“Cadê o padê?”, pergunta Adauto Ramos (nome fictício), ao chegar em uma das festas mais famosas da capital federal. O código é conhecido. Ele está em busca de cocaína, facilmente encontrada no banheiro da noitada. Adauto é mais um usuário da droga que tem o Brasil como o segundo maior mercado do mundo, só atrás dos Estados Unidos. Com mais dinheiro no bolso, o brasileiro aumentou o consumo de entorpecentes caros e considerados de elite. Do ano de 2003 até 2011, as apreensões de cocaína cresceram 144%: 24 toneladas só no ano passado. A droga que abastece a noite brasiliense vem da Bolívia, e deixa pelo caminho vidas devastadas. A principal entrada é o Mato Grosso.
Foi a cocaína que separou a boliviana Elizabeth Catema da família. Depois de deixar o marido que a espancava, e no anseio de dar uma vida melhor para os quatro filhos, virou “mula” do tráfico. Com 4,3 quilos de pasta base escondidos na bagagem, ela e duas amigas cruzaram a fronteira de ônibus. Mas, logo na primeira viagem, foi flagrada e presa. Não viu o dinheiro prometido e, nos últimos dois anos, foi privada de acompanhar a infância das crianças.
– Ai, Deus, isso é muito doloroso para mim. Eu não me perdoo por haver escolhido esse caminho. Foi um erro que custou muito – desabafou a presidiária, que em breve ganhará liberdade condicional por bom comportamento.
Para tentar refazer a vida, quer trabalhar fazendo salgadinhos, atividade que aprendeu na cadeia. Mas quando atravessar o portão da penitenciária, deixará para trás várias presas pelo mesmo crime: 90% das 259 mulheres do presídio de Cuiabá estão ali por tráfico.
O uso das “mulas”, grande parte delas oriunda do povoado de San Matías, vem caindo, pois o tráfico está mais sofisticado. A moda é usar pequenos aviões para arremessar a droga em fazendas no Mato Grosso. Às vezes, os traficantes até abandonam aeronave – a carga vale mais. Aproveitam que o estado não tem uma base aérea, o que fortaleceria a fiscalização.
– Falar em segurança na fronteira do Mato Grosso não é falar em segurança só para nós, mas principalmente para São Paulo, Rio, para todo o Brasil, porque é por aqui que entra o problema – diz o juiz criminal de Cáceres Geraldo Fidelis.
Sobre sua mesa, histórias se repetem: processos de mulheres que se arriscam ao engolir as cápsulas de cocaína. Para acostumar o estômago, usam cenouras embaladas em preservativos. Passam pela fronteira para abastecer, sobretudo, os grandes centros. O juiz critica a guerra desleal: o tráfico tem equipamentos de última geração, a polícia não tem nem cão farejador. Cada um custaria apenas R$ 3,6 mil por ano para o estado. Na fronteira com a Bolívia, a comunicação policial é precária. A internet chegou lá há menos de dois meses.
O Ministério da Justiça quer reforçar a segurança de olho nos eventos que o Brasil sediará nos próximos anos. Comprou scanners de veículos para impedir o que acontece na Ponte da Amizade, fronteira com o Paraguai: a cocaína é escondida em pneus, radiadores e peças dos veículos. O ministro José Eduardo Cardozo alerta para o crescimento das drogas sintéticas entre jovens das classes média e alta. As apreensões de ecstasy no Brasil subiram de 68 mil para 259 mil comprimidos desde 2003:
– Quando muda o perfil econômico de um país, o crime se adequa. Com o Brasil se desenvolvendo economicamente, o perfil de delitos se adapta a essa realidade.
Fonte: Yahoo
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