Cantareira sai do volume morto após 19 meses
Chuvas e racionamento melhoram sistema de água que abastece 5,3 milhões em SP
Depois de 19 meses, o Sistema Cantareira saiu nesta quarta-feira do volume morto, conseguindo recuperar a quantidade de água que havia sido usada da reserva técnica desde maio de 2014. Após chuvas acima da média desde novembro, racionamento e redução do consumo, o sistema de reservatórios atinge, segundo relatório da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o índice de 29,3% da capacidade, o suficiente para deixar de captar água da reserva profunda. Operando agora no volume útil, o sistema ganhou novo fôlego para 2016.
– Na prática, estamos comemorando chegar ao fundo do reservatório. Não dá para dizer que passou a crise – afirma Patrick Tomas, superintendente adjunto de regulação da Agência Nacional da Águas (ANA).
Até o momento, dezembro registrou 258,2 mm de chuva. O esperado para o mês eram 219,4 mm. Segundo a Agência Nacional de Águas, a partir de agora poderá deixar de ser usado o sistema de bombeamento nas duas maiores represas do Cantareira – Jaguari (federal) e Jacareí (estadual). Além delas, o sistema é composto por mais quatro represas – Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro e Águas Claras.
Thomas explica que dezembro marca uma reversão de tendência, com aumento da vazão de entrada de água nos reservatórios do Sistema Cantareira. Em função disso, a Sabesp pode aumentar a captação de água de 13,5 para 15 metros cúbicos por segundo ( m3/s).
– Se a tendência continuar, em março o Cantareira poderá chegar a metade de seu volume útil, o que é muito bom. Mas tudo vai depender das chuvas e não temos certeza de que vá de fato ocorrer – diz Thomas.
O monitoramento dos reservatórios do Cantareira é mensal e deverá ser mantido em 2016. A retirada de água pela Sabesp é decidida mês a mês e, segundo Thomas, pode ser reavaliada em conjunto com o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (Daee), aliviando a situação da população. Em alguns municípios da Grande São Paulo, o abastecimento de água permanece irregular.
São Paulo atravessou período de forte seca em 2013 e 2014 e as chuvas deste ano ainda não foram suficientes para garantir o abastecimento de água com folga. Para se ter uma ideia, considerando o volume morto o sistema opera hoje com 29,3% da capacidade. Em dezembro de 2012, quando o volume morto sequer era contabilizado, o Sistema Cantareira operava com 67,2% de sua capacidade, mais que o dobro do volume atual.
Por isso, a necessidade de economizar água permanece. No último dia 23, a Sabesp prorrogou o programa até 31 de dezembro de 2016 o sistema de bônus para quem economiza água e de ônus para quem gasta mais.
Fonte: O Globo
Na tentativa de evitar o racionamento de água oficial na Grande São Paulo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) já gastou cerca de R$ 160 milhões com obras para suprir a histórica crise de estiagem do Sistema Cantareira. Cerca de 65% das despesas ocorreram em contratos sem licitação, prática permitida por lei em casos de emergência ou de calamidade pública.
É o caso da construção de diques e da compra de 17 conjuntos de bombas flutuantes para a captação inédita de água do “volume morto” do Cantareira nas Represas Jaguari-Jacareí, em Joanópolis, e Atibainha, em Nazaré Paulista, que custaram cerca de R$ 80 milhões. A operação começou no dia 15 de maio e a previsão é de os 182,5 bilhões de litros adicionais represados abaixo do nível das comportas da Sabesp dure até novembro. Até ontem, a concessionária já havia retirado 43,4 bilhões de litros da reserva profunda, ou 23,7% do total.
Outros R$ 80 milhões estão diluídos em uma série de intervenções feitas pela companhia para remanejar água de outros sistemas produtores para regiões da capital abastecidas pelo Cantareira. O socorro começou no início do ano com 1,1 mil litros por segundo revertidos do Sistema Guarapiranga para os bairros Jabaquara, Vila Olímpia, Brooklin e Pinheiros, nas zonas sul e oeste da capital, e outros 2,1 mil litros do Sistema Alto Tietê para Penha, Ermelino Matarazzo, Cangaíba, Vila Formosa e Carrão, na zona leste.
Para fazer o remanejamento, que tirou inicialmente cerca de 1,6 milhão de pessoas do consumo do Cantareira, a Sabesp teve de instalar novas adutoras, aumentar as vazões de estações elevatórias e de tratamento de água e ampliar as unidades de bombeamento. Segundo a companhia, foram essas obras que resultaram nos “cortes pontuais” de abastecimento que deixaram diversos imóveis sem água nos últimos meses.
Com o agravamento da crise do Cantareira, em maio, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou que a reversão de água dos sistemas Rio Grande (500 litros por segundo) e Rio Claro (200 litros por segundo) e mais 1.500 litros adicionais do Alto Tietê e do Guarapiranga a partir deste mês. Dessas obras, o remanejamento de água do Rio Grande para abastecer cerca de 150 mil pessoas custou R$ 26,5 milhões e também foi feito sem licitação. Para 2015, a Sabesp pretende ampliar mais 2.200 litros do Rio Grande e outros 1.500 litros do Guarapiranga. Em nota, a companhia afirma que todos os contratos feitos sem licitação “seguem todos os procedimentos previstos na Lei – 8.666/1993”.
Fonte: OESP
Principal obra contra a crise hídrica de 2015 em São Paulo, a ligação do Sistema Rio Grande para socorrer o Sistema Alto Tietê não vai ficar pronta tão rápido quando previu o governo do estado. Em 3 de fevereiro, o governador Alckmin disse que a ligação estaria funcionando já em maio, mas, a poucos dias do final de abril, a obra ainda não começou.
Os trabalhos devem começar nos próximos dias, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), e devem ficar prontos somente em agosto. Em nota, a Sabesp disse que a alteração no cronograma do projeto é um ajuste normal “dado o tamanho e a complexidade de uma obra desse porte”.
Serão instaladas duas tubulações paralelas ao longo de 11 km, com capacidade suficiente para a transferência de 4 metros cúbicos de água por segundo. Um metro cúbico corresponde a 1 mil litros de água.
A medida vai ajudar o Sistema Alto Tietê, que é reponsável pelo abastecimento de 4,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, a maior parte na Zona Leste da capital, e hoje opera apenas com 22,4% da capacidade. Os novos 4 metros cúbicos vão ampliar em cerca de um terço a atual retirada de água.
O Cantareira, sistema que passa pela situação mais crítica, também será beneficiado porque o bombeamento fará com que regiões que hoje recebem água do sistema possam ser atendidas pelo Alto Tietê, ajudando a aliviar o manancial em crise.
Após um mês de janeiro seco, em que a Sabesp já falava em adotar um rodízio na capital paulista, o governador Geraldo Alckmin previu no inicio de fevereiro que parte da tubulação ligando o Rio Grande ao Alto Tietê já estaria pronta em maio. A ideia era já transferir 2 metros cúbicos, a metade do total previsto.
“A própria Sabesp vai executar a obra. Vai trabalhar, sábado, domingo, de noite. São 11 km, vamos ter que ter 22 km de tubos pra poder levar do Rio Grande até Taiaçupeba, e bombas para poder fazer as elevatórias. Estamos trabalhando com a expectativa de até maio, se possível até abril, já ter a primeira linha de tubos, 2 metros cúbicos, e depois termos uma segunda linha de tubos”, disse.
Em seguida, a Sabesp e o governo do estado foram surpreendidos pela chuva acima da média histórica em fevereiro e em março. Foi o verão mais chuvoso desde 2011 no Sistema Cantareira, fazendo a companhia de abastecimento mudar o discurso e afirmar acreditar que não seria mais necessário um rodízio.
Questionado se a chuva de fevereiro e março faria o governo diminuir o ritmo das obras, Alckmin negou essa possibilidade em entrevista coletiva em 23 de março. Agora, a Sabesp não fala em antecipar parte da obra de ligação dos sistemas Rio Grande e Alto Tietê, diz apenas em entregará os 4 metros cúbicos em agosto.
O investimento previsto é de cerca de R$ 130 milhões e inclui a instalação de quatro bombas para empurrar a água 80 metros acima, superando o morro que divide a região do ABC (onde fica o Sistema Rio Grande) de Suzano (no Alto Tietê).
Outras obras
Outra grande intervenção prevista é a ligação do Rio Paraíba do Sul com o Sistema Cantareira, o mais prejudicado pela crise hídrica. A obra já foi autorizada pela Agência Nacional de Águas (ANA), mas deve ficar pronta apenas no ano que vem. Essa é a principal intervenção direta no Sistema Cantareira.
As outras obras já em andamento vão socorrem os outros sistemas e ajudar o Cantareira de forma indireta. Isso porque a Sabesp fez modificações na rede e aumentou o número de consumidores abastecidos pelo Sistema Guarapiranga, por exemplo. Já o Cantareira, que abastecia 9 milhões de clientes antes da crise hídrica, agora é responsável apenas por 5,4 milhões.
Neste mês, a Sabesp anunciou, por exemplo, que uma nova adutora permitiu que o Sistema Rio Grande passasse a abastecer bairros na região de Pedreira, Zona Sul de São Paulo. A obra desafoga o Guarapiranga, que atendia essas áreas anteriormente. Com isso, o Guarapiranga pode passar a abastecer áreas que recebem água do Cantareira.
Outras intervenções estão previstas para 2015. Uma delas é a ligação do Rio Guaiaó ao Sistema Alto Tietê. Orçada em R$ 28,9 milhões, a obra começou em fevereiro e irá até maio. A intervenção vai permitir transferir para a represa de Taiaçupeba 0,8 metros cúbicos. Também para o Sistema Alto Tietê, a Sabesp prevê a captação de 2,1 metros cúbicos no rio Itatinga à Represa Jundiaí.
Contando todas as intervenções, 10,4 metros cúbicos serão disponibilizados ao abastecimento da Grande São Paulo, 20% do total usado hoje pelos consumidores da região metropolitana.
Fonte: G1
A dinâmica é simples: ao invés de lançar no esgoto a água da aspiração e filtragem, ele montou um sistema que envia a água turva para a caixa por um cano de PVC. Com um produto químico, ele faz a sujeira decantar no fundo do reservatório e depois devolve água limpa para a piscina.
Somente a água que ficou com a sujeira concentrada é enviada para o esgoto, cerca de 10 litros, segundo o comerciante. “Neste processo que fiz, a perda é mínima, ou seja, quase nada. Espero incentivar outros com esta atitude”, afirmou Mário de Oliveira (veja no vídeo acima o passo a passo a passo).
O sistema foi criado pelo comerciante depois que um piscineiro comentou que muita água era jogada fora, sem necessidade. A família aderiu à nova técnica há dois meses. “Estou colaborando com o meio ambiente, não perde nada de água”, completou.
O passo a passo da engenhoca foi registrado em vídeo pela filha do leitor, a estudante Joice dos Santos Oliveira, de 19 anos.
Com o uso de uma caixa d’água e uma ligação de cano PVC, o comerciante Mário Lúcio de Oliveira conseguiu economizar 1,5 mil litros de água por semana durante a limpeza da piscina de 18 mil litros que tem em casa, na cidade de Sorocaba, interior paulista. O gasto para montar a engenhoca foi de R$ 160
A dinâmica é simples: ao invés de lançar no esgoto a água da aspiração e filtragem, ele montou um sistema que envia a água turva para a caixa por um cano de PVC. Com um produto químico, ele faz a sujeira decantar no fundo do reservatório e depois devolve água limpa para a piscina.
Somente a água que ficou com a sujeira concentrada é enviada para o esgoto, cerca de 10 litros, segundo o comerciante. “Neste processo que fiz, a perda é mínima, ou seja, quase nada. Espero incentivar outros com esta atitude”, afirmou Mário de Oliveira (veja no vídeo acima o passo a passo a passo).
O sistema foi criado pelo comerciante depois que um piscineiro comentou que muita água era jogada fora, sem necessidade. A família aderiu à nova técnica há dois meses. “Estou colaborando com o meio ambiente, não perde nada de água”, completou.
O passo a passo da engenhoca foi registrado em vídeo pela filha do leitor, a estudante Joice dos Santos Oliveira, de 19 anos.
Um arquiteto da Baixada Santista usou peças usadas rotineiramente nas instalações hidráulicas residenciais para montar um sifão que regula a saída de água da lavadora de roupas armazenada no tanque para o esgoto, e permite o redirecionamento com a ajuda de uma torneira para o balde.
A criação artesanal do leitor Reinaldo Parisi Moreira tem custo médio de R$ 80 e facilita o reúso em casa, principalmente para lavagem de quintal e na descarga.
1º) MATERIAIS SÃO SIMPLES: as peças são vendidas em lojas de materiais de construção e podem ser encontradas facilmente. São elas: um sifão de cuba dupla, um registro de cavalete de rosca 3/4, uma luva para a torneira e um pouco da massa epóxi.
2º) MONTAGEM PRECISA DE VEDAÇÃO: Passe um pouco da massa epóxi na parte interna da luva e depois rosqueie o registro. A outra extremidade da luva, também preenchida por uma camada de massa para vedação, deve ser encaixada em uma das saídas do sifão.
3º) INSTALAÇÃO NÃO MUDA: A instalação da nova peça no tanque deve ser feita da forma tradicional. Uma das pontas é encaixada na saída de água do tanque e a outra na do esgoto. O terceiro braço, com o registro, ficará solto e deve ser aberto quando a água armazenada precisar ser reutilizada.
“Se for uma água mais suja, a pessoa descarta. Se não for, ela pode ser reaproveitada para outras atividades da casa. Aqui onde moro nós usamos para lavar o quintal e também nos vasos sanitários, explicou Reinaldo Moreira.
Projeto social
A ideia surgiu em 2008 quando Reinaldo Parisi Moreira, morador do Guarujá, fazia um trabalho social na Fundação Casa em 2009. Ele desenvolveu o projeto e contou com a ajuda dos adolescentes para montar o primeiro protótipo. Por dois anos, o arquiteto aprimorou o sistema e conseguiu deixá-lo mais resistente e a montagem mais simples.
O projeto teve patente requerida e foi apresentado em feiras de inventores desde então. Uma fabricante de peças hidráulicas chegou a se interessar pelo produto, mas não deu andamento à fabricação industrial. O arquiteto continuou com o projeto e tem instalado as peças, de forma artesanal, na casa de amigos.
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Desde quarta-feira (4) estou circulando por regiões de São Paulo que vivem as dificuldades com a escassez de água.
Nos últimos dias eu passei a morar em duas casas no Bairro do Limão. Também circulei pelo Parque Edu Chaves, tudo na Zona Norte de São Paulo, uma das primeiras regiões a enfrentar a redução do fornecimento de água.
No terceiro dia dessa jornada, passei a morar na casa da dona Teresa Prudêncio, uma imigrante portuguesa que dá aula de música. Ela mora com o filho e ambos chegaram a ficar quatro dias consecutivos sem água em casa. Dona Teresa armazena água da chuva e tenta economizar o máximo de água da caixa e ainda guarda o que consegue de água da chuva em garrafas pet e galões.
Aproveitei para mostrar como é possível lavar um carro com pouco mais de meio litro de água e também aproveitando a água da chuva. Conheci o Alexandre, um escoteiro de 16 anos que ensinou a fazer um filtro para tratar a água da chuva.
Repeti a experiência de tomar banho de caneca. Da primeira vez, na casa da Vanessa e do Marcelo, usei pouco mais de três litros de água. Na casa de dona Teresa, onde ela consegue armazenar mais água, usei seis litros para o banho.
No meu quarto dia de estadia em casas de família com pouca água, me mudei para a casa de Alexandre e Ana, também no Limão. Eles não conseguem saber exatamente quanto tempo de água eles recebem por dia, pois moram em um ponto mais alto da rua e a pressão da água é bem mais fraca do que na casa dos vizinhos.
Eles conseguem se manter com água porque têm um sítio em Tapiraí, no Vale do Ribeira, onde existe uma nascente. É a água dessa nascente que eles usam para distribuir aos vizinhos locais e até trazer para os vizinhos no Bairro do Limão.
Andei pelo Parque Edu Chaves, onde ouvi o relato da Andressa, que mora com o marido e a filha, mas recebem menos de três horas de água por dia. Ela tem sentido dores de estômago e acredita que seja por causa da má qualidade da água que está chegando à sua caixa d’água. A filha leva essa mesma água, que ela considera ruim, para tomar durante a aula, porque a escola também sofre com a falta de água.
A comerciante Lucimar, que tem um bar, dorme apenas duas horas por dia para conseguir pegar água no horário que a Sabesp fornece na região, das 8h às 11h.
Perto dali, o costureiro Sabino está preocupado com a qualidade da água, pois usa para dar banho nos três filhos e, principalmente, para fazer o leite das crianças. O dono do imóvel até comprou um tambor para ajudar a família de inquilinos.
Este cenário todo é vivido por moradores do Limão e do Parque Edu Chaves há mais de um ano.
O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água.
Os moradores do Parque Edu Chaves, na Zona Norte de São Paulo, reclamam que só têm água durante três horas do dia. Normalmente, o fornecimento de água começa às 8h e termina às 11h, segundo relato de comerciantes e de quem vive na região. A qualidade e aspecto da água também é motivo de descontentamento.
A comerciante Andressa Nascimento, 29 anos, disse que está passando por problemas de saúde depois que a pressão da água foi reduzida pela Sabesp. “A água, quando chega, chega turva e com uma espuma branca. Uso essa água no filtro de casa, para beber e preparar comida. Nos últimos dias tenho sentido dores de estômago. Esse problema já dura desde março do ano passado.”
A filha dela vai à escola e leva uma garrafa da mesma água, pois a escola não tem água e recomenda que os alunos levem a bebida de casa. Andressa junta água da chuva para usar na descarga do banheiro. A caixa d’água só está ligada ao vaso sanitário e à torneira da pia do banheiro. “Minha filha colocou um bilhete na válvula da descarga para que peguem balde de água da máquina.”
A comerciante Lucimar Rodrigues, 56 anos, também reclama da pressão da água e do pouco tempo de fornecimento de água. “Não consigo encher minha caixa d’água, que fica no andar de cima do meu bar. Preciso pegar baldes e subir a escada toda vez que preciso de água. O banho é de canequinha.”
Ela costuma dormir por volta das 5h da manhã por causa do funcionamento de seu bar. “Durmo apenas duas horas por noite, pois acordo apenas para aproveitar a pouca vazão de água que temos de manhã. Aqui temos água apenas das 8h às 11h. E não é suficiente para passar o dia”, disse Lucimar.
O costureiro Sabino Catari reclama da falta de água, principalmente porque tem três filhos e a caixa d’água que a casa em que mora, alugada, só tem capacidade de 300 litros. “A gente precisa de água mais por causa das crianças, porque preciso fazer o leite delas com a água, lava a roupa delas. A água, do que jeito que chega, não dá para beber. Só temos água por três horas.”
O dono do imóvel onde mora Sabino, o aposentado José Ramalho, levou um tambor de 260 litros para o inquilino na tarde deste sábado (7). “A construção não comporta uma caixa d’água maior. Comprei o tambor para os moradores terem uma capacidade maior.”
O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água.
O casal Alexandre Rodrigues e Ana Lúcia da Silva moram no Bairro do Limão, na Zona Norte de São Paulo e aproveitaram uma reforma que estão fazendo na casa e instalaram duas caixas d’água para aproveitar a possibilidade de melhora do abastecimento de água na região. Os moradores estão enfrentando dificuldades com a escassez de água.
Eles têm um sítio em Tapiraí, no Vale do Ribeira, que se transformou de um refúgio familiar a porto seguro de abastecimento de água. “A gente tem uma nascente, que já foi testada e aprovada por ter boa qualidade, por ser potável. A gente aproveitou para fazer um sistema que permite distribuir água para a nossa vizinhança de lá”, disse Ana.
Como têm dois dias de folga por semana, o casal aproveita esse período para levar a roupa acumulada para lavar no sítio. “A gente também consegue trazer para São Paulo um pouco da água da nascente para nós. O que conseguimos trazer a mais repassamos para a vizinhança daqui [Bairro do Limão]. A gente tem de dividir o pão, ou melhor, a água”, afirmou Ana.
Alexandre, que está fazendo a reforma da casa por conta própria, disse que está economizando água até para fazer o cimento. “A gente faz a receita certinha da massa, sem desperdício.”
O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água.
Alexandre Júnior usou seus conhecimentos de escotismo para mostrar como é possível tratar água da chuva por até dois meses. Ele usou uma garrafa pet, um garrafão de plástico, carvão ativo, areia grossa e areia fina, cascalho fino e cascalho grosso, feltro. O custo foi de cerca de R$ 30 para conseguir todos os produtos necessários.
O escoteiro afirmou que basta passar a água da chuva seis vezes pelo filtro (apenas para iniciar o processo, pois as primeiras filtragens ainda acumulam detritos do carvão ativo). Por garantia, ele passou a água pelo sistema 20 vezes. “Foi só por garantia. Depois de filtrada, recomendamos pingar duas gotas de cloro em um litro de água”, afirmou o jovem, que me ofereceu um brinde com a água recém filtrada com a técnica.
Veja abaixo como ficou a água depois de passar pelo filtro:
Repórter do G1 lava carro com meio litro de água + garoa
O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água.
O desafio era diminuir o gasto de água para lavar o carro de aproximadamente 200 litros para apenas 2 litros. E consegui completar a missão em 20 minutos indo além: deixei o carro limpo com exatos 560 ml de água (armazenada da chuva) e ainda fui recompensado com uma mãozinha da garoa. Eu nunca tinha tentado fazer a experiência, mas resolvi aproveitar a garoa do fim da tarde desta sexta-feira (6) para encarar o desafio.
Para lavar o carro do casal Alexandre Rodrigues e Ana Lúcia da Silva, comprei um shampoo específico para lavagem seca de carro. A água da garoa ajudou a molhar o carro e facilitou a primeira etapa da lavagem, que era a de aplicar o shampoo. Em seguida, era preciso passar um pano para retirar o produto. Para finalizar, a recomendação era passar pano seco. Essa etapa eu acabei pulando por razões óbvias. Ainda estou esperando a gorjeta.
Gastei R$ 26,80 para comprar o shampoo e os três panos de microfibra, recomendados pelo fabricante. Os panos são reutilizáveis e usei cerca de 70 ml do shampoo para lavar o carro todo.
O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água.
Desde quarta-feira (4) estou circulando por regiões de São Paulo que vivem um clima de apreensão com a falta de água. Muitos paulistanos estão sentindo alguns dos efeitos das restrições no abastecimento, outros ainda seguem com a rotina normal.
Eu estou dormindo na casa de pessoas que moram em alguns desses bairros mais impactados. A ideia é mostrar quais são as dificuldades vividas pelos moradores e quais soluções que encontraram para o dia a dia sem água.
No primeiro dia eu morei na casa de Vanessa Moraes e Marcelo Oliveira. Eles recebem água com pouca pressão por apenas oito horas do dia. O abastecimento não é suficiente para que a família, que também tem três filhos consiga passar o dia com tranquilidade. Eles fazem revezamento para tomar banho.
Eu experimentei a dificuldade da família dividindo com eles a pouca água que armazenaram. A rotina de falta de água ocorre desde dezembro de 2013.
Também na Zona Norte, o mecânico José Luiz Apis passou a usar mais gel para limpar as mãos depois de um dia de trabalho.
Sem água, um restaurante na Casa Verde passou a fechar três horas antes do normal. É quando começa a faltar água.
No segundo dia, passei a morar na casa do serralheiro Natanael Silva, que montou uma engenhoca para armazenar água da chuva. Ele consegue guardar cerca de 460 litros, o que é suficiente para o consumo de 15 dias em sua casa.
Ainda na Casa Verde, um grupo de moradores e comerciantes usaram a irreverência e o bom humor para chamar a atenção para um vazamento ocorrido na última terça-feira (3) na região. Eles simularam uma pescaria no rombo que o vazamento provocou na rua.
Perto dali, o cabeleireiro Maurílio Silva precisou se adaptar para continuar com o salão aberto durante a escassez de água. Ele não tem caixa d’água e passou a pedir para as clientes virem de casa com a cabeça molhada.
Já o casal Ronny Marques e Camila Marques compraram uma caixa d’água para guardar água da chuva. Eles acumulam roupa para lavar de uma vez só e reaproveitam água da máquina. A família fez uma gambiarra para ligar uma mangueira do tanque ao chuveiro.
O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água.
Dona Teresa Prudêncio da Silva é uma daquelas imigrantes portuguesas que praticamente já incorporou o DNA brasileiro. Veio ao Brasil com 6 anos e já fez de tudo na vida.
Foi auxiliar de enfermagem, culinarista, caminhoneira e trabalhou na roça, mas sempre nutriu um sonho, o de aprender a tocar piano.
Foi aprender a tocar aos 50 anos e conseguiu dominar o instrumento, contrariando a lógica de quem só toca o instrumento se começar desde cedo.
Hoje, aos 63 anos, dá aula de música para netos e vizinhos em sua casa. Tem dois pianos armário com a inscrição Brasil na frente e uma sanfona, que ainda diz estar aprendendo a tocar. Quando sobra tempo, pinta quadros e faz reparos elétricos e hidráulicos em sua casa, prática que lhe rendeu o apelido de “Pereirão”, referência ao personagem de Lilian Cabral na novela Fina Estampa.
Conheci a professora no domingo (1º) quando a visitei para saber se concordaria em me hospedar por um dia e me mostrar a rotina dela com a escassez de água. Bem humorada, ela disse que concordava, pois enquanto conversávamos começou a chover. “Você é pé quente e trouxe chuva. Venha e fique à vontade.”
Abusando da hospitalidade, pedi que ela fizesse uma música sobre a falta d’água. “Não vou dormir para fazer essa composição”, confidenciou.
Na manhã desta sexta-feira (6), como combinado, toquei a campainha da casa dela às 6h. Em menos de uma hora ela se sentou ao piano e recitou o poema. O filho Andryus, que também está aprendendo a tocar sanfona com a mãe, encerrou o recital fazendo menção a São Paulo estar virando sertão e tocou Asa Branca, de Luiz Gonzaga.
“Você realmente nos trouxe chuva no domingo e durante a semana. E voltou a chover hoje. Só queria ter menos sotaque português para falar como os brasileiros”, disse ela.
Leia abaixo o poema musical feito por dona Teresa:
Domingo à tarde, a chuva
Oh, Cantareira querida, tu foste orgulho meu
Mataste a sede de tantos seres, mas só o ser humano a esqueceu
Hoje, vazia e suja, viraste um pasto para boi
Aos olhos de tanta gente, jamais será o orgulho que foi
Não fiques triste, pois tudo passa na vida
Um dia direi novamente “és meu orgulho, Cantareira querida”.
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Professora diz que sonhava com água e calamidade, mas nunca imaginou a falta
O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água.A relação da professora de música Teresa Prudêncio da Silva com a água começou na infância, aos 6 anos, quando ela veio de navio com os avós, saindo da Ilha da Madeira, que pertence a Portugal, para o Brasil. Durante muito tempo ela teve sonhos com água e todos traduziam cenas de algum tipo de calamidade. “Isso é curioso, porque os sonhos mostravam cenas de enchentes, mas nunca de falta de água, como está acontecendo agora.”
Ela mora com o filho Andryus no Bairro do Limão, na Zona Norte de São Paulo, região que também está com problemas de abastecimento de água. “Aqui está faltando água desde março do ano passado. Já chegamos a ficar quatro dias consecutivos sem uma gota de água, sequer para matar a sede”, disse a professora.
Quando a encontrei pela primeira vez, no domingo (1º), ela estava com pouca água na caixa e bastante preocupada, mas começou a ficar aliviada com a chuva que caiu naquela tarde. Ao retornar à casa dela, na manhã desta sexta-feira (6), dona Teresa estava bastante aliviada e sorridente porque a chuva dos últimos dois dias foi suficiente para melhorar a quantidade de água que sai pela torneira da cozinha.
Ela armazena a água quem vem do céu em várias garrafas, galões e tambores que tem espalhado pela cozinha e quintal. “Tenho três cachorros e muitas plantas. Todos precisam de cuidados especiais e por isso guardo água para não faltar mais. Também deixo água para os pássaros, que costumam vir cedinho tomar água no meu jardim.”
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Serralheiro monta sistema de tambores para guardar água da chuva
O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água.
Captando água de chuva, o serralheiro Natanael Silva consegue o suficiente para seu consumo doméstico durante 15 dias. Ele mora no Bairro Casa Verde, na Zona Norte de São Paulo.
Este foi o meu segundo ponto de parada na região que está sofrendo com a escassez de água. Fiquei 24 horas no local, e a situação está bem melhor do que na primeira casa onde fiquei, do casal Vanessa Moraes e Marcelo Oliveira.
Natanael é viúvo e mora sozinho. Ele afirma que consome menos do que os 10m³ de água, que a Sabesp cobra como valor mínimo em sua conta mensal. “O objetivo é tentar zerar o uso de água da Sabesp. Temos água da chuva, basta coletar e armazená-la. Espero que essa cobrança mínima mude”, disse ele.
Ele montou um sistema que usa dois tambores plásticos e um encanamento que liga o duto da calha aos recipientes. A engenhoca permite guardar mais de 400 litros de água. Com as chuvas de quarta (4) e quinta-feira (5), ele está tranquilo, pois os dois tambores estão cheios.O próximo passo, segundo Natanael, é ligar o sistema com o vaso sanitário do banheiro. “Farei essa mudança no próximo final de semana”, contou.
Na quarta-feira, por causa de uma obra de reparo de vazamento em tubulação da Sabesp perto da casa dele, Natanael disse que a água da torneira começou a sair na cor marrom, cheia de barro, durante dois dias desta semana (assista ao vídeo abaixo). “Por ter o meu sistema de água, não fiquei preocupado, mas a água estava bem suja”, disse ele.
Veja um passo a passo para captar água da chuva
Sem caixa d’água, cabeleireiro pede para clientes lavarem a cabeça em casa
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O repórter do G1 Glauco Araújo passará 5 dias morando em casas que já enfrentam falta de água em São Paulo. Ele vai narrar as dificuldades vividas pelos paulistanos e quais soluções criativas estão aparecendo diante dos desafios do dia a dia sem água. Leia mais.O cabeleireiro Maurílio Silva precisou se adaptar para continuar com o salão aberto durante a escassez de água no bairro de Casa Verde, na Zona Norte de São Paulo. Ele não tem caixa d’água e passou a pedir para as clientes virem de casa com a cabeça molhada. “Quando alguma cliente chega de última hora ou esquece de vir com o cabelo molhado, uso um borrifador ou improviso um balde para lavar.”
A orientadora Viviane Bernardo é cliente de Maurílio e já se acostumou com o pedido do cabeleireiro. Ela disse que para conseguir cortar o cabelo ela precisou planejar o dia. “Acordei às 6h da manhã para guardar água e lavar o cabelo, pois às 10h a gente já fica sem água até o dia seguinte.”
Maurílio também reduziu os dias de atendimento. O salão está funcionando apenas no período de quinta-feira até sábado.
Fonte: G1
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