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Fonte: Youtube
O conflito entre apartidário e antipartidário terminou desvendando uma faceta de toda esta mobilização: a existência de uma agenda ultrarradical para além do passe livre, como a proposta de uma “reforma urbana”, fachada de um programa lunático de desapropriação de propriedades privadas nas cidades.
Parece que o pronunciamento da Dilma surtiu algum efeito. A Globo deistiu de chamar os manifestantes pras ruas?
De quinta-feira da semana passada, quando a violenta e despropositada ação da tropa de choque da PM de São Paulo contra um grupo de manifestantes do Movimento Passe Livre (MPL) serviu de centelha para uma adesão maciça às manifestações de rua, até ontem, a mobilização cumpriu um percurso meteórico.
Começou como ação de um pequeno grupo de jovens reunidos em torno da crucial questão da precariedade do transporte urbano de massa, cresceu com a ampliação da pauta de críticas e reivindicações, e chegou à noite de anteontem com manifestações sem controle, utilizadas por vândalos movidos a ideologias políticas ou não. Limites legais e políticos foram ultrapassados. Chegou a hora de parar e refletir.
O balanço da noite de quinta é trágico, com a disseminação de depredações e toda sorte de atos de vandalismo em várias cidades. Chama a atenção o ataque a sedes de governo, como já acontecera em São Paulo nas tentativas de invasão da sede da administração central do estado, Palácio dos Bandeirantes, na segunda, e, no dia seguinte, na da prefeitura.
As cenas se repetiram no Rio, quinta, com a tropa de choque da PM obrigada a afastar vândalos das proximidades do prédio da prefeitura, com o uso da cavalaria, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, e, no fim da noite, proteger o Palácio Guanabara.
Como tem acontecido, os grupos se dispersam e voltam, sempre em meio a um quebra-quebra. Violência pura, sem qualquer relação com a absoluta maioria dos manifestantes, incapazes de conter quem tem usado as passeatas para agredir e destruir.
Os absurdos vistos em Brasília foram um dos sinais fortes de que a mobilização ultrapassara os limites mais magnânimos. Na segunda, o teto e a rampa do Congresso foram tomados, como já ocorrera no passado em outras circunstâncias. Na quinta, impedidos de fazer o mesmo, os bandos investiram contra o prédio do Itamaraty, onde chegou a haver um foco de incêndio.
Não faltou, nestes dias, sequer o bloqueio de estradas importantes na região da Grande São Paulo — Anchieta, Castelo Branco, Dutra, Anhanguera, por exemplo —, cena clássica de crises políticas latino-americanas.
Desde segunda, a violência havia escalado de maneira assustadora. Até ontem à tarde, o saldo era de dois mortos — um rapaz atropelado em Ribeirão Preto, interior paulista, ao fazer um bloqueio de rua, e uma gari, em Belém, intoxicada por gás lacrimogêneo. O movimento perdia parte da boa imagem de expressão do ressurgimento do exercício independente da cidadania.
Para completar esta espécie de desconstrução, uma pequena passeata — pequena, mas catastrófica para o trânsito, como costuma ser — na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, deu ontem no final da tarde chance para a ação de saqueadores no comércio.
Na própria quinta-feira, o MPL percebera, em São Paulo, que o movimento escapara de qualquer controle e passara a hostilizar de forma agressiva partidos, principalmente os da esquerda, no poder, aliados dos defensores do passe livre. Ao comparecerem às ruas da capital convocados pelo presidente do partido, Rui Falcão, militantes do PT foram atacados, assim como os de outras legendas próximas ao MPL.
Numa das mais importantes manifestações de rua dos últimos 28 anos, a maior desde as realizadas a favor do impeachment de Collor, em 1992, pela primeira vez na sua história o PT perdeu espaço em um ato público. Sinal dos tempos.
O que era considerado uma virtude da mobilização — sem lideranças visíveis, gerenciada por redes sociais — voltou-se contra o movimento, na hora em que foi necessário um comando para evitar a manipulação das manifestações por outros interesses.
O apartidarismo, por sua vez, se converteu em antipartidarismo, reconheceu o próprio MPL em nota divulgada na madrugada de ontem, para explicar o abandono do protesto na Avenida Paulista e da própria condução de novas manifestações.
O conflito entre apartidário e antipartidário terminou desvendando uma faceta de toda esta mobilização: a existência de uma agenda ultrarradical para além do passe livre, como a proposta de uma “reforma urbana”, fachada de um programa lunático de desapropriação de propriedades privadas nas cidades.
Questões como esta à parte, uma das várias zonas de perigo em que entrou o movimento é a ideia, também ilusória, subjacente às manifestações, de que, na democracia, é possível atingir objetivos políticos à margem dos partidos. O problema é que, se goste deles ou não, pensar em alguma tramitação ao largo dos partidos é enveredar por atalhos golpistas.
Algo que se aproxima da perniciosa “democracia direta” chavista, em que as instituições republicanas são subordinadas a um Executivo cesarista, senhor de todas as decisões, manipulador-mor das massas, mantidas coesas por programas populistas assistenciais economicamente insustentáveis.
Os tempos eram muito diferentes, mas, mesmo na ditadura militar, quando o único partido de oposição existia por uma concessão do regime, a História provou que a atuação por meio do MDB e organizações formais da sociedade (ABI e OAB, por exemplo) foi a mais produtiva na luta pela redemocratização, afinal conseguida. A guerrilha, subterrânea, nas florestas e na cidade, foi retumbante fracasso e causa de enormes dramas pessoais e familiares. De ambos os lados.
Não foi fácil reconquistar a democracia. Mesmo para os que optaram pela resistência aberta, na legalidade, nos espaços possíveis de atuação que existiam. No final, houve a desejada transição pacífica, por meio de um acordo com os militares, com a adesão ao projeto de volta à democracia de políticos do antigo regime, como José Sarney, nos últimos dez anos uma das sustentações dos governos do PT, símbolo forte da conciliação negociada com eficiência e da qual o país se beneficia. Este é um patrimônio de toda a sociedade, e não será agora, com 28 anos ininterruptos de estabilidade democrática, o mais longo período na República, que haverá retrocessos.
Deste fenômeno que tem sido a erupção vulcânica de centenas de milhares de pessoas nas ruas das capitais e de inúmeras cidades menores é preciso extrair aspectos positivos e protegê-los do efeito da atuação de vândalos e saqueadores. Bandeiras importantes foram erguidas — não à impunidade, à corrupção, a partidos de aluguel, a um sistema partidário ineficiente etc.
Trata-se de convertê-las em agenda de atuação política pelos canais institucionais, também com a ajuda das redes sociais. As ruas são apenas parte dos processos de mobilização política. Uma etapa que se esgota, como a atual se esgotou.
Fonte: o Globo
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Fonte: Youtube
Além dos números superlativos de pessoas que atraíram para as
ruas, as passeatas e protestos que desde a semana passada tomam cidades de todo
o Brasil ficaram marcadas por cenas de violência, seja pela forte repressão
policial ou por atos de vandalismo cometidos por grupos isolados entre
manifestantes que eram, em sua maioria, pacíficos.
Episódios como o dos feridos deixados pela forte repressão da polícia que
marcou a manifestação em São Paulo no dia 13 de junho ou as cenas de guerra
registradas nos confrontos em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
na última segunda-feira chocaram parte da população e foram destaque na imprensa
brasileira
Especialistas em psicologia, filosofia e ciência política ouvidos pela BBC
Brasil afirmam que episódios de vandalismo em eventos de grandes proporções são
previsíveis, mas que, no lugar de tomar medidas para prevenir a violência,
polícia e outras autoridades acabaram por adotar condutas que abriram o caminho
para a existência de mais confrontos.
Oportunismo
“Eventos de massa, seja a entrada e saída de estádios, grandes shows, o
Réveillon no Rio, uma grande passeata ou um bloco (de carnaval) são
oportunidades para ações oportunistas de predação, vandalismo, de roubo”, afirma
a antropóloga e cientista política Jacqueline de Oliveira Muniz, professora do
IUPERJ, da Universidade Cândido Mendes.
“Passeatas e manifestações coletivas produzem um alto grau de visibilidade
política e social, razão pela qual ações vândalas e predatórias oportunistas
podem se dar”, diz
Na avaliação da professora, a previsibilidade de ações desse tipo em eventos
que reúnem uma grande quantidade de pessoas deveria ter feito com que não apenas
a Polícia Militar, mas outras estruturas de segurança, como policiais civis,
bombeiros e ambulâncias, fossem mobilizados para acompanhar as manifestações,
assim como acontece no Carnaval e no Réveillon do Rio, por exemplo.
“Essa é a razão pela qual é necessário o aparato de segurança pública, para
garantir e preservar o direito de ir e vir e o direito de se manifestar de forma
pacífica e, ao mesmo tempo, reduzir a oportunidades de riscos, de acidentes, de
incidentes, e mesmo de ações predatórias localizadas”, diz.
A professora ainda critica o modo como parte das autoridades e da mídia
trataram as manifestações no início.
“Na verdade quem inaugura a ação violenta são os próprios governos, através
das orientações que deram a suas polícias (…) em um primeiro momento (a
atitude) foi de criminalização das manifestações populares e espontâneas. As
falas eram no sentindo de que se tratava de uma grande baderna, e a sociedade
respondeu indo às ruas cada vez mais, repudiando essa leitura”, diz.
Violência
Claudio Oliveira, professor do Departamento de Filosofia da Universidade
Federal Fluminense (UFF), cita as ideias do pioneiro da psicanálise, Sigmund
Freud, para explicar o comportamento das pessoas durante eventos em que
comparecem grandes massas, como as manifestações.
Segundo ele, em situações de massas, os indivíduos acabam por tomar atitudes
que não teriam se estivessem sozinhos ou em pequenos grupos.
“Há uma espécie de diminuição da pressão das inibições que constituem a vida
social. O indivíduo em uma massa pode assumir um comportamento violento, ele
pode assumir um comportamento que ele não teria em condições normais. Esta
teoria vale tanto para o comportamento da polícia quanto para o comportamento de
alguns grupos que integram a grande massa dos manifestantes”, diz.
O filósofo, no entanto, afirma que questões sociais podem fazer com que
determinadas pessoas acabem por encontrar nas atitudes violentas um recurso para
expressar sua insatisfação.
“No caso atual, esses fenômenos de violência ocorrem em geral isolados. A
maioria dos manifestantes tem uma atitude muito pacífica, inclusive gritam
palavras de ordem pacifistas. Apesar disso, parece que há alguns que buscam se
manifestar a partir dessa violência. A gente precisa saber o que esses jovens
pensam da própria violência que eles assumem nessas manifestações”.
Para Oliveira, no caso das recentes manifestações que tomam as cidades
brasileiras, no entanto, estão em jogo também outros aspectos. Em sua avaliação,
a violência com que a polícia reprimiu as primeiras manifestações contra o
aumento das tarifas de ônibus serviu como uma espécie de catalisador para que
outras pessoas se juntassem ao movimento, expressando outras insatisfações.
“As manifestações começaram com um objetivo muito específico, mas se tornaram
manifestações onde as pessoas iam para protestar contra uma quantidade enorme de
coisas, com as quais a população brasileira não está satisfeita”, diz.
Direitos
Marco Aurélio Máximo Prado, professor do Departamento de Psicologia da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avalia que parte dos episódios de
violência nas manifestações recentes podem também ter relação com o despreparo
de polícia e outras autoridades para lidar com o modo como foram
organizadas.
“Obviamente que há um despreparo da polícia para lidar com essa forma de
protesto. São protestos que não tem características organizativas clássicas,
então não têm liderança específica”, diz Prado, para quem a forma espontânea
como foram organizados também faz com que alguns manifestantes isolados acabem
por tomar atitudes violentas.
Para ele, a grande adesão e a pluralidade de bandeiras presentes nos
protestos refletem uma insatisfação maior da população, com questões que passam,
entre outras coisas, pelo modo como os grandes eventos como a Copa do Mundo
estão sendo organizados no Brasil.
“As cidades que são sedes da Copa (das Confederações) estão vivendo uma certa
suspensão dos direitos, do direito de protesto, que é um direito básico da
democracia, e do direito de ir e vir”.
“Há uma certa suspensão de direitos conquistados que está gerando uma faísca
importante. Agora eu considero que esses atos políticos não são atos de
negociações, são atos de rebeldia civil. São um sintoma de que a
constitucionalidade não está funcionando, são um corretivo de um norma que não
está funcionando, que está falha”, diz.
Fonte: BBC
Em várias cidades brasileiras acontecem manifestações simultâneas. No Acre, estudantes realizaram uma manifestação na terça-feira (18) e está marcado para sábado (22) o “Dia do Basta” contra a corrupção e em solidariedade às manifestações que acontecem pelo país.
Manifestantes irão se reunir a partir das 16h em frente ao Palácio Rio Branco no centro da cidade.Os organizadores esperam um público de 5 mil pessoas. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os movimentos pela diminuição das tarifas de ônibus e pela inserção de passe livre estudantil reúnem milhares de pessoas.
O sociólogo Elder Andrade afirma que é possível comparar as manifestações populares em todo o país com um ‘vulcão em erupção’.
“Mas só vendo a erupção, você não sabe o porquê de estar acontecendo aquilo. Para entender o que está acontecendo no Brasil hoje, é preciso ver aquilo que estava escondido até agora. É tudo isso que essa juventude está se movimentando e se mobilizando, esse vulcão chamado Brasil entra em erupção para reivindicar direitos até então negados”, explica.
Ele lembra que não é possível controlar a força de um vulcão, da mesma forma que é difícil controlar as manifestações.
“Você vai ter vários tipos de manifestações dos diversos grupos que participam dela. Sejam aqueles de forma mais pacífica, ou os que pretendem mostrar com maior indignação a sua insatisfação com a mesma violência com que o estado habitualmente tem usado”, afirma o sociólogo.
Andrade acredita que as manifestações violentas são uma resposta às forças repressivas do estado. “Só para se ter uma ideia, nos últimos 10 anos, mais de 500 lideranças indígenas foram assassinadas nesse país. Sem contar, as populações pobres nas favelas que são permanentemente perseguidas. Então, a violência é do estado brasileiro, é das forças institucionais usadas para agir contra a população. Quando a população manifesta sua indignação, aí aparece esse discurso de estar sendo violento”, argumenta.
O sociólogo afirma ainda que este é um momento significativo na história do país, já que não está se reeditando antigas manifestações e que este é o momento de repensar a democracia.
“Agora é um outro passo, agora é a busca de uma democracia do século 21. Uma democracia que a juventude percebeu que não será conquistada através do parlamento, através dos espaços institucionais existentes. Ela será conquistada com criatividade e com ações nas ruas”, disse.
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