Estado Islâmico reivindica ataques a mesquitas no Iêmen

Ao menos 126 pessoas morreram em duplo ataque no país.
Mesquitas são conhecidas por serem usadas pelo grupo xiita Houthi.

 

O grupo militante Estado Islâmico, que tomou grandes áreas do território do Iraque e da Síria, reivindicou a autoria de ataques com homens-bomba em duas mesquitas usadas por muçulmanos xiitas no Iêmen, em 20/3/15, de acordo com uma publicação no Twitter.

Pelo menos 126 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas nas explosões na capital Sanaa. Ambas as mesquitas são conhecidas por serem majoritariamente usadas pelo grupo muçulmano xiita Houthi, que tomou o controle do governo iemenita.

A Casa Branca divulgou uma nota condenando fortemente o atentado e disse que não pode confirmar que os suicidas eram afiliados ao Estado Islâmico.

Uma testemunha disse ter escutado duas explosões consecutivas em uma das mesquitas, em um bairro central da capital.

Hospitais de Sanaa estavam pedindo por doadores de sangue para ajudar no tratamento de um grande número de feridos.

Os huthis fazem suas orações nessas mesquitas, e entre os mortos está o imã da mesquita de Badr e importante líder religioso da milícia, Al-Mourtada ben Zayd al-Muhatwari, segundo uma fonte médica.

Homens carregam feridos retirando-os de dentro de uma mesquita após a explosão de uma bomba em Sana, no Iêmen. Ataques suicidas a bomba em duas mesquitas durante o período de orações da tarde deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)Homens carregam feridos após a explosão de uma bomba em Sana, no Iêmen. Ataques em duas mesquitas durante o período de orações da tarde deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)

Em frente às mesquitas, vários corpos jaziam em poças de sangue, enquanto os fiéis transportavam os feridos para hospitais próximos.

A ascendência ao poder do grupo Houthi, apoiado pelo Irã, desde setembro do ano passado, aumentou as divisões da complexa rede política e de alianças religiosas do Iêmen, além de deixar o país excluído do restante do mundo.

Aumento da força dos milicianos xiitas
Desde a insurreição popular de 2011, no âmbito da Primavera Árabe, que levou à queda do presidente Ali Abdullah Saleh, o poder central foi marginalizado por dois potentes grupos militares-religiosos que souberam aproveitar os acontecimentos para aumentar sua influência.

Mesquita atingida por homem-bomba é vista nesta sexta-feira (20) em Sanaa, no Iêmen; mais de 100 pessoas morreram (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)Mesquita atingida por homem-bomba é vista nesta sexta-feira (20) em Sanaa, no Iêmen; mais de 100 pessoas morreram (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)

O primeiro, o movimento Ansarullah, recruta novos membros dentro da comunidade zaidita, um braço do xiismo que representa um terço da população do Iêmen.

Confinado no norte do país, nasceu como um movimento de protesto contra a marginalização dos zaiditas por parte do poder e pelo proselitismo sunita do partido islamita Al-Islah.

Este grupo, inspirado no Hezbollah libanês e suspeito de receber o apoio do Irã, se concentrou em Sana em setembro de 2014 e estendeu sua influência ao oeste e ao centro do Iêmen. Se apoderou da capital em 6 de fevereiro.

Dirigido por Abdel Malek al-Huti, é suspeito de querer estabelecer o regime real do imanato (dirigido por imãs) zaidita abolido em 1962.

Al-Qaeda sempre presente

Investigadores analisam cena de bombardeio em mesquita de Sanaa, nesta sexta (10) (Foto: Mohamed al-Sayaghi/Reuters)Investigadores analisam cena de bombardeio em mesquita de Sanaa, nesta sexta (10) (Foto: Mohamed al-Sayaghi/Reuters)

Outro grupo influente no Iêmen é a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), fruto da fusão em 2009 dos braços saudita e iemenita da rede sunita. É considerado pelos Estados Unidos um dos grupos jihadistas mais perigosos.

Muito presente no sul e no sudeste, a AQPA multiplica os atentados e ataques, provocando muitas perdas no exército. O grupo também capturou diversos estrangeiros.

A AQPA reivindicou o atentado de 7 de janeiro contra a redação da revista satírica francesa Charlie Hebdo, em Paris.

Apesar dos esforços das forças de segurança e dos ocidentais, a Al-Qaeda está se confirmando cada vez mais como a única força capaz de frear o avanço do Ansarullah.

Recrutando sunitas e agindo às vezes em cooperação com tribos hostis ao Ansarullah, a AQPA reivindicou desde setembro diversos atentados contra xiitas.

Destruição é vista ao redor de mesquita em Sanaa, no Iêmen, alvo de explosão nesta sexta-feira (20) (Foto: Hani Mohammed/AP)Destruição é vista ao redor de mesquita em Sanaa, no Iêmen, alvo de explosão nesta sexta-feira (20) (Foto: Hani Mohammed/AP)

Risco de guerra civil
As esperanças de solucionar a crise através de um diálogo apoiado pelo emissário da ONU no Iêmen, Jamal Benomar, quase desapareceram.

O país está praticamente dividido desde que o presidente Abd Rabo Mansur Hadi se instalou em Aden, principal cidade no sul do país, depois de ter conseguido fugir de Sana, onde estava sitiado pela milícia xiita.

Hadi, que havia sido forçado a renunciar em 22 de janeiro junto com o governo de Khaled Bahah pela pressão dos huthis, ainda é considerado pela comunidade internacional como o presidente legítimo do Iêmen.

Nos círculos políticos, cada vez fala-se mais de um risco de guerra civil ou de uma divisão do país.

Como uma amostra deste risco, violentos confrontos foram registrados na quinta-feira em Aden entre os partidários de Hadi e as unidades das forças especiais de um general rebelde, que tentaram tomar o controle do aeroporto, enquanto um bombardeio foi lançado contra o palácio presidencial da cidade, sem atingi-lo. Hadi denunciou uma tentativa de golpe de Estado.

Governo brasileiro lamenta atentado

Criança ferida é retirada de mesquita atacada por homem-bomba nesta sexta-feira (20) em Sanaa, no Iêmen (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)Criança ferida é retirada de mesquita atacada por homem-bomba nesta sexta-feira (20) em Sanaa, no Iêmen (Foto: Khaled Abdullah/Reuters)

O governo brasileiro, por meio de nota, lamentou o atentado no Iêmen. Leia a íntegra:

“O Governo brasileiro condena, com veemência, os atentados perpetrados hoje em duas mesquitas de Sanaa, capital da República do Iêmen, que resultaram em dezenas de mortos e centenas de feridos.

O Governo brasileiro conclama todos os atores políticos iemenitas à abstenção de atos que possam provocar a radicalização do processo político, bem como a perseverar no diálogo como forma de encaminhamento das questões relacionadas à crise institucional daquela nação árabe.

O Brasil reitera a centralidade da estabilização política iemenita para o bom encaminhamento de diversos temas candentes do entorno geopolítico médio-oriental, tais como a assistência humanitária a refugiados da região do Chifre da África, o combate ao extremismo religioso e a repressão à pirataria na região dos mares Índico, Arábico e Vermelho, entre outros.

Como forma de contribuir para o soerguimento socioeconômico iemenita, o Governo brasileiro tem, desde 2012, convidado e recebido sucessivas missões oficiais daquele país para treinamento e capacitação em tecnologias e políticas de desenvolvimento humano, combate à fome, extensão rural e implementação de programas de assistência social e escolaridade básica. Tais esforços culminaram na assinatura de Acordo-Quadro bilateral de Cooperação Técnica, em agosto de 2014, instrumento que norteará novas ações bilaterais de cooperação, tão logo concluído o processo de ratificação pelos signatários.”

Fonte: G1

O Iêmen mergulhou ainda mais no limbo político em 23/1/15, depois da renúncia do presidente, Abd-Rabbu Mansour Hadi, que ficou exasperado por ver os rebeldes do grupo Houthi tomarem o país, uma manobra que pareceu pegar de surpresa o grupo apoiado pelo Irã.

O ex-general Hadi afirmou que, ao ocuparem a capital, Sanaa, os houthis impediram sua tentativa de levar estabilidade ao país depois de anos de tumultos e desavenças tribais, aprofundando a pobreza e intensificando os ataques de aeronaves não tripuladas, conhecidas como drones, dos Estados Unidos contra militantes islâmicos.

Sua renúncia na quinta-feira surpreendeu o país de 25 milhões de habitantes da Península Arábica, no qual os houthis emergiram como facção dominante assumindo o controle de Sanaa em setembro e ditando os termos a um Hadi humilhado, a quem mantiveram como prisioneiro virtual em sua residência particular nesta semana após embates com seguranças.

Os houthis e ativistas pró-democracia se rivalizaram em manifestações nesta sexta-feira.

Milhares se reuniram no centro da capital com cartazes pedindo “Morte à América (EUA), Morte a Israel”, um slogan que se tornou marca registrada dos houthis, um grupo xiita.

“Hadi deveria ter renunciado muito tempo atrás”, disse Al Sheikh Moghadal Al Wazeer, um ancião e apoiador dos houthis. “Ele deveria ter feito mais e deveria ter conduzido o país com mais firmeza.”

Mais cedo no mesmo dia, um pequeno grupo de ativistas pró-democracia entoava “nós somos a revolução”, enquanto convergia para a Praça Change, o epicentro dos protestos de 2011 que forçaram o longevo presidente Ali Abdullah Saleh a entregar o cargo após um acordo de transferência de poder.

“Estamos aqui por rejeitar os eventos que estão acontecendo. Viemos aqui para construir um Estado e nossa exigência ainda é ter um Estado”, declarou o ativista Farida al-Yareemi. “Viemos aqui contra Ali Abdullah Saleh e ele tinha todas as armas.”

Washington, que contou com a cooperação de Hadi para realizar os ataques com drones contra o braço iemenita da Al Qaeda, disse estar preocupado com a saída do mandatário e do primeiro-ministro, Khaled Bahah, que também se demitiu na quinta-feira.

“Os Estados Unidos ficaram perturbados com os relatos da renúncia do presidente Hadi e de seu gabinete”, afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, em comunicado. “Neste momento, é crucial que todos os lados evitem a violência.”

O Parlamento iemenita agendou uma reunião no domingo para discutir a abdicação de Hadi e pode aceitá-la ou rejeitá-la. Pela Constituição, o presidente da legislatura, Yahya al-Ra’i, oriundo do Congresso Geral do Povo, o partido de Saleh, assume o posto durante um período de transição enquanto novas eleições são organizadas.

Fonte: Uol

Milícia cristã oferece forte resistência aos jihadistas na Síria

 

Ameaçados pela presença do grupo Estado Islâmico (EI) na Síria, os cristãos de Al Hasaka oferecem resistência aos jihadistas com uma milícia, que colabora com as forças curdas para frear o avanço dos radicais.

O Conselho Militar Siríaco Sírio (CMSS) é a principal facção cristã rebelde da província de Al Hasaka (nordeste) e conta com três batalhões de entre 300 e 400 combatentes, que no total somam cerca de mil, explicou à Agência Efe por telefone um de seus comandantes, Kino Gabriel.

Desde sua criação, em janeiro de 2013, já travou combates contra as tropas do regime, da Frente al Nusra – filial da Al Qaeda na Síria – e agora do EI.

Gabriel afirmou que existem outros grupos armados cristãos nas províncias de Hama (norte) e Idlib (noroeste), mas ressaltou que não são muito grandes.

Não é habitual, aliás, encontrar milícias rebeldes deste credo na Síria, onde os cristãos representam apenas 9% da população.

Desde o início do conflito no país há quase quatro anos, a comunidade cristã se mostrou predominantemente a favor do regime de Bashar al Assad frente a uma oposição armada, onde abundam os rebeldes sunitas.

A maioria dos integrantes do CMSS são assírios – um grupo étnico de credo cristão – procedentes de todos os cantos de Al Hasaka, embora Gabriel ressalte que também há alguns curdos e árabes.

Apesar de já ter entrado em combates anteriormente contra o EI, os assírios se transformaram esta semana em alvo dos radicais, que invadiram vários de seus povoados junto à margem meridional do rio Jabur e sequestraram mais de 200 pessoas.

Na opinião de Gabriel, o EI entrou em cidades como Tal Hurmuz e Tal Shamiram, de maioria assíria, perante a pressão das forças curdas e cristãs, que iniciaram recentemente uma ofensiva em Al Hasaka, na qual estão cooperando com a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

Os jihadistas “estão sofrendo derrotas na frente de Tal Hamis, motivo pelo qual abriram uma nova frente nas aldeias que estão junto ao Jabur para distrair nossa atenção”, opinou o comandante do CMSS.

Durante esta semana, a milícia cristã sofreu pelo menos quatro baixas entre seus combatentes, além de ter 12 em paradeiro desconhecido.

Gabriel descartou que os cristãos sejam um alvo especial dos extremistas, já que, em sua opinião, estão no ponto de mira do EI do mesmo modo que os membros de outras minorias no país.

Mesmo assim, os números manejados por este comandante rebelde apontam que o número de reféns assírios em poder dos radicais oscila entre 250 e 400, o que representaria o maior sequestro coletivo de cristãos por parte deste grupo e o segundo no geral, depois da captura de entre 400 e 1.000 yazidis no Iraque em agosto.

De acordo com Gabriel, o sequestro dos assírios pode dever-se também ao fato de que o EI tenha atuado como vingança por vários ataques e atritos no último mês na região do Jabur.

Para conter os jihadistas, sua organização conta com armas leves e médias, além de alguns carros de combate.

“Nosso principal problema agora, como estão as coisas, é a impossibilidade de atravessar o rio Jabur para atacá-los”, comentou o insurgente.

Os extremistas tomaram entre oito e dez povoados ao sul dessa via fluvial, enquanto os curdos e seus aliados cristãos estão no lado setentrional.

Ainda assim, Gabriel se mostrou confiante em que os curdos e o CMSS derrotarão o EI: “Temos capacidade para vencê-lo”, assegurou o comandante.

Para este rebelde cristão, é essencial obter respaldo militar da comunidade internacional, assim como armamento pesado, a fim de conseguir uma vitória como a das forças curdas no enclave curdo-sírio de Kobani, na província de Aleppo, de onde o EI foi expulso recentemente.

Fonte: Yahoo