Manifestações por lei sobre blasfêmia deixam 36 mortos em Bangladesh

Centenas de pessoas ficaram feridas em choques com a polícia.
Segundo a polícia, ao menos 200 mil pessoas saíram às ruas em Dacca.

A polícia de Bangladesh dispersou em 6/5/13 uma nova manifestação de dezenas de milhares de islamitas e fechou um canal de televisão, um dia depois dos violentos protestos nos quais morreram pelo menos 36 pessoas nas ruas de Daca, que viraram um verdadeiro campo de batalha.

Um canal de televisão pró-islâmico, que exibiu ao vivo as cenas da repressão policial na manhã desta segunda-feira em Motijheel, foi obrigado a interromper a programação depois que 25 policiais à paisana entraram na sede, informou um diretor da Diganta Television.

Centenas de pessoas ficaram feridas nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança, os mais violentos registrados em Daca desde a independência, há 40 anos, de Bangladesh, um dos países mais pobres do sudeste asiático.

Dezenas de manifestantes foram detidos e o líder do movimento Hafajat-e-Islam, Allama Shah Ahmad Shafi, que comandou as manifestações, foi escoltado pela polícia até o aeroporto de Dacca e embarcado em um avião com destino a Chittagong, a segunda cidade mais importante do país.

Para tentar acalmar a situação, a polícia insistiu em destacar que Allama Shah Ahmad Shafi, de 90 anos, não foi detido.

No distrito comercial de Motijheel, invadido pelos manifestantes, onde durante a noite foram ouvidos tiros, dezenas de lojas foram incendiadas e muitas árvores derrubadas.

O movimento islamita radical Hefajat e Islam afirmou que o balanço de mortos era superior ao anunciado oficialmente, mas não divulgou números.

“A polícia atirou com balas de verdade contra nossos manifestantes desarmados. Milhares de pessoas foram feridas”, disse um porta-voz do movimento, Maolana Muin Uddin Ruhi.

A polícia usou gás lacrimogêneo, jatos d’água e balas de borracha para dispersar os quase 70 mil islamitas que ocupavam nesta segunda-feira o bairro Motijheel, afirmou o porta-voz das forças de segurança, Masudur Rahman.

Os corpos de 11 vítimas, incluindo um policial morto a facadas, foram levados para o Medical College Hospital de Dacca. Os corpos de outras 25 vítimas foram levados para três clínicas privadas.

Aos gritos de “Alá Akbar” (Deus é grande) e “os ateus devem ser enforcados”, militantes do grupo radical Hefajat-e-Islam caminharam por seis grandes ruas da capital de Bangladesh e bloquearam o trânsito.

Segundo a polícia, pelo menos 200 mil pessoas saíram às ruas no centro de Dacca.

Os confrontos explodiram quando a polícia tentou impedir o avanço dos manifestantes armados com pedaços de pau até a maior mesquita do país.

A onda de violência acontece poucos dias depois de outra tragédia: o desabamento de um edifício com unidades de confecção que matou 654 pessoas.

Os militantes do grupo radical Hefajat-e-Islam, recentemente criado, exigem a pena de morte para todos aqueles que caluniam o Islã.

Também exigem a separação de homens e mulheres em determinados lugares públicos.

O primeiro-ministro Sheikh Hasina, que está à frente de um governo laico desde 2009 neste país de maioria muçulmana, rejeitou as reivindicações dos islamitas, argumentando que a legislação atual já permite condenar qualquer pessoa que insulte o Islã.

No mês passado, os ativistas do Hefajat organizaram uma greve geral e uma concentração que contou com centenas de milhares de pessoas, considerada a maior em décadas.

Os islamitas acusam ainda o governo de tentar calar qualquer protesto com processos contra personalidades – em sua maioria opositoras – suspeitas de crimes (mortes, estupros, conversões forçadas ao islã, entre outros) na guerra de 1971.

Passou de 400 o número de mortos após colapso de uma fábrica de tecidos na
capital de Bangladesh, Dhaka. A cifra de vítimas do Rana Plaza, a
pior tragédia industrial da história do país, ainda deve aumentar: o
Exército afirma que 149 pessoas continuam desaparecidas.

O major general Chowdhury Hasan Suhrawardy disse a jornalistas que as
autoridades locais elaboraram uma lista de nomes com a ajuda de parentes de
pessoas desaparecidas após o desastre da última quarta-feira. “Essa lista tem
149 nomes”, disse ele.

Centenas de milhares de manifestantes saíram, em 1/5/13, às ruas
em várias regiões de Dhaka exigindo a aplicação da pena de morte contra o
proprietário do prédio, que abrigava cinco fábricas de tecido – Bangladesh é um
dos maiores exportadores do setor.

Funcionários disseram ter alertado superiores sobre rachaduras na estrutura
do edifício antes da tragédia, mas foram ordenados a ignorá-las e continuar
trabalhando. O dono do empreendimento está sob custódia da polícia. Mais de
2.500 pessoas ficaram feridas, segundo autoridades locais.

Equipes de socorro informaram que a queda do prédio formou um entulho de mais
de 600 toneladas. Após uma semana de trabalhos de resgate, foi possível retirar
cerca de 350 toneladas.

Kamrul Anan, representante de uma organização sindical do setor têxtil, pediu
“a mais severa punição” contra os proprietários do Rana Plaza. Nos protestos,
cartazes pediam que os responsáveis pelo local sejam “enforcados”. Manifestantes
também exigem leis impondo melhores condições de trabalho.

Na terça-feira à noite, o primeiro-ministro de Bangladesh, Sheik Hasina, fez
um discurso no Parlamento sobre a tragédia. “Queria pedir aos trabalhadores que
mantenham a cabeça fria e as fábricas em funcionamento, caso contrário acabarão
perdendo seus empregos”, afirmou o premiê.

O papa Francisco qualificou na quarta-feira como “trabalho escravo” a situação dos operários têxteis que morreram na semana passada em um desabamento em Bangladesh, e disse que empresários que pagam salários injustos e buscam o lucro desenfreado vão “contra Deus”.

Essa foi a mais incisiva manifestação do papa pelos direitos dos trabalhadores desde a sua eleição, em 13 de março, e mais um sinal de que o ex-arcebispo de Buenos Aires pretende fazer da justiça social uma marca do seu pontificado.

“Viver com 38 euros (50 dólares) por mês – esse era o salário das pessoas que morreram. Isso se chama trabalho escravo”, disse Francisco em um sermão de improviso na missa pessoal celebrada em sua residência, segundo relato da Rádio do Vaticano.

O número de mortos pelo desabamento do edifício Rana Plaza, construído ilegalmente sobre um pântano aterrado nos arredores de Daca, capital de Bangladesh, subiu na quarta-feira para 411. Cerca de 40 vítimas não identificadas já foram enterradas.

Benefícios fiscais oferecidos por países ocidentais e os baixos salários contribuíram para fazer de Bangladesh uma potência no setor do vestuário, com exportações de 19 bilhões de dólares por ano, sendo 60 por cento desse total destinados à Europa, onde a tragédia motivou questionamentos sobre o custo humano de roupas tão baratas.

Falando no Dia dos Trabalhadores, o papa disse que “não pagar um salário justo, não dar trabalho, só porque alguém está pensando nos resultados financeiros, no orçamento da empresa, em buscar apenas lucro – isso é contra Deus”.

Segundo o pontífice argentino, “hoje no mundo existe essa escravidão que é perpetrada com a coisa mais bonita que Deus deu ao homem: a capacidade de criar, trabalhar, fazer sua própria dignidade”.

“Quantos irmãos e irmãs no mundo estão nessa situação por causa dessas diretrizes econômicas, sociais e políticas?”, acrescentou. “A dignidade não é concedida pelo poder, pelo dinheiro, pela cultura – não! A dignidade é concedida pelo trabalho. Os sistemas social, político e econômico fizeram uma opção que significa explorar o indivíduo”, afirmou.

Mais tarde, na sua audiência pública na praça de São Pedro, diante de dezenas de milhares de pessoas, o papa voltou a falar de direitos trabalhistas, mas não mencionou a tragédia de Bangladesh.

“O trabalho é fundamental para a dignidade de uma pessoa. Penso em quantos, e não só os jovens, estão desempregados, muitas vezes devido a uma concepção puramente econômica da sociedade, que busca o lucro egoísta, além dos parâmetros da justiça social.”

Nesse pronunciamento, ele fez um apelo aos governos para que combatam o desemprego e eliminem o trabalho escravo associado ao tráfico humano.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que quase 21 milhões de pessoas no mundo sejam vítimas de situação análoga à escravidão ou trabalhos forçados.

Fonte: G1