Justiça saudita mantém castigo corporal para blogueiro que ‘insultou o Islã’r

Badawi está preso desde 2012 e chegou a ser acusado de crime religioso passível de pena de morte

Apesar dos pedidos de clemência da comunidade internacional, a Arábia Saudita manteve a decisão de punir com mil chicotadas e 10 anos de prisão um blogueiro acusado de insultar a religião muçulmana.

Autor de um blog defendendo a liberdade de expressão, Raif Badawi está preso desde 2012 e em janeiro deste ano recebeu 50 chibatadas em público – um vídeo mostrando a cerimônia foi vazado na internet.

De acordo com a decisão original de um tribunal saudita, a parte do castigo corporal da sentença teria que ser levada a cabo de duas em duas semanas, mas desde a primeira “sessão”, em nove de janeiro, o processo foi interrompido. Oficialmente, a interrupção se deu por recomendação de uma junta médica que viu risco de vida para Badawi e considerou que ele não tinha se recuperado o suficiente das primeiras chibatadas.

Críticas

No entanto, acredita-se que a comoção internacional causada pelo caso também tenha influenciado a interrupção. Isso apesar de o governo saudita em março ter expressado seu descontentamento com o que chamou de tentativa de ingerência em assuntos internos do país.

A pressão internacional fez com o que o governo pedisse à Suprema Corte para reexaminar o caso e neste domingo os juízes mantiveram a sentença, que também inclui uma proibição para que, depois de solto, Badawi saia da Arábia Saudita ou use a internet até 2034.

Ensaf Haidar, a mulher do blogueiro teve que fugir para o Canadá, com medo de represálias

Badawi irritou as autoridades ao promover a Rede de Sauditas Liberais, um blog promovendo o debate sobre assuntos e religiosos, e em que disparou críticas contra autoridades e acusou determinados líderes religiosos de fomentar o radicalismo islâmico.

Príncipe

A Arábia Saudita é uma das poucas monarquias absolutistas que ainda restam no mundo e além de usar castigos corporais e pena de morte é criticada constantemente por entidades de defesa dos direitos humanos por reprimir manifestações democráticas.

Apesar disso, o país tem um dos mais altos índices de uso de mídia social do mundo.

Protestos pedindo a libertação de Badawi têm ocorrido em várias partes do mundo

Inicialmente, Badawi tinha sido condenado, em 2013, a sete anos de prisão e 600 chibatadas, mas a punição foi ampliada um ano depois. Ele também tinha sido acusado pelo crime de apostasia (afastar-se da religião), o que no islamismo é considerado um pecado grave e que na Arábia Saudita pode ser punido com a morte.

A mulher do blogueiro, Ensaf Haidar, deixou o país com os filhos e hoje vive no Canadá, depois de alegar ter recebido ameaças. Ela vem liderando uma série de campanhas pedindo a libertação do marido.

Além de uma série de protestos em diversas cidades do mundo, autoridades internacionais interferiram em favor de Badawi junto ao governo saudita. Entre eles o herdeiro do trono da Grã-Bretanha o príncipe Charles. A Suécia cancelou acordos militares com a Arábia Saudita.

Mulheres que dirigiram na Arábia Saudita serão julgadas em corte antiterror, dizem ativistas

Foto de vídeo divulgado por Loujain al-Hathloul mostra ela dirigindo dos Emirados Árabes Unidos até a fronteira com a Arábia Saudita

Duas sauditas detidas por infringirem uma proibição para que mulheres dirijam no país serão julgadas em um tribunal antiterrorismo, disseram ativistas.

Loujain al-Hathloul, de 25 anos, e Maysa al-Alamoudi, 33, estão detidas há quase um mês. Os casos teriam sido transferidos devido a comentários que elas fizeram nas redes sociais e não por estarem dirigindo, segundo os ativistas.

Loujain foi presa em 1º de dezembro após ter tentado entrar no país dirigindo, vinda dos Emirados Árabes Unidos, segundo a agência de notícias AFP.

Maysa, uma jornalista saudita baseada nos Emirados Árabes Unidos, também foi presa quando chegou à fronteira para ajudar Loujain, disse a agência.

As duas mulheres têm um grande número de seguidores no Twitter. Loujain escreveu uma mensagem sobre sua longa espera na fronteira saudita ao tentar entrar no país.

A Arábia Saudita é o único país do mundo onde mulheres são impedidas de dirigir. Apesar de não ser tecnicamente ilegal que elas dirijam, apenas homens recebem carteiras de habilitação – e mulheres que dirigem correm o risco de serem multadas e detidas pela polícia.

Sob as leis sauditas, as mulheres devem ficar no banco de passageiros

Sauditas lançaram uma série de campanhas – inclusive nas redes sociais – exigindo um relaxamento das restrições.

Uma ativista e escritora saudita, Hala al-Dosari, disse à BBC que a transferência dos casos das mulheres era vista como “uma continuação dos esforços das autoridades da reprimir a oposição”. “Este não é um caso isolado”, disse ela.

Na quinta-feira, um tribunal em al-Ahsa, no leste do país, decidiu que as mulheres deveriam ser julgadas em uma corte especializada em Riad, criada para lidar com casos de terrorismo.

Ativistas dizem que advogados das mulheres planejam recorrer da decisão.

Mulher saudita flagrada em estádio de futebol causa revolta no país

Torcedora foi flagrada nas arquibancadas e causou revolta na Arábia Saudita

Uma torcedora saudita revoltou homens do seu país por causa de sua presença em um estádio de futebol.

Em um vídeo no Youtube, a mulher, vestida de niqab – uma túnica e um véu cobrindo o rosto, deixando aparecer apenas os olhos -, aparece nas arquibancadas irritada com uma falta cometida em cima de um jogador do seu time, o Al Hilal, e gesticulando para o gramado.

O jogo era a semifinal da Liga dos Campeões da Ásia entre o Al Hilal, da Arábia Saudita, e o Al Ain nos Emirados Árabes. O time dela (Al Hilal) foi derrotado por 2 a 1.

O clipe já foi visto quase 400 mil vezes no YouTube e tem 1.500 comentários – boa parte deles de homens indignados criticando a mulher não identificada por estar em um estádio repleto de homens.

“Mulheres não se interessam por futebol, então por que elas vão a um estádio para ver um jogo ao vivo?”, escreveu um deles. “Essa mulher não tem um marido? O lugar dela é dentro de casa”, disse outro.

Vários outros que são contra a presença de mulheres nos estádios disseram que a atitude da saudita “incentiva o comportamento imoral e pecaminoso”. Outros falaram que isso coloca as mulheres em risco de serem assediadas.

Críticas

Na Arábia Saudita, as mulheres não podem frequentar jogos de futebol, mas a partida em questão estava sendo realizada nos Emirados Árabes Unidos e, por isso, havia várias mulheres sauditas no estádio apoiando o Al Hilal, time do país.

Lina Al Maena, ex-atleta que defende o direito das mulheres praticarem e participarem de esportes na Arábia Saudita, disse que “as mulheres são assediadas todos os dias, nos shoppings, nas ruas, então não entendo por que no estádio seria diferente”.

Mesmo com as críticas à atitude da mulher flagrada no estádio, Lina Al Maena acredita que já está havendo uma abertura no mundo dos esportes na Arábia Saudita. “Há muito mais aceitação hoje no envolvimento de mulheres com esportes do que se tinha uma década atrás”, constatou.

Segundo jornais sauditas, o governo do país está considerando a possibilidade de construir setores separados no estádio para mulheres.

O rei saudita Abdullah bin Abdulaziz morreu no hospital, aos 90 anos, anunciou a televisão estatal da Arábia Saudita. O monarca, o quinto filho do fundador da Arábia Saudita a ocupar o trono, será sucedido por outro meio-irmão, o príncipe Salman, numa mudança de testemunho esperada mas que não deixa de contribuir para as incertezas que rodeiam o Médio Oriente.

Arábia Saudita proíbe casamento com estrangeiras de quatro países

Pelas novas regras, homens sauditas estão impedidos de casar com cidadãs do Paquistão, Bangladesh, Chade e Myanmar

O governo da Arábia Saudita ampliou as restrições ao casamento de seus cidadãos com estrangeiras, incluindo uma proibição expressa ao matrimônio com mulheres de quatro países.

Os homens sauditas estão proibidos de se casarem com mulheres nascidas no Paquistão, Bangladesh, Chade e Myanmar e que estejam vivendo na Arábia Saudita. Segundo estatísticas não oficiais, 500 mil mulheres desses países vivem hoje na Arábia Saudita.

A Arábia Saudita possui um dos maiores contingentes de mão de obra estrangeira entre os países do Golfo. São 9 milhões de pessoas – ou 30% da população.

A nova medida gerou polêmica em jornais e revistas do Golfo e do Paquistão. Leitores do jornal paquistanês Pakistani Dawn acusaram a Arábia Saudita de racismo.

Já o diário saudita Saudi Gazette questionou o fato de que o novo decreto afetar apenas mulheres desses quatro países.

Divórcio e poligamia

Pelas novas regras, os noivos que quiserem se casar com estrangeiras têm de encaminhar à polícia o documento de identidade original junto com a proposta de casamento assinada pelo prefeito da cidade onde moram. A papelada será então remetida ao governo para apreciação, explicou o chefe de polícia de Mecca, Assaf Al-Qurshi.

Os solicitantes precisam ter idade superior a 25 anos. Caso tenham se divorciado, terão que esperar seis meses antes de um novo casamento, informou o jornal Makkah.

Para homens casados, o requerente “deve incluir um relatório de um hospital federal atestando que sua esposa está sofrendo de uma doença crônica ou é estéril”.

Enquanto isso, homens casados com mulheres saudáveis precisam provar que suas esposas autorizam o segundo matrimônio.

A Arábia Saudita permite a poligamia – um homem pode ter várias esposas.

Jovens são presos por dar ‘abraços grátis’ na Arábia Saudita

Polícia religiosa da Arábia Saudita detém suspeitos por incentivar práticas exóticas

Dois homens foram presos na Arábia Saudita por oferecer “abraços grátis” nas ruas de Riad.

A polícia religiosa saudita deteve os dois jovens pelos crimes de “incentivar práticas exóticas” e ofender a ordem pública.

O movimento de abraços grátis propõe “iluminar” as vidas das pessoas ao oferecer abraços a estranhos.

O jovem saudita Bandr al-Swed publicou um vídeo no YouTube no qual aparece oferecendo abraços a homens desconhecidos que passam na rua. Mais de 1,5 milhão de pessoas assistiram ao vídeo.

“Após ver a ‘Campanha de Abraços Grátis’ em muitos países diferentes, decidi fazer isso em meu próprio país”, disse Swed à TV al-Arabiya.

“Gostei da ideia e pensei que ela poderia levar felicidade à Arábia Saudita.”

Sharia

Segundo o jornal britânico Independent, o vídeo inspirou outros dois jovens sauditas: Abdulrahman al-Khayyal e um amigo.

A dupla então foi a uma das principais ruas de Riad e começou a oferecer abraços, anunciando o “serviço” em um letreiro.

Os dois foram rapidamente presos pela polícia religiosa local, órgão da Comissão para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício encarregada de assegurar o cumprimento da sharia (lei islâmica) no país.

Os dois suspeitos foram libertados após assinar um documento prometendo que não voltariam a oferecer abraços na rua.

A polícia religiosa atraiu críticas por seu papel em um incêndio, em 2002, em uma escola em Mecca, no qual 15 meninas morreram. A polícia foi acusada de manter as crianças na escola durante o incêndio por elas não estarem adequadamente vestidas para sair.

Sauditas fazem campanha no Twitter pedindo melhores salários

Charge crítica ao governo mostra estrangeiros se beneficiando mais com riqueza do país

Uma campanha nas mídias sociais pedindo melhores salários na Arábia Saudita está ganhando grande adesão dos internautas do país, devido ao recente aumento no custo de vida.

Nos últimos dois, ativistas criaram uma hashtag em árabe que se tornou muito popular no Twitter: #nossos_salários_não_cobrem_nossas_necessidades.

Mais de 17 milhões de mensagens com esta hashtag em árabe foram publicadas nas primeiras duas semanas da campanha, que começou em julho.

No entanto, a campanha também atrai críticas. Para alguns, ela expõe em público problemas privados. Para outros, ela é simplesmente exagerada.

Um dos objetivos da campanha é fazer com que o rei Abdullah, que governa o país, aumente os salários por decreto. Os ativistas têm exposto o problema da pobreza no país, um dos mais ricos em petróleo do mundo.

Dia Nacional

Desde os anos 1970, a população passou de sete milhões para 30 milhões. Os mais jovens com bom nível de educação lideram as reivindicações por melhorias.

Alguns se ressentem com a promessa feita pelo governo de ajudar o Egito financeiramente, em um momento em que há muita pobreza.

Uma charge que circula no Twitter ilustra o problema. A imagem mostra um casal saudita e um bebê morando em um trailer. A legenda diz: “A Arábia Saudita dá US$ 5 bilhões ao Egito. Eles [a família] não merecem mais?”

A família real saudita também é criticada. Muitas mensagens no Twitter criticam a notícia não-confirmada de que um dos príncipes da família teria pago US$ 500 mil a uma instituição de caridade para ter um encontro de 15 minutos com a atriz americana Kristen Stewart.

Ativistas também reclamam da falta de imóveis a preços acessíveis, um problema que já foi criticado pelo Fundo Monetário Internacional em um relatório recente.

Os protestos podem se intensificar em 23 de setembro, o Dia Nacional, um feriado patriótico na Arábia Saudita.

Um internauta escreve: “Que Dia Nacional é esse, quando minha nação está afundando em dívida, todos os príncipes estão na Suíça e nós é que pagamos as contas? A culpa é de quem permite que eles brinquem com nosso dinheiro e nosso petróleo.”

Este tipo de debate público é raro na Arábia Saudita. O secretário-geral do gabinete do rei, Abdul Rhman al-Sadhan, criticou a campanha no Twitter, dizendo que ela é uma “oportunidade para insurreição (…) liderada por pessoas raivosas com o fato de o reino estar em paz e estabilidade, enquanto outros países sofrem.”

Romeu e Julieta’ sauditas viram tema de campanha no Facebook

Simpatizantes fazem campanha online em favor do casal, detido na fronteira Arábia Saudita – Iêmen

Um relacionamento “proibido” entre dois jovens, envolvendo Arábia Saudita e Iêmen, virou tema de uma campanha no Facebook.

O amor entre Huda (uma moça hoje com 22 anos e vinda de uma família proeminente) e Arafat (um imigrante iemenita pobre de 25 anos) floresceu quando ela entrou em uma loja de celulares em sua cidade natal, na Arábia Saudita. Ele trabalhava lá. Ambos se apaixonaram.

Huda visitou a loja ao longo de anos para encontrar-se com Arafat, que pediu a mão da jovem em casamento ao pai dela. Mas o pai recusou, diz o advogado do casal.

“Minha família queria que eu me casasse com um outro homem”, diz Huda em um vídeo postado no YouTube, que, segundo relatos, é parte de uma entrevista que ela deu a jornalistas sauditas. “Mas eu me recusei. Disse que ninguém me tocaria senão Arafat. Foi aí que pensei que eu deveria fugir.”

Sua decisão foi considerada ousada, em uma sociedade tão tradicional e patriarcal como a saudita. Huda saiu de casa e cruzou a fronteira entre Arábia Saudita e Iêmen, disfarçada de trabalhadora iemenita.

Segundo comunicado da ONG Human Rights Watch, que conversou com o advogado do casal, Arafat estava com ela na fuga; eles planejavam se casar no Iêmen.

Mas ambos foram detidos na fronteira. Hura foi acusada de imigração ilegal, e Arafat de ser seu cúmplice.

Repercussão online

A história do casal teve grande repercussão no Facebook no Iêmen, e diversas páginas foram criadas para comentar a história do casal (uma delas tem mais de 9 mil “likes”).

Nem todos os comentários nas páginas são favoráveis a Huda e Arafat. Alguns internautas alegam que ela “envergonhou seu país e sua família”; outros evocam rixas entre iemenitas e sauditas.

Mas muitos defendem o casal e citam os levantes iemenitas durante a Primavera Árabe para pedir mais direitos civis.

“A empatia com Huda é porque ela se rebelou contra sua cultura”, diz Fahad, funcionário público de 33 anos que está organizando um protesto, neste domingo, diante do tribunal onde o casal se apresentará para uma audiência.

“Ela enfrentou uma sociedade patriarcal que ordenava que ela se casasse. Isso mostra a necessidade de termos Estados modernos, com liberdades e direitos e onde as pessoas possam, por exemplo, escolher com quem querem se casar.”

A Human Rights Watch também defendeu Huda, pedindo que ela não seja deportada à Arábia Saudita.

“As autoridades iemenitas não devem devolvê-la a seu país sem levar em conta sua alegação de que o governo saudita não será capaz de protegê-la da violência (que deverá sofrer) de sua família”, diz o comunicado da ONG.

“O Iêmen deve suspender qualquer ordem de deportação e permitir que o Comissariado da ONU para Refugiados a entreviste na prisão para verificar seu pedido por asilo.”

A ONG diz que “diversas fontes” confirmam que a Arábia Saudita está pressionando o país vizinho para que deporte Huda.

Abdullah, que terá nascido em 1923 ou 1924, era rei desde Agosto de 2005, embora tenha governado de facto o país na década anterior, depois de o antecessor, o rei Fahd, ter sofrido um acidente vascular cerebral.

À frente de uma das últimas monarquias absolutas do mundo, é creditado por algumas reformas internas: autorizou a realização de eleições municipais, que continuam a ser as únicas permitidas no país, e anunciou que as mulheres poderiam votar e ser eleitas (o que não chegou a acontecer), permitiu um nível mínimo de crítica ao governo na imprensa, deu o seu nome à primeira universidade não segregada do país e aprovou bolsas de estudo que permitiu a milhares de jovens estudar no estrangeiro. Reforçou também o papel da Arábia Saudita como potência incontestável da região e esmagou, há quase uma década, a presença da Al-Qaeda no país, após uma série de atentados que colocou em causa a segurança no maior produtor mundial de crude.

Mas a estrutura de poder não foi tocada e a Arábia Saudita mantém-se como um dos mais repressivos países do mundo, onde as mulheres são a ser presas por conduzirem, os partidos políticos são proibidos, a mínima dissidência é punida com prisão e as execuções em público uma prática corrente.

A notícia da sua morte, à 1h de sexta-feira (22h de quinta-feira em Portugal continental), foi antecedida pela recitação de versos do Corão na televisão estatal que, pouco depois, poria fim a uma especulação que durava desde 31 de Dezembro, altura em que Abdullah foi hospitalizado com uma pneumonia.

O funeral realizou-se a meio do dia de setxta-feira, um momento de grande solenidade religiosa uma vez que o rei saudita ostenta o título de guardião de Meca e Medina, o que faz dele uma das figuras mais importantes da fé muçulmana. Entre as presenças já confirmadas no funeral está o rei Abdallah da Jordânia e o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Os problemas de saúde de Abdullah foram recorrentes nos últimos anos, originando especulações sobre a sucessão no reino saudita, actor decisivo no Médio Oriente e potência mundial do petróleo. Para garantir a normalidade, Salman bin Abdulaziz al-Saud foi de imediato proclamado rei, passando o título de herdeiro para o príncipe Moqrin, o mais novo entre as dezenas de filhos de Abdulaziz al-Saud, o fundador da Arábia Saudita. Depois da sua morte, em 1952, o trono foi ocupado sucessivamente por cinco dos seus filhos, uma tradição que volta agora a ser respeitada.

Num primeiro discurso ao país, o novo monarca, tido como menos interessado em reformas e mais próximo da ultraconservadora liderança religiosa, assegurou que manterá a linha dos seus antecessores. “Permaneceremos, com o apoio de Alá, no caminho seguro que este Estado segue desde a sua criação pelo rei Abdulaziz e pelos seus filhos depois dele”, afirmou Salman numa intervenção em que prometeu manter o país a salvo de qualquer ameaça e apelou à união das nações árabes e muçulmanas.

Mas há incertezas que continuam a pairar sobre o trono saudita. Salman, que era príncipe herdeiro e ministro da Defesa desde 2011, tem 79 anos e há vários rumores sobre o seu estado de saúde, que a monarquia desmente. Moqrin foi designado no ano passado segundo na linha de sucessão, numa iniciativa de Abdullah para garantir a renovação da linha dinástica. Mas outros meios-irmãos contestam (ainda que veladamente) a escolha, apontando o facto de ser filho de mãe iemenita e de ter ultrapassado outros príncipes que, pela idade, estariam à sua frente na sucessão.

Se vier, efectivamente, a ocupar o trono saudita, Moqrin deverá ser o último da sua geração a fazê-lo, pelo que as atenções estão já centradas em perceber qual entre os netos de Saud assumirá um dia as rédeas do país. Salman deu um primeiro passo nesse sentido, ao nomear nesta quinta-feira o sobrinho Mohammed bin Nayef, actual ministro do Interior com boa reputação no Ocidente, como segundo na linha de sucessão, após Moqrin. Designou ainda um dos seus filhos, Mohammed bin Salman, como ministro da Defesa, mas manteve os titulares das outras pastas, incluindo Negócios Estrangeiros, Petróleo e Finanças.

Fonte: O Público (Portugal) e BBC