Atraídos pelo clima, beleza, estilo de vida e oportunidades profissionais, muitos estrangeiros desembarcam no Rio sem ter muita consciência do custo de vida. Considerada uma das mais caras do mundo, a cidade tem o 2º maior custo de vida do Brasil e das Américas (atrás apenas de São Paulo) e o 13º no mundo para expatriados, segundo levantamento da consultoria Mercer. E vira um desafio orçamentário para quem vem de outro país.

– Como pode um vinho argentino ou chileno custar mais barato na Inglaterra? O vinho Casillero del Diablo custa R$ 38 no Pão de Açúcar, enquanto no Sainsbury´s, rede de supermercado inglesa, custa 7 libras (cerca de R$ 21) – exemplifica o inglês Tom Le Mesurier, que trabalha como analista de Negócios e acabou tirando do forno o blog “Eat Rio” com dicas de restaurantes e preços.

– Já que os vinhos são muito caros aqui, hoje eu bebo cachaça como alternativa. Há sempre uma solução – brincou o inglês que mora no Rio há dois anos.

Mesurier pondera que alguns produtos como frutas, legumes e peixes vendidos nas feiras do Rio são mais baratos que em Londres. Segundo ele, porém, a grande diferença é na busca por restaurantes mais sofisticados.

– Se você quiser comida italiana ou japonesa em Ipanema, uma refeição para duas pessoas pode custar R$ 200 ou mais, especialmente se beber vinho. Em Londres custa quase a metade do preço – disse.

O italiano Gugo Cruciani rodou o mundo antes de se mudar para o Rio. Morou em Roma, Miami, Caracas, Londres e Bruxelas. E diz que foi na cidade maravilhosa que encontrou a maior dificuldade para se instalar.

– Sempre quis morar no Rio, sou apaixonado pela cidade. Mas tive que adiar a mudança por causa do alto custo de vida. Tudo é muito caro, os preços estão fora de controle, subiram de uma forma impressionante. É difícil morar bem aqui se não tiver um bom trabalho – contou.

Antes de se mudar, Cruciani, que também é economista e administrador, já frequentava território carioca de olho na oportunidade de negócios. Há um mês o italiano reside no Rio e se prepara para inaugurar uma sorveteria entre janeiro e fevereiro. Apesar de o sonho estar próximo de se tornar realidade, os preços inflados continuam sendo motivo de preocupação:

– A economia está crescendo, a Copa chegando, se quiser montar seu negócio é possível, mas a questão dos preços é um ponto negativo para a cidade. Muitas vezes me pergunto como as pessoas da classe média fazem para sobreviver na zona sul – disse.

Enquanto o país não diminuir seus custos de produção, os 69.263 estrangeiros que moram no Rio, segundo dados do Censo de 2010, provavelmente não poderão ver a queda dos preços. Na avaliação do coordenador do Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, esse é um dos principais desafios de um Brasil que pretende ser competitivo.

– A forte incidência tributária, tanto na mão de obra como nos insumos, torna a produção cara e o custo de vida fica elevado. Para o país poder ter mais competitividade, tem que baixar os custos. A redução do custo de vida será consequência da redução do custo de produção – disse.

Aperto para os vizinhos

Se os preços são altos para os europeus, a situação é mais grave para os latinos. A colombiana Carolina Aldana diz que gasta no Rio quatro vezes mais do que gastaria em sua cidade, Cáli. Ela, que também já morou em Buenos Aires, Miami e Paris, chama a atenção para os custos de transporte:

– O transporte público é absurdo. Em Buenos Aires, o ônibus custa cerca de 1,20 pesos, o que equivale a R$ 0,50, enquanto no Rio custa R$ 2,75 – disse.

Há apenas sete meses no Brasil trabalhando como analista de Marketing, o aluguel em Ipanema também aperta o orçamento da colombiana. Ela diz haver morado em bairros nobres nas suas andanças pelo mundo, mas nada supera o valor cobrado no Rio:

– Fico pensando o tempo inteiro como as coisas podem ser tão caras aqui. Em Buenos Aires, pagava 780 pesos por um quarto (cerca de R$ 550). Em Paris, 550 euros (em torno de R$ 1.400) e, no Rio, gasto R$ 1.600 com aluguel – comparou.

– Em Miami, por exemplo, é possível encontrar um bom apartamento em regiões valorizadas por US$ 1.000 (cerca de R$ 2.000). No Rio, as opções são muito restritas – complementou.

Segundo o economista da FGV, os aluguéis tem subido sistematicamente acima da inflação há alguns anos. O Rio desbancou até Brasília e passou a ter o metro quadrado mais caro no país.

– O setor imobiliário ganhou um impulso especial com acesso a crédito. Não só o Rio com todas as cidades grandes brasileiras têm passado por um boom imobiliário. A valorização dos imóveis e de terrenos e aluguéis vão junto. As pessoas estão demandando mais do que o mercado está conseguindo atender – disse Quadros.

Disparidade na relação custo x benefício

A percepção de cidade cara é compartilhada pelo francês Thomas Sparfel. Ele viu o preço do apartamento onde morava dobrar desde que chegou no Rio, há cinco anos.

– Alugava um conjugado de 40 metros quadrados em Santa Teresa. Antes, pagava R$ 1mil. Hoje, subiu para R$ 2 mil – afirmou.

Sparfel é formado em Ciências Políticas e veio para o Brasil após receber uma proposta de trabalho no Consulado Francês no Rio. Segundo ele, o problema da cidade, mais do que os preços altos, está na relação entre custo e benefício.

– O Rio está tão caro como Paris e os serviços públicos não são da mesma qualidade. Moro em uma rua que tem problema de recolhimento de lixo, por exemplo.

O lazer também não foge à regra, na avaliação de Sparfel.

– Os ingressos para shows internacionais são absurdamente caros. O ingresso mais barato para o show do Bob Dylan no Rio foi de R$ 500. Em Paris, custou menos da metade, em torno de 80 euros (o que equivale a R$ 200). Em uma das apresentações na minha cidade, o ingresso foi mais barato ainda, valia mais ou menos 40 euros (cerca de R$ 100) – afirmou o francês, de Bretagne, no interior da França.

Um homem de sorte

O advogado americano Nathan Walters, de Kansas, se considera “sortudo” por haver encontrado um apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, de dois quartos, com aluguel de R$ 3.200.

– É uma dificuldade encontrar apartamento que valha a pena aqui. Alugar um imóvel em uma região tradicional é caríssimo. Todos que me visitam dizem o quanto tenho sorte por haver encontrado o meu – disse.

Walters conta que quando vai aos Estados Unidos volta munido de roupas e eletrônicos para não ousar pagar os altos preços cobrados no Brasil.

Segundo ele, se fizer um esforço, é possível levar uma vida com gastos razoáveis. Mas nos padrões americano e europeu, é quase impossível:

– Na Europa e nos Estados Unidos você come em ótimos restaurantes e paga bem menos. No Rio não é assim – afirmou.

Apesar das queixas, quando são questionados sobre a possibilidade de deixar Rio por causa do alto custa de vida, os estrangeiros têm sempre a mesma resposta: Não trocariam o Rio por outro lugar.

Fonte: Yahoo