De braços abertos aos retornados
Núcleo de apoio a trabalhadores brasileiros que voltam do exterior é inaugurado em São Paulo. Entre os objetivos está o de orientar o trabalhador quanto à reinserção no mercado de trabalho
O então ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, inaugurou, em 2011, no bairro da Liberdade, em São Paulo, o Núcleo de Informação e Apoio aos Trabalhadores Brasileiros Retornados do Exterior. Além de conhecer o perfil do trabalhador que regressa do exterior – principalmente do Japão -, o Núcleo terá como objetivo prestar orientação quanto ao acesso a serviços públicos e auxiliar na reinserção ao mercado de trabalho. A expectativa é de que sejam atendidos cerca de 200 trabalhadores por mês.
Os maiores fluxos de retorno de brasileiros do exterior são oriundos do Japão e dos Estados Unidos, países que tiveram forte impacto da crise financeira, iniciada em 2008, segundo estudos do Conselho Nacional de Imigração (CNIg). No caso do Japão, informações de autoridades japonesas apontaram para um retorno de cerca de 80 mil brasileiros entre outubro de 2008 e abril de 2010, representando mais de 20% dos 317 mil brasileiros registrados no Japão em dezembro de 2007.
“Muitos desses brasileiros residiram durante anos no exterior e, em vários casos, apresentam dificuldades em se reintegrar ao mercado de trabalho brasileiro. Estes trabalhadores têm conhecimentos e qualificações adquiridas no exterior, mas, por falta de orientação, desperdiçam importantes oportunidades”, avalia o Coordenador Geral de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e presidente do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), Paulo Sérgio de Almeida.
Segundo Almeida, muitas vezes o brasileiro retornado que não consegue se readaptar ao mercado de trabalho tenta migrar novamente ao exterior, engrossando o fluxo emigratório brasileiro. “Neste sentido, a criação de pontos de apoio aos brasileiros retornados revela-se medida de enorme alcance social, particularmente em relação àqueles que necessitam de informação, orientação e apoio para sua reinserção no mercado de trabalho brasileiro”, destacou.
Núcleo – O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) decidiu implementar, por recomendação do CNIg, um ponto de recepção e apoio a brasileiros regressados do exterior – especialmente do Japão – na cidade de São Paulo. O bairro da Liberdade foi escolhido justamente por concentrar a maior parcela da comunidade oriunda daquele país.
Para Almeida, o Núcleo de Informação e Apoio a Trabalhadores Brasileiros Retornados do Exterior significa o reconhecimento de uma nova tendência migratória dos fluxos internacionais do Brasil: o aumento no retorno de brasileiros que viviam no exterior e que decidiram voltar para ‘casa’.
O coordenador explica que tal movimento tem ocorrido por vários fatores, entre eles a crise que assola as principais economias desenvolvidas, gerando desemprego e redução de salários para muitos brasileiros emigrantes. “Além disso, outros fatores também têm sido considerados, como o endurecimento das políticas em relação aos imigrantes nos EUA e nos países europeus, gerando uma onda de discriminação e xenofobia; e especialmente o crescimento da economia brasileira, com uma sensível melhora no mercado de trabalho, aliada à melhora da imagem do Brasil no exterior”.
Casa do Trabalhador – A criação do Núcleo junta-se a outras iniciativas do MTE em atenção aos trabalhadores brasileiros emigrantes ao exterior. Uma delas é a Casa do Trabalhador Brasileiro no Japão, parceria do MTE com o Itamaraty apoiada pelo Ministério do Trabalho do Japão. Lá, o trabalhador brasileiro pode obter informações sobre como resolver seus problemas em relação ao trabalho naquele país e ainda informações sobre um possível retorno ao Brasil. Outra importante iniciativa é a criação de mecanismos bilaterais de consulta entre o MTE e os Ministérios de Trabalho dos países onde estão as principais comunidades brasileiras no exterior.
Serviço:
Inauguração do Núcleo de Informação e Apoio a Trabalhadores Brasileiros Retornados do Exterior
Dia: 10 de janeiro
Hora: 9h30
Local: Rua São Joaquim, nº 381, 1º subsolo – Bairro da Liberdade – São Paulo
Assessoria de Imprensa do MTE
(61) 3317-6537 – acs@mte.gov.br
Um difícil recomeço
Brasileiros retornam ao País, mas
cabeça continua no Japão
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Dificuldade de readaptação faz
ex-dekasseguis
desejarem voltar a trabalhar no
arquipélago
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(Reportagem: Edgard
Matsuki/especial para o NB e Foto: Cedidas) No início, a vontade
de voltar para casa falou mais alto. Depois, surgiu o desejo de fazer a vida no
Brasil. Com o tempo as dificuldades de adaptação começaram a aparecer e a
situação não parecia tão confortável como no Japão. Pior, o dinheiro também
começava a acabar. Por fim, surge a decepção com a terra natal e aparece a
última solução: regressar para o arquipélago e voltar a trabalhar nas fábricas.
Esta pequena história acontece com muitos dos dekasseguis que regressaram para a terra natal. As dificuldades de readaptação aqui passam pela comparação com o estilo de vida levado no outro lado do mundo. O medo da violência e a diminuição do poder de compra são as principais queixas de quem voltou do Japão. O resultado disso são pessoas vivendo no Brasil mas pensando o tempo todo no retorno ao Oriente.
Meire Tabuti, Cintya
Nishimuta e Cláudia Komiya estão vivendo as dificuldades da adaptação ao Brasil.
Tanto que as três já estão com planos de ir novamente ao Japão. Faltam apenas
alguns detalhes para elas acertarem a sonhada viagem. E quando voltarem para lá,
desejam ficar por tempo indeterminado longe do país natal. Conheça a história
destas brasileiras que por vários motivos regressaram, mas sentem falta do
Japão. |
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Depois da decepção, a ansiedade
pelo retorno ao Japão |
Luciano e Meire com a filha Luana:
sem sorte no Brasil, agora dizem que não têm data de regressar ao
País
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Após morar por dez
anos no Japão, Meire Tabuti retornou ao Brasil em 2006. Ela tentou de todas as
formas construir a vida por aqui, mas os negócios não deram certo e as dívidas
só se acumularam. Com isso, a solução está sendo voltar ao Japão. Ela e a filha
Luana (de três anos) já estão de malas prontas para a viagem. Só estão esperando
o visto sair para se juntarem ao marido Luciano, que já está lá desde 2008. A
previsão é de que as duas viajem em novembro.
Meire, que está em
Presidente Prudente (SP), explica por que decidiu retornar ao Japão: “Primeiro
porque meu marido está lá. Segundo porque não tive sorte aqui. Por fim, eu adoro
o estilo de vida de lá”. Ela não esconde a ansiedade de retornar ao local onde
viveu na adolescência. “Sinto como se fosse minha primeira viagem, quando eu
tinha catorze anos. Fico vendo fotos e pesquisando na web dicas para viajar com
crianças”, conta a mãe de Luana.
Mesmo dizendo que
gosta muito do Japão, a ex-dekassegui chegou a pensar que nunca mais retornaria
ao arquipélago. Ela e Luciano voltaram ao Brasil em novembro de 2006, por causa
de uma crise de depressão dele. Poucos meses depois, Meire descobriu que estava
grávida de Luana. Na época, o casal decidiu que o melhor seria abrir um negócio
próprio e tentar construir a vida no Brasil.
O casal investiu todo
o dinheiro ganho em uma lanchonete em Marília (SP), cidade da família de
Luciano. No início o negócio rendeu algum lucro, mas em pouco tempo a clientela
sumiu e as dívidas começaram a se acumular. Eles perderam todo o capital que
tinham. A saída encontrada pelo casal foi Luciano trabalhar de novo no outro
lado do mundo. Enquanto o marido estava lá, Meire cuidaria da filha e tentaria
vender o estabelecimento que havia falido.
Depois de vender o
negócio por um preço “baixíssimo”, Meire foi morar em Presidente Prudente com a
mãe e começou a trabalhar. “Tive vários empregos: meu salário médio era de R$
530”, diz a ex-dekassegui. A comparação do Brasil com o Japão era inevitável:
“Sempre tive uma vida boa lá. Guardava meu dinheiro, tinha um lazer,
apartamento, carro, viajava. Aqui trabalhava muito, ganhava pouco e ainda sentia
muito medo em relação a segurança”, explica ela.
Meire diz que agora
não tem data para voltar ao Brasil: “Não tive sorte aqui. Vou ficar lá por tempo
indeterminado. Nunca imaginei que sentiria tanta falta daquele país. Amo a
cultura, comida, educação dos japoneses, segurança e, claro, o salário. Estou
muito feliz de ir para lá mais uma vez”. |
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Com o fim da crise, aumenta o
desejo de voltar ao oriente |
Cláudia com uma colega de trabalho:
retorno ao Japão em 2011
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Quando voltou do
Japão em dezembro de 2008, Cláudia Komiya esperava ficar apenas dois meses no
Brasil. Afinal, ela possuía um emprego garantido no Japão. Porém, a crise
mundial e a demissão em massa na fábrica na província de Shiga em que trabalhava
acabaram prorrogando as “férias” no Brasil. Na época, ficou com medo de retornar
ao Japão e não conseguir trabalho. Agora já pensa mais seriamente em voltar para
lá.
A vontade de ir de
novo ao Japão está mais forte do que nunca, tanto que Cláudia já está
providenciando a documentação para a viagem. “Como a crise está passando, ano
que vem vou para lá. A única coisa que me prende no Brasil agora é um curso de
web designer que estou fazendo”, afirma Cláudia. Ela mora em Ilhéus (BA) e diz
que, apesar de estar no Brasil, continua com a cabeça no outro lado do mundo.
“Sinto muita saudade do Japão”, conta.
Atualmente Cláudia
trabalha em uma fábrica, mas o salário é bem menor do que o ganho no outro lado
do mundo: “Financeiramente está difícil. Estou trabalhando para ganhar salário
mínimo”, diz Cláudia.
Além do fator
financeiro, ela vê outras vantagens do Japão em relação ao Brasil. “Aqui não tem
como andar na rua sem medo. Sem falar que sinto falta da educação dos japoneses
e da limpeza dos lugares públicos”, fala Cláudia.
Cláudia também se diz
chateada com o entretenimento. Desde que voltou, ela conta que não tem
aproveitado muito: “Lá no Japão eu sempre ia a baladas japonesas. Aqui é
difícil. Até porque na Bahia só toca músicas de que eu não gosto. Por isso fico
mais em casa mesmo”, diz a garota que em 2011 espera deixar a terra do
rebolation para festejar ao melhor estilo japonês. |
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O fim do sonho de um comércio
próprio |
Cintya: “Tudo nos leva ao Japão. O
ruim é ficar longe da família”
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Cintya Nishimuta
ainda não sabe se voltará para o Japão, mas vontade é o que não lhe falta. Em
2007, quando retornou do arquipélago, ela tinha o sonho de abrir um negócio
próprio em Maringá (PR). Só que com tantas decepções este sonho está acabando.
Primeiro tentou abrir uma lanchonete, mas a sociedade com um primo não deu
certo. Agora é uma loja de moda íntima que está prestes a fechar as portas.
Cintya reclama que a
crise econômica mundial afetou os empreendimentos dela no Brasil. “Minha região
é movida pelo agronegócio. Com a crise, os outros setores foram para baixo
junto. Sem capital de giro, não estou sequer conseguindo manter a loja”, explica
Cintya, que viveu 12 anos no Japão. O resultado é que a loja está à venda. Ela
nem quer saber de ouvir falar em abrir outro estabelecimento comercial.
Cintya ainda vai
tentar uma última cartada no Brasil. “Espero tentar arrumar um emprego por aqui,
mas sei que quem foi para o Japão tem algumas desvantagens na hora de lutar por
uma vaga devido à falta de um curso superior”, reconhece Cintya. Se ela não
conseguir um bom emprego, diz que a saída será voltar para o Japão.
Ela acredita que todo
brasileiro que vai trabalhar no arquipélago acaba se tornando um pouco “viciado”
pelo país: “Ficar lá nos deixa dependentes, como se fosse um vício. Longe do
Japão as coisas se tornam mais difíceis”, fala Cintya. Não é a primeira vez que
tenta ficar longe do “vício”. Anteriormente, ela permaneceu no Brasil por cinco
anos, entre 1999 e 2004.
Para Cintya a
dependência do Japão se deve ao padrão de vida levado lá. “A tranquilidade,
viver sem violência, a facilidade de ser consumista. Tudo nos leva ao Japão. O
ruim é ficar longe da família”, fala Cintya, que tem três filhos no Brasil:
Arissa (17 anos), Ayia (15 anos) e Alan (11 anos). Ayia quer seguir os passos da
mãe. No final do ano vai para o Japão morar com o pai e
estudar. |
Fonte: Jornal Nippobrasil |
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