A crise na República Centro-Africana (RCA), incluindo a tomada do poder pela coalizão rebelde Séléka, agravou a já difícil situação humanitária no país, avaliou esta semana a agência de ajuda humanitária da ONU. Dezenas de milhares de pessoas correm o risco de passar fome caso a segurança em todo o país não seja restaurada rapidamente.

“A proteção dos civis é de extrema importância”, disse o Coordenador Humanitário da ONU em exercício, Zakaria Maiga.

“Peço a todas as partes para fornecer segurança para o povo em Bangui e em todo o país, abster-se de uma nova escalada de violência e respeitar direito internacional humanitário e os direitos humanos.”

O Séléka invadiu a capital do país, Bangui, no último dia 24 de março, forçando o Presidente François Bozizé a fugir. Os acontecimentos foram condenados tanto pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, quanto pelo Conselho de Segurança, que apelou a todas as partes na RCA para proteger os civis.

Esta é a mais recente onda de combates desde dezembro de 2012, quando a coalizão rebelde lançou uma série de ataques, tomando o controle de grandes cidades.

Desde então, cerca de 173 mil pessoas foram deslocadas dentro do país, enquanto mais de 32 mil fugiram para a República dos Camarões, Chade e República Democrática do Congo (RDC), de acordo com o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

“Estamos fazendo todo o possível para acelerar as operações humanitárias em todo o país e precisamos de acesso seguro às pessoas necessitadas”, acrescentou Maiga.

Falando de Bangui, Amy Martin, que dirige o OCHA no país, disse que a situação de segurança parece muito melhor, com menos tiros esporádicos e mais pessoas nas ruas.

“Nossa principal preocupação é conseguir que o abastecimento de água volte a funcionar. Fazer funcionar o fornecimento elétrico também é fundamental para ajudar a manter os serviços básicos e o funcionamento dos hospitais”, disse Martin.

A ONU e os seus parceiros estão fornecendo combustível para os hospitais, bem como suprimentos médicos e kits de emergência para atender as necessidades médicas.

Enquanto algumas lojas estão abertas, Martin observou que bancos, escolas e escritórios do governo ainda permanecem fechados.

“As pessoas precisam comprar comida. Eles precisam acessar o seu dinheiro. Eles precisam voltar ao trabalho para que possam conseguir dinheiro para comprar a comida, por isso é um enorme evento em cadeia”, disse ela.

No norte do país, Martin disse que a ONU tem informações fragmentadas com base na presença de organizações não governamentais, pedindo maior proteção e segurança para os civis e para os trabalhadores humanitários.

A ONU transferiu 311 funcionários da própria Organização e de algumas ONGs, mas está mantendo o pessoal internacional e nacional em Bangui para “entregar o que podemos com o que temos disponível e para onde pudermos chegar”.

“Até que tenhamos a segurança nas estradas que nos permita ir de Bangui para o interior do país, vai ser difícil dizer que estamos funcionando totalmente e operando plenamente”, acrescentou.

Os combates com o Séléka é a mais recente crise na RCA, que tem uma história de instabilidade política e conflitos armados recorrentes.

Há atualmente 1,5 milhão de pessoas no país que precisam de assistência e os últimos combates devem aumentar esse número. De acordo com o OCHA, mais de 80 mil pessoas estão em risco de grave escassez de alimentos durante a próxima entressafra, enquanto 13.500 crianças com menos de 5 anos de idade estão em risco de desnutrição aguda grave.

Martin disse que a situação é especialmente preocupante em relação à época agrícola chegando, com os trabalhadores humanitários não conseguindo obter sementes e insumos agrícolas para as comunidades rurais. A insegurança torna “muito difícil garantir que a época de colheita acontecerá e isso é fundamental para o estado nutricional das crianças”, disse.

A ONU e as autoridades em Bangui pediram aos doadores 129 milhões de dólares para financiar a resposta humanitária da RCA para este ano. O OCHA disse que o plano de resposta está passando por uma revisão para ter em conta as necessidades adicionais geradas pela recente crise.

Fonte: ONU