Moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, fizeram um protesto em 2/4/15, após a morte de uma criança de 10 anos, em mais um confronto entre policiais e criminosos. O grupo caminhou pelas ruas do conjunto de favelas, acendendo velas e rezando. Eduardo de Jesus foi atingido por um tiro de fuzil no fim da tarde. Foi a quarta vítima de tiroteio na região em pouco mais de 24 horas.

No Facebook circula, desde a noite de quinta, um vídeo que mostra a mãe da criança se revoltando com o policial supostamente responsável pela morte da criança. As imagens são fortes. Para assistir,

Segundo a Coordenadoria das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), policiais do Batalhão de Choque faziam um patrulhamento quando foram recebidos a tiros na localidade conhecida com Areal. Os moradores acusam os policiais de terem disparado contra a criança, que brincava em uma escadaria. As armas dos policiais serão apreendidas pela Polícia Civil, que abriu inquérito na Divisão de Homicídios. O caso também será investigado por um Inquérito Policial Militar (IPM).

Ao longo dos últimos dois dias, uma série de confrontos e tiroteios deixou o Complexo do Alemão em alerta. Três pessoas foram mortas e outras três ficaram feridas em dois tiroteios ocorridos na quarta-feira, 1º. A primeira troca de tiros ocorreu por volta das 16h, quando policiais em patrulhamento entraram em confronto com suspeitos armados. Rodrigo de Souza Pereira foi atingido na cabeça e morreu no local.

Elizabeth de Moura Francisco, de 40 anos, foi atingida no rosto por uma bala perdida dentro de casa e também morreu no local. Uma filha de Elizabeth, de 14 anos, foi ferida no braço e socorrida ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, no bairro da Penha, na zona norte do Rio. A adolescente foi liberada e passa bem.

Na mesma unidade de saúde, permanece internado um jovem de 15 anos que foi atingido por tiros no braço, na perna e no tórax, mas seu estado de saúde é estável, informou a Secretaria de Estado de Saúde. Além dos dois adolescentes, um policial também foi levemente ferido por estilhaços.

Ainda na noite de quarta, outro tiroteio ocorreu por volta das 20h30 no Complexo do Alemão. Matheus Gomes de Lima foi morto na troca de tiros. O rapaz chegou a ser levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.

As armas dos policiais envolvidos nos dois tiroteios foram apreendidas para confronto balístico. Os casos foram registrados na Delegacia do Alemão e na Delegacia da Penha, respectivamente.

Na manhã de quinta, uma base avançada da UPP do Alemão, que funciona em um contêiner, foi depredada. As janelas e portas foram quebradas e colchões e uma caçamba de lixo foram incendiados ao lado da unidade, na Rua Canitar, segundo o Comando das UPPs.

Por meio de redes sociais como Twitter e Facebook, moradores relataram haver lixo incendiado em outros pontos da comunidade. Também houve relatos de que comerciantes mantiveram as portas fechadas no Complexo do Alemão.

Agentes do Batalhão de Choque e do Centro de Operações Especiais (COE) reforçaram o policiamento no local.

Fonte: Yahoo

Mata-se cinco vezes mais no Brasil do que na média mundial, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. O país tem a 11ª maior taxa de homicídios do mundo, em ranking com 194 países. O estudo mais recente aponta que ocorreram 32,4 assassinatos por cada grupo de cem mil habitantes no Brasil. O índice é nove vezes a média do grupo de países ricos (3,8). O campeão da lista é Honduras, com taxa de 103,9 mortes por cem mil moradores. O Brasil só está atrás de países centro-americanos e africanos, a maioria pobres. Luxemburgo (0,2), Japão (0,4) e Suíça (0,6) são os países onde menos se mata.

Nesta quarta-feira, a Anistia Internacional divulgou levantamento sobre os direitos humanos em todo o mundo. A seção brasileira destacou que o ano de 2014 foi marcado pelo agravamento da crise da segurança pública no Brasil. Para tal conclusão, elenca a curva ascendente dos homicídios no país; a alta letalidade nas operações policiais, em especial nas realizadas em favelas e territórios de periferia; o uso excessivo da força no policiamento dos protestos que antecederam a Copa do Mundo; as rebeliões com mortes violentas em presídios superlotados e casos de tortura policial.

A Anistia afirma que a militarização da segurança pública – com uso excessivo da força e a lógica do confronto com o inimigo – tem contribuído para a manutenção do alto índice de violência letal no país.

Propõe que seja elaborado um “plano nacional de metas para a redução imediata dos homicídios, em articulação entre o governo federal e governos estaduais; a desmilitarização e a reforma da polícia, estabelecendo mecanismos efetivos de controle externo da atividade policial, promovendo a valorização dos agentes, aprimorando sua formação e condições de trabalho, assim como as técnicas de inteligência para investigação”, entre outros pontos.

O relatório de 2014 cita violações de direitos em situações de protestos, com respostas do governo e das polícias para as manifestações pré-Copa do Mundo, com uso excessivo da força e prisões arbitrárias e agressões a jornalistas. Coroa o absurdo com o exemplo  da condenação de Rafael Braga Vieira, único jovem preso e condenado a cinco anos de prisão por portar material de limpeza. Para a Justiça do Rio, Vieira era portador de artefato caseiro.

Se há um campo em que o país precisa de empenho conjunto na definição de metas e estratégias, é o da segurança pública. Não basta que o tema retorne a cada campanha eleitoral. No Congresso, há 22 parlamentares com origem nas forças policiais e que formam a chamada “bancada da bala”. Querem afrouxar regras do porte de arma e criminalizar adolescentes como resposta à violência cotidiana. Se não houver mobilização e resposta social, as respostas imediatas para a questão da segurança tendem a ser histéricas e simplistas. As propostas da Anistia Internacional são um bom eixo para discutir o tema. É preciso enfrentá-lo, apesar do desgaste político contra a turma do “bandido bom é bandido morto”. O Brasil está matando o seu futuro. É um suicídio contra o qual não há grades, câmeras e vidros blindados que protejam.