo salientar que Levy culpa a mídia, pelo menos em parte, pela atmosfera atual e argumenta que a imprensa tende a demonizar Israel, na esteira de fatos que vão desde a primeira guerra do Golfo à primeira e segunda Intifadas (os levantes nos territórios palestinos contra a ocupação israelense).
Isso, talvez, seja um debate para outro momento, e é importante ressaltar que a França, naturalmente, insiste que sua população judaica pode permanecer ali com segurança.
Ambiente em mudança
Israel está no meio de uma campanha eleitoral e vários líderes partidários – incluindo o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu – foram à França após os ataques.
A mensagem de Netanyahu para judeus franceses foi simples – Israel está pronto para recebê-los de braços abertos, caso decidam se mudar.
O órgão encarregado de supervisionar a migração e absorção dos judeus que exercem o direito de viver em Israel é a Agência Judaica, cujo porta-voz é Yigal Palmor.
Para transmitir o sentimento de surpresa – talvez choque – no ambiente em mudança na Europa, ele cita seu chefe, o presidente da agência, Nathan Sharansky, que já foi um dissidente na União Soviética, onde chegou a ser preso por querer se mudar para Israel.
“Ele [Sharansky] diz que nunca teria acreditado que chegaria um momento em que judeus se sentiriam seguros em andar pelas ruas com a cabeça coberta com um quipá em Moscou e não em Paris”.
“Todos nós compartilhamos essa surpresa. Como é possível que judeus não se sintam mais seguros em Paris, Londres ou Roma, na maneira que eles estavam acostumados ou como deveriam estar após a Segunda Guerra Mundial? Isso é um mistério que continua a nos deixar perplexos”.
O número de judeus pedindo informações sobre a mudança da França para Israel atingiu 50 mil no ano passado. Enquanto funerais ocorrem em Jerusalém para quatro das vítimas do tiroteio em Paris, é difícil ver qualquer coisa no horizonte que inverta esta tendência.
Fonte: Yahoo e BBC
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